Desempenho de Argamassas de Revestimentos com Incorporação de Fibras de Plásticos Reciclados

Documentos relacionados
Luiz A. P. de Oliveira Paula C. P. Alves Sérgio M. M. Dias

Desempenho de argamassas reforçadas com fibras acrílicas

INFLUÊNCIA DO TEOR DE FIBRAS DE AÇO NA TENACIDADE DO CONCRETO CONVENCIONAL E DO CONCRETO COM AGREGADOS RECICLADOS DE ENTULHO

Desempenho de argamassas reforçadascom fibras acrílicas

! "#$%" &&"$% -../0( '!"$$1+ +2 *+,

APLICAÇÃO DE PLANO FATORIAL NO ESTUDO DE DESEMPENHO DE ARGAMASSAS REFORÇADAS COM FIBRAS ACRILICAS

Professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em Santo Ângelo/RS

COMPORTAMENTO MECÂNICO DO CONCRETO AUTO ADENSÁVEL REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO, POLIPROPILENO E HÍBRIDAS

Reforço de Rebocos com Fibras de Sisal

Estudo da influência de cargas leves nas propriedades de uma argamassa bastarda. Lisboa, 24 de Novembro 2005

DISCUSSÃO DE ELEMENTOS PARA REFORÇO DE ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO PARA FACHADA

Influência da Adição de Polímeros nas Propriedades de uma Argamassa de Reabilitação. Lisboa, 22 de Novembro 2007

Caracterização de argamassas para assentamento de alvenaria de tijolo

Influência dos procedimentos de execução em rebocos correntes

Resíduos reciclados como componentes de argamassas

Resíduos reciclados como componentes de argamassas.

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE FIBRAS DE POLIPROPILENO E DE AÇO NO CONCRETO AUTO ADENSÁVEL

Ensaios de tenacidade para concretos reforçados com fibras

O desempenho reológico e mecânico de argamassas de revestimento reforçadas com fibras sintéticas

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA FRAÇÃO VOLUMÉTRICA DE FIBRAS DE AÇO NO COMPORTAMENTO DE PEÇAS DE CONCRETO SOLICITADAS POR TENSÕES DE TRAÇÃO

EFEITO DA FORMA E DO TAMANHO DE CORPOS DE PROVA NA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E DEFORMABILIDADE DE ARGAMASSAS MISTAS DE CAL E CIMENTO

AVALIAÇÃO DA INTRODUÇÃO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL EM ARGAMASSAS

DURABILIDADE DE ARGAMASSAS DE BASE CIMENTÍCIA REFORÇADAS COM FIBRAS SINTÉTICAS

ANÁLISE DA INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE POLIPROPILENO RECICLADAS EM COMPÓSITO CONCRETO

DOSAGEM DEFINIÇÃO. DOSAGEM é o proporcionamento. adequado e mais econômico de. materiais: cimento, água, agregados, adições e.

ESTUDO DA APLICABILIDADE DA ARGAMASSA PRODUZIDA A PARTIR DA RECICLAGEM DE RESÍDUO SÓLIDO DE SIDERURGIA EM OBRAS DE ENGENHARIA

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS E DE DURABILIDADE DO CONCRETO COM BORRACHA

Incorporação de residuos de vidro em argamassas de revestimento Avaliação da sua influência nas características da argamassa

Contributo das argamassas industriais para a construção sustentável caso particular da Gama ecocork

SUBSTITUIÇÃO DE CIMENTO POR FINOS CERÂMICOS EM ARGAMASSAS

4 Desenvolvimento Experimental

Foram realizados nos corpos de prova prismáticos com base no método A da norma ASTM

DOSAGEM DE CONCRETO. DOSAGEM é o proporcionamento adequado. e mais econômico dos materiais: Cimento Água Areia Britas Aditivos

Cal Hidráulica: Um Ligante para a Reabilitação. Ana Cristina Sequeira Dina Frade Paulo Gonçalves

