Sobre o gênero Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae) no sul do Brasil

Documentos relacionados
Everton Nei Lopes Rodrigues 1,2 & Maria Aparecida L. Marques 2

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS SALTICIDAE (ARANEAE) DO BRASIL. VII. Maria José Bauab Vianna Benedict» A. M. Soares

GUATUBESIA, NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE

DESCRIÇÃO DE DUAS ESPÉCIES NOVAS DE OPOPAEA DO SUL DO BRASIL (OONOPIDAE, ARANEAE) INTRODUÇÃO

Revta bras. Ent. 32(2): OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XXI. (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) ABSTRACT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

Sobre algumas espécies do gênero Eustala (Araneae, Araneidae) do Brasil

Espécies novas de Eucerinae Neotropicais e notas sobre Dasyhalonia phaeoptera Moure & Michener (Hymenoptera, Anthophoridae) 1

DEIPARTAMENTO DE ZOOLOGIA. DOIS NOVOS CiÊNEROS E TRÊS NOVAS ESPÉCIES DE OPILIOES BRASILEIROS (*) POR INTRODUÇÁO

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. VII (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) '

Duas novas espécies de Mauesia (Cerambycidae, Lamiinae, Mauesini) e chave para identificação das espécies do gênero

Revisão taxonômica do gênero Noegus Simon, 1900 (Araneae, Salticidae) na Região Neotropical

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA. DUAS NOVAS ESPÉCIES DiE OPILIÕES DO ESiTANDO DO ESPíRITO SANTO (*) POR INTRODUÇÁO

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XII (OPILIONES, GONY LEPTIDAE, PACHYLINAE)

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XVL NOVO GÊNERO DE GONYLEPTIDAE E PRESENÇA DE TRIAENONYCHIDA E NO BRASIL (OPILIONES).

Espécies novas de Ischnoptera (Blattellidae, Blattellinae) do Estado do Mato Grosso, Brasil e considerações sobre I. similis

UM NOVO GÊNERO E DOIS ALÓTIPOS DE "GONY- LEPTIDAE" (OPILIONES) 1

ALGUNS LANIATORES NOVOS DA REPUBLIC A ARGENTIN A MELLO-LEITÃ O

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. XVII. (OPIL!ONES, GONYLEPT!DXE) ABSTRACT

SISTEMÁTICA DE Rhabdepyris KIEFFER (HYMENOPTERA, BETHYLIDAE) AMAZÔNICOS COM ANTENAS PECTINADAS

bois GÉNEROS E QUATRO ESPÉCIES DE PACHYLINA E

OPERA OPILIOLOGICA VARIA. VIII. (OPILIONES, GONYLEPTIDAE) 1

Papéis Avulsos de Zoologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ THIAGO BROBIO MASSANTI

DESCRIÇÃO DO GÊNERO PENSACOLOPS, G. N. E DE NOVA ESPÉCIE DE CHIRA PECKHAM, 1896 (ARANEAE, SALTICIDAE)

DESCRIÇÃO DE DUAS ESPÉCIES NOVAS DE Elmohardyia RAFAEL (DIPTERA, PEPUNCULIDAE) DA REGIÃO AMAZÔNICA

SEIS ESPÉCIES NOVAS DE CARIBLATTA HEBARD (BLATTARIA, BLATTELLIDAE) DO BRASIL 1

NOVOS GÊNEROS E ESPÉCIES DE HOPLOPHORIONINI (HEMIPTERA, MEMBRACIDAE, MEMBRACINAE)

DESCRIÇÃO DE TRÊS ESPÉCIES NOVAS E REDESCRIÇÃO DA ESPÉCIE-TIPO DE SOESILARISHIUS MAKHAN, 2007 (ARANEAE: SALTICIDAE: EUOPHRYINI)

SETE NOVOS LANIATORES COLHIDOS

Mirídeos neotropicais, CCXXXVII: Descrição de quatro espécies novas do gênero Peritropoides Carvalho (Hemiptera)

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 02/2015 a 07/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL

Três espécies novas do gênero Chorisoneura (Blattellidae, Chorisoneuriinae) coletadas em ninhos de Sphecidae (Hymenoptera) do Estado do Acre, Brasil

