VOWEL REDUCTION IN POSTONIC FINAL POSITION REDUÇÃO VOCÁLICA EM POSTÔNICA FINAL

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Transcrição:

VOWEL REDUCTION IN POSTONIC FINAL POSITION REDUÇÃO VOCÁLICA EM POSTÔNICA FINAL Maria José Blaskovski VIEIRA Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Doutor em Letras e Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Thaís CRISTÓFARO SILVA 1 Universidade Federal de Minas Gerais UFMG/CNPq) Doutor em Linguística pela University of London RESUMO Este artigo tem como objetivo discutir as formas de realização fonética da vogal anterior anteriores (Schmitt, 1987; Vieira, 1994) mostram que nessa comunidade a vogal anterior Efeitos 1 e Tecnológico (CNPq) processos 30.65.95/2011-7 e 48.45.90/2013-8 e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) através do Programa Pesquisador Mineiro 00399-14. Revista da ABRALIN, v.14, n.1, p. 379-406, jan./jun. 2015

Redução Vocálica em Postônica Final ABSTRACT This article discusses the phonetic realizations of postonic high front vowels in the Portuguese presence of a fricative in postonic position favors vowel reduction, as well as the occurrence PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS Introdução Este trabalho tem por objetivo discutir a realização fonética da vogal Santana do Livramento/RS. Os dados indicam que nesta comunidade a 2 a 2 380

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva como processos redutivos que podem culminar com seu completo apagamento. Pautando-se na hipótese da redução vocálica como maiores índices os itens lexicais mais frequentes. Este artigo tem a seguinte organização. A primeira seção apresenta a revisão da literatura segunda seção apresenta a perspectiva teórica assumida: Fonologia de apresenta os princípios metodológicos que foram adotados. A quarta seção apresenta os resultados e os discute à luz da perspectiva teórica 381

Redução Vocálica em Postônica Final A maioria dos estudos que considera a alternância entre as vogais e busca 3 outra. Considere o Quadro 1 que apresenta um resumo dos principais resultados encontrados nos diferentes estudos envolvendo a redução da QUADRO Fator Contexto precedente Contexto seguinte Tipo de sílaba Classe gramatical Contexto vocálico Contextos que favorecem redução Velares e palatais Somente em Schmitt (1987) nasais Vieira (1994) Q1-1 Mileski (2013) s/z Q1-2 Silva (2009) Q1-3 e Mileski (2013) dorsais Somente em Mileski (2013) Somente em Schmitt (1987) Somente em Carniato (2000) Vogais Somente em Silva (2009) Sílaba sem coda Somente em Vieira (1994 e 2002) Somente em Silva (2009) Numerais e advérbios em mente Somente em Mileski (2013) Vogal alta na tônica Sem vogal alta na tônica Somente em Mileski (2013) Q1-1 Q1-2 Q1-3 3 são consideradas apenas duas variantes em competição. Alguns trabalhos também analisam a 382

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva dos fatores linguísticos encontrados nos estudos sobre a redução da vogal contextos que possam motivar e explicar a variação das vogais postônicas 1 é que a etnia é o fator social que favorece a realização fonética da vogal a classe gramatical podem oferecer como explicação motivadora do fenômeno. Os estudos apresentados no Quadro 1 se limitam a analisar duas tendem a apresentar índices de apagamento maiores do que os da vogal ROLO e MOTA (2012) estudaram o cancelamento das vogais estudo foi realizado na perspectiva da Sociolinguística e observou que o o pronome ele é atuante na implementação do apagamento da vogal 383

Redução Vocálica em Postônica Final alveolar atestado em casos como a gente a e t entre a palatalização de oclusivas alveolares e o cancelamento de vogais DUBIELA (2013) analisa experimentalmente a realização da vogal futuros. MENESES (2012) analisa vogais desvozeadas do ponto de vista gesto vocálico permanece concomitante ao ruído das fricativas. O autor sugere que as vogais sofrem redução de magnitude em contexto de desvozeamento e que ocorre a sobreposição gestual. DIAS e SEARA (2013) analisam acusticamente o cancelamento mostram que ocorre predominantemente diante de consoantes surdas e para a produção da vogal. 384

