Estatutos do Amor e outros sentimentos nobres por Estêvão Xavier
2 "O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino" - Os Estatutos do Homem - Thiago de Mello Apresentação Escrito nos dias 29, 30 e 31 de dezembro de 2002, este livro é um presente a todos os que confiam num mundo mais justo e amoroso. Resultado de uma briga, e com o nome inspirado em Os Estatutos do Homem do surpreendente Thiago de Mello, esta humilde reunião de idéias repentinamente sopradas aos meus ouvidos pelos ventos da esperança e da fé tem um único objetivo: preencher de beleza o mundo e alertar para detalhes imprescindíveis rumo à nossa utopia, nosso sonho, nosso profundo desejo de ver a Terra sendo o palco central do espetáculo vindouro da fraternidade. Expulsos do paraíso, a ele retornaremos e não mais seguiremos os desejos do ego e sim um maravilhoso guia: o coração. Estatutos do Amor e outros sentimentos nobres é um convite que humildemente faço aos que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. Estêvão Xavier
3 Dedicatória Este livro é dedicado a Joana Mendes Ferraz, que sem querer o inspirou. Por todas as marcas que deixou em mim e pelas que ainda irá deixar, grato sou por sua existência.
4 Preâmbulo Todos os sentimentos nobres são Afluentes do amor. Os sentimentos não nobres são baseados No medo. Ódio é medo petrificado. O Autor. A m o r A m i z a de E s p e r a n ç a P a z L i b e r d a d e S a b e d o r i a P e r d ã o A l e g r i a V e r d a d e C a r i d a d e
5 A m o r Artigo primeiro. Amor é entrega. Amor é dar e não esperar em troca. Esta é a lei básica e irrefutável do amor. Dar e esperar o troco é um ato político, em que os interesses do egocentrismo ultrapassam os do amor puro. Parágrafo único. Deus é amor. Eis a maior de todas as verdades humanas. Eterno, sem início ou fim, Infinito e Único, Deus só é capaz de criar a partir de Si. Logo, todas as criaturas de Deus, em essência e última instância, são o próprio Deus. Por conseguinte, todos os seres, sem exceção, são amantes em máximo potencial. Artigo segundo. Existem várias formas de amar, e para todas é necessário coragem. Nem sempre se reconhece ou percebe o amor, mas nem por isto, este é infrutífero. Às vezes, até a ausência é forma de amar.
6 Artigo terceiro. O amor é impessoal e intransitivo. Amar não requer um objeto, pois quem ama, vê além de toda a forma e toda a concepção física. Logo, amar é um gesto universal. Amar uma rosa é tão grandioso quanto amar um jardim. Artigo quarto. O amor verdadeiro é incondicional. Este, por ventura, só nasce da compreensão de que todos os seres de Deus são passíveis de erros e imperfeições. Amar incondicionalmente é amar porque se ama e, então, só depois, amar porque se admira qualidades. Artigo quinto. O amor é maior que qualquer expressão dele. Logo, senti-lo, pensá-lo e sê-lo é mais importante que tentar defini-lo.
7 A m i z a d e Artigo primeiro. Amigos são agulhas no palheiro, mas logo que se reconhece um espírito nobre e digno de confiança, olhos viram sóis de alegria pela irmandade encontrada em objetivos afins. Mesmo que o objetivo seja simplesmente se divertir. Artigo segundo. Amigos são mais fiéis que cães e mais sinceros que o espelho. A confiança é a maior virtude de um amigo, abaixo apenas da capacidade de fazer rir. Artigo terceiro. A amizade sincera é reconhecida na força e na esperança doadas nos momentos ásperos da vida. E na capacidade de perdoar grandes feridas e rir de pequenos conflitos imbecis do passado. Artigo quarto. Um amigo se reconhece a léguas de distância. Amigo é um ser humilde o suficiente a ponto de se igualar, seja qual for o nível de evolução. Grandes seres, como Jesus, são os maiores amigos da humanidade. Pois, mesmo tão universalmente maiores que nós, se resignaram a vestir corpos humanos para simplesmente nos trazer à luz.
8 E s p e r a n ç a Artigo primeiro. A esperança é a capacidade de se acreditar nos sonhos mais impossíveis em tempos de falta. Fé. Otimismo. Simplicidade nos atos e nos olhos. Nobreza de objetivos e sonhos. Ter esperança é acreditar que o mundo ainda voltará a ser um paraíso. Artigo segundo. O esperançoso é, antes de tudo, um corajoso. Que acredita na virada do jogo e sabe que o único profeta a quem deve seguir é o próprio coração. Artigo terceiro. A esperança só nasce em almas capazes de sonhar. Utopia é um mundo melhor. Mundo que os esperançosos viverão um dia e os pessimistas não terão olhos nem forças para ver.
