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Transcrição:

UM POUCO DE BÁLSAMO, UM POUCO DE MEL... "Então Israel, seu pai, lhes disse: 'Se tem que ser assim, que seja! Coloquem alguns dos melhores produtos da nossa terra na bagagem e levem-nos como presente ao tal homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, algumas especiarias e mirra, algumas nozes de pistache e amêndoas'." (Gênesis 43.11 Nova Versão Internacional) O capítulo 32 do Livro do Gênesis narra a épica luta do patriarca Jacó à margem do rio Jaboque, afluente do rio Jordão. Na ocasião Jacó priorizou Deus em sua vida, deixou de ser guiado pelos próprios méritos e aprendeu a lidar com as adversidades debaixo da dependência divina. O resultado da batalha foi que o filho de Isaque, o neto de Abraão, teve a vida completamente transformada. Ele deixou de ser chamado Jacó, do hebraico bäåq v v (Ya aqob = suplantador, manipulador, aquele que tira a vantagem de alguém, aquele que derruba alguém e toma o seu lugar etc.) e passou a ser conhecido como Israel, do hebraico le' ƒr ÕWIy (Yishra el), que significa aquele que luta com a ajuda de Deus e prevalece. 1 No Antigo Testamento, curiosamente o nome de uma pessoa normalmente fazia referência ao caráter dela. Ao ter o nome mudado para Israel, Jacó soube que, com a ajuda de Deus, ele prevalecera sobre a sua vontade, sobre sua autoconfiança, sobre os seus medos e receios. A partir daí ele se tornou referencial de vida para os seus doze filhos dentre eles, José. José foi o filho primogênito de Raquel, a esposa amada por Israel que também estava casado Leia, irmã mais velha de Raquel. Israel gostava mais de José do que de qualquer outro filho, porque lhe havia nascido em sua velhice; por isso mandou fazer para ele uma túnica longa. Quando os seus irmãos viram que o pai gostava mais dele do que de qualquer outro filho, odiaram-no e não conseguiam falar com ele amigavelmente (Gênesis 37.3-4). O amor seletivo e desbalanceado de Israel pelos filhos fez com que a relação de José com os irmãos ficasse estremecida. Por causa do conteúdo dos sonhos de José que fazia questão de ostentálos perante a família os seus irmãos passaram a odiá-lo ainda mais (cf. Gênesis 37.5). A animosidade dos irmãos de José para com ele chegou a um estágio em que eles planejaram matá-lo (cf. Gênesis 37.18). Mas em vez disso, depois de longa discussão, eles o venderam por vinte peças de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito (cf. Gênesis 37.28). Quando retornaram para casa, 1 MORAES, Elias Soares de. Dicionário etimológico de nomes bíblicos: origem e significado de milhares de nomes de pessoas, rios, vales, montes, lugares, Deus etc.. São Paulo: Beit Shalom, 2010. 222, 226 p.