VINALTO GRAF ALICE FUMI KUMAGAI 3

Acta Biol. Par., Curitiba, 35 (1-2):

Chrysodasia pronotata, sp.n. Figs 1-5

OPILIÕES COLIGIDOS POR ANTENOR LEITÁO DE CARVALHO NO TAPIRAPÉS 1 CANDIDO DE MELLO-LEITAO

Novos táxons de Desmiphorini (Coleoptera, Cerambycidae, Lamiinae) da Costa Rica e do Brasil

Espécies novas e notas sobre Nananthidium Moure (Hymenoptera, Apidae, Megachilinae) 1

Espécies novas de Blaptica do Rio Grande do Sul, Brasil (Blattaria, Blaberidae, Blaberinae)

PAPÉIS AVULSOS. DEPARTAh'íkNTO DE ZOOLOGIA OPILIÕES DA COLEÇÁO GOFFERJE " (OPILIONES - GONYLEPTIDAE) (*) HENEDICIO A. M So~nks e HÉLIA E. M.

Revisão das aranhas do gênero Lupettiana Brescovit (Araneae, Anyphaenidae, Anyphaeninae)

Descrição de três novas espécies de Mahanarva (Hemiptera, Cercopidae, Ischnorhininae)

Acta Biol. Par., Curitiba, 32 (1, 2, 3, 4): DANÚNCIA URBAN 2

Deltocephalinae): primeiro registro no Brasil e descrição de duas espécies novas 1

Dardarina angeloi sp. n. do sudeste e sul do Brasil (Lepidoptera: Hesperiidae) 1

Derophthalma vittinotata, sp.n. Figs 1-4

PAPEIS AVULSOS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA SECRETARIA DA AGRICULTURA- S. PAULO - BRASIL POR

Acta Biol. Par., Curitiba, 41 (3-4): KETI MARIA ROCHA ZANOL 2 Estrianna gen. nov. (Espécie tipo Estrianna sinopia sp. n.

DANÚNCIA URBAN 2. Acta Biol. Par., Curitiba, 31 (1, 2, 3, 4):

Mirídeos neotropicais, CCXXXIX: descrições de algumas espécies de Cylapinae do Amazonas (Hemiptera).

MIRÍDEOS NEOTROPICAIS, XL: DESCRIÇÕES DE NOVAS ESPÉCIES DA AMAZÔNIA (HEMIPTERA).

NOVOS CERAMBYCIDAE (COLEOPTERA) DA COLEÇÃO ODETTE MORVAN, KAW, GUIANA FRANCESA

ALGUNS OPILIÕES NOVOS DA

MACROCHELES NOVAODESSENSIS, SP.N. E MACROCHELES ROQUENSIS, SP.N. COLETADAS EM ESTERCO BOVINO NA REGIÃO NEOTROPICAL (ACARINA, MACROCHELlDAE)

DESCRIÇÃO DE UMA NOVA ESPÉCIE DE HYMENOEPIMECIS VIERECK (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE, PIMPLINAE) PARASITÓIDE DE Leucauge Roseosignata

(Hemiptera, Cicadellidae, Xestocephalinae) 1

Novos Cerambycidae (Coleoptera) da Coleção Odette Morvan, Guiana Francesa. II

Boethus catarinae sp. nov.

NOTAS SOBRE ESPÉCIES DE IDIOPS PERTY, 1833 DO SUDESTE BRASILEIRO COM DESCRIÇÃO DE I. PIRASSUNUNGUENSIS SP. N. (MYGALOMORPHAE, IDIOPIDAE, IDIOPINAE)

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA ALGUNS OPILIÓES DO MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (*) POR

SHILAP Revista de Lepidopterología ISSN: Sociedad Hispano-Luso-Americana de Lepidopterología. España

Description of New Species of Fidicinoides Boulard & Martinelli (Hemiptera: Cicadidae) from Brazil

Designação de lectótipos de algumas espécies sul-americanas de Anthidium Fabricius (Hymenoptera, Megachilidae) 1

DESCRiÇÃO DE UMA ESPÉCIE NOVA DE CAL VOZ/NA ENDERLEIN (HYMENOPTERA, BETHYLlDAE) DO BRASIL. Celso Oliveira Azevedo 1

