Consulta relativa à viabilidade de emissão de certidões de assento de óbito do qual conste a causa da morte.

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Transcrição:

N.º 15 / DGATJSR /2014 N/Referência: CC 22/2014 STJSR Data de despacho: 13-05-2014 Assunto: Consulta relativa à viabilidade de emissão de certidões de assento de óbito do qual conste a causa da morte. Palavras-chave: Assento de óbito do qual conste a causa da morte Pedido de certidão ou de fotocópia não certificada Legitimidade - Procedimento. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO PROBLEMA: Por e-mail de ( ), o SAIGS remeteu a cópia da reclamação apresentada por ( ), contra a Conservatória ( ). Em síntese, reclama a (.), do facto de, alegadamente, lhe ter sido recusada a emissão de uma fotocópia simples do assento de óbito do seu tio-avô. ( ) CUMPRE INFORMAR Em tabela encontra-se a viabilidade legal de ser emitida uma fotocópia não certificada de um assento de óbito, do qual consta a causa de morte. Esta questão prende-se, desde logo, com a legitimidade para o pedido de certidão e, consequentemente, para o pedido de fotocópia não certificada dos assentos e dos documentos lavrados no registo civil. Nos termos do disposto no n.º 1, do artigo 214.º, do Código do Registo Civil, é permitida a qualquer pessoa requerer certidões de registo. Este princípio surge como expressão do princípio da publicidade registral. O registo civil representa, na verdade, um instrumento fundamental da publicidade exclusiva e privilegiada do estado civil das pessoas. O caráter público do registo civil não goza, porém, de um valor absoluto, existindo diferentes limitações subjetivas e objetivas à divulgação da informação inserta nos assentos. 1/5

São várias as normas que dispõem sobre essas limitações, designadamente, o disposto na alínea a), do n.º2, do artigo 164.º do Código de Processo Civil 1 e artigos 212.º, n.º 4, 213.º, n.º 2, 214.º, n.ºs. 2, 3 e 4, e 217.º, estes do Código do Registo Civil 2. Essas restrições encontram o seu fundamento, acima de tudo, no direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar inspirado no primado da pessoa humana e dignidade que enquanto tal lhe é inerente. No que respeita aos pedidos de fotocópias não certificadas é entendimento deste Instituto 3 que as mesmas constituem uma forma, através da qual, a administração pública disponibiliza informação e, como tal, a sua emissão e disponibilização tem que atender aos sobreditos limites subjetivos e objetivos consagrados nas várias normas restritivas dos Códigos de Processo Civil e do Registo Civil, relativas à passagem e emissão de certidões. Não pode, portanto, pela via da fotocópia não certificada obter-se a informação que estaria vedada através de uma certidão, por força de eventuais limitações. Igualmente, não poderá ser disponibilizada às pessoas a quem, por força da lei, estava vedado o conhecimento do documento, no todo ou em parte. In casu, temos um pedido de fotocópia não certificada de um assento de óbito que contém a causa da morte. Ora, a análise de tal pedido está em estreita conexão com os pedidos de certidão de certificados de óbito que se encontrem em suporte de papel. Sobre esta matéria e pela sua pertinência chamamos aqui à colação a informação prestada no âmbito do P.º CC 92/2013 STJSR: 1 Não obstante o n.º1 do artigo 163º, do Código de Processo Civil (anterior artigo 167º) consagrar a regra da publicidade, verificamos que está excluído, em absoluto, o acesso por terceiros à obtenção de cópias ou certidões sempre que a divulgação do conteúdo de determinadas peças processuais possa causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública (nº 1 do artigo 164º), restrição que encontra concretização, a título meramente exemplificativo como decorre do vocábulo designadamente relativamente a certos tipos de processos enunciados no nº 2 do supracitado artigo 164º, dos quais destacamos o processo de divórcio por mútuo consentimento que corre os seus termos nas conservatórias do registo civil. 2 No âmbito do Código do Registo Civil temos os pedidos de certidão respeitantes a assentos de filhos adotivos ou a menores sujeitos a processo de adoção ou medidas de confiança judicial ou administrativa (nºs 2 e 4 do supracitado normativo), de assentos onde conste averbada a mudança de sexo e a alteração de nome próprio consequente (artigo 214º, nº 3) ou, ainda, de assentos de perfilhação que devam considerar-se secretos, sendo que, neste último caso, apenas pode ser passada certidão para efeito de instrução de processo preliminar de casamento ou de instauração de ação de alimentos nos termos previstos na lei civil (nº 5 do artigo 214º). 3 CC 11/2013 DSJ-CT. 2/5