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva altas podem ser sujeitas ao desvozeamento e ao eventual apagamento. apresentam menor duração do que as vogais vozeadas. Esse seria um argumento adicional para a naturalidade envolvida no apagamento de contextuais que promovem a organização do conhecimento fonológico. 2. Perspectiva teórica Diferentemente dos modelos fonológicos tradicionais que eliminadas. A representação cognitiva das unidades linguísticas forma- unidade linguística vai ser constituída por um conjunto de exemplares dessa unidade a partir de dados experienciados pelo falante. Essa abordagem sugere que indivíduos diferentes tenham diferenças quanto apresentem comportamento linguístico diferente entre si. O que agrega 385

Redução Vocálica em Postônica Final de mudança em progresso. Isto porque indivíduos de faixas etárias semelhantes tendem a compartilhar princípios sociais e linguísticos. ser atestados comportamentos linguísticos não esperados para o grupo. assumidas pelos indivíduos. organizadas em redes e são agrupadas de acordo com similaridades possibilidade de diferentes graus de conexão entre os itens lexicais. semântica e fonológica. A organização do conhecimento fonológico em redes promove a articulação em diversos níveis de generalização. Por diversas que articulam a complexidade inerente às línguas. são usados afeta a sua representação mental e a forma fonética das 386

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva sustentar que as palavras ao serem armazenadas com seu detalhe fonético podem ser categorizadas mais de uma vez e ser associadas a formas léxico. Quando todos os itens lexicais que estão sendo afetados por um determinado fenômeno de variação passam a ser produzidos com a é esperado que quando uma mudança for completada um novo caso de variação terá emergido e estará em curso. Isto porque é a variabilidade As análises baseadas na Sociolinguística tipicamente assumem duas A Fonologia de Uso sugere que mudanças foneticamente 387

Redução Vocálica em Postônica Final De acordo com BROWMAN e GOLDSTEIN (1992) e MOWREY podem apresentar maiores índices do fenômeno por terem motivação fonética. A próxima seção apresenta a metodologia empregada nesta pesquisa. 3. Metodologia Este estudo analisa as formas variáveis de realização da vogal anterior situada na região da fronteira oeste do estado. Livramento forma com por apenas uma rua. dados coletados junto a falantes de Santana do Livramento constataram 388

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva Para a realização deste trabalho foram utilizados como parâmetros e duas mulheres para sete faixas etárias: (12-15) 4 de somente um homem. Todos os participantes deveriam ter cursado no mínimo a 5ª série do Ensino Fundamental. Para este estudo foram selecionadas 60 palavras que poderiam ser palavra molhes. O instrumento utilizado na coleta dos dados foi formado por 60 imagens correspondentes aos substantivos selecionados. O participante da pesquisa deveria produzir uma frase usando a palavra referente à imagem exposta. Para garantir que fosse produzida exatamente a palavra permitiu que mesmo em casos em que o participante não conhecesse despendido pelo falante para transformar em palavras uma ideia que vinha à mente a partir da exposição a uma determinada imagem. 4 Dois meninos e uma menina tinham à época da coleta dos dados 11 anos e 7 meses. 389

Redução Vocálica em Postônica Final A coleta dos dados a serem analisados foi precedida de uma pequena entrevista que teve como intenção deixar os participantes à vontade com a situação da entrevista e com a realização do experimento. A seleção das palavras a serem testadas no experimento se deu em disponível em www.projetoaspa.org/buscador. Através do buscador do ASPA foi possível acessar listas de palavras que continham os diferentes disponível em www.sketchengine.co.uk. apresenta os resultados obtidos e os discute à luz da perspectiva teórica assumida. 390

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva 4. Resultados Considerando-se os 26 participantes e as 60 palavras que foram foi analisado um total de 1.533 dados uma vez que 27 palavras não foram produzidas pelos participantes ou foram produzidas com outro item lexical. A tabela abaixo mostra a distribuição dos dados. TABELA 1: Distribuição geral dos dados [e] [i] apagamento TOTAL Nº de dados 249 1198 86 1533 16% 78% 6% de Santana do Livramento. Os dados da Tabela 1 indicam que há um 391

Redução Vocálica em Postônica Final TABELA [e] [i] apagamento TOTAL Alta freq. 108 616 52 776 Baixa freq. 141 582 34 757 TOTAL 249 1.198 86 1.533 mudanças linguísticas foneticamente motivadas propagam-se pelo léxico (cf. colunas à direita na Tabela 2) não é observado qualquer efeito de ou apagamento observamos um contínuo que pode ser compreendido 392

