SOCIEDADE VIRTUAL: UMA NOVA REALIDADE PARA A RESPONSABILIDADE CIVIL



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Transcrição:

SOCIEDADE VIRTUAL: UMA NOVA REALIDADE PARA A RESPONSABILIDADE CIVIL FABRICIO DOS SANTOS RESUMO A sociedade virtual, com suas relações próprias vem se tornando uma nova realidade para a responsabilidade civil, fazendo surgir a necessidade da criação de leis específicas para os atos ilícitos praticados pela internet, fazendo com que o cidadão que acesse seu conteúdo tenha mais segurança, sem perder sua liberdade, como propõe o Marco Regulatório Civil para a internet brasileira. Conclui-se que além de criar leis específicas é necessário também ações de governo com o intuito de ter mais profissionais capacitados nessa área. Palavras-chave: Internet; Responsabilidade Civil; Marco Regulatório; 1 INTRODUÇÃO A transmissão de informações por meio da internet e o número de pessoas que acessam este serviço vem crescendo em proporções gigantescas, trazendo consigo uma onda de atos ilícitos em diversas áreas do direito. São diversos os casos de atos ilícitos praticados na internet que são uma nova realidade para a responsabilidade civil, surgindo a necessidade de mais leis para regular esse assunto, como o Marco Regulatório Civil. São necessárias políticas públicas que visem criar leis que sejam específicas para esta área e também que capacitem mais profissionais que lidem com este tipo de atos ilícitos. 2 SOCIEDADE VIRTUAL O uso da internet como meio de transmissão de informações tem crescido de maneira assustadora nos últimos anos. O mundo inteiro ao alcance de um click.

Milhares de internautas navegam na rede todos os dias e acessam os conteúdos mais diversos. 2 Analisando a sociedade como o conjunto de comunicações e relações entre indivíduos, temos na internet uma verdadeira sociedade virtual, com suas próprias regras, costumes, vocabulário. Com todo esse movimento de informações e de pessoas vieram os crimes, as fraudes e outros tipos de atos ilícitos. Essas práticas nocivas a rede precisam ser identificadas pelas autoridades competentes e punidas para que haja uma maior segurança nas relações. 3 RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET São vários os atos ilícitos que podem ser praticados por meios eletrônicos, como crimes de roubo em contas bancárias, pedofilia, pornografia, e também os que interessam a área do direito civil. salienta: Gonçalves (2008, p.89), ao falar da responsabilidade civil em meios eletrônicos A responsabilidade extracontratual pode derivar de inúmeros atos ilícitos, sendo de destacar os que dizem respeito à concorrência desleal, à violação de propriedade intelectual, ao indevido desrespeito à intimidade, ao envio de mensagens não desejadas e ofensivas da honra, à divulgação de boatos infames, à invasão de caixa postal, ao envio de vírus, etc. Esses atos citados por Gonçalves, quando praticados por meios eletrônicos não tem regulação direta de nosso código civil. Falta legislação específica que abranja essas situações de modo competente. Os atos relacionados a relações de compra e venda são mais fáceis de identificar e resolver, pois é possível fazer uso dos princípios do código de defesa do consumidor, porém os de calúnia e difamação são mais complicados. Quando algo é postado em um site, pode-se penalizar o responsável pelo site, ou a pessoa que postou quando esta pode ser identificada.

