Análise Espaço-Temporal da Cobertura do Solo no Município de Ibiassucê-BA no Período de

Documentos relacionados
¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

Uso da terra na bacia hidrográfica do alto rio Paraguai no Brasil

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - MONITORAMENTO AMBIENTAL

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

Ministério Público do Rio Grande do Sul Divisão de Assessoramento Técnico PARECER DOCUMENTO DAT-MA Nº 3038/2008

MONITORAMENTO DA EXPANSÃO AGROPECUÁRIA NA REGIÃO OESTE DA BAHIA UTILIZANDO SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO. Mateus Batistella 1

ANÁLISE TEMPORAL DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DE REFLORESTAMENTO NA REGIÃO DO CAMPO DAS VERTENTES-MG

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA POR SATÉLITES AVALIAÇÃO DETER JUNHO DE 2009 INPE COORDENAÇÃO GERAL DE OBSERVAÇÃO DA TERRA

RELAÇÃO ENTRE OS FOCOS DE CALOR E O DESMATAMENTO POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO NA CAATINGA

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

Reunião Banco do Brasil

Uso de geotecnologias no estudo da sustentabilidade agrícola do núcleo rural Taquara, DF.

Monitoramento de Queimadas e Incêndios na Região do Parque Estadual do Jalapão em 2007, 2008 e 2009

Quais são os principais drivers do desflorestamento na Amazônia? Um exemplo de interdisciplinaridade.

Lauro Charlet Pereira Francisco Lombardi Neto - IAC Marta Regina Lopes Tocchetto - UFSM Jaguariúna, 2006.

Estado de Mato Grosso. Resumo. Estatística de Desmatamento. Geografia do Desmatamento

Vegetação Amenizadora da Poluição Industrial no Bairro Cidade Industrial de Curitiba / PR

Cadeia Produtiva da Silvicultura

Utilização de imagens de satélite para criação do mapa de uso e cobertura da terra para o estado de Goiás Ano base 2015

Características dos Solos Goianos

MUDANÇAS DE USO DA TERRA NO NORDESTE E IMPACTOS NO PROCESSO DESERTIFICAÇÃO

Conversão do Uso e Cobertura da Terra no Sudeste de Roraima

ZONEAMENTO DE USO E COBERTURA DOS SOLOS DO MUNICÍPIO DE ARARAS, SP. Relatório de Execução

Manejo Florestal na Chapada do Araripe: Uma Técnica de Combate à Desertificação

DESMATAMENTO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA EM 2009

Análise Da Distribuição Espacial Do Programa Bolsa Verde Em Minas Gerais Com Técnicas De Geoprocessamento

A AMERICA LATINA SUA NATUREZA E REGIONALIZAÇÃO

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

MONITORAMENTO AMBIENTAL: A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO TRÓPICO SEMI-ARIDO DO NORDESTE BRASILEIRO

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA POR SATÉLITES

Monitoramento de Queimadas e Incêndios na Região do Parque Estadual do Jalapão em 2011, 2012 e 2013

DETER JANEIRO de 2015 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM IMAGEM ALOS PARA O MAPEAMENTO DE ARROZ IRRIGADO NO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA SC

CONHEÇA OS CURSOS OFERECIDOS:

MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E DA EXPANSÃO URBANA EM ALFENAS, SUL DE MINAS GERAIS

ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FOCOS DE CALOR E O DESMATAMENTO NA CAATINGA

Princípios e critérios para a produção de carvão vegetal utilizado na produção de ferro gusa para a cadeia produtiva do aço sustentável brasileiro.

SUMÁRIO Unidade 1: Cartografia Unidade 2: Geografia física e meio ambiente

Restauração Florestal de Áreas Degradadas

Exploração de Lenha em Plano de Manejo Florestal Sustentável no Rio Grande do Norte

PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA UD 4 ATUALIZAÇÃO

CÁLCULO DOS TEORES DE CARBONO NO SOLO NA ZONA DE TRANSIÇÃO DO BIOMA DE MATA ATLÂNTICA COM O CERRADO BRASILEIRO

PROCESSAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA CARACTERIZAÇÃO DE USOS DO SOLO

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO PORTO ORGANIZADO DE ÓBIDOS

Caracterização da adequação do uso agrícola das terras no Distrito Federal 1.

3 - AQUISIÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

Educação ambiental com foco na conservação dos solos em uma escola de ensino fundamental no Oeste do Pará

UNIDADES ECODINÂMICAS DA PAISAGEM DO MUNICÍPIO DE JEREMOABO- BA.

