Climatologia das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul



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Transcrição:

Climatologia das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul Daniel Souza Cardoso 1, Gilberto Barbosa Diniz 2, João Baptista da Silva 3 1 Licenciado em Física, Mestre em Meteorologia, Professor do Instituto Federal Farroupilha (IFF) Campi Santa Rosa e Professor Tutor do Curso de Licenciatura em Matemática a Distância (CLMD-UFPel). daniel@sr.iffarroupilha.edu.br 2 Meteorologista, Mestre em Meteorologia, Doutor em Agrometeorologia, Professor Adjunto da Faculdade de Meteorologia UFPel. gilberto@ufpel.edu.br 3 Engenheiro Agrônomo, Livre Docente, Doutor em Ciências, Professor Titular( Aposentado) do Instituto de Física e Matemática - UFPel, Bolsista do CNPq. jbs39@terra.com.br RESUMO Considerando que o Estado do Rio Grande do Sul (RS), possui uma economia diretamente dependente dos setores pecuário e agrícola, portanto dependentes da variabilidade de elementos meteorológicos, e que, no RS o elemento hídrico é considerado como fundamental, realizou-se um estudo climatológico dos totais mensais de chuva ao longo de 60 anos (1948/2007), coletados de 31 estações meteorológicas (EMs) bem distribuídas, geograficamente. Os estudos conduzidos para todo o estado RS seguiram a metodologia da organização das diversas localidades gaúchas em regiões homogêneas quanto à variável estudada, aproveitando para isso, aquelas já definidas na literatura. A análise do comportamento da precipitação pluvial média mensal de cada região homogênea, possibilitou comprovar sua variabilidade ao longo do RS, através da comparação de suas médias mensais, em acordo com a literatura. O aumento relativo da tendência ao longo de 60 anos, variou de 2,7 a 13,3% nas seis regiões homogêneas, sendo os maiores percentuais encontrados para as regiões que estão sob o eixo Norte-Sul, onde constatou-se um forte gradiente da variável. Palavras-chave: precipitação pluvial, normalidade, homogeneidade de variâncias, regressão linear Climatology of rainfall in the Rio Grande do Sul State, Brazil ABSTRACT Whereas the State of Rio Grande do Sul (RS), have an economy directly dependent on agriculture and livestock sectors, which in different studies are reported as dependent on the variability of certain climatological elements, in the RS the element water is regarded as fundamental. We conducted a study of the monthly total rainfall, to long 60 years (1948/2007), collected from 31 meteorological stations (EMs) distributed geographically. The studies conducted for the State, RS, followed the methodology of the organization of several localities gaúchas, in homogeneous regions in relation the variable studied, using for this, those already established in the literature. The behavior of the average monthly rainfall for each homogeneous region, allowed to prove its variability throughout the RS, by comparing their monthly averages, in agreement with the literature. The relative increase in trend over 60 years, ranged from 2.7 to 13.3% in the six homogeneous regions, and the highest percentage found for the regions that are under the north-south axis, where found a strong gradient of the variable. Key words: rainfall, normality, homogeneity of variances, linear regression. 1. INTRODUÇÃO A agricultura no Brasil, apresenta variações de sua produção em relação à variação de determinados elementos meteorológicos, sendo que no RS o elemento hídrico apresenta efeitos mais significativos, como por exemplo constado que as variáveis hídricas são estimadoras do rendimento de grãos da cultura do milho (MATZENAUER et al., 1995). Em Climatologia, o estudo do comportamento da precipitação pluvial ao longo do tempo em dadas regiões é de fundamental importância (BAPTISTA DA SILVA; CUNHA; GAVIÃO NETO, 2001), seja para contribuir com as previsões orçamentárias da agricultura local, bem como com a utilização dos recursos hídricos de forma sustentável, ao qual apresenta-se ao longo das últimas décadas, necessário em todo o globo, seja pela demanda exigida por um crescimento vegetativo desordenado, bem como pelas flora e fauna. Este trabalho tem como objetivo a análise climatológica dos totais de chuvas mensais, de regiões homogêneas constituídas a partir dos dados de 31 estações meteorológicas, distribuídas ao longo do Estado do RS. Para respeitar a variabilidade espacial do elemento climatológico, realiza-se um estudo agrupando os dados em regiões homogêneas.