Influência da adição de macrofibra polimérica no comportamento mecânico de concretos de alta resistência

BloCork Desenvolvimento de blocos de betão com cortiça

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE ARGAMASSAS LEVES EM PROVETES DE DIMENSÃO REDUZIDA

CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL DE UM BETÃO LEVE DE ELEVADA RESISTÊNCIA

$SUHVHQWDomRHDQiOLVHGRVUHVXOWDGRV

Marco Antonio Carnio

Estudo da influência da dosagem de cimento nas características mecânicas de argamassas bastardas para rebocos de edifícios antigos

CONCRETO COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE GARRAFAS PET

Resumo. Palavras-chave: Módulo de elasticidade, resistência à compressão, provetes reduzidos.

COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS DE ALTO DESEMPENHO PARA APLICAÇÃO COMO SUBSTRATO DE TRANSIÇÃO EM VIGAS

Disco de neoprene Ø 5x10 cm INFORMAÇÕES ADICIONAIS TIPO MONTAGEM OPERACIONAL MANTENÇAO HISTÓRIA OUTROS VIDEO MANUAL LINKS

Revista Científica UMC

Avaliação do Comportamento de Vigas de Concreto Autoadensável Reforçado com Fibras de Aço

ANAPRE CF 001/2011 MACROFIBRAS SINTÉTICAS PARA PISOS INDUSTRIAIS ESPECIFICAÇÕES

Argamassas mistas. Prof. M.Sc. Ricardo Ferreira

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA MACRO FIBRA DE AÇO NA ÁREA TRACIONADA DA VIGA DE CONCRETO ARMADO

Análise comparativa entre argamassas de revestimento reforçadas com telas metálicas e com fibras de polipropileno

AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES DE ARGAMASSAS ESTABILIZADAS AO LONGO DO TEMPO DECORRIDO DO SEU PREPARO 1

Influência da junta vertical no comportamento mecânico da alvenaria de blocos de concreto

Argamassas de cal aérea e cinza de casca de arroz. Influência da finura da cinza na reactividade pozolânica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES (BC 1105)

AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DA ADIÇÃO DE FIBRA SINTÉTICA PROVENIENTE DE RESÍDUO DA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO NA ARGAMASSA DE REVESTIMENTO

PROCESSO INDUSTRIAL PREPARAÇÃO DA MATÉRIA PRIMA - PASTA CONFORMAÇÃO SECAGEM COZEDURA RETIRADA DO FORNO E ESCOLHA

Argamassas industriais com incorporação de granulado de cortiça

Análise Comparativa do desempenho de concretos com adições minerais quanto à corrosão de armaduras por íons cloretos

FICHA TÉCNICA CHAPA COLABORANTE PERFIL AL65

7. Conclusões e sugestões para trabalhos futuros

ÁREA DE TECNOLOGIA - LABORATÓRIO RELATÓRIO DE ENSAIO N O

Professora Doutora da Escola de Engenharia Mauá (EEM/CEUN-IMT).

4 Análise dos resultados

4º Congresso Português de Argamassas e ETICS Avaliação da introdução de resíduo da indústria têxtil em argamassas

Estudo Experimental sobre a Resistência à Fadiga de Concreto com Fibras de Poliolefina Rebeca Saraiva 1, Luiz Carneiro 1, Ana Teixeira 1

Influência da introdução de ar no comportamento de argamassas aos ciclos gelo/degelo

PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DOS CIMENTOS

Caracterização de argamassas de cal utilizadas em paredes de alvenaria resistentes pertencentes a edifícios de placa

José Santos * Marques Pinho ** DMTP - Departamento Materiais

DURABILIDADE EM AMBIENTE MARÍTIMO DE BETÕES PROTEGIDOS COM PINTURAS ACRÍLICAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES (BC 1105) ENSAIOS MECÂNICOS ENSAIOS DE TRAÇÃO E FLEXÃO

