História Voto de Cabresto e Política dos Governadores Professor Cássio Albernaz www.acasadoconcurseiro.com.br
História VOTO DE CABRESTO E POLÍTICA DOS GOVERNADORES http://3.bp.blogspot.com/-ozmc8o6njee/ubo-ufg6czi/aaaaaaaaeaa/lc97c8brua4/s1600/ Voto+de+Cabestro.png No ano seguinte à Abolição, o Marechal Deodoro da Fonseca (que foi o primeiro presidente, provisório) proclama a República, dando início à Primeira República ou República Velha. Este período compreende os anos de 1889 e 1930, quando a elite cafeeira paulistana e mineira revezava o cargo da presidência da República movida por seus interesses políticos e econômicos. Esse revezamento ficou conhecido como Política dos Governadores ou "política do café-com- -leite", o arranjo político que vigorou no período da Primeira República, envolvendo as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais e o governo central no sentido de controlar o processo sucessório, para que somente políticos desses dois estados fossem eleitos à presidência de modo alternado. Assim, ora o chefe de estado sairia do meio político paulista, ora do mineiro. www.acasadoconcurseiro.com.br 3
http://2.bp.blogspot.com/_lose7cxjx6q/sx-9jea0ayi/aaaaaaaaaoy/kwwfkc3h1iq/s400/ Rep+Velha+-+Caf%C3%A9+com+Leite.+Charge+do+desenhista+Storni,+Revista+Careta..jpg Após a proclamação da república, a 15 de novembro, dois militares se sucederam no comando do país, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A partir daí, a história do Brasil foi marcada por acordos entre as elites dos principais centros políticos do país, que à época eram minas gerais e São Paulo. Os "coronéis", grandes fazendeiros, optavam por candidatos da política café-com-leite, e estes, além de concentrar suas decisões na proteção dos negócios dos latifundiários, concediam regalias, cargos públicos e financiamentos. O surgimento do nome "café-com-leite" batizando tal acordo seria uma referência à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Entretanto, alguns autores contestam tal explicação para o surgimento da expressão, pois o Rio Grande do Sul seria o maior produtor de leite à época. O leite como referência a minas gerais teria vindo na verdade das características da cozinha mineira, representada pelo queijo minas ou mesmo pelo pão de queijo, e que assim, combinada com o a palavra "café", há muito associada a São Paulo (por ser este estado, sim, o grande produtor de café e seu maior representante), remeteria à expressão ainda hoje conhecida de "café-com-leite", usada para designar a pessoa que participa de uma ação com neutralidade, que não pode dar conselho e não pode ser aconselhado, que participa com condições especiais em algum evento. Com Campos Sales (1898), instalou-se o poder dos governadores dos estados (política dos governadores), que tinham grande autonomia em relação ao governo federal e se articulavam para escolher os presidentes da república que tinham mandato de 4 anos sem direito a reeleição. Os presidentes e governadores tinham a prerrogativa de destituir (as chamadas "degolas") os deputados e senadores eleitos que não lhes fossem afeitos através das comissões de verificação dos poderes, que existiam nos congressos estaduais (atuais assembleias legislativas estaduais) e no congresso nacional. O voto não era secreto, o que tornava o voto de cabresto e a fraude eleitoral práticas comuns. As eleições presidenciais ocorriam, de quatro em quatro anos, em 1 de março, e a posse dos eleitos se dava no dia 15 de novembro do ano da eleição presidencial. O candidato oficial a presidente da república era escolhido através de um acordo nacional entre os presidentes dos estados. De acordo com essa obra de engenharia política, o poder federal não interferia na política interna dos estados e os governos estaduais não interferiam na política dos municípios, garantindo-se lhes a autonomia política e a tranquilidade nacional. O sistema político que vigorava, e que tinha o abuso de poder por conta da autoridade compra de votos e o uso das instituições públicas para favorecimento pessoal ou de terceiros, ficou conhecido como Voto de Cabresto. Nas regiões do Brasil em que encontramos a pobreza como companhia diária, encontrávamos, e ainda encontramos esta prática, que é a principal característica das práticas que definem o Coronelismo. Desde as primeiras eleições, ainda no Império, essas práticas de fraudar o sistema eleitoral é uma praga de difícil combate. 4 www.acasadoconcurseiro.com.br