2. MATERIAL E MÉTODOS Para obter a precipitação média mensal no RS nos últimos 60 anos, foram selecionadas 31 estações meteorológicas (EM) bem distribuídas geograficamente por todo o Estado, para o período de 1948/2007. Os dados utilizados foram coletados pelas estações meteorológicas disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia INMET, obtidos através de: 8 DISME (8 Distrito de Meteorologia Porto Alegre) e FEPAGRO ( Fundação Estadual de Pesquisas Agropecuárias). Esses dados foram agrupados em seis regiões homogêneas (Figura 01) concordantes com os estudos de Marques, 2005. Figura 1 Regiões homogêneas As 31 estações meteorológicas distribuíram-se em 6 regiões homogêneas (grupos), sendo estas constituídas de 3 a 7 estações (tabela 1). A seguir, as médias das regiões foram calculadas e submetidas ao estudo da variabilidade espacial e da tendência linear das séries. Para averiguar a variabilidade espacial dos dados foram estimados os máximos, mínimos e a média mensal das chuvas mensais para comparação entre os grupos. Tabela 1 Regiões homogêneas quanto ao regime de chuvas no Estado do Rio Grande do Sul (1948/2007) Estações (01) (02) Alegrete Bagé Bento Gonçalves Bom Jesus Caçapava do Sul Cachoeira do Sul Caxias do Sul Cruz Alta Encruzilhada do Sul Ijuí Iraí Julio de Castilho Lagoa Vermelha Palmeira da Missões Passo Fundo Pelotas Porto Alegre Rio Grande Santa Maria (03) (04) (05) (06)

Tabela 1 - Continuação Santa Rosa Santa V. do Palmar Santana do L. Santo Ângelo São Borja São Gabriel São Luiz Gonzaga Taquari Torres Uruguaiana Vacaria Veranópolis Antes de analisar a tendência linear dos dados, foram verificadas as propriedades de homogeneidade de variâncias e de normalidade (BRENA, SILVA e SCHNEIDER, 1978). Para isto, os dados foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilk (SHAPIRO & WILK, 1965) e de Cochran (COCHRAN, 1941) ao nível de 5%. Caso os dados não apresentem estas propriedades, buscar-se-á uma transformação adequada para a aquisição dessas características. A tendência dos dados foi avaliada pela regressão linear simples, cujo o coeficiente de correlação linear é avaliado pelo teste t. O teste de Cochran é usado para verificar se as variâncias são homogêneas. É indicado quando uma das variâncias é muito maior do que as demais. A expressão matemáticas do teste é: 2 Maior Si Ccalc. ; i 1,2,3,..., N N 2 S i1 i Os 95 0 e 99 0 percentis da distribuição amostral de C tab. encontram-se na tabela A-17 (DION & MASSEY Jr, 1969). Eles podem ser usados para testes nos níveis de significância de 5% e 1%, respectivamente. A hipótese de variâncias iguais é rejeitada se o valor calculado da estatística acima excede ao valor tabelado. Valores críticos são indicados somente para o caso onde as variâncias amostrais tem igual numero de graus de liberdade. Shapiro & Wilk (1965) desenvolveram um procedimento para testar a normalidade. Para estimar a inclinação da reta de regressão é necessário usar uma técnica chamada de mínimos quadrados generalizados, de modo a corrigir para o fato de que as observações foram ordenadas e, portanto são correlacionadas. Para simplificar este procedimento uma tabela de constantes foi incluída. O teste estatístico é designado por W e o seu cálculo segue o roteiro abaixo: 1) Ordene as observações, tal que: x 1 x 2... x n, para uma amostra de tamanho n. 2) Calcule: n n 2 2 2 S xi xi / n i1 i1 3) Calcule: n b a x x ni1 ni1 i i1 k = n/2 se n for par ou k = (n-1)/2 se n for impar; a n-i+1 é obtida da tabela de constantes (Tabela A-1 de SHAPIRO, 1990). 4) Calcule o valor de W: b² W S²