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva variação se façam sentir quando uma das variantes está emergindo na língua. A propagação de uma variante inovadora pode se dar em função não são evidenciados pela natureza avançada do fenômeno. futuros para esclarecer a natureza dos dados discutidos neste artigo: motivadas afetam as palavras mais frequentes primeiro e as palavras apresentarão altos índices do fenômeno. No caso que é discutido A outra perspectiva a ser considerada em estudos futuros é a de contextos alternativos. BYBEE (2002) caracteriza contextos uniformes e contextos alternativos. Contextos uniformes são aqueles que estão a variação e são muito frequentes podem apresentar maiores índices ito. 393

Redução Vocálica em Postônica Final Um exemplo de contexto uniforme seria o caso de redução da vogal pretônica que tende a ocorrer em todos os itens lexicais de um mesmo contextos alternativos são aqueles que podem estar presentes ou não na considerados contextos alternativos tanto o contexto precedente quanto o seguinte. O contexto da palavra seguinte poderia ser motivador para o apagamento da vogal. Sendo motivado o apagamento da vogal átona e considera vários contextos em que o sândi vocálico ocorre. VIEGAS e OLIVEIRA (2008) apontam em seu estudo para o favorecimento do contexto de juntura de palavras como favorecedor do cancelamento da futuros poderiam considerar a proposta de contextos alternativos para frequentes apresentem maiores índices de apagamento da vogal quando ou doce cheiroso. 394

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva GRÁFICO coluna do meio (entre 11 e 64 anos) e o sexo do participante (masculino 395

Redução Vocálica em Postônica Final escolha preferencial dos falantes. PB e começa a se manifestar dentre os falantes de Livramento. Gostaríamos de apontar dois contextos que foram destaques em nossos dados quanto ao favorecimento da redução vocálica: fricativas adjacentes e vogal alta tônica. No caso das fricativas que ocorrem no a explicação para o favorecimento da redução e do apagamento pode desvozeada (ou de africada) e vogal alta é um ambiente propício ao desvozeamento ou apagamento da vogal em função da sobreposição e da invasão de gestos articulatórios da consoante adjacente sobre a vogal. corpus 396

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva TABELA Itens com alta frequência TAB3-1 Itens com baixa frequência TAB3-2 Item/ freq.* reduz/total Item/ freq. reduz/total 23/24 17/23 15/19 22/22 22/26 18/20 22/23 22/25 22/24 TOTAL 126/141 TOTAL 57/65 Os resultados apresentados na Tabela 3 indicam que as sibilantes podem ser consideradas contextos favoráveis à implementação da precede a vogal átona postônica os índices apresentados na Tabela 3 de apagamento da vogal postônica em ambientes com sibilantes adjacentes pode ser compreendido como subproduto de mudanças sutis na magnitude e no timing Em função de características articulatórias da fricativa e em função de a pode variar desde o desvozeamento da vogal até seu apagamento. TAB3-1 TAB3-2 palavra musse e em uma da palavra lordose. 397

Redução Vocálica em Postônica Final O outro contexto que gostaríamos de apontar como favorecedor da vogal alta em posição tônica. Considere a Tabela 4. TABELA 4 Itens com alta frequência TAB4-1 Itens com baixa frequência TAB4-2 reduz/total reduz/total 25/26 26/26 26/26 24/26 24/25 21/25 26/26 21/25 23/24 15/23 22/25 22/22 23/26 18/20 23/24 25/25 192/202 TOTAL TOTAL 172/192 vocálica são bastante elevados tanto para palavras frequentes quanto para palavras infrequentes. Enquanto o índice geral de redução da vogal TAB4-1 houve dois casos. TAB4-2 houve cinco casos. 398

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva fricativa no contexto que precede a vogal postônica. Uma palavra sibilantes como segmento precedente e a presença de uma vogal alta contextos. Conclusão Este trabalho teve por objetivo discutir a realização fonética da a redução e apagamento vocálico. Outro fator favorecedor à redução o principal padrão de difusão lexical em operação (motivação fonética difusão lexical envolvendo a redução e o cancelamento de vogais átonas quanto contextos alternativos. A nossa avaliação global é de que a 399

Redução Vocálica em Postônica Final e dos pressupostos dos Sistemas Adaptativos Complexos (Beckner et a consolidação de uma trajetória e permitem o surgimento de novos Referências O português brasileiro e as controvérsias da Fonética atual: pelo aperfeiçoamento da Fonologia Articulatória. When is a syllable not a syllable? A. (eds.). Phonological Structure and Language Processing. Berlin: De Gruyter The Five Graces Group. Language as a complex adaptive system. Position paper. Language Learning O sândi e a ressilabação. Letras de Hoje. A degeminação e a elisão no VARSUL Fonologia e variação. Sandhi in Brazilian Portuguese. Probus Praat: doing phonetics by computer 400