OPILIÕES COLIGIDOS PELO DR. HENRY LEONARDO S NO xi NOÚ

ASPECTOS DA BIOMETRIA, FISIOLOGIA E REPRODUÇÃO DE NEOCORBICULA LIMOSA (MOLLUSCA, BIVALVIA) NO LAGO GUAÍBA (PORTO ALEGRE, RS)

Papéis Avulsos de Zoologia

Novos Cerambycidae (Coleoptera) da coleção Odette Morvan, Kaw, Guiana Francesa. IV

REVISÃO DO GÊNERO SATIPOELLA (COLEOPTERA, CERAMBYCIDAE, LAMIINAE) INTRODUÇÃO

Acta Biol. Par., Curitiba, 34 (1, 2, 3, 4):

Captura de Noctuídeos com Armadilha Luminosa na Região Norte de Londrina, Paraná

DESCRIÇÃO DE UMA ESPÉCIE NOVA DE JOLLAS (ARANEAE: SALTICIDAE), COM NOTAS SOBRE SUA BIOLOGIA.

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

Kyra gen. nov. (Cicadellidae, Deltocephalinae) e descrições de duas novas espécies 1

p o r B. M. SOARE S Liogonyleptoides inermis (M. L., 1922).

Galatheoidea Chirostylidae Uroptycbus uncifer (A. Milne Edwards, 1880)

Dendrophryniscus bokermanni, sp.n. Figs 1-12

8 PEIXOTO: NOVA ESPÉCIE DE SCINAX exemplares do gênero Scinax, colecionados em bromeliáceas em Santa Teresa, permitiu a identificação de uma nova espé

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA

NOVA ESPÉCIE DE GHINALLELIA WYGODZINSKY, 1966 DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL (HEMIPTERA, HETEROPTERA, REDUVIIDAE, EMESINAE) 1

Acta Biol. Par., Curitiba, 33 (1, 2, 3, 4):

Keti Maria Rocha Zanol 2

RIO DE JANEIRO, 30 DE SETEMBRO DE 1933 ANNAE S QUATRO NOVOS PALPATORES NEOTROPICO S MELLO - LEITÃ O SUEPAMILIA NEOPILIONINAE LAW R

O gênero Eustala (Araneae, Araneidae) no sul do Brasil: duas espécies novas, descrições complementares e novas ocorrências

Espécies novas de Thygater Holmberg (Hymenoptera, Apoidea, Anthophoridae) 1

Três espécies novas de Centronodus Funkhouser (Homoptera, Membracidae, Centronodinae) 1

Estágios imaturos e bionomia de Cyclomia mopsaria Guenée (Lepidoptera, Geometridae) 1

Descrições de duas espécies novas de Amb/ycerus Thunberg (Coleoptera, Bruchidae) 1

NOTAS SOBRE PSEUDEVOPLITUS (HETEROPTERA, PENTATOMIDAE) E DESCRIÇÃO DE DUAS ESPÉCIES NOVAS 1

José Albertino RAFAEL 1, 2

Descrição dos Imaturos de Loxa deducta Walker e Pallantia macunaima Grazia (Heteroptera: Pentatomidae) em Ligustro, Ligustrum lucidum Ait.

Caderno de Pesquisa, série Biologia, Volume 25, número 3 PSEUDAUGOCHLORA MICHENER, 1954 (HYMENOPTERA, APIDAE) DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Primeiros registros de Climacia (Neuroptera: Sisyridae) para o estado de Roraima, Brasil

Novos táxons de Hemilophini (Coleoptera, Cerambycidae, Lamiinae) das Américas

GONYASSAMIINAE, NOVA SUBFAMÍLIA DE GONYLEPTIDA E (OPILIONES, GONYLEPTOIDEA, GONYLEPTOMORPHI) DO BRASI L

Novas espécies e nota sobre Lamiinae (Coleoptera, Cerambycidae) neotropicais da coleção Arriagada, Santiago, Chile

ARANEOFAUNA EM FRAGMENTO FLORESTAL DE ARAPONGAS

Duas espécies novas de membracídeos (Hemiptera, Membracidae) da Mata Atlântica do Estado de São Paulo, Brasil 1

OITO NOVOS LANIA.TORES DO EQUADOR

Transcrição:

