EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA) REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM Terça-feira da 6ª Semana do Tempo Comum 1) Oração Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Primeira Leitura: São Tiago 1, 12-18 Leitura da carta de São Tiago - 12 Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. 13 Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. 14 Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. 15 A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. 16 Não vos iludais, pois, irmãos meus muito amados. 17 Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem mesmo aparência de instabilidade. 18 Por sua vontade é que nos gerou pela palavra da verdade, a fim de que
sejamos como que as primícias das suas criaturas. - Palavra do Senhor. Salmo Responsorial(93) REFRÃO: Bem-aventurado é aquele a quem ensinais vossa lei! 1. Feliz o homem a quem ensinais, Senhor, e instruís em vossa lei, para lhe dar a paz no dia do infortúnio, enquanto uma cova se abre para o ímpio, - R. 2. porque o Senhor não rejeitará o seu povo, e não há de abandonar a sua herança. Mas o julgamento com justiça se fará, e a seguirão os retos de coração. - R. 3. Quando penso: Vacilam-me os pés, sustenta-me, Senhor, a vossa graça. Quando em meu coração se multiplicam as angústias, vossas consolações alegram a minha alma. - R. 2) Leitura do Evangelho (Marcos 8, 14-21) Naquele tempo, 14 Aconteceu que eles haviam esquecido de levar pães consigo. Na barca havia um único pão. 15 Jesus advertiu-os: Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes! 16 E eles comentavam entre si que era por não terem pão. 17 Jesus percebeu-o e disse-lhes: Por que discutis por não terdes pão? Ainda não
tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois, o coração insensível? 18 Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais? 19 Ao partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios de pedaços? Responderam-lhe: Doze. 20 E quando eu parti os sete pães entre os quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes? Sete, responderam-lhe. 21 Jesus disse-lhes: Como é que ainda não entendeis? 3) Reflexão Mc 8,14-21 * O Evangelho de ontem falava do mal-entendido entre Jesus e os fariseus. O evangelho de hoje fala do mal-entendido entre Jesus e os discípulos e mostra como o fermento dos fariseus e de Herodes (religião e governo), tinha tomado conta da cabeça dos discípulos a ponto de eles não entenderem mais nada da Boa Nova. * Marcos 8,14-16: Cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes Jesus adverte os discípulos: Cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes. Mas eles não entendem as palavras de Jesus. Acham que ele falou assim por eles terem esquecido de comprar pão. Jesus fala uma coisa e eles entendem outra. Este desencontro era resultado da influência insidiosa do fermento dos fariseus na cabeça e na vida dos discípulos.
* Marcos 8,17-18ª: As perguntas de Jesus Diante desta falta quase total de percepção nos discípulos, Jesus faz uma série de perguntas rápidas, sem esperar uma resposta. Perguntas duras que evocam coisas muito sérias e revelam uma total incompreensão por parte dos discípulos. Por incrível que pareça, os discípulos chegaram num ponto em que já não se diferenciavam dos inimigos de Jesus. Anteriormente, Jesus tinha ficado triste com a dureza de coração dos fariseus e dos herodianos (Mc 3,5). Agora, os próprios discípulos têm o coração endurecido (Mc 8,17). Anteriormente, os de fora (Mc 4,11) não entendiam as parábolas, porque tinham olhos e não enxergavam, ouvidos e não escutavam (Mc 4,12). Agora, os próprios discípulos já não entendem mais nada, porque tem olhos e não enxergam, ouvidos e não escutam (Mc 8,18). Além disso, a imagem do coração endurecido evocava a dureza de coração do povo do AT que sempre se desviava do caminho. Evocava ainda o coração endurecido do faraó que oprimia e perseguia o povo (Ex 4,21; 7,13; 8,11.15.28; 9,7...). A expressão tem olhos e não vêem, ouvidos e não ouvem evocava não só o povo sem fé, criticado por Isaías (Is 6,9-10), mas também os adoradores dos falsos deuses, dos quais o salmo dizia: eles têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem (Sl 115,5-6). * Marcos 18b-21: As duas perguntas sobre o pão * As duas perguntas finais tratam da multiplicação dos pães: Quantos cestos recolheram na primeira vez? Doze! E na segunda vez? Sete! Como os fariseus, os discípulos, apesar de terem colaborado ativamente na multiplicação dos pães, não chegaram a compreender o seus significado. Jesus termina: "E vocês ainda não
compreendem?" A maneira de Jesus lançar todas estas perguntas, uma depois da outra, quase sem esperar pela resposta, parece uma ruptura. Revela um desencontro muito grande. Qual a causa deste desencontro? * A causa do desencontro entre Jesus e os discípulos * A causa do desencontro entre Jesus e os discípulos não foi a má vontade deles. Os discípulos não eram como os fariseus. Estes também não entendiam, mas neles havia malícia. Eles usavam a religião para criticar e condenar Jesus (Mc 2,7.16.18.24; 3,5.22-30). Os discípulos, porém, eram gente boa. Não tinham má vontade. Pois, mesmo sendo vítimas do fermento dos fariseus e dos herodianos, eles não estavam interessados em defender o sistema dos fariseus e dos herodianos contra Jesus. Então, qual era a causa? A causa do desencontro entre Jesus e os discípulos tinha a ver com a esperança messiânica. Havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas messiânicas. De acordo com as diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias Rei(cf. Mc 15,9.32).
Outros, um Messias Santo ousacerdote (cf. Mc 1,24). Outros, um Messias Guerrilheiro subversivo (cf. Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8). Outros, um Messias Doutor (cf. Jo 4,25; Mc 1,22.27). Outros, um Messias Juiz (cf. Lc 3,5-9; Mc 1,8). Outros, um Messias Profeta (6,4; 14,65). Ao que parece, ninguém esperava pelo MessiasServidor, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42,1; 49,3; 52,13). Eles não se lembravam de valorizar a esperança messiânica como serviço do povo de Deus à humanidade. Cada um, conforme os seus próprios interesses e conforme a sua classe social, aguardava o Messias, querendo encaixá-lo na sua própria esperança. Por isso, o título Messias, dependendo da pessoa ou da posição social, podia significar coisas bem diferentes. Havia muita confusão de idéias! E é nesta atitude de Servidor que está a chave que vai acender uma luz na escuridão dos discípulos e que vai ajudá-los a se converter. Só mesmo aceitando o Messias como sendo o Servo Sofredor de Isaías, eles seriam capazes de abrir os olhos e de entender o Mistério de Deus em Jesus. 4) Para um confronto pessoal 1) Qual é hoje o fermento dos fariseus e de Herodes para nós? O que significa hoje, para mim, ter o coração endurecido? 2) O fermento de Herodes e dos fariseus impedia os discípulos de entender a Boa Nova. Será que hoje a propaganda da televisão nos impede de entender a Boa Nova de Jesus? 5) Oração final Quando penso: Vacilam-me os pés, sustenta-me, Senhor, a vossa graça. Quando em meu coração se multiplicam as angústias, vossas consolações alegram a minha alma. (Sl 93, 18-19)