3 A identificação nestes casos nem sempre é fácil, pois muitos sites não pedem identificação das pessoas que postam comentários, anúncios ou ofertas. Na maioria das vezes é pedido o endereço eletrônico e o nome, o que se revela insuficiente para fins jurídicos, uma vez que se pode colocar qualquer nome ou pseudônimo. Muitas pedem apenas o nick, que é um pseudônimo do usuário naquele site para manter a salvo sua identidade. Isso é bom para resguardar o direito de privacidade de quem posta mensagens no site, mas não ajuda na identificação em casos de atos ilícitos. O que se espera alcançar é uma maior colaboração dos hospedeiros de sites, sites de relacionamentos, blogs e outros para que mantenham uma identificação dos participantes de seu site, evitando assim o anonimato de quem cometeu alguma violação dos direitos de outrem. Muitos juízes tem entendido que os provedores de internet, responsáveis por sites hospedeiros, tem responsabilidade por tudo que é postado, fazendo assim com que eles se preocupem mais com o que os usuários de seus sites tem postado. Diante disso temos a seguinte jurisprudência: RESPONSABILIDADE CIVIL. PROVEDOR DE ACESSO E DE CONTEÚDO. INTERNET. VEICULAÇÃO DE ENTREVISTA COM EX- COMPANHEIRA DO AUTOR. OFENSA À HONRA DO DEMANDANTE. DANOS MORAIS. QUANTUN. MANUTENÇÃO. É responsável o provedor de conteúdo da internet (PSI) pela divulgação de matéria que viole direito e cause dano a outrem, seja por calúnia, difamação ou injúria. (DNT, 2007) Há também quem entenda que não se deve penalizar o provedor de internet por estes casos, mas sim avisá-lo para que haja de maneira a retirar o que foi postado de maneira ilícita. Sem leis específicas fica a cargo dos magistrados decidirem sobre estas situações a luz da legislação que está ao seu alcance. 4 AÇÕES DO GOVERNO EM RELAÇÃO A INTERNET Nosso código civil se cala no que diz respeito às relações por meio da internet. Há 15 anos que se usa a internet no Brasil e a legislação ainda não se adaptou a essa realidade social, a sociedade virtual.

4 Uma vez que o ambiente virtual tem uma realidade própria, relações próprias, é necessário que ele tenha uma legislação própria, exigindo do governo políticas que visem criar leis que administrem estas relações. O problema está em encontrar uma maneira de regular o uso da internet sem tirar a liberdade das pessoas que utilizam dela. Com este objetivo que foi proposto o Marco Regulatório Civil da Internet Brasileira. 4.1 MARCO REGULATÓRIO CIVIL Este marco foi proposto em 29 de outubro de 2009, e visa governar o uso da internet no Brasil. Segundo a proposta este marco regulatório seria participativo, onde os cidadãos participariam de sua criação pela internet e então seria remetido com anteprojeto de lei ao Congresso Nacional. O projeto foi feito, os internautas participaram, porém se está aguardando que entre em pauta no Congresso para que possa ser votado. De acordo com o artigo 1º do aludido marco, esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria. Ainda diz o artigo 2º: A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da escala mundial da rede, o exercício da cidadania em meios digitais, os direitos humanos, a pluralidade, a diversidade, a abertura, a livre iniciativa, a livre concorrência e a colaboração, e observará os seguintes princípios: I garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento; II proteção da privacidade; III proteção aos dados pessoais, na forma da lei; IV preservação e garantia da neutralidade da rede; V preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas; e VI preservação da natureza participativa da rede. (CULTURADIGITAL, 2010) Com base nos artigos acima, pode-se concluir que o objetivo do marco regulatório civil é principalmente o de regular as relações no uso da internet ao mesmo tempo em que mantém a liberdade de expressão das pessoas.

5 5. FISCALIZAÇÃO Além da criação de leis especificas é necessário que se faça uma melhor fiscalização dos meios eletrônicos, pois há grande dificuldade em se combater os crimes pela internet. Uma vez que o ambiente virtual é vastíssimo, surge a necessidade de profissionais preparados para fazer a fiscalização deste. Já existem peritos nesse tipo de crimes no Brasil, mas levando em consideração o número de pessoas que acessam a internet o número desses profissionais ainda é mínimo. A sociedade virtual é uma realidade crescente e as autoridades que fiscalizam, assim como os profissionais do direito tem que estar preparados para ela. 6 CONCLUSÃO A sociedade virtual já é uma realidade e não temos como fugir dela e nem da responsabilidade civil que ela traz para quem se utiliza de seus serviços. Dentro do contexto jurídico, precisamos estar preparados para encarar esta realidade. Além de novas leis que sejam especificas para a área, precisamos de mais profissionais especializados em investigar e combater os crimes praticados na rede. Precisamos de políticas públicas que incentivem o uso consciente da internet e que fomentem a criação de leis e capacitação dos profissionais que lidam com os atos ilícitos cometidos em meios eletrônicos. 7 BIBLIOGRAFIA CULTURADIGITAL. Marco Civil da Internet: Seus direitos e deveres em discussão. Disponível em: <http://culturadigital.br/marcocivil/debate/>. Acesso em: 11/09/10.

6 DNT. Responsabilidade Civil de Provedores. Disponível em: <http://www.dnt.adv.br /noticias/jurisprudencia-indice-responsabilidade-civil-de-provedores/>acesso em: 10/09/10. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume IV: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 89.