Utilizou-se a Tabela A-2, da mesma referência bibliográfica, para determinar o nível de significância de W cujo o teste é unilateral à esquerda, isto é, pequenos valores de W indicam nãonormalidade; então, se o valor computado de W é menor do que o valor tabelado W α mostrado na tabela, rejeita-se a hipótese de normalidade ao nível de significância α. Para conhecer a tendência linear dos dados de precipitação pluvial mensal das regiões homogêneas de estudo, estabelece-se neste trabalho o uso de regressão linear dos dados sobre o número de meses. Segundo Brena et al. (1978), para realizar-se uma análise de regressão é fundamental que se verifique algumas condições, como, a homogeneidade de variâncias, a normalidade e a independência dos dados. Portanto, analisa-se a tendência de cada região homogênea, por meio da regressão linear dos dados, onde os dados foram transformados para atender as pressuposições da análise, segundo a expressão: Sendo a equação de regressão linear dada por y a'b' i i sendo o coeficiente linear, considerando = 1, 2, 3,..., 720, e o coeficiente angular da equação de regressão. Tomando o logaritmo em ambos os lados da igualdade, tem-se Pode-se retornar a variável original (dados ajustados a um mês de 30 dias), dada em unidades de milímetro, por: Sendo O aumento relativo, desde os dados transformados, para as 6 regiões homogêneas, é estimado pela expressão abaixo: A partir das variáveis originais, é possível expressar o aumento mensal de precipitação pluvial média mensal (mm), considerando a expressão dado por, Os resultados das transformações usadas, dos aumentos relativo e mensal das chuvas ocorridas nas seis regiões homogêneas serão apresentados em tabelas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracteriza-se o regime de chuvas das regiões homogêneas em termos da precipitação pluvial média mensal, observando-se seus máximos, mínimos e médias no intervalo de 60 anos, cujos resultados encontram-se nas tabelas 2 e 3 apresentadas a seguir: Tabela 2 Valores dos máximos mensais de precipitação pluvial, ao longo de 60 anos. Máximos mensais de chuvas (mm), para os seis grupos - 1948/2007 Meses 01 02 03 04 05 06 Janeiro 260,2 239,4 262,7 296,5 258,2 297,8 Fevereiro 429,6 274,6 363,6 364,1 296,5 299,1 Março 335,7 203,7 283 236,2 253,9 225,2 Abril 322,9 242,3 464,5 327,8 290,7 221,8 Maio 331,6 369,4 319,3 384,9 302,6 233,1 Junho 215,5 397,8 260,4 482,7 364,5 304,8 Julho 403,6 281,0 258,9 347,9 336 407,8 Agosto 195,4 294,6 191,5 290,3 369,3 310,9

Tabela 2 Continuação. Setembro 236,0 275,1 259,2 322,3 326,5 387,8 Outubro 207,8 360,1 339,8 516 421,3 327,4 Novembro 288,6 293,0 330,9 365,9 300,3 254,4 Dezembro 263,2 212,1 294,6 313,6 306,7 289,7 Tabela 3 - Valores dos mínimos mensais de precipitação pluvial, ao longo de 60 anos. Mínimos mensais de chuvas (mm), para os seis grupos - 1948/2007 Meses 01 02 03 04 05 06 Janeiro 10,7 26,3 16,7 23,9 44,5 38,1 Fevereiro 12,2 31,2 17,5 34,3 27,9 54,9 Março 25,5 24,2 38,6 38,0 35,5 48,4 Abril 12,9 8,2 35,5 25,0 25,6 19,4 Maio 15,3 8,3 11,8 13,5 9,5 11,0 Junho 14,6 22,6 10,8 23,8 24,5 35,9 Julho 8,3 31,4 25,4 23,2 26,0 20,9 Agosto 12,6 17,6 14,6 29,8 19,4 22,3 Setembro 30,5 27,9 58,1 68,1 64,6 51,3 Outubro 14,8 37,5 76,6 55,7 57,2 49,0 Novembro 18,1 10,4 21,2 24,2 20,4 25,9 Dezembro 12,9 12,6 31,3 34,0 54,2 15,2 Através das tabelas 1 e 2, é possível observar entre as regiões homogêneas que, as maiores diferenças dos máximos foi de 267,2 mm (junho) e dos mínimos foi 61,8 (outubro). No grupo 01, constata-se que as maiores variabilidades se devem ao fato de que os meses de máximos mais destacados, coincidem com os de mínimos mais acentuados. Os demais grupos, de forma geral, alternam-se com seus valores de máximos e de mínimos entre os intervalos de maio a julho e outubro a dezembro. Com isto, realiza-se um estudo individualizado destas regiões, respeitando a variabilidade espacial, do elemento climatológico (EC), característica de cada região. A variabilidade do EC, pode ser observada na tabela 3, e na figura 2. Tabela 4 - Valores das médias mensais de precipitação pluvial, ao longo de 60 anos. Médias mensais de chuvas (mm), para os seis grupos - 1948/2007 Meses 01 02 03 04 05 06 Janeiro 106,2 114,7 120,1 144,3 140,0 141,4 Fevereiro 130,2 124,6 138,8 149,7 140,1 149,7 Março 106,7 108,7 139,3 129,5 129,9 122,0 Abril 91,8 110,1 155,8 152,3 132,2 118,4 Maio 89,5 104,0 120,3 132,9 129,2 106,9 Junho 105,8 144,6 115,7 147,8 154,1 129,9 Julho 129,5 137,2 100,7 129,9 139,4 136,0 Agosto 107,8 121,1 88,5 125,5 135,1 137,9 Setembro 127,4 149,1 132,9 169,6 179,4 168,8 Outubro 94,9 138,4 153,5 185,7 175,0 155,0 Novembro 87,8 101,7 114,2 136,4 126,5 118,2 Dezembro 77,0 99,1 112,0 138,6 134,3 133,4