Redução do custo da produção do concreto através da permuta de parte de brita por areia

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS REFORÇADOS COM TECIDO DE BASALTO

Avaliação da compatibilidade de fixação de elementos cerâmicos com o sistema ETICS

AVALIAÇÃO DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS CONTENDO AREIA RECICLADA REFORÇADOS COM FIBRAS DE SISAL

Análise comparativa de argamassas de cal aérea, medianamente hidráulicas e de ligantes mistos para rebocos de edifícios antigos

Argamassas industriais com incorporação de granulado de cortiça

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE MICROFIBRAS DE POLIPROPILENO NO DESGASTE POR ABRASÃO EM CONCRETOS EMPREGADOS EM PISOS

B 35/45 S4 0,35 0,3 0, kg/m3 350 kg/m3 400 kg/m3 0,2 0,15 0,1 0, profundidade em cm

Curso: Superior de Tecnologia em Controle de Obras - Disciplina: Concreto e Argamassa - Professor: Marcos Valin Jr Aluno: - Turma: 2841.

A CONSOLIDAÇÃO DA FALTA DE ADERÊNCIA DE REBOCOS ANTIGOS um estudo com diferentes argamassas para grouting

Redução do teor de cimento em argamassas com agregados finos de betão incorporados. Rosário Veiga 3

ANÁLISE DA ADERÊNCIA ENTRE O CONCRETO DESENVOLVIDO COM RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E O AÇO

GEOACTIVE RAPID B 548 Sistema reabilitação de betão

UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DE CANA-DE-AÇÚCAR (BAGAÇO CRU) PARA PRODUÇÃO DE COMPÓSITO CERÂMICO

UENF - COORDENAÇÃO ACADÊMICA -

ANÁLISE DE ARGAMASSAS COM RESÍDUO DE CORTE DE ROCHAS ORNAMENTAIS

4 Determinação Experimental das Propriedades Estatísticas das Fibras de Carbono

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E DURABILIDADE DE ARGAMASSAS TÉRMICAS

CAPÍTULO I SISTEMAS ESTRUTURAIS

VALORIZAÇÃO DA CINZA DE CALDEIRA DE INDÚSTRIA DE TINGIMENTO TÊXTIL PARA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS SUSTENTÁVEIS

Sumário. 1 Concreto como um Material Estrutural 1. 2 Cimento 8

RENOVA BR 575 Sistema reabilitação de betão

CAPÍTULO 4 CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO

Análise da Influência de Resíduos Potencialmente Reativos nas Propriedades de Argamassas de Construção

Evento: XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Material compósito à base de gesso reforçado com fibras: caracterização mecânica

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE FIBRAS DE AÇO NA TENACIDADE DE CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND

Gina Matias, Isabel Torres, Paulina Faria

Transcrição:

Desempenho de Argamassas de Revestimentos com Incorporação de Fibras de Plásticos Reciclados Luiz A. P. Oliveira DECA - UBI Portugal luiz.oliveira@ubi.pt Paula C. P. Alves DECA - UBI Portugal paulacpalves@sapo.pt Sérgio M. M. Dias DECA - UBI Portugal sergiommdias@sapo.pt Resumo: O artigo apresenta os resultados de um estudo experimental desenvolvido com uma argamassa mista típica de revestimento, na qual se adiciona fibras obtidas da reciclagem de embalagens de polietileno tereftalato (PET) com o objectivo de obter um material de reforço alternativo e eco-eficiente. Os resultados indicam que a adição das fibras, produtos de reciclagem, melhoram significativamente a resistência à flexão das argamassas com uma melhoria importante da tenacidade das mesmas. Indicam, também, um volume óptimo de fibras PET de 1,5% compatível com a trabalhabilidade desejada as argamassas de revestimento Palavras chave: argamassa de revestimento, fibras PET, resistência à flexão, tenacidade. 1. INTRODUÇÃO A incorporação de fibras, sobretudo as sintéticas, em matrizes cimentícias tem sido uma alternativa para a melhoria de desempenho quanto ao controlo de fissuração por retracção plástica. As fissuras de retracção plástica são largamente evidentes em revestimentos de grandes espessuras e de grandes áreas de exposição. No caso de argamassas, é de grande importância obter-se um elevado desempenho das mesmas em algumas aplicações, evitando-se assim a degradação do material. Sabe-se que o desenvolvimento de fissuras de retracção plástica leva o material a uma rápida deterioração sobretudo quando as superfícies estão expostas ao efeito de molhagem e secagem ou de gelo-degelo [1,2]. Das fibras sintéticas, as mais comummente usadas são as fibras de polipropileno [3-5] e as de nylon [6]. O baixo módulo de elasticidade das fibras sintéticas é suficiente para conferir elevado desempenho às argamassas, na medida em que a incorporação destas fibras podem inibir a propagação das fissuras [7]. São vários os investigadores [1,2,4,8] que atestam a apreciável redução da retracção plástica e da consequente fissuração dos