GEOTECNOLOGIA APLICADA AO DIAGNÓSTICO DO USO E COBERTURA DA TERRA NO TRECHO INICIAL DA RODOVIA TRANSAMAZÔNICA (BR-230) NO MUNICÍPIO DE LÁBREA AM

ANÁLISE MULTI-TEMPORAL DO USO DA TERRA E DA COBERTURA VEGETAL NO SUL DE MINAS GERAIS UTILIZANDO IMAGENS LANDSAT-5 TM E CBERS-2B

CONTEÚDOS GEOGRAFIA - 4º ANO COLEÇÃO INTERAGIR E CRESCER

Área verde por habitante na cidade de Santa Cruz do Sul, RS

COHIDRO PLANO INTEGRADO DE RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL

Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, novembro 2014

Empresa Júnior de Consultoria Florestal ECOFLOR Brasília/DF Tel: (61)

Municípios são essenciais para a conservação da Mata Atlântica

O PROJETO MUTIRÃO DE REFLORESTAMENTO E SEUS EFEITOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 03/2017

ESCOLA ESTADUAL DR. JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA - ANO 2016 TRABALHO DE ESTUDOS INDEPENDENTES

Aplicação de técnicas de Sensoriamento Remoto para análise da dinâmica de uso na paisagem da PA-391, na Região Metropolitana de Belém/PA.

MAPEAMENTO DE SUSCEPTIBILIDADE À EROSÃO EM ZONA DE AMORTECIMENTO DE ÁREAS PROTEGIDAS BRASILEIRAS, ULTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO

Carlos Souza Jr., Adalberto Veríssimo & Anderson Costa (Imazon) RESUMO

Agricultura Brasileira: importância, perspectivas e desafios para os profissionais dos setores agrícolas e florestais

ANÁLISE DAS ÁREAS IRRIGADAS POR PIVÔS CENTRAL EM ÁREA AMOSTRAL NO MUNICÍPIO DE UNAÍ - MG

Estado de Mato Grosso. Resumo. Estatística de Desmatamento

PALAVRAS-CHAVE: Geoprocessamento, Ecologia da Paisagem, Uso e Cobertura,

Visão de longo prazo e adequação ambiental para o setor agropecuário

Distribuição Da Precipitação Média Na Bacia Do Riacho Corrente E Aptidões Para Cultura Do Eucalipto

Módulo V: Projetos de MDL Grupo 5 - Outras oportunidades PROJETOS FLORESTAIS. 23 a 26/10/2006, FIRJAN

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Osvaldo Antonio R. dos Santos Gerente de Recursos Florestais - GRF. Instituto de Meio Ambiente de MS - IMASUL

Conciliando Produção Agrícola com Conservação e Restauração de Florestas

Rumo ao REDD+ Jurisdicional:

Ofício nº. 45/2012. Belém (PA), 07 de maio de 2012.

TÍTULO: A INFLUÊNCIA DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS E PERDA DA BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO DA MATA DOS MACACOS EM SANTA FÉ DO SUL - SP.

Responsabilidade ambiental na produção agropecuária

José Hamilton Ribeiro Andrade (1); Érika Gomes Brito da Silva (2)

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Problemas Ambientais

VEGETAÇÃO BRASILEIRA. DIVIDE-SE EM: 1) Formações florestais ou arbóreas 2) Formações arbustivas e herbáceas 3) Formações complexas e litorâneas

FLUTUAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ALAGOA NOVA, PARAÍBA, EM ANOS DE EL NIÑO

Classificação supervisionada

Adriano Venturieri. Chefe Geral Embrapa Amazônia Oriental

Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014

Análise temporal do uso do solo nos municípios do entorno do Parque Nacional das Emas com a utilização de imagens Landsat e CBERS-2

CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE MULTITEMPORAISBASEADA EM OBJETOS E APURAMENTO SEMIAUTOMÁTICO DE LIMIARES DE CORTE

Geografia - 6º AO 9º ANO

Anais do Seminário de Bolsistas de Pós-Graduação da Embrapa Amazônia Ocidental

Utilização de imagens do satélite CBERS-2 para atualização da base cartográfica de recursos hídricos do estado do Rio Grande do Norte.