P á g i n a 2 os irmãos de José fizeram Israel acreditar que o filho predileto dele fora devorado por um animal selvagem (cf. Gênesis 37.33). Nesse meio tempo, no Egito, os midianitas venderam José a Potifar, oficial do faraó e capitão da guarda (Gênesis 37.36). No Egito, José foi vítima de uma trama maligna orquestrada pela esposa de Potifar (cf. Gênesis 39.6-18). Ele foi lançado injustamente na prisão em que eram postos os prisioneiros do rei (cf. Gênesis 39.20). Decorrido mais de uma década, o prisioneiro José interpretou um misterioso sonho do faraó (cf. Gênesis 41.25-36). O monarca do Egito e seus conselheiros gostaram da interpretação (cf. Gênesis 41.37). Em retribuição, José foi colocado no comando de toda a terra do Egito (cf. Gênesis 41.43). A exemplo do que ocorreu com seu pai Jacó, o nome de José também foi mudado. O faraó deu a José o nome de Zafenate-Panéia (cf. Gênesis 41.45). De sùy (Yosseph = Deus adiciona ) para Çax nõvakp ûtanõp flc (Tsafenat Pa necha = revelador dos segredos ). 2 Como governador do Egito, José se casou e teve dois filhos. Ao filho mais velho José deu o nome de Manassés [ h ekhanõm (Menasheh = o que faz esquecer, entregue ao esquecimento )] 3, dizendo: Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai (Gênesis 41.51). Mas como veremos a seguir, não foi o que aconteceu. Durante sete anos, houve no Egito grande fartura agrícola e a terra teve grande produção (cf. Gênesis 41.47). Mas ao fim os sete anos de fartura no Egito, começaram os sete anos de fome, como José tinha predito. Houve fome em todas as terras [inclusive Canaã], mas em todo o Egito havia alimento (cf. Gênesis 41.53-54). Quando Jacó soube que no Egito havia trigo, disse a seus filhos: Por que estão aí olhando uns para os outros? Disse ainda: Ouvi dizer que há trigo no Egito. Desçam até lá e comprem trigo para nós, para que possamos continuar vivos e não morramos de fome. Assim dez dos irmãos de José desceram ao Egito para comprar trigo (Gênesis 42.1-3). José era o governador do Egito e era ele que vendia trigo a todo o povo da terra. Por isso, quando os irmãos de José chegaram, curvaram-se diante dele, rosto em terra (Gênesis 42.6). Na história bíblica, José atua como arquétipo de Cristo. Principalmente quando atua como instrumento de Deus para salvação do seu povo cuja morte era certa (cf. Gênesis 45.5, 7). Por outro lado, José também representa o arquétipo de nós mesmos, de nossas imperfeições, de como lidamos com a realidade que nos cerca principalmente no que tange os nossos relacionamentos interpessoais e familiares. Muitas atitudes de José são bem semelhantes às que tomamos quando lidamos com nossos problemas relacionais sobretudo aqueles que envolvem a família. Observe: 2 MORAES, Elias Soares de. Dicionário etimológico de nomes bíblicos: origem e significado de milhares de nomes de pessoas, rios, vales, montes, lugares, Deus etc.. São Paulo: Beit Shalom, 2010. 241, 378 p. 3 Ibid., p. 257.

P á g i n a 3 Ao contrário do que José havia dito anteriormente que Deus o havia feito esquecer todo o seu sofrimento e toda a casa de seu pai, isto é, seus irmãos (cf. Gênesis 41.51) José reconheceu os seus irmãos logo que os viu, mas agiu como se não os conhecesse, e lhes falou asperamente (cf. Gênesis 42.7a). No coração de José havia ferida aberta, não tratada, ainda que ele ignorasse isso. Do mesmo modo, existem milhares de pessoas com o coração enfermo e que ignoram esse fato. Muitas têm o órgão vital da existência em constante sangramento. Outras, já não sentem o seu pulsar. Ainda existem aquelas cuja alma já se encontra em estado de putrefação. Mas em comum, a maioria delas age diariamente como se em seu interior não houvesse nada de errado. Quando questionadas, essas pessoas têm o hábito de dizer que não possuem nenhum tipo de rancor, mágoa ou algo do gênero. A exemplo de José, afirmam que tudo já foi esquecido. Pura ilusão, que pode ser comprovada através de algumas atitudes tomadas por nós e que são bem semelhantes às de