materiais à base de cimento. Isto deve-se ao facto das fibras durante a mistura serem uniformemente distribuídas em todas as direcções. Nas argamassas frescas, as fibras uniformemente distribuídas agem reforçando as argamassas contra a formação de fissuras devido á retracção plástica. Nas argamassas endurecidas, a distribuição uniforme das fibras inibem a transformação de microfissuras em macrofissuras evitando assim um potencial de problemas mais graves. As fibras com o seu efeito de ponte mantêm estáveis as macrofissuras. A avaliação da eficiência das fibras em reduzir a retracção plástica e por conseguinte as fissuras, tem sido realizada através de ensaios de retracção livre e de retracção restringida. É necessário salientar que a redução da retracção livre não é necessariamente indicadora da redução global da tendência de fissuração. Nos compósitos endurecidos a sensibilidade à fissuração é função das deformações devido á retracção e da melhoria da tenacidade devido á incorporação das fibras [9]. A tenacidade, que é entendida como a capacidade de absorver energia, é de grande importância quando em serviço os compósitos estão submetidos às acções estáticas, dinâmicas e de fadiga. Nesse sentido, este artigo, apresenta um estudo experimental que avalia o desempenho de fibras poliméricas obtidas através da reciclagem de embalagens de polietileno tereftalato (PET) com o objectivo de obter um material de reforço alternativo e eco-eficiente. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Tendo em vista a avaliação da capacidade de reforço das fibras de PET o estudo experimental foi desenvolvido com uma argamassa típica de revestimento no traço (em volume) 1:1:6 ou seja uma argamassa mista de cimento : cal hidratada : areia do Tejo. Para efeitos de comparação das ordens de grandeza, foi tomada como referência uma argamassa de cimento e areia de traço 1:3. A argamassa mista recebeu diferentes adições de fibras, a saber 0 %, 0,5%, 1,0% e 1,5%. 2.1 Materiais Para compor as argamassas utilizou-se um cimento Portland do tipo II classe 32,5, uma cal hidratada adquirida no comércio local e areia do Tejo com as seguintes características: dimensão máxima 4,76mm e módulo de finura 2,97 e massa volúmica 2450 kg/m 3. As fibras foram obtidas a partir do corte mecânico de recipientes plásticos de PET, apresentadas na figura 1, mantendo-se uma espessura de aproximadamente 2mm e um comprimento de aproximadamente 35mm. Figura 1 Fibras de reciclagem de recipientes plásticos de PET