Sobre o gênero Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae)... 407 Sobre o gênero Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae) no sul do Brasil Everton Nei Lopes Rodrigues & Ricardo Ott Museu de Ciências Naturais, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Rua Dr. Salvador França, 1427, 90690-000 Porto Alegre, RS, Brasil. (enlrodrigues@yahoo.com.br; rott@fzb.rs.gov.br) ABSTRACT. On the genus Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae) in southern Brazil. Vesicapalpus serranus sp. nov., from the State of Rio Grande do Sul, is described, illustrated and ecological data on this species are presented. The female of Vesicapalpus simplex Millidge, 1991 is described, illustrated and new geographical distribution data are provided. KEYWORDS. Vesicapalpus, Neotropical, taxonomy, ecology, phenology. RESUMO. Vesicapalpus serranus sp. nov., do Estado do Rio Grande do Sul, é descrita, ilustrada e são apresentados dados ecológicos desta espécie. A fêmea de Vesicapalpus simplex Millidge, 1991 é descrita, ilustrada e novos dados de distribuição geográfica são fornecidos. PALAVRAS-CHAVE. Vesicapalpus, Neotropical, taxonomia, ecologia, fenologia. O gênero Vesicapalpus foi proposto por MILLIDGE (1991) incluindo somente a espécie-tipo V. simplex Millidge, 1991, descrita para Misiones, Argentina e representada por um indivíduo macho. O gênero é caracterizado pelo palpo do macho com o tégulo dilatado, divisão embólica relativamente simples e apófise suprategular curvada e pontiaguda (MILLIDGE, 1991). Recentemente, HORMIGA (1999) estudou os sulcos encontrados no cefalotórax (pits) de aranhas da subfamília Linyphiinae, documentando pela primeira vez esta estrutura em V. simplex, e descreveu como nãohomólogos os sulcos encontrados em Vesicapalpus com o das demais espécies estudadas da subfamília. Neste trabalho é descrita uma nova espécie de Vesicapalpus e são apresentados dados ecológicos a partir de indivíduos coletados com armadilhas de solo ( pitfall-traps ) no CPCN Pró-Mata, São Francisco de Paula, RS, Brasil. Também é descrita a fêmea de V. simplex Millidge, 1991 e são registradas novas ocorrências da espécie. MATERIAL E MÉTODOS A coleta dos exemplares de Vesicapalpus serranus sp. nov. foi realizada no Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza (CPCN) Pró-Mata, São Francisco de Paula, RS. Seis áreas de floresta foram escolhidas para as amostragens: duas de Floresta Ombrófila Mista, bem conservadas (ARA), duas de floresta secundária (SEC) e duas de silvicultura de Pinus spp. (PIN). Em cada área, foram escolhidos dois transectos e, sobre cada um, instaladas cinco armadilhas de queda, uma a cada 10 metros, num total de dez armadilhas para cada uma das áreas. As amostragens foram realizadas, ininterruptamente, ao longo de 20 meses de coleta, totalizando 18 datas amostrais (Fig. 8). Para comparação do número de indivíduos registrados em cada sexo, foi utilizado o teste t pareado (ZAR, 1999); os dados foram agrupados considerando-se a soma total de indivíduos de cada sexo em cada uma das 60 armadilhas (10 de cada em cada área) ao longo de todo período amostral (60 pares). Para a comparação das médias de indivíduos, obtidas entre os três diferentes tipos de hábitats (ARA, SEC e PIN), foi aplicado teste de hipóteses através da Análise de Variância (ANOVA; ZAR, 1999), tendo sido consideradas as médias dos totais registrados entre as dez armadilhas de cada área; obtiveram-se, desta maneira, duas réplicas para cada tipo de hábitat estudado. Os cálculos foram realizados com o auxílio do programa SigmaStat (JANDEL, 1995); todos consideraram α = 0,05. Os espécimes examinados estão depositados nas coleções aracnológicas do Museu de Ciências Naturais, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN, E. H. Buckup) e do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (MCTP, A. A. Lise), Porto Alegre, RS, Brasil. Para o cálculo da posição do tricobótrio no metatarso da perna I (TmI), adotou-se MILLIDGE (1980); descrições seguem MILLIDGE (1985, 1991). O estudo das estruturas internas da genitália da fêmea foi realizado submergindo o epígino em ácido lático por aproximadamente 30 minutos. Medidas são apresentadas em milímetros (mm) e a variação em V. serranus sp. nov. está baseada em 10 machos e 10 fêmeas. Vesicapalpus serranus sp. nov. (Figs. 1-9) Material-tipo. Holótipo, BRASIL, Rio Grande do Sul: São Francisco de Paula (CPCN Pró-Mata), 23.XI.2000, R. Ott col., coletado com armadilha de solo (pitfall-trap) (MCN 40054). Parátipos: 10, 11, mesma localidade do holótipo, 25.X.2000-07.VIII.2001, R. Ott col., todos coletados com pitfall-trap (MCN 39418, 39419, 40055, 40056; MCTP 18080, 18113). Etimologia. O epíteto refere-se à região serrana, onde está localizado o município no qual a espécie foi coletada. Diagnose. O palpo do macho de Vesicapalpus