METODOLOGIA UTILIZADA:

EFEITOS DO AUMENTO DA TEMPERATURA NO BALANÇO HÍDRICO CLIMATOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE RIBEIRA DO POMBAL-BA

ANÁLISE ESPACIAL DO DESFLORESTAMENTO E DA TRANSMISSÃO DA MALÁRIA

Programação anual. 6.ºa n o

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (II)

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MARTIM DE FREITAS ESCOLA BÁSICA 2/3 MARTIM DE FREITAS Ano letivo 2016/2017

Antropização e relação entre agropecuária intensiva e topografia no Cerrado da região sul do estado do Piauí, Brasil

Transcrição:

Análise Espaço-Temporal da Cobertura do Solo no Município de Ibiassucê-BA no Período de 1991-2011 Gileno Brito de Azevedo (1) ; Glauce Taís de Oliveira Sousa (2) ; Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi (3) ; Alba Valéria Rezende (4) (1) Mestrando em Ciências Florestais, Universidade de Brasília, gilenoba@hotmail.com; (2) Mestranda em Ciências Florestais, Universidade de Brasília, glauce_tais@hotmail.com; (3) Professor do departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília, ematricardi@unb.br; (4) Professora do departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília, albavr@unb.br. RESUMO O desmatamento indiscriminado da vegetação natural para a retirada de lenha e abertura de novas áreas para expansão de atividades agrícolas, constituem em forte ameaça para o bioma Caatinga. Acompanhar as mudanças da cobertura do solo ao longo do tempo através da utilização de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento permite verificar a influência das atividades antrópicas sobre a vegetação nativa. O presente trabalho teve por objetivo analisar a evolução temporal e espacial das mudanças na cobertura do solo entre os anos de 1991 e 2011 no município de Ibiassucê, Bahia. Para a avaliação da cobertura do solo foram utilizadas imagens do satélite Landsat-5 TM (path/row 218/070), datadas de 1991, 2001 e 2011, com resolução espacial de 30 m e composição RGB 3/4/5. Todos os dados foram processados utilizando o software ArcGIS 9.3. Foi realizada a classificação supervisionada da composição colorida das imagens utilizando o algorítimo de classificação de imagens Máxima Verosimilhança. As classes de uso e cobertura do solo avaliadas foram: vegetação natural, cultura/pastagens, solo exposto e corpos d água. Verificou-se que a classe com maior representatividade na área do município nos anos de 2001 e 2011 foi a vegetação natural com valores superiores a 45%. A maior parte das áreas desmatadas concentra-se em um raio de 5 km da rodovia que corta o município. Palavras-chave: Caatinga, Desmatamento, Geoprocessamento. INTRODUÇÃO A região da Caatinga representa cerca de 10% do território nacional, sendo um dos ecossistemas mais agredidos pelas ações antrópicas (HIGA et al., 2012). Ainda segundo esses autores, a razão desta agressão está na pressão antrópica causada por uma densidade demográfica relativamente alta (cerca de 25% da população do Brasil vive no Nordeste), sobre um ecossistema naturalmente frágil. De acordo Albuquerque et al. (2001), o desmatamento indiscriminado para a formação de novas lavouras, aliadas à retirada de madeira para benfeitorias, lenha e carvão, e às queimadas sucessivas com manejo inadequado do solo, juntamente com as secas prolongadas, tem contribuído para comprometer o frágil equilíbrio do meio ambiente no bioma. Segundo Angelo & Vale (2005), a região Nordeste é a maior produtora de lenha de origem nativa do Brasil. - Resumo Expandido - [89] ISSN: 2318-6631