A esbelteza das fibras (λ), calculada pela expressão (1), é igual a 31. λ = l de l l = = = A b c 2 2 2 π π 35 = 31 2 0,5 π (1) Onde: l = comprimento da fibra (mm), d e = diâmetro equivalente (mm), A = área da secção transversal da fibra (mm 2 ), b e c = arestas da fibra (mm). 2.2 Métodos 2.2.1 Determinação das propriedades físicas e mecânicas Para cada argamassa foram moldados 6 corpos-de-prova prismáticos de 4 x 4 x 16 cm, com os quais foram determinados as massas volúmicas na idade de 28 dias segundo a norma EN 1015-10 [10] e o coeficiente de absorção de água por capilaridade da argamassa endurecida, segundo a norma EN 1015-18 [11], nas idades de 7, 28 e 63 dias. As propriedades mecânicas das argamassas endurecidas foram determinadas através de ensaios de resistência à compressão e de resistência à flexão, realizados de acordo com a norma EN 1015-11 [12]. Estes ensaios foram realizados nas idades de 7, 28 e 63 dias. Para uma melhor avaliação do desempenho das fibras na pós fissuração, durante o ensaio de flexão, mediram-se as cargas em função do incremento de deformações, ensaio este realizado em uma máquina Zwick 1435, através deste ensaio pode-se avaliar a tenacidade das argamassas. 2.2.2 Determinação da tenacidade Na ausência de uma norma específica para argamassas, a contribuição das fibras de PET na tenacidade das mesmas foi avaliada segundo a norma para betão ASTM C 1018 [13]. Assim os índices de tenacidade, obtidos por esta norma, correspondem à divisão do valor obtido para a área abaixo da curva de carga - flecha até um determinado nível de flecha, pela área abaixo da mesma curva até ao ponto de aparecimento da primeira fissura, correlacionada ao trecho elástico. Os pontos de delimitação das áreas são definidos como múltiplos da deformação obtida até ao surgimento da primeira fissura (δ), conforme o apresentado na figura 2. O índice I 5 corresponde à relação entre a área OACD e a área OAB, sendo que o ponto D corresponde a uma flecha equivalente a três vezes a deformação da primeira fissura (δ). O índice I 10 corresponde à relação entre a área OAEF e a área OAB, sendo que o ponto F equivale a uma flecha 5,5 x δ. Finalmente, o índice I 30 corresponde à relação entre a área OAGH e a área OAB, sendo que o ponto H corresponde à flecha de 15,5 x δ. A norma ASTM C 1018 recomenda que o ponto final da flecha e o respectivo índice sejam seleccionados de modo a reflectir o nível de fissuração e flecha requeridas em serviço.

Carga A C E G O δ B D F H Deslocamento 3δ 5,5δ 15.5δ Figura 2 Curva carga - deslocamento da norma ASTM C 1018 tomando como referência o material elasto-plástico ideal. A obtenção de valores de índices de tenacidade da ordem de 5 para o I 5, e 10 para o I 10, e assim sucessivamente, indicam que o compósito possui comportamento elasto-plástico perfeito. São valores adimensionais e fornecem uma referência da proximidade do comportamento do material em relação ao referido comportamento elasto-plástico ideal. Estes índices têm como vantagem o facto de apresentar uma avaliação do comportamento do conjunto fibra/matriz (compósito). A partir dos resultados obtidos para os índices de tenacidade (I 5, I 10, I 20, I 30 ) é possível determinar as relações de tenacidade conforme o apresentado pela norma ASTM C1018, conforme a equação (2). Os valores da relação de tenacidade representam, aproximadamente, a relação percentual entre a capacidade portante na faixa de flecha compreendida pelos deslocamentos dos índices I b e I a, em relação àquela correspondente ao aparecimento da primeira fissura. Assim, por exemplo, um material elasto-plástico perfeito, apresentará sempre relações de tenacidade da ordem de 100. 100 Ra, b = ( Ib I a ) (2) b a Onde, R a,b = relação de tenacidade entre os índices com referência "a" e "b". I a e I b = índices de tenacidade com referência "a" e "b".