408 RODRIGUES & OTT serranus sp. nov. é semelhante ao de V. simplex Millidge, 1991 (MILLIDGE, 1991, figs. 182, 183); difere do mesmo pela divisão embólica com região proximal mais estreita e porção distal afilada; êmbolo não tão longo e afilado, com percurso direcionado para o ápice da divisão embólica, porção proximal com base mais larga; tíbia mais curta e com uma pequena intumescência ventral (Fig. 5). Epígino com átrio de grande abertura arredondada e profunda, dividida por septo mediano longitudinal de base alongada e projetada, inserida na placa dorsal (Fig. 6); espermatecas laterais na porção posterior do átrio (Fig. 7). Descrição. Holótipo. Comprimento total 2,50. Carapaça, comprimento 1,07, largura 0,89, altura 0,42. Clípeo, altura 0,13. Esterno, comprimento 0,55, largura 0,55. Abdômen, comprimento 1,47, largura 0,87, altura 0,87. Fórmula das pernas 1,2,4,3. Comprimento I/II/III/IV: fêmures 1,40/1,33/0,97/1,30; patelas 0,25/0,25/0,22/0,22; tíbias 1,50/1,38/0,86/1,25; metatarsos 1,35/1,13/0,75/1,05; tarsos 0,80/0,70/0,60/0,66. Total 5,30/4,79/3,40/4,48. TmI 0,30. Metatarsos com tricobótrios, exceto o IV. Carapaça (Fig. 1) castanho-avermelhada com bordas mais escuras, área ocular enegrecida, mais larga do que longa. Fila ocular anterior 0,36 e posterior 0,41. Quadrângulo ocular médio, largura anterior 0,12 e posterior 0,20. OMA menores que os demais e OLA, OLP e OMP do mesmo tamanho. Pequenos sulcos na região cefálica, na borda lateral inferior da carapaça, entre as quelíceras e os enditos (Fig. 3). Esterno (Fig. 2) castanho-avermelhado com bordas castanho-escuras, enditos e quelíceras castanhoavermelhadas. Pernas com artículos castanho-amarelados e coxas com detalhes pontilhados castanho-escuros. Abdômen dorsalmente amarelo-claro com laterais e região posterior castanho-escuras. Ventre castanho-escuro, principalmente no entorno das fiandeiras. Palpo com paracímbio em formato de gancho (Fig. 4), divisão embólica translúcida, tégulo inchado e arredondado; êmbolo curvado e pontiagudo distalmente (Fig. 5). Parátipo (MCN 40055). Comprimento total 2,47. Carapaça, comprimento 1,10, largura 0,82, altura 0,37. Clípeo, altura 0,11. Esterno, comprimento 0,58, largura 0,56. Abdômen, comprimento 1,62, largura 1,12, altura 1,25. Fórmula das pernas 1,2,4,3. Comprimento I/II/III/IV: fêmures 1,55/1,50/1,08/1,43; patelas 0,28/0,30/0,25/0,25; tíbias 1,53/1,33/0,90/1,25; metatarsos 1,30/1,13/0,85/1,05; tarsos 0,86/0,80/0,58/0,72. Total 5,52/5,06/3,66/4,70. TmI 0,40. Metatarsos com tricobótrios, exceto na perna IV. Carapaça castanho-avermelhada, mais clara que no macho, com bordas mais escuras, área ocular enegrecida, mais larga do que longa. Fila ocular anterior 0,36 e posterior 0,41. Quadrângulo ocular médio, largura anterior 0,11 e posterior 0,20. OMA menores que os demais, OLA intermediários, OLP e