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva Articulatory Phonology: an overview. SR- Morphology:. A view of phonology from a cognitive and functional perspective. Cognitive Linguistics. Phonology and Language Use. Cambridge: Cambridge. Word frequency and context of use in the lexical diffusion of phonetically conditioned sound change. Language Variation and Change. From Usage to Grammar: the Mind s Response to Repetition. Language,. Frequency of use and the Organization of Language. Language, Usage and Cognition. Cambridge: Cambridge comunidade de Santa Vitória do Palmar Dissertação (Mestrado). in Brazilian Portuguese. In: (org.). Phonological Studies (volume 16). 1ed. Tokyo: Kaitakusha Publishing 401

Redução Vocálica em Postônica Final Redução e Apagamento de Vogais Átonas Finais na Fala De Crianças e Adultos de Florianópolis: Uma Análise Letrônica, Language as a complex and adaptive system. Language learning The social life of phonetics and phonology. Journal of Phonetics Speech perception without speaker normalization: An exemplar model Mechanisms of Vowel Devoicing in Japanese. Tese Syllable structure and its acoustic effects on vowels in devoicing environments Voicing in Japanese Language as a Complex Adaptive System As vogais desvozeadas no português brasileiro: 402

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva português falado por descendentes de imigrantes poloneses Dissertação (Mestrado). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica The reductive character of articulatory evolution. Rivista de Linguística. Estudos diacrônicos. Exemplar dynamics: Word frequency, lenition and contrast and the emergence of linguistic structure. Probabilistic Phonology: discrimination and robustness.. How are words stored in memory? Beyond phones and phonemes. In.: Um Estudo Sociolinguístico sobre o Apagamento de Vogais Finais em Uma Localidade Rural da Bahia. SIGNUM externo em duas variedades do português do nordeste brasileiro. Redução vocálica postônica e estrutura prosódica. Dissertação (Mestrado). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio 403

Redução Vocálica em Postônica Final no português falado em Rincão Vermelho. Dissertação (Mestrado). A dynamic systems approach to the development of cognition and action. em Itaúna/MG e atuação lexical. Neutralização das vogais médias postônicas. Dissertação (Mestrado). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio. As vogais médias postônicas: uma análise variacionista. brasileiro Competing changes as a cause of residue. Language Recebido em 23/02/2015 e Aceito em 06/05/2015. 404

Maria José Blaskovski Vieira e Thaís Cristófaro Silva ANEXO 1: Frequência de ocorrência das palavras do corpus 1 aborígine 178 21 colchete 497 41 parque 68.193 2 abutres 273 22 corrente 99.441 42 pedicure 67 3 andaime 533 43 peixe 34.193 4 antílope 87 24 echarpe 74 44 pele 35.697 5 árvore 18.569 25 envelopes 4.221 45 perfume 4.584 6 astronave 41 26 faringe 1.344 46 ponte 46.684 7 bernes 46 27 guacamole 57 47 quibe 306 8 bode 3.434 28 hélice 1.119 48 rocambole 174 9 bodoque 92 29 joanete 47 49 rondelle 10 10 brioches 86 30 laje 5.747 50 salame 647 11 bronze 9.363 31 lordose 299 51 sanduíche 1.676 12 buldogue 74 32 merengue 610 52 telefone 56.442 13 cadáveres 3.656 33 metrópole 8.238 53 time 180.221 14 calzone 22 34 molhes 90 54 torre 34.244 15 cardume 548 35 mousse 162 16 champanhe 2.328 36 nove 57.871 56 ultraleve 310 17 chave 42.436 37 onze 14.618 57 vagalume 361 18 chope 1.700 38 padre 53.252 58 vitrine 3.074 19 classes 75.170 39 Palmolive 39 59 xale 213 20 cofre 10.713 40 panetone 242 60 xerife 1.121 405

Redução Vocálica em Postônica Final ANEXO 2: Dados dos participantes da pesquisa 4ª linha: escolaridade. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 H H H M H H M H H M M H M 64 53 53 20 52 27 21 19 36 60 58 11 11 5º EF 2º G 1º G 2º SUP SUP SUP SUP 2º G SUP SUP 5º EF SUP 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 M M M M M H H H M M M H M 61 28 59 38 37 57 19 11 12 28 24 26 53 SUP SUP 2º G 2º G SUP 2º G 2º G 5º EF 6º EF SUP SUP SUP 5º EF 406