9 Artigo quarto. Ter esperança é distinto de esperar. O esperançoso luta por sua utopia, seu sonho, seu objetivo. O conformista espera e cairá podre da árvore paradisíaca da vida. Artigo quinto. A forma mais nobre de esperança é a fé. Fé naquilo que não se explica a neurônios. Deus existe, mas para aqueles que não têm fé, nada bastará, por isso, nada restará. A realidade é maior e mais bela do que nossos humildes olhos podem ver na sua limitação física. É preciso fé para amar, pois amor é entrega. É preciso fé para ter amigos, pois só confia quem acredita.
10 P a z Artigo primeiro. A paz é, antes de tudo, a não-violência, o ahimsa dos hindus e orientais. É não causar mal algum tanto em ações, quanto em verbalizações ou pensamentos. É um sentimento de compaixão e harmonia que deve nascer no interior do homem e transcender todas as camadas e ilusões de separação. Artigo segundo. A paz não é uma bandeira branca, mas verdadeiramente um sentimento de Unidade com tudo o que existe. Logo, por que fazer mal a si mesmo? Se a dor alheia é a nossa própria dor? Só quando este sentimento de união, unicidade, unidade com tudo e todos florescer no coração humano, poderá então se falar no fim das guerras, das armas, das mortes. Artigo terceiro. A paz é o terreno básico para a realização de qualquer grande trabalho que venha a englobar todo um grupo, seja ele de vizinhos ou toda a humanidade. Sem o conforto da paz, é impossível falar de amor ou liberdade. Ou fim das fronteiras nos mapas e dos homens.
11 Artigo quarto. A paz é virtude essencial e natural dos homens que amam. Estes, incapazes da vingança ou reação violenta, sabem que não haverá tolerância ou compreensão entre homens, enquanto não for concebida a verdade de que somos iguais em essência. O homem pacifico é, então, antes de tudo, humilde.
12 L i b e r d a d e Artigo primeiro. É praticamente impossível definir a liberdade. Ser livre é ser Deus, capaz de destruir, criar e manter. É mais que independência. É auto-suficiência sem deixar de depender do meio. Artigo segundo. Somente é livre aquele que ama, pois este abre o próprio peito, abre a si mesmo e deixa que a luz entre, a luz saia e diversas emoções trafeguem sem sinal ou permissão pela própria alma. É livre aquele que solitário, em meio à multidão, ou preso numa gaiola, pode satisfazer a mente com pensamentos longínquos e o coração com sentimentos nobres e o corpo com ar. Artigo terceiro. O sentimento de liberdade só é possível quando se compreende a interdependência entre o eu e a vida. Quando existe perfeita sincronia e harmonia entre o que existe dentro e o que há fora do homem. Quando os opostos se harmonizam e os pólos fortalecem a idéia do Um.
13 Artigo quarto. A liberdade é de usufruto direito dos que trabalham para o sustento de uma nação humana, feliz e solidária. É o presente dos disciplinados, que cumprem responsabilidades e são senhores do próprio tempo e do próprio corpo. Estes, vencem os desejos que nos distraem do objetivo único de amar e conhecer a Verdade.
14 S a b e d o r i a Artigo primeiro. Sabedoria é diferente de conhecimento. Conhecer é teórico, superficial. O conhecimento é passado de mente para mente. Saber é orgânico, substancial, espiritual. Só sabe quem experiencia e, principalmente, percebe as verdades reveladas a cada instante pelas lições da vida. Artigo segundo. Sábio é aquele que ouve a voz interna, a maior de todas as mestras: a intuição. Sábio é aquele que ouve a voz externa, a voz dos que criticam e enxergam erros que não percebemos. A voz dos que vêem luz onde não vemos. Sábio é aquele que entende que, mesmo diversos, dentro e fora não existem, pois tudo é Um. Artigo terceiro. A sabedoria é uma conquista. Nasce dos diversos sabores que a natureza traz. Todas as cores e formas transparecem a verdade da Onipresença Divina. Mas é através da fé que o sábio discerne o real e o irreal.
15 Artigo quarto. Sábio é aquele que opta pela compaixão, pela compreensão e pelo amor em todos os instantes do eterno caminhar. Artigo quinto. O sábio só vê luz, pois tudo reflete o brilho de seu próprio Ser. Sabe que, em última análise, bem e mal não existem. Há apenas luz e atores da divina peça em diferentes estágios de evolução e percepção.