OMP maiores e do mesmo tamanho. Sulcos na região cefálica, na borda inferior da carapaça. Esterno castanho-avermelhado com bordas castanhoescuras, enditos e quelíceras castanho-avermelhadas. Pernas com artículos castanho-amarelados e coxas com detalhes pontilhados castanho-escuros. Dorso do abdômen amarelo-claro com laterais e região posterior castanho-escuras. Ventre castanho-escuro, principalmente no entorno das fiandeiras. Epígino, internamente, com espermatecas alongadas, esclerotinizadas, ductos com aberturas nas laterais da placa dorsal (Fig. 7). Variação. Comprimento total: machos 2,08-2,60; fêmeas 2,12-2,68. Material examinado. BRASIL, Rio Grande do Sul: São Francisco de Paula (CPCN Pró-Mata), 2, 6, 25.X-23.XI.2000, R. Ott col., pitfall trap (MCN 39416, 39420); 27, 39, 25.X.2000-02.II.2001, mesma localidade e coletor (MCTP 18080-18113). Ecologia. Nas seis áreas amostradas, foram coletados 221 indivíduos com armadilhas de solo entre 25.X.2000 e 18.V.2002; Vesicapalpus serranus sp. nov. foi a sétima espécie de aranha mais abundantemente coletada durante o período, acumulando 3,07% do total de indivíduos, em um montante de 125 morfoespécies. Foram registrados 221 adultos, dos quais 113 machos e 108 fêmeas. Tomando-se como base cada um dos 60 pontos amostrais, o teste t pareado não indicou diferença significativa entre os números registrados para os sexos (P = 0,407). O fenograma obtido no período (Fig. 8) não evidenciou um padrão definido de atividade sazonal para machos ou fêmeas. Foi verificada, todavia, uma redução da atividade desta espécie a partir do final do inverno de 2001 até o início do verão de 2002. A presença de indivíduos adultos, especialmente machos, ao longo de todo ano, sugere um padrão reprodutivo euricrono multivoltino. Diferenças marcantes em fenogramas de espécies de Linyphiidae em anos consecutivos são comuns (BOLDUC et al., 2005). No caso desta espécie, o padrão fenológico registrado, com tendência de queda no número de indivíduos capturados a partir da primeira data de coleta, poderia estar relacionado com diferenças bióticas e/ou abióticas entre os anos de estudo ou com um efeito de remoção dos indivíduos e conseqüente Tabela I. Total de indivíduos de Vesicapalpus serranus sp. nov. coletados em cada armadilha ao longo de todo período amostral (25.X.2000 a 18.V.2002), CPCN Pró-Mata, São Francisco de Paula, RS, Brasil (ARA, Floresta Ombrófila Mista; DP, desvio padrão; EP, erro padrão; PIN, silvicultura de Pinus spp.; SEC, floresta secundária). Transecto/ ARA1 ARA2 SEC1 SEC2 PIN1 PIN2 Armadilha 1/1 6 2 1 20 2 6 1/2 1 2 7 9 2 2 1/3 4 4 35 21 0 3 1/4 1 2 3 13 1 0 1/5 4 1 2 8 1 1 2/1 0 1 0 0 11 1 2/2 0 5 2 0 1 0 2/3 0 4 2 0 7 0 2/4 1 2 1 1 4 0 2/5 0 0 4 5 3 2 Total 17 23 57 77 32 15 Média 1,7 2,3 5,7 7,7 3,2 1,5 DP 2,2 1,6 10,5 8,1 3,4 1,9 EP 0,7 0,5 3,3 2,6 1,1 0,6