( ) No que à emissão de certidões do certificado médico de óbito concerne, prescreve o artigo 217.º, n.º2, do Código do Registo Civil, que Do certificado médico de óbito só podem ser passadas certidões a quem comprove interesse legítimo e fundado no respetivo pedido. Com efeito, são os princípios relativos à proteção da vida privada consagrados na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais e, garantidos na Constituição da República Portuguesa, que conduzem a que a causa da morte, como elemento da esfera pessoal e privada de um indivíduo, não possa ser divulgada para além de determinados casos devidamente justificados. Dispõe o artigo 8.º, da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, sob a epígrafe Direito ao respeito pela vida privada e familiar, que: 1. Qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida privada e familiar, do seu domicílio e da sua correspondência. 2. Não pode haver ingerência da autoridade pública no exercício deste direito senão quando esta ingerência estiver prevista na lei e constituir uma providência que, numa sociedade democrática, seja necessária para a segurança nacional, para a segurança pública, para o bem-estar económico do país, a defesa da ordem e a prevenção das infrações penais, a proteção da saúde ou da moral, ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros. Também o nº 1 do artigo 26.º da Constituição da República Portuguesa reconhece o direito à identidade pessoal e à reserva da intimidade da vida privada. O n.º2, do artigo 18.º, também da Constituição, estatui que a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente nela previstos, devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. Com J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, in Constituição da República Portuguesa Anotada, 3.ª edição, Coimbra, 1993, página 181, diremos que o direito à intimidade da vida privada se pode analisar em dois outros direitos menores: o direito a impedir o acesso de estranhos a informação sobre a vida privada e familiar e o direito a que ninguém divulgue as informações sobre a vida privada e familiar de outrem (artigo 80.º, n.º1, do Código Civil). Proteção esta que se mantém até depois da morte artigo 71º, nº 1 do Código Civil. Determinando mais o nº 2 do artigo 26º da Lei Fundamental que a lei estabelecerá garantias efetivas contra a obtenção e utilização abusiva de informações relativas às pessoas. 3/5

Com relevo, também o artigo 268.º, n.º2, da Constituição da República Portuguesa ao determinar que os cidadãos têm direito de acesso aos arquivos e registos administrativos, sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à intimidade das pessoas. Assim, necessária se torna a articulação dos princípios da publicidade e da salvaguarda da privacidade das pessoas. O princípio da publicidade não pode, nestes casos, ser considerado em absoluto. O direito ao respeito pela vida privada e familiar deve prevalecer sobre o princípio da publicidade do registo civil. Foi, em face do estabelecido na citada norma e dos princípios que a enformam, que pelo Despacho n.º 9/96, do então Diretor Geral, se determinou que o pedido de certidões do certificado médico de óbito devesse ser formalizado em requerimento escrito, no qual se indicasse o fim a que aquelas se destinavam, por forma a prevenir eventuais desvios na sua utilização, e, instruído, sempre que necessário, com documento comprovativo do interesse invocado. Constata-se que a restrição do direito à privacidade é efetuada numa ótica de ponderação de interesses conflituantes, ligados, por um lado à confidencialidade; e, por outro lado, à divulgação. Também para emissão e disponibilização de uma fotocópia não certificada há que atender aos limites subjetivos e objetivos consagrados nas várias normas restritivas dos Códigos de Processo Civil e do Registo Civil, relativas à passagem e emissão de certidões. Mas a legitimidade para o tratamento dos dados constantes do certificado médico de óbito resulta, no âmbito do registo civil, do disposto nos artigos 192º e seguintes do Código que rege aquela atividade registral, bem como face ao disposto no nº 2 do artigo 217º do Código do Registo Civil, logo, não só do cumprimento de uma obrigação legal a que o responsável pelo tratamento está sujeito, mas, sobretudo, da execução de uma missão de interesse público. E não se ignore que o conceito de tratamento de dados cfr alínea b) do artigo 3º da Lei nº 67/98, de 26 de Outubro -, abrange qualquer operação ou conjunto de operações sobre dados pessoais, incluindo também a consulta, a utilização, a comunicação por transmissão, por difusão ou por qualquer outra forma de colocação à disposição. Em tabela mostra-se também um dos corolários do registo civil, próprio da sua natureza e finalidade, na medida em que se destina a facultar meios de prova, publicidade essencial à segurança do comércio jurídico. Ora, é o próprio Código do Registo Civil que permite, desde que verificados certos pressupostos, que esse tratamento colocação da informação à disposição mediante emissão de certidões seja efetuado, pelo que 4/5