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Massa volúmica Os resultados da massa volúmica das argamassas mistas, apresentados na figura 3, demonstram que a adição de fibras provocam uma pequena diminuição da massa volúmica, diminuição esta que não ultrapassa 5% mesmo para volume de fibras de 1,5%. Considerando que a massa volúmica do PET é da ordem de 1450 kg/m 3 conclui-se que a adição das fibras de PET não alteram significativamente a massa volúmica da argamassa endurecida. Massa Volúmica (kg/m 3 ) 1870 1865 1860 1855 1850 1845 1840 1835 1830 1825 0 0,5 1 1,5 Volume de fibras (%) Figura 3 - Massa volúmica das argamassas mistas 1 : 1: 6 em função do volume de fibras 3.2 Absorção de água por capilaridade Constata-se na figura 4 que para a argamassa sem fibras o coeficiente de absorção de água por capilaridade diminui em função do aumento da idade, o mesmo pode-se afirmar para a argamassa com 0,5% de fibras. Para teores de fibras mais importantes a perturbação das fibras no processo de medida é notório. A norma de ensaio EN 1015-18 prescreve que a face de contacto com a lâmina de água deve ser a face de rotura dos dois segmentos resultantes do corpo-de-prova, após o ensaio de flexão. Deste modo, no caso das argamassas com fibras, estas sofrem na região de fractura um arrancamento que altera sobremaneira as adjacências desse plano. Sendo esta a causa que imaginamos para a aleatoriedade dos resultados, propõe-se para uma maior fidelidade do ensaio que o mesmo deva ser realizado com as faces menores (aresta de 4 cm) em contacto com as paredes do molde ou com uma face obtida por corte mecânico.

Coeficiente de capilaridad [kg/(m2*min0,5)] 1,20E-03 1,00E-03 8,00E-04 6,00E-04 4,00E-04 2,00E-04 0,00E+00 7 dias 28 dias 63 dias Idade (em dias) 1:3 (0%) 1:1:6 (0%) 1:1:6 (0,5%) 1:1:6 (1%) 1:1:6 (1,5%) Figura 4 - Coeficiente de capilaridade das argamassas em função da idade 3.3 Resistência à compressão A tabela 1 apresenta os resultados de resistência à compressão. Constata-se que a adição de fibras não modifica significativamente a grandeza das resistências à compressão da argamassa mista. Como se esperava, a resistência à compressão aumenta da ordem de 75% aos 28 dias para a argamassa mista sem fibras. As argamassas com fibras ficaram sujeitas ao carácter aleatório do efeito das fibras tendo acréscimos da ordem de 50% para as misturas com volumes de fibras de 1,0% e 1,5%. De 28 dias de idade para 63 dias não se verificou modificações que se possa afirmar advir da influência das fibras. Lembra-se aqui que a norma EN 1015-11 prescreve que após os 5 dias de cura em câmara húmida, os corpos-de-prova devem ser colocados no ambiente do laboratório. A figura 5 apresenta o modo típico de rotura à compressão obtido com os corpos-de-prova das argamassas. Tabela 1 Resistência à compressão das argamassas Resistência à compressão Argamassa 7dias 28dias 63dias Volume Traço de Média Desvio Média Desvio Média Desvio fibras [N/mm 2 ] padrão [N/mm 2 ] padrão [N/mm 2 ] padrão [%] 1:3 0,0 13,72 1,19 16,31 0,52 15,38 0,66 1:1:6 0,0 3,27 0,40 5,69 0,54 4,84 0,24 1:1:6 0,5 5,19 0,49 4,92 0,46 6,39 0,52 1:1:6 1,0 3,64 0,66 5,44 0,41 5,48 0,53 1:1:6 1,5 3,84 0,34 5,80 0,38 5,69 0,57