Sobre o gênero Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae)... 409 Figs. 1-7. Vesicapalpus serranus sp. nov. 1-5, macho: 1, dorsal; 2, ventral; 3, lateral; palpo: 4, ectal; 5, mesal; 6-7, fêmea, epígino: 6, ventral; 7, dorsal, clarificado (AST, apófise suprategular; DE, divisão embólica; E, êmbolo; ES, espermateca; P, paracímbio; PD, placa dorsal; ST, subtégulo). Barras: figs. 1-3, 0,5 mm; figs. 4-7, 0,2 mm.

410 RODRIGUES & OTT diminuição populacional. Este efeito pode eventualmente ser causado pelo uso deste tipo de armadilha de queda durante períodos mais longos. A espécie foi claramente mais abundante em ambas as áreas secundárias (Tab. I). Embora diferenças nas abundâncias de espécies de Linyphiidae entre hábitats distintos tenham sido amplamente evidenciadas (DRANEY, 1997), os erros padrões registrados para os conjuntos de amostras obtidas nas áreas secundárias estudadas (Fig. 9) indicam que os resultados devem ser avaliados com cautela. O padrão apresentado pode representar uma possível preferência desta espécie por áreas secundárias. A análise de variância também apresentou diferenças significativas para os valores médios encontrados nos diferentes hábitats florestais (F 2, 5 = 11,348; P = 0,040), com o teste de Tukey indicando uma diferença significativa apenas entre áreas primárias e secundárias; todavia, o baixo poder de resposta da análise de variância utilizada ( power = 0,643 < 0,800) reforça a possibilidade da diferença numérica observada entre os hábitats ser casual. Fig. 8. Fenograma representando a atividade (total de aranhas capturadas/dias de amostragem) de machos e fêmeas de Vesicapalpus serranus sp. nov. em cada data amostral, no período de 25.X.2000 a 18.V.2002, CPCN Pró-Mata, São Francisco de Paula, RS, Brasil. Fig 9. Médias ± EP de indivíduos de Vesicapalpus serranus sp. nov. capturados por armadilha nas áreas amostrais, no período de 25.X.2000 a 18.V.2002, CPCN Pró-Mata, São Francisco de Paula, RS, Brasil (ARA, Floresta Ombrófila Mista; PIN, silvicultura de Pinus spp.; SEC, floresta secundária). Vesicapalpus simplex Millidge, 1991 (Figs. 10-16) Vesicapalpus simplex MILLIDGE, 1991:56, figs. 182, 183 (holótipo, Tobunas, Misiones, Argentina, VII-VIII.1959, O de Ferrarris col., não-examinado, no AMNH). Diagnose. O palpo do macho de Vesicapalpus simplex Millidge, 1991 (MILLIDGE, 1991, figs. 182,183) caracteriza-se pela divisão embólica translúcida com uma ponta curvada distalmente (Fig. 16), porção proximal do êmbolo afilada e região distal alongada, ultrapassando a porção distal da divisão embólica, e apófise suprategular robusta anteriormente. Fêmea com epígino semelhante ao de V. serranus sp. nov. por apresentar os ductos de fertilização com abertura na base da placa dorsal (Fig. 14); difere pelo átrio formado por uma grande abertura subtriangular com bordas sinuosas (Fig. 13) e espermatecas transversais acima do átrio. Descrição. O macho foi descrito por MILLIDGE (1991), aqui suplementado por ilustrações do palpo em vista ectal e mesal (Figs. 15, 16). Comprimento total 2,77. Carapaça, comprimento 1,07, largura 0,80, altura 0,50. Clípeo, altura 0,22. Esterno, comprimento 0,52, largura 0,52. Abdômen, comprimento 1,55, largura 0,75, altura 0,77. Pernas 1,2,4,3. Comprimento I/II/III/IV: fêmures 1,52/1,37/ 1,00/1,40; patelas 0,27/0,27/0,25/0,25; tíbias 1,55/1,40/0,97/ 1,35; metatarsos 1,37/1,20/0,89/1,17; tarsos 0,77/0,72/0,57/ 0,72. Total 5,48/4,96/3,68/4,89. TmI 0,30. Metatarsos com tricobótrios, exceto o IV. Carapaça castanho-avermelhada, borda castanho-escura; área ocular escurecida, mais larga (0,77) do que longa (0,20). Quadrângulo ocular médio, largura anterior 0,25, largura posterior 0,42. OMA menores que os demais, OLA intermediários, OMP e OLP maiores e do mesmo tamanho. Esterno castanho-escuro, com tonalidade mais escura que a carapaça. Quelíceras e enditos castanho-avermelhados. Pernas castanhoamareladas. Abdômen dorsalmente amarelo-claro, região posterior com manchas castanho-escuras; ventre castanho-amarelado. Palpo com paracímbio em forma de gancho, tégulo bem desenvolvido e tíbia alongada (Fig. 15). Fêmea (MCN 40547). Comprimento total 2,27. Carapaça, comprimento 0,95, largura 0,75, altura 0,30. Clípeo, altura 0,30. Esterno, comprimento 0,52, largura 0,52. Abdômen, comprimento 1,25, largura 0,85, altura 0,87. Pernas 1,2,4,3. Comprimento I/II/III/IV: fêmures 1,42/1,35/ 1,05/1,37; patelas 0,27/0,27/0,25/0,25; tíbias 1,40/1,30/0,87/ 1,25; metatarsos 1,25/1,12/0,80/1,10; tarsos 0,77/0,72/0,60/ 0,72. Total 5,11/4,76/3,57/4,69. TmI 0,30. Metatarsos com tricobótrios, exceto na perna IV. Carapaça (Figs. 10, 12) castanha, borda castanho-escura; área ocular enegrecida, mais larga (0,65) do que longa (0,19). Quadrângulo ocular médio, largura anterior 0,15, largura posterior 0,37. OMA menores que os demais, OLA e OMP intermediários e OLP os maiores. Esterno castanho-escuro com bordas escurecidas (Fig. 11). Quelíceras e enditos castanhoamarelados. Pernas castanho-amareladas. Abdômen dorsalmente castanho, região posterior castanho-escura; ventre castanho-escuro. Epígino com espermatecas esclerotinizadas e ductos sinuosos (Fig. 14).