José. Vejamos: Em primeiro lugar, José agiu com indiferença. Quando ficou frente a frente com os irmãos agiu como se não os conhecesse (v. 7). Indiferença é sinônima de desprezo, insensibilidade. Em seguida ele agiu aspereza. Ele lhes falou asperamente (v. 7). Aspereza é sinônima de dureza, frieza, grosseria, violência, rispidez. A família estava passando fome e José não se comoveu. Pior que isso. Ele levantou falsas acusações contra os irmãos quando lhes disse: vocês são espiões (v. 9). Houve também inflexibilidade por parte de José. Quando acusou seus irmãos, eles responderam: Não, meu senhor. Teus servos vieram comprar comida. Todos nós somos filhos do mesmo pai. Teus servos são homens honestos, e não espiões. Mas José insistiu: Não! Vocês vieram ver onde a nossa terra está desprotegida (vv. 10-12). A vingança também esteve presente nas atitudes de José quando ele deixou seus irmãos presos por três dias (v. 17), sem pensar que esse ato geraria muita preocupação no coração do seu pai Jacó, que não presenciaria o retorno dos seus dez filhos dentro do prazo adequado de viagem. Não podemos nos esquecer do rompimento do diálogo por parte de José que, mesmo entendendo tudo o que os irmãos diziam, não lhes dirigiu diretamente a palavra. No texto bíblico está assim: Tragam-me, porém, o seu irmão caçula, para que se comprovem as suas palavras e vocês não tenham que morrer. Eles se prontificaram a fazer isso e disseram uns aos outros: Certamente estamos sendo punidos pelo que fizemos a nosso irmão. Vimos como ele estava angustiado, quando nos implorava por sua vida, mas não lhe demos ouvidos; por isso nos sobreveio esta angústia. Rúben respondeu: Eu não lhes disse que não maltratassem o menino? Mas vocês não quiseram me ouvir! Agora teremos que prestar contas do seu sangue. Eles, porém, não sabiam que José podia compreendê-los, pois ele lhes falava por meio de um intérprete. (vv. 20-23). Por fim, José também transpareceu remorso. A narrativa bíblica nos mostra que, em determinado momento, José retirou-se e começou a chorar, mas logo depois voltou e conversou de novo com eles. Então escolheu Simeão e mandou acorrentá-lo diante deles (v. 24). Mesmo após o momento de choro, José não hesitou em acorrentar um de seus irmãos publicamente. Sinal de que o seu coração não foi mudado e ele não se arrependeu de suas diversas más ações.

P á g i n a 4 Ao saber do acontecido (cf. Gênesis 43.11), Israel reluta muito em aceitar a situação, mas acaba cedendo e permitindo que Benjamin acompanhasse os demais irmãos no retorno deles ao Egito. Mesmo com o coração ferido, pelo fato Zafenate-Panéia ter feito prisioneiro um de seus filhos, Jacó envia (através deles) alguns presentes para serem entregues ao governador do Egito. "Então Israel, seu pai, lhes disse: 'Se tem que ser assim, que seja! Coloquem alguns dos melhores produtos da nossa terra na bagagem e levem-nos como presente ao tal homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, algumas especiarias e mirra, algumas nozes de pistache e amêndoas'." (Gênesis 43.11 Nova Versão Internacional) Dentre os presentes de Israel para Zafenate-Panéia estavam um pouco de bálsamo e um pouco de mel. Estes eram itens especialmente valorizados e nada comuns no Egito. Eram produtos típicos de Canaã. Mas quais eram as intenções de Jacó quando enviou um pouco de bálsamo e um pouco de mel ao governador Zafenate-Panéia? As respostas estão contidas na rica simbologia presente nesses dois elementos. O bálsamo era o remédio universal, sendo inclusive levado pelos soldados para o campo de batalha, caso fossem feridos, para amenizar as dores. Aplicavam o bálsamo esperando a cura de um ferimento, ou como alívio diante da morte aguardada. Ele servia para curar as feridas do corpo e, simbolicamente, as feridas da alma. Jacó supôs que Zafenate-Panéia estivesse com o coração ferido por alguma razão que o motivou a prender Simeão. Ao enviar um pouco de bálsamo como presente, Jacó queria que o mesmo representasse um canal para a cura