Inserido nesse contexto, encontra-se o município de Ibissucê-BA, onde, aparentemente, ocorre a exploração desordenada da vegetação natural através da extração de madeira e lenha, tanto para consumo por comunidades da zona rural, quanto para servir de matéria prima para pequenas indústrias da região. Geralmente, as áreas desmatadas são convertidas em agricultura de subsistência e/ou pastagens, que após algum tempo são abandonadas e transformadas em capoeiras. Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), no município, no mesmo ano, havia aproximadamente 28% de áreas cobertas por matas e florestas, incluindo áreas utilizadas para pastejo por animais, enquanto que as pastagens ocupavam cerca de 36%. Ainda de acordo o IBGE, a produção média anual de lenha para os anos de 2004 a 2011 chegou a aproximadamente 115 mil m³/ano. De acordo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2010), na região, essa matéria prima é obtida da vegetação nativa, sem se preocupar com um plano de manejo adequado. Higa et al. (2012) afirma que a Caatinga tem sido a principal fonte de energia, não apenas para o consumo doméstico, mas também para o consumo de várias industrias. A indústria de produção de blocos, tijolos e telhas eleva a oferta de trabalho na região. Somente no município de Ibiassucê, existem 11 indústrias de cerâmica, as quais geram uma grande demanda de lenha em suas unidades de produção, promovendo assim uma forte pressão sobre a vegetação natural, visto que no município não se encontram áreas com florestas plantadas suficientes para suprir essa demanda. Segundo o relatório da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia (CAR, 2007), esta atividade vem sofrendo duras críticas por parte dos ambientalistas, principalmente quanto à extração da argila e à retirada da lenha, sem a sua devida reposição, onde os danos ambientais superam em larga escala os possíveis benefícios oriundos da geração de empregos e renda no âmbito regional. Nesse contexto, acompanhar as mudanças da cobertura do solo, através da utilização de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, constitui-se em uma importante estratégia para o conhecimento das áreas remanescentes de vegetação natural de uma determinada região, bem como conhecer os usos dados às áreas desmatadas, e assim, gerar subsídios para o estabelecimento de políticas públicas visando maior sustentabilidade para o uso da terra. Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo analisar a evolução temporal e espacial das mudanças na cobertura do solo entre os anos de 1991 e 2011 no município de Ibiassucê, Bahia. MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo O município de Ibiassucê, situado à 14º15 34 de Latitude Sul e 42º15 25 de Longitude Oeste, localiza-se na região econômica da Serra Geral, no Centro Sul do estado da Bahia, à 610 km da capital Salvador, e tem como limite os municípios de Caetité, Caculé, Lagoa Real e Rio do Antônio (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia-SEI, 2010). Figura 1. Localização do município de Ibiassucê-BA. - Resumo Expandido - [90] ISSN: 2318-6631

De acordo o IBGE, o município possui uma área territorial de 427 km², com uma população de 10.062 habitantes no ano 2010, sendo que desse total, 53,23% residem em áreas rurais. O clima da região é Semiárido de caráter atenuado, com pluviosidade de 700 a 800 mm anuais e temperatura média anual em torno de 21º C. O relevo é ondulado ou suavemente ondulado, apresentando grau de vulnerabilidade à erosão moderado à forte, potencializado se houver a remoção da cobertura vegetal. Os tipos de vegetação predominantes são Caatinga e Floresta Estacional Decidual (CAR, 2007; MDA, 2010) e, de acordo os dados do Censo Agropecuário 2006, menos de 0,6% da vegetação encontra-se protegida na forma de Área de Preservação Permanente e Reserva Legal. O tipo de solo predominante no município é o Latossolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA SOLOS, 2006). Base de dados Foram utilizadas imagens do satélite Landsat 5, sensor TM, datadas de 12/07/1991, 21/06/2001 e 20/08/2011, correspondente à orbita ponto 218/070, com resolução espacial de 30 metros, sem a presença de nuvens, obtidas gratuitamente no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As bandas 3, 4 e 5, que correspondem às faixas espectrais do visível (região do vermelho), infravermelho próximo e infravermelho médio, respectivamente, foram utilizadas para compor a imagem colorida utilizada na classificação da cobertura do solo. Estas imagens possuem referência espacial WGS 1984, UTM, zona 23S. Os dados vetoriais utilizados foram do tipo polígono e linhas, representando o limite dos municípios e a hidrografia e rodovias do estado da Bahia. O shape dos limites municipais é um produto cartográfico do IBGE, disponibilizados gratuitamente para download, cujas referências espaciais são Datum Sirgas 2000, em graus decimais. Os demais shapes foram adquiridos gratuitamente no site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, com referência espacial SAD 1969 em Graus Decimais. Métodos Todos os dados foram processados utilizando o software ArcGIS 9.3. Para padronização do sistema de referência geográfica, todos os dados foram transformados para a projeção WGS 1984, UTM, zona 23S. As imagens foram corrigidas geometricamente base nos dados vetoriais com georreferenciamento adequado, com auxílio da ferramenta Georeferencing. Foi realizada a classificação supervisionada da composição colorida das imagens utilizando a ferramenta Maximun Likelihood Classification (MLC), onde padrões espectrais foram reconhecidos com base em amostras de áreas de treinamento, fornecidas ao sistema de classificação. As classes de cobertura do solo avaliadas estão listadas no quadro abaixo. Quadro 1 - Classes de cobertura do solo. ATRIBUTOS CLASSES DESCRIÇÃO 1 Vegetação natural Corresponde à cobertura vegetal natural, com porte arbóreo ou arbustivo, constituído pela vegetação de Caatinga e Floresta Estacional Decidual. 2 Cultura/Pastagens Áreas referentes a cultivo de culturas temporárias ou anuais, e áreas com pastagens plantadas ou naturais. 3 Solo exposto Engloba os solos descobertos, sem a presença de áreas verdes, bem como as áreas urbanas. 4 Água Presença de barragens ou reservatórios de água. Após a classificação das imagens, considerando a área do pixel (900 m²), foram obtidas as áreas correspondentes a cada classe de cobertura do solo, nas diferentes épocas analisadas. Com auxílio da ferramenta Single Output Map Algebra foram analisadas algumas situações, tais como: a) áreas classificadas como desmatadas (Cultura/Pastagens e Solo exposto) em uma avaliação e classificada como vegetação natural na avaliação seguinte; b) áreas classificadas como vegetação natural em uma - Resumo Expandido - [91] ISSN: 2318-6631