Sobre o gênero Vesicapalpus (Araneae, Linyphiidae)... 411 Figs. 10-16. Vesicapalpus simplex Millidge, 1991. 10-14, fêmea: 10, dorsal; 11, ventral; 12, lateral; 13-14, epígino: 13, ventral; 14, dorsal, clarificado; 15-16, palpo do macho: 15, ectal; 16, mesal. Barras: figs. 10-12, 0,5 mm; figs. 13-16, 0,2 mm.

412 RODRIGUES & OTT Novos registros. BRASIL, Rio Grande do Sul: Santa Cruz do Sul (Aterro do Parque Ambiental da Souza Cruz), 3,, 10.II-28.II, 19.X.2005, S. Oliveira col., pitfall trap (MCN 40544-40547); Triunfo, 3,, 06.II-11.XII.2002, R. Ott col. (MCN 34442, 34891, 35020). Distribuição. Brasil (Rio Grande do Sul) e Argentina (Misiones). Agradecimentos. Aos curadores, pelo empréstimo do material. À Maria Aparecida de L. Marques, pelas sugestões apresentadas. Ao Samuel Oliveira e Andreas Köhler (UNISC), pela disponibilização do material coletado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLDUC, E.; BUDDLE, C. M.; BOSTANIAN, N. J. & VINCENT, C. 2005. Ground-welling spider fauna (Araneae) of two vineyards in Southern Quebec. Community and Ecosystem Ecology 34(3):635-645. DRANEY, M. L. 1997. Ground-layer spiders (Araneae) of a Georgia Piedmont floodplain agroecosystem: species list, phenology and habitat selection. The Journal of Arachnology 25:333-351. HORMIGA, G. 1999. Cephalothoracic sulci in Linyphiinae spiders (Araneae, Linyphiidae, Linyphiinae). The Journal of Arachnology 27:94-102. JANDEL. 1995. SigmaStat statistical user s manual, versions 2.0. San Rafael, Jandel. MILLIDGE, A. F. 1980. The erigonine spiders of North America. Part 1. Introduction and taxonomic background (Araneae: Linyphiidae). The Journal of Arachnology 8:97-107.. 1985. Some linyphiid spiders from South America (Araneae, Linyphiidae). American Museum Novitates 2836:1-78.. 1991. Further linyphiid spiders (Araneae) from South America. Bulletin of the American Museum of Natural History 205:1-199. ZAR, J. H. 1999. Biostatistical analysis. 4ed. New Jersey, Prentice-Hall. 663p. Recebido em março de 2006. Aceito em julho de 2006. ISSN 0073-4721 Artigo disponível em: www.scielo.br/isz