das possíveis feridas da alma do poderoso governante. Note que o coração de José estava realmente ferido, pois, ao rever os irmãos, todo o sofrimento vivenciado por ele no passado veio à tona. Para as feridas da alma, o bálsamo pode ser ministrado na forma de palavras. As produções dos nossos lábios podem se transformar em armas usadas para menosprezar, desanimar e destruir sonhos alheios. Do mesmo modo as nossas palavras podem ser doces, amáveis, ao ponto de produzir alegria, prazer e motivação, principalmente em momentos de crise. Afinal, a língua tem poder para trazer morte ou vida (Provérbios 18.21). Mesmo com o coração ferido por estar com um dos filhos aprisionado e ainda correndo o risco de perder os demais, Jacó deseja gerar cura na alma daquele que era o agente causador da sua dor. Quando analisamos a figura do mel, vemos que ele era o alimento universal, a fonte de energia natural para sustentar a força de qualquer um que estivesse incapacitado para caminhar, para viajar, ou para entrar no campo de batalha. Enquanto o bálsamo recuperava o ferido, o mel fortalecia o são. Simbolicamente, o mel alimenta a alma e sacia todo o ser, trazendo doçura à vida. Jacó poderia ter pensado: Alguma coisa amargurou a vida deste homem. Farei com que levem até ele um pouco de mel, um pouco de doçura. O mel adoça a nossa vida. Ele fornece um pouco mais de doçura no que

P á g i n a 5 fazemos e naquilo que somos. Bálsamo e mel juntos cicatrizam nossas feridas e fornecem alimento espiritual que fortalece a nossa alma e revigora o nosso ser. Ao chegarem ao Egito os filhos de Jacó preparam e entregam o presente para Zafenate-Panéia: Eles então prepararam o presente para a chegada de José ao meio-dia, porque ficaram sabendo que iriam almoçar ali. Quando José chegou, eles o presentearam com o que tinham trazido e curvaramse diante dele até o chão (Gênesis 43.25-26). A dádiva de Jacó cumpre seu papel: José, que estava desfigurado pelos sofrimentos e angústias que passou, deixa de enxergar os irmãos como inimigos (cf. Gênesis 43.29) e passa a festejar com eles aquele momento (cf. Gênesis 43.34). A essa altura, José já não podia mais conter-se diante de todos os que ali estavam, e gritou: Façam sair a todos! Assim, ninguém mais estava presente quando José se revelou a seus irmãos. E ele se pôs a chorar tão alto que os egípcios o ouviram, e a notícia chegou ao palácio do faraó. Então disse José a seus irmãos: Eu sou José! Meu pai ainda está vivo? Mas os seus irmãos ficaram tão pasmados diante dele que não conseguiam responder-lhe. Cheguem mais perto, disse José a seus irmãos. Quando eles se aproximaram, disse-lhes: Eu sou José, seu irmão, aquele que vocês venderam ao Egito! Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou adiante de vocês (...) Deus me enviou à frente de vocês para lhes preservar um remanescente nesta terra e para salvar-lhes as vidas com grande livramento (Gênesis 45:1-5, 7). Assim como o antídoto contra o veneno de uma serpente, está na própria serpente, em nossos relacionamentos interpessoais, muitas vezes a cura para as feridas da nossa alma está no próprio agente causador da nossa dor. O coração de Jacó estava tão ferido quanto o de José. Ambos poderiam agir com algozes um do outro. Mas Jacó optou por ofertar um pouco de bálsamo e um pouco de mel. A atitude dele fez toda a diferença na vida de Zafenate-Panéia (José). Oremos para que Deus nos cure. Mas oremos muito mais para que Ele nos ajude a curar e alimentar aqueles que nos feriram. Assim como Jacó, podemos ser a provisão de Deus para muitos que, à semelhança de José, necessitam de um pouco de bálsamo e um pouco de mel. Não podemos sofrer no lugar de outras pessoas. Mas sempre poderemos segurar as mãos delas. Nele, que nos consola [com um pouco de bálsamo e um pouco de mel] em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar [com um pouco de bálsamo e um pouco de mel] os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. (cf. 2Coríntios 1.4). Soli Deo Gloria.