avaliação e classificada como desmatamento na avaliação seguinte; c) áreas classificadas como vegetação natural em todos os períodos avaliados (vegetação em comum); d) áreas classificadas como desmatamento em todos os períodos avaliados (desmatamento em comum). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 são apresentados os valores encontrados para cada classe de cobertura do solo para o município de Ibiassucê-BA em um período de 20 anos, compreendido entre os anos de 1991 e 2011. Observa-se que, exceto no ano de 1991, a classe com maior representatividade na área do município foi a vegetação natural, com valores superiores a 45%, sendo possível observar que essas áreas apresentaram valores crescentes ao longo do período avaliado. Tabela 1. Distribuição das classes de cobertura do solo no município de Ibiassucê-BA durante um período de 20 anos. 1991 2001 2011 COBERTURA DO SOLO ha % ha % ha % Vegetação natural 18607,05 43,56 19423,44 45,47 21280,77 49,81 Cultura / Pastagem 19937,34 46,67 12839,13 30,05 17508,78 40,98 Solo exposto 4135,14 9,68 10116,81 23,68 3890,97 9,11 Água 41,13 0,10 341,28 0,80 40,14 0,09 Apesar de ter ocorrido um decréscimo da área classificada como culturas e pastagens no ano de 2001, essa classe é responsável por ocupar grandes áreas do território do município. Em 2011, as áreas ocupadas por essa classe representavam 40,98% do território, apesar de ter sido notada uma redução de 5,75% do observado no ano de 1991. Em relação aos solos expostos, percebe-se que nos anos de 1991 e 2011 representava cerca de 9% do território, no entanto, em 2001 essa classe ocupou 23,7% da área, que pode ser explicado em função da redução da área ocupada por culturas e pastagens nesse ano. No período avaliado, as áreas desmatadas, representadas por culturas e pastagens e solo exposto apresentaram uma leve redução, porém ainda apresentaram valores superiores a 50% da área, ocupando uma área bastante expressiva do território do município (Figura 2). Isso evidencia que as atividades agropecuárias exercem forte pressão sobre os recursos naturais, em especial, sobre a vegetação nativa. Figura 2. Distribuição espacial das classes de cobertura do solo no município de Ibiassucê-BA nos anos avaliados. - Resumo Expandido - [92] ISSN: 2318-6631