nos parece que, por força do disposto no nº 2 do artigo 28º da Lei nº 67/98 estará dispensada a autorização da CNPD. 4 Necessário é que se mostre comprovado interesse legítimo e fundado no pedido, tendo em vista que a causa de morte não possa ser divulgada para além de determinados casos devidamente justificados, o que justificou a prolação do despacho nº 9/96 e, já antes dele, o ofício circular nº 1/92 RC. Parece-nos ainda pertinente recordar as motivações do legislador quando, após as alterações introduzidas ao Código do Registo Civil pelo Decreto-Lei n.º 54/90, de 13 de Fevereiro, retirou a menção da causa da morte dos assentos de óbito, como se infere claramente do preâmbulo do diploma, onde se salienta a eliminação da causa da morte nos assentos de óbito, em obediência aos princípios relativos à proteção e respeito pela vida privada e familiar que informam o direito português. Para finalizar importa ainda fazer, aqui, alusão ao Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), criado pela Lei nº 15/2012, de 3 de abril, um sistema de informação integrado com o qual interagem diferentes entidades, que veio permitir que o processo de certificação dos óbitos seja articulado com todas elas as elencadas no artigo 7º, nº 1 da referida Lei e ainda a desmaterialização daquele documento. É precisamente o respeito pela privacidade ou, se quisermos, pela extensão post mortem do dever de reserva quanto à intimidade da vida privada, já referido, que também determinou que do certificado médico de óbito deixasse de constar a causa da morte Os direitos de personalidade gozam igualmente de proteção depois da morte do respetivo titular (nº 1 do artigo 71º do Código Civil), o que constitui, em certa medida, um desvio à regra estabelecida no artigo 68º do referido diploma que levaram a Comissão Nacional de Proteção de Dados, respeitando o princípio da finalidade e da minimização dos dados, a determinar que os campos dos certificados de óbito e dos certificados de óbito fetal e neonatal que contenham dados de saúde do falecido deixassem de ser transmitidos ao IRN, IP, passando o SICO a transmitir-lhe eletronicamente apenas os dados pessoais estritamente necessários à elaboração do assento de óbito ou da declaração de morte fetal, aqueles a que se reportam os artigos 201, nº 1 e 209º, nº 3. 5 Face a todo o exposto, por identidade de fundamentos, a emissão da fotocópia não certificada de um assento de óbito donde conste a causa da morte deve ser equacionada dentro dos parâmetros referidos. Afigura-se-nos, salvo melhor opinião, ser de aplicar, por analogia, o disposto no n.º2, do artigo 217.º, do Código do Registo Civil, pelo que há que ser comprovado o interesse legítimo e fundado no respetivo pedido. 4 Os tratamentos a que se refere o número anterior podem ser autorizados por diploma legal, não carecendo neste caso de autorização da CNPD. 5 Autorização n.º 6494/2012, de 1 de Agosto, proferido no âmbito do P.º 7659/2012 da CNPD. 5/5