Figura 5 Corpos-de-prova após ensaio de compressão com rotura típica 3.4 Resistência à flexão A tabela 2 apresenta os resultados de resistência à flexão obtidos para a argamassa de referência 1:3 e para as argamassas de revestimento da série 1: 1: 6. A figura 6 mostra um corpo-de-prova típico no início do ensaio de flexão. Tabela 2 Resistência à flexão das argamassas Resistência à Flexão Argamassa 7dias 28dias 63dias Volume Traço de Média Desvio Média Desvio Média Desvio fibras [N/mm 2 ] padrão [N/mm 2 ] padrão [N/mm 2 ] padrão [%] 1:3 0,0 1,89 0,00 2,55 0,33 4,52 0,48 1:1:6 0,0 0,80 0,00 1,03 0,00 1,83 0,17 1:1:6 0,5 1,63 0,00 -- 0,00 2,05 0,15 1:1:6 1,0 1,31 0,00 1,23 0,34 1,73 0,07 1:1:6 1,5 1,56 0,14 1,37 0,05 2,70 0,47 Figura 6 Ensaio de flexão em equipamento com controlo de deslocamento (Zwick 1435)

Constata-se que a adição de fibras na argamassa mista de referência aumenta a resistência à flexão da ordem de 100% aos 7 dias de idade, 30 % aos 28 dias e da ordem de 50% aos 63 dias. Verifica-se que não houve evolução da resistência à flexão de 7 a 28 dias de idade e que o incremento da resistência é mais significativo aos 63 dias, onde a resistência da matriz que incorpora as fibras ou seja a argamassa 1:1:6 sem fibras atinge nessa idade mais do dobro da resistência à flexão obtida aos 7 dias. Constata-se também que o volume de fibras de 1,5% é o volume óptimo para o melhor desempenho da argamassa. Para as misturas realizadas, o volume de 1,5% de fibras foi o máximo possível condizente com a trabalhabilidade desejada. 3.5 Tenacidade Pelos resultados dos coeficientes de tenacidade apresentados na tabela 3 pode-se concluir que o volume crítico de fibras é da ordem de 1,0%, o volume crítico corresponde as relações de tenacidade próximas de 100, o que caracteriza um comportamento elastoplástico. Os valores das relações de tenacidade obtidas para as argamassas mistas com 1,5% de fibras apontam, em todas as idades, para uma situação óptima da presença de fibras conferindo à argamassa um carácter de reforço com grande capacidade de absorção de energia, sobretudo para as idades de 7 e 63 dias. A figura 7 apresenta a relação carga flecha das argamassas 1:1:6 sem adição de fibras nas diferentes idades, onde se pode verificar que a resistência à flexão cresce em função da idade. As figuras 8 e 9 apresentam as relações carga flecha das argamassas 1:1:6 com adição de fibras aos 28 e 63 dias de idade, respectivamente. Essas constatações são indicadoras do bom desempenho das fibras obtidas pela reciclagem de embalagens de PET e avalizam a importância de estudos mais aprofundados que possam estabelecer uma comparação de desempenho com outras fibras sintéticas disponíveis no mercado. Tabela 3 Coeficientes de Tenacidade das argamassas mistas com fibras Relações de Tenacidade Argamassa Volume 7dias 28dias 63dias Traço de fibras [%] R 5,10 R 10,30 R 5,10 R 10,30 R 5,10 R 10,30 1:1:6 0,5 -- -- -- -- 98,74 -- 1:1:6 1,0 104,15 91,94 86,31 -- 46,42 -- 1:1:6 1,5 136,13 128,17 99,14 103,43 129,59 120,67

F[N] 900 800 700 600 500 400 300 200 100 63 dias 28 dias 7 dias 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 L[mm] Figura 7 - Relação carga flecha das argamassas 1:1:6 sem adição de fibras nas diferentes idades F[N] 700 600 500 400 300 200 100 1:1:6 (1.5%fibras) 1:1:6 (1%fibras) 0 0 2 4 6 8 L[mm] Figura 8 - Relação carga flecha das argamassas 1:1:6 com adição de fibras aos 28 dias de idade