Em todos os períodos avaliados, é possível observar que em áreas próximas à rodovia BA-617 (raio de 5 km), há uma maior quantidade de áreas classificadas como solo exposto e de culturas e pastagens (desmatamento). Já a vegetação natural ocupou principalmente as áreas mais distantes da rodovia. Para o ano de 2011, no raio de 5 km da mesma, encontrou-se apenas 39,5 % da área classificada como vegetação natural, enquanto que áreas classificadas como solo exposto e de culturas e pastagens, correspondiam a 67,89 % e 53,61 %, respectivamente. Uma das possíveis explicações para tais resultados, é que a proximidade à rodovia facilita o escoamento de produtos oriundos do desmatamento e das atividades agropecuárias, consequentemente, provoca maior degradação nessas áreas. A figura 3 representa as áreas ocupadas pela vegetação natural em uma avaliação e que foram classificadas como desmatamento na avaliação seguinte, e vice-versa. Considerando os períodos de 1991-2001 e 2001-2011, observa-se que aproximadamente 14% das áreas desmatadas sofreram alteração de sua cobertura, e passaram a ser ocupadas pela vegetação natural. Já ao considerar o período de 1991-2011, essa alteração correspondeu a aproximadamente 18%. Esses resultados denotam que as áreas que estão sendo desmatadas no município apresentaram boa capacidade de regeneração da vegetação. Umas das possíveis causas para que isso esteja ocorrendo, é que após o seu desmatamento, essas áreas são aproveitadas por um período de tempo relativamente curto, e após abandonadas, inicia o processo de regeneração. Em 26,65% da área do município foi constatado que a vegetação natural não sofreu alteração durante o período avaliado, sendo consideradas áreas com vegetação em comum. Percebe-se que as áreas em que ocorreu a regeneração da vegetação natural estão distribuídas uniformemente por todo o município. Já as áreas em que a vegetação natural não foi alterada estão localizadas em maior quantidade na porção oeste, mais distante da sede do município, onde provavelmente está submetida á uma menor pressão antrópica. Figura 3. Distribuição espacial das alterações de uso do solo durante um período de 20 anos no município de Ibiassucê- BA. Ao avaliar as áreas com vegetação natural que foram desmatadas durante o período avaliado, verifica-se que o desmatamento reduziu de 11,54% no período de 1991-2001 para 9,98% no período - Resumo Expandido - [93] ISSN: 2318-6631

de 2001-2011. Durante o período avaliado, foi observada uma distribuição uniforme do desmatamento por todo o município (Figura 3), entretanto, foi constatado que em regiões mais próximas a sede do município houve uma maior concentração das áreas que permaneceram desmatadas durante o período avaliado. Essas áreas corresponderam a aproximadamente 1/3 da área do município. Considerando o ponto de vista da conservação dos solos, se não manejados de forma adequada, há uma perda gradativa da capacidade produtiva desses solos, limitando cada vez mais a capacidade de regeneração e a sustentabilidade dessas áreas. CONCLUSÕES Nos últimos 20 anos, as classes de cobertura do solo não apresentaram grandes mudanças no município de Ibiassucê-BA. Em regiões localizadas mais próximas à BR que corta o município há uma maior pressão sobre a vegetação natural. Tanto o desmatamento quanto a regeneração natural está ocorrendo com distribuição uniforme por todo o território do município. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, A. W.; LOMBARDI NETO, F.; SRINIVASAN, V. S. E SANTOS, J. R. Manejo da cobertura do solo e de práticas conservacionistas nas perdas de solo e água em Sumé, PB. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 6, n.1, p.136 141, 2002 ANGELO, H.; VALE, A. T. A demanda de lenha e seus impactos na cobertura florestal do Nordeste Brasileiro. Brasília, DF: Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal, 2005. 40 p. (Comunicações técnicas florestais, v. 7, n. 2). CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional BA). Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável: PDRS Serra Geral. Salvador Bahia, 2007. 338p. EMBRAPA SOLOS. Solos do Nordeste. UEP, Recife, 2006. Dispo nível em: <http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/index.html>. Acesso em 17 de dezembro de 2012. HIGA, R. C. V.; XAUD, H. A. M.; ACCIOLY, L. J. O.; LIMA, R. M. B.; VASCONCELOS, S. S.; RODRIGUES, V. G. S.; CARVAHO, C. J. R.; SOUZA, C. R.; LEONIDAS, F. C.; TONINI, H.; FERRAZ, J. B. S.; XAUD, M. R.; OLIVEIRA JÚNIOR, M. C. M.; COSTA, R. S. C. Estoque de biomassa em florestas plantadas, sistemas agroflorestais, florestas secundárias e Caatinga. In: LIMA, M. A.; BODDEY, R. M.; ALVES, B. J. R.; MACHADO, P. L. O. A.; URQUIAGA, S. Estoque de carbono e emissões de gases do efeito estufa na agropecuária brasileira. Brasília-DF, Embrapa, 2012. p. 105-158. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo Agropecuário 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 17 de dezembro de 2012. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 2004-2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 17 de dezembro de 2012. MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Plano territorial de desenvolvimento rural sustentável do sertão produtivo. Caetité BA. 1ª Ed. 2010. 121 p. SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia). Estatística dos municípios baianos. Salvador: SEI, 2010. v. 9. 362p. - Resumo Expandido - [94] ISSN: 2318-6631