16 P e r d ã o Artigo primeiro. O perdão deveria ser desnecessário. Mais importante que perdoar é não se importar quando alguém nos fere. É manter-se ereto na busca pela perfeição a que Jesus se referiu. Artigo segundo. Perdoar não é esquecer. Perdoar é rever o passado e considerar a verdade do outro. Compreender que cada um tem seus motivos e somos humanos, passíveis de erros. E quando ferimos outrem, às vezes não sabemos o que fazemos. Isto é compreensão. Artigo terceiro. É preciso perdoar. Só então se abre a porta para novos erros. Existem muitas chances, muitos erros para serem cometidos. Perdoar envolve arrependimento e digestão de ensinamento. Pressupõe-se que o erro do passado não será repetido. Então, estamos libertos para tentar novamente e prosseguir a escalada rumo ao topo da montanha.
17 Artigo quarto. Atenção! Não esqueça esta verdade. Toda a chave do perdão está aqui: Pai, perdoai-vos. Eles não sabem o que fazem.
18 A l e g r i a Artigo primeiro. Positivo pensar. Positivo agir. Positivo sentir. Prazer. Plenitude. Entusiasmo. Regaço. Alegria é a energia motriz da vida. Nos fortalece e faz levantar a cabeça, sorrir e dançar diante de medos e adversidades. Artigo segundo. A alegria está em ter e repartir. Ser e doar-se. Ensinar e aprender. Se a paz é a terra, A esperança é o adubo, O amor, a luz do Sol, E a alegria, a água que rega Os jardins de nossos sonhos. A alegria é o sorriso que deve cativar corações e despertar almas para o propósito da vida em Deus. Artigo terceiro. Sem, alegria, bom humor e entusiasmo, amores se vão, amizades fenecem e sonhos deixam de ser.
19 Artigo quarto. A alegria é o alimento de todo grande ser. Libertar a criança interna, ser um adulto feliz e um ancião realizado são horizontes tocados mais facilmente pelos olhos de quem se alegra com pequenas coisas e com o simples fato de existir. Artigo quinto. A alegria é a exteriorização de um sentimento interno de paz e beatitude. Logo, é importantíssima, pois transmite em nível atômicocelular as vibrações positivas de regozijo e beleza.
20 V e r d a d e Artigo primeiro. A verdade é que tudo que existe é único e somos parte deste todo. Somos parte e trazemos o todo em nós. A verdade é que não somos nada mais que a verdade. Artigo segundo. A verdade é sim um sentimento. Reduzida em nível de relacionamento, seu prisma revela diferentes cores: honestidade, veracidade, sinceridade, lealdade. Ser leal a um propósito. Honesto consigo e com o próximo e manter a palavra são qualidades básicas e maravilhosas virtudes dos homens verdadeiros. Artigo terceiro. O homem é da Verdade e não a Verdade do homem. O poder só pode ser exercido em sua totalidade sobre si próprio. Este, mal utilizado, proporciona mentiras e calúnias e abastece a alienação e a glorificação de falsos deuses, como a luxúria, o desejo, a preguiça e o egoísmo.
21 Artigo quarto. A verdade nunca esteve e jamais estará velada. Desconfie do que for secreto e demasiadamente protegido. A verdade é um presente divino a todos, absolutamente todos os que vivem. Artigo quinto. A verdade é que somos deuses, budas, cristos, mestres, sacerdotes, profetas. É irreal a noção de incapacidade humana. Não somos o corpo, nem a alma, nem o espírito. Somos pura e infinita luz, assim como Aquele que nos criou. Somos Ele, eis a verdade.
22 C a r i d a d e Artigo primeiro. Antes de ser um ato, a caridade é um sentimento que nasce no coração dos homens de paz. Compaixão. Sentir a dor do próximo e provê-lo com amor ou pão. Artigo segundo. Caridade é doar. Doar o próprio tempo, a própria roupa, o próprio alimento, a própria luz a quem necessita. Segundo os mestres, a virtude das virtudes. Mais importante que o conhecimento. Artigo terceiro. Somente doa quem tem para si. Quem se ama o suficiente para Ser além de ter, e dá tudo o que possui para ser o que é. Artigo quarto. A caridade é o único caminho para se acabar com o abismo entre mundos. Há ordem no caos. Há razões para a miséria e o luxo. Mas, este desequilíbrio pode ser transposto pela simples e profunda vontade de ser igual, de doar e praticar a caridade.