RECORDANDO PADRE GIACOMO TANTARDINI 27 de março de 1946 19 de abril de 2012 Vem, então, Senhor Jesus... Vem a mim, busca-me, encontra-me, toma-me nos braços, carrega-me (Santo Ambrósio, Expositio in psalmum 118) CAPA
RECORDAÇÃO O meu amigo padre Giacomo Jesus e João, detalhe da Última Ceia, Giotto, Capela Scrovegni, Pádua 36 30DIAS N 5-2012
O cardeal Jorge Mario Bergoglio durante a homilia na Basílica de São Lourenço fora dos Muros em 18 de fevereiro de 2012 Durante a cerimônia de crismas na Basílica de São Lourenço fora dos Muros rezamos pela sua saúde... e ele agradeceu com um gesto que era de esperança de cura e, ao mesmo tempo, de confiança. O cardeal Bergoglio recorda Giacomo Tantardini, sacerdote do cardeal Jorge Mario Bergoglio, SJ arcebispo de Buenos Aires dos vossos dirigentes, que vos Lembrai-vos anunciaram a palavra de Deus. Considerai como terminou a vida deles, e imitai-lhes a fé (Hb 13, 7). Deste modo o autor da Carta aos Hebreus chama a estar atentos aos que anunciaram o Evangelho e que já se foram. Pede-nos para lembrálos, mas não daquele modo formal e, às vezes, comiserador, que nos faz dizer quanto era bom!, uma frase que que ouvimos com frequência nos ce- 30DIAS N 5-2012 37
RECORDAÇÃO O cardeal Bergoglio com padre Giacomo em uma foto de março de 2009 Assim, pela graça, pode-se perseverar no caminho até o fim: o homem-criança abandona-se nos braços de Jesus enquanto pede que passe este cálice, e é tomado e levado nos braços, com as mãos juntas e os olhos abertos. Deixando-se surpreender mais uma vez, pelo dom maior mitérios. Este tipo de memória é uma simples recordação de formalidade social. Ao invés, pedenos para que recordemos a partir da fecundidade da semeadura entre nós. Pede-nos para que recordemos com a memória do coração, a memória deuteronômica que constrói sobre a rocha, que plasma vidas e marca corações. Sim, o nosso coração se edifica sobre a memória daqueles homens e daquelas mulheres que nos aproximaram das fontes de vida e de esperança à qual poderão chegar também os que nos seguirem. É a memória da herança recebida, que por nossa vez, devemos transmitir aos nossos filhos. Então, com essa memória, recordamos padre Giacomo e perguntamo-nos: o que nos deixou? Quais são suas marcas que encontramos no caminho da nossa vida? Ouso dizer simplesmente que deixou as marcas de um homem-criança que nunca deixou de nos surpreender. Padre Giacomo, o homem do maravilhamento; o homem que se deixou maravilhar por Deus e Deixai vir a mim as criancinhas, Carl Vogel von Vogelstein, Galeria de Arte Moderna, Florença soube desbravar o caminho para que este maravilhamento nascesse nos outros. Padre Giacomo, um homem surpreso que, enquanto olhava ao Senhor que o chamava, per- 38 30DIAS N 5-2012
O meu amigo padre Giacomo guntava-se continuamente, como se não pudesse acreditar, como o Mateus de Caravaggio: eu, Senhor? Um homem surpreso diante desta indescritível profusa abundância da graça que vence sobre a abundância mesquinha do pecado que nos reduz, sempre; um homem surpreso que se sentiu procurado, esperado e amado pelo Senhor muito antes de ele procurá-lo, esperá-lo amá-lo; um homem surpreso que, como os do Lago de Tiberíades, não ousava perguntar quem era ele, porque sabia muito bem que era o Senhor. E este homem surpreso mais de uma vez, deixou-se interrogar: Me amas?, para responder com a simplicidade ardente do amor: Senhor, tu sabes que te amo. E era assim porque este homem-criança alimentava o seu amor com a simples mas sábia prontidão da contemplação de toda aquela Graça que o superava. Padre Giacomo era assim. Não tinha perdido a capacidade de se surpreender; refletia a partir do maravilhamento que recebia e alimentava na oração. Às vezes dava impressão que esta sensibilidade o fatigasse e o deixasse inquieto, e isso não é raro em um homem de temperamento humano forte, no qual a Graça não cessou de trabalhar na sua conversão à mansuetude. A última imagem que tenho dele me comove: foi durante a cerimônia de crismas na Basílica São Lourenço fora dos Muros, com suas mãos juntas, os olhos abertos e surpresos, sorridente e sério ao mesmo tempo. Ali rezamos pela sua saúde... e ele agradeceu com um gesto que era de esperança de cura e ao mesmo tempo, de confiança. Assim, pela graça, pode-se perseverar no caminho até o fim: o homemcriança abandona-se nos braços de Jesus enquanto pede que passe este cálice, e é tomado e levado nos braços, com as mãos juntas e os olhos abertos. Deixandose surpreender mais uma vez, pelo dom maior. Agradeço a Deus nosso Senhor por tê-lo conhecido. São dirigidas também a mim as palavras considerai como terminou a vida deles, e imitai-lhes a fé da Carta aos Hebreus. Buenos Aires, 6 de maio de 2012 30DIAS N 5-2012 39