1400 1200 1000 F[N] 800 600 400 200 1:1:6 (0.5%fibras) 1:1:6 (1%fibras) 1:1:6 (1.5%fibras) 0 0 2 4 6 8 L[mm] Figura 9 - Relação carga flecha ao meio vão das argamassas com fibras PET aos 63 dias de idade. 4. CONCLUSÃO As principais conclusões que advêm deste trabalho e que se limitam aos materiais aqui estudados são: a) a massa volúmica da argamassa endurecida não é significativamente alterada pela adição de fibras PET nos volumes e dimensões experimentadas; b) a determinação da absorção de água por capilaridade prescrita pela norma EN 1015-11 não se adequa perfeitamente ao caso das argamassas com fibras, como as estudadas neste trabalho, tendo em vista que o arrancamento das fibras durante o ensaio compromete a estrutura adjacente às faces de fractura dos corpos-deprova; c) a adição de fibras não modifica significativamente a grandeza das resistências à compressão da argamassa mista; d) a adição de fibras na argamassa mista de referência aumenta a resistência à flexão da ordem de 100% aos 7 dias de idade, 30 % aos 28 dias e da ordem de 50% aos 63 dias. O volume de fibras de PET de 1,5% é o volume óptimo para o melhor desempenho da argamassa mista; e) e os valores das relações de tenacidade obtidas para as argamassas mistas com 1,5% de fibras apontam, em todas as idades, para uma situação óptima da presença de fibras conferindo à argamassa um carácter de reforço com grande capacidade de absorção de energia, sobretudo para as idades de 7 e 63 dias. Essas constatações são indicadoras do bom desempenho das fibras e viabilizam em parte a reciclagem de embalagens de PET.

5. REFERÊNCIAS [1] Sarigaphuti M, Shah SP, Vinson K., Shrinkage cracking and durability characteristics of cellulose fibre reinforced concrete. ACI Mater J; 90(4); 1993, 429-435. [2] Swamy RN, Stravides H. Influence of fiber reinforcement on restrained shrinkage. ACI J; 86; 1979, 443-460. [3] Bayasi Z, Zeng J. Properties of polypropylene fiber reinforced concrete. ACI Mater J, 90 (6), 1993, 605-610. [4] Soroushian P, Elyamany H, Tlili A, Osowari K. Mixed-mode fracture properties of concrete reinforced with low volume fraction of steel and polypropylene fibers. Cem. Concr. Compos. 20, 1998, 67-78. [5] Mindess S, Vondran G. Properties of concrete reinforced with fibrillated polypropylene fibres under impact loading. Cem. Concr. Res. 18 (1), 1998, 108-115. [6] Kurtz S, Balaguru P. Postcrack creep of polymeric fiber-reinforced concrete in flexure, Cem. Concr. Res. 24 (6), 1994, 1121-1132. [7] Figueiredo AD. Concreto com fibras de aço, Boletim Técnico da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, BT/PCC/260, ISSN 0103-9830, São Paulo, 2000, 69 p. [8] Sanjuán MA, Andrade C, Bentur A. Effect of crack control in polypropylene fibre reinforced mortars on the corrosion of steel in concrete. ACI Mater J, 94 (2); 1997; 134-141. [9] Bentur A, Mindess S. Fibre reinforced cmentitious composites. UK: Elsevier Applied Science; 1990, 449 pp. [10] European Committee for Standardization. Methods of test mortar for masonry- Part 10: Determination of dry bulk density of hardened mortar. EN 1015-10:1999. [11] European Committee for Standardization. Methods of test mortar for masonry- Part 18: Determination of water absorption coefficient due to capillary action of hardened mortar EN 1015-18:2002 [12] European Committee for Standardization. Methods of test mortar for masonry- Part 11: Determination of flexural and compressive strength of hardened mortar EN 1015-11:1999. [13] American Society for Testing and Materials. Standard test method for flexural strength toughness and first crack strength of fiber reinforced concrete. ASTM C 1018. Book of ASTM Standards, Parte 04.02. ASTM Philadelphia, 2000.