História Voto de Cabresto e Política dos Governadores Prof. Cássio Albernaz https://historiativanet.files.wordpress.com/2012/10/voto-cabresto.jpg No século XX, o auge do coronelismo, os eleitores precisavam levar apenas um pedaço de papel com o nome do seu candidato e depositar na urna. Tratava-se de qualquer papel, trazido de casa mesmo, muitas vezes entregues pelos próprios coronéis a seus funcionários e já preenchidos. É importante ressaltar que a grande maioria dessas pessoas era analfabeta, sabendo apenas assinar o seu nome. Como analfabetos não podiam votar, na época, levavam para as urnas os papéis já preenchidos, não levantando a suspeita de que não saberiam ler e escrever. Nos papéis estavam escritos o nome dos candidatos que eram convenientes aos próprios coronéis em relação as suas alianças políticas. Assim o coronel que tivesse mais influência, que tinha mais empregados, geralmente levantava mais votos para seus candidatos. Já os empregados, como não sabiam ler, votavam sem ao menos saber o que estava escrito nos papéis que depositavam nas urnas, aonde chegavam através de um transporte fornecido pelo próprio coronel. Todo território Brasileiros estava repleto dessa figura, um grande fazendeiro que exercia poder total sob uma comunidade de camponeses humildes, muitas vezes liderando, e reprimindo, por via oral ou até mesmo pelo uso da força. Ou seja, quando o convencimento não surtia efeito em seus influenciados, o coronel recorria à violência para que os eleitores de seu curral eleitoral obedecessem às suas ordens. E como o sistema eleitoral era aberto, ficava muito fácil a fiscalização dos eleitores para que votassem nos candidatos exigidos pelo coronel. Usava esse poder, então, para garantir que os candidatos que eles apoiavam fossem eleitos. Porém, durante a Primeira República, não eram apenas São Paulo e Minas os principais atores no jogo político do período, conforme percebemos pela carta do presidente da Câmara dos Deputados Arnolfo Azevedo ao presidente Washington Luís em 1926 (onde fala sobre a importância de um vínculo entre os jogadores cujo se desfazer era o fim do próprio jogo). No baralho político há três ases e três reis. Quem vai dirigir o jogo precisa ganhar a partida e para ganhá-la é indispensável ter dois ases e um rei (sendo os ases Minas, São Paulo e Bahia, e os reis Pernambuco, Rio e Rio Grande do Sul). Sentar-se à mesa do jogo sem contar com esses trunfos é arriscado e quem tiver a maioria absoluta dos seus valores fará, não só um governo bom, mas ótimo e fácil. Notamos, então, que eram seis as forças políticas estaduais do período. Em 1929, com a grande crise econômica que se seguiu à quebra da bolsa de Nova Iorque, o café brasileiro ficou praticamente sem comprador, prejudicando enormemente os cafeicultores paulistas. O que aconteceu, na sequência, foi que o Estado de São Paulo, que deveria apoiar o próximo presidente da República (que seria o mineiro previamente escolhido Antônio Carlos Andrada), resolveu mudar. O Presidente Washington Luís voltou atrás e passou a apoiar outro candidato paulista, Júlio Prestes, o que provocou uma visível cisão dos grandes Estados. http://2.bp.blogspot.com/-zq2jdvjnzy4/uuad6r6y5pi/aaaaaaaaae8/sb6h4y5znfe/s1600/ politica.jpg www.acasadoconcurseiro.com.br 5
A cisão política do café-com-leite foi o resultado deste rompimento e, por isto, o estado de Minas Gerais se une logo ao Rio Grande do Sul. Tentou-se obter a adesão de Pernambuco, Bahia e do estado do Rio de Janeiro, oferecendo-lhes em troca a vice-presidência. A proposta foi aceita pela Paraíba, formando uma aliança política que ficou conhecida como aliança liberal, lançando um novo candidato próprio: Getúlio Vargas. Vargas mesmo assim foi derrotado nas eleições. No entanto, um clima instável e generalizado de insubordinação, de enorme inquietação política contra o estado de São Paulo e de sua dominação, passou a ser insustentável. A motivação de todo este processo foi a morte de João Pessoa, que seria o candidato à vicepresidência da república na chapa de Getúlio Vargas. O evento, que a rigor não tinha nenhuma conexão com as inquietações políticas e com a concorrência eleitoral, passou-se a ter um pretexto de rompimentos políticos. João Pessoa seria assassinado a tiros na capital pernambucana. A morte do ilustre paraibano, no entanto, impulsionou os revolucionários, que já arquitetavam a tomada de poder. Washington Luís foi deposto em 24 de outubro de 1930, vinte e um dias antes do término do seu mandato como presidente da república. Por este golpe militar, que passou o poder em 03 de novembro às forças político-militares, acontece a revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/revolu%c3%a7%c3%a3o_de_1930.jpg 6 www.acasadoconcurseiro.com.br