Figura 2 - Comparação das médias mensais dos 6 grupos, sendo que as séries 1, 2, 3, 4, 5 e 6 correspondem as Médias mensais dos s 01, 02, 03, 04, 05 e 06, respectivamente. Na figura 2, a diferença entre as médias mensais dos grupos 04 e 01, é de aproximadamente 38mm no mês de Janeiro, no mês de Fevereiro a diferença maior foi entre os grupos 06 e 02, sendo de aproximadamente 25mm. Nos demais meses do ano não ocorreram diferenças menores do que esta última (25mm), apresentando diferenças mais significativas nos meses de Abril, de aproximadamente 64mm, de Outubro com aproximadamente 90mm e de 61mm em Dezembro. A tabela 4, apresenta valores percentuais do aumento relativo, para cada grupo, não expressivos, de modo geral. Sendo que o aumento relativo apresentado ao longo de 60 anos para o grupo 01 é de aproximadamente 2,7%, e que os grupos 03, 04 e 06 apresentaram os percentuais de 3,5%, 3,7% e 4,3% respectivamente, sendo que seus aumentos relativos diferem no máximo de 0,8% e apresentaram no mínimo 0,8% de aumento relativo a mais do que para o grupo 01. Os grupos 02 e 05 tem os aumentos relativos mais relevantes, sendo que o grupo 02 se destacou com o percentual de 13,3%, e o grupo 05 ficou com 8%. Os aumentos mensais (mm), não se apresentaram como relevantes; seus menores valores são encontrados para as regiões 1 e 3, possivelmente por não apresentarem tendência linear ao nível de 5%. Tabela 5 - Os valores das potências necessárias para a transformação dos dados, das equações de regressão linear para os extremos da reta, das variáveis originais associadas aos extremos através das respectivas equações de regressão linear, e dos aumentos relativo e mensal, são apresentados para os (as) 6 grupos (regiões homogêneas) s 1-a Y (1) Y (720) Z(1) Z(720) AR x 100 Am(mm) *1 0,2162 26,3643 27,0833 88,5821 100,3217 2,7% 0,0163 2 0,4198 67,9809 77,0403 96,1210 129,4908 13,3% 0,0463 *3 0,2794 36,7472 38,0414 105,4370 119,3424 3,5% 0,0193 4 0,2241 29,3285 30,407 121,6703 142,9453 3,7% 0,0295 5 0,5639 153,8002 166,167 127,3229 146,03947 8% 0,0299 6 0,26704 35,5041 37,014 114,9898 134,3980 4,3% 0,0269 * Nesses grupos, a tendência linear foi não significativa a 5%. 4. CONCLUSÕES O estudo do comportamento da precipitação pluvial média mensal de cada região homogênea, possibilitou comprovar sua variabilidade ao longo do RS, através da comparação de suas médias mensais, em acordo com a literatura. O aumento relativo da tendência linear ao longo de 60 anos, variou de 2,7 a 13,3% nas seis regiões homogêneas, sendo os maiores percentuais encontrados para as regiões que estão sob o eixo Norte-Sul, onde Marques (2005) constatou um forte gradiente da variável.

A região homogênea 01, mesmo estando sob esse eixo, não apresentou destaque de seu aumento relativo, possivelmente porque a tendência de sua série não foi significativa ao nível de 5% de probabilidade, bem como para a região homogênea 03. Estas regiões apresentaram os menores aumentos médios mensais (mm), aumentos esses, não relevantes para nenhum dos grupos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAPTISTA DA SILVA, J.; CUNHA, F. B.; GAVIÃO NETO, W. P. Modelagem das chuvas trimestrais por regiões homogêneas no Estado do Ceará. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, ISSN 0104-1347, v. 9, n. 2, p. 317-324, 2001. BRENA, D. A.; SILVA, J. N. M.; SCHNEIDER, P. R. Metodologia para verificação das condicionantes da Análise de Regressão. Santa Maria, Floresta, v. 9, n. 2, p. 25-45, 1978. COCHRAN, W.G. The distribution of the largest of a set estimated variances as a fraction of their total. Annals of Eugenics, v11, p. 47 51, 1941. MARQUES, J. R. Variabilidade espacial e temporal de precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e sua relação com indicadores oceânicos. 2005. 210f. Tese (Doutorado-Agrometeorologia) - Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. MATZENAUER, R.; BERGAMASCHI, H.; BERLATO, M. A.; RIBOLDI, J. Relação entre rendimento de milho e variáveis hídricas. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 3, p. 85-92, 1995. SHAPIRO, S.S.; WILK, M. B. An analysis of variance test for normality (complete samples). Biometrika, Vol. 52, No. 3/4.(Dec., 1965), pp. 591-611.