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SARRAÇÃO DA VELHA DE AFIFE - Afife, esta bela localidade, através dos tempos, tem sido a meio da Quaresma palco da sempre Popular e Tradicional SARRAÇÃO DA VELHA. Esta Tradição realiza-se em Afife, desde tempos imemoriais, pois em cada pergunta sobre a tradição feito ás pessoas mais idosas em 1980, as respostas era que esta já se realizava no tempo dos seus bisavós na Quarta-Feira a meio da Quaresma. É sem duvida a mais antiga e original Tradição de Afife, que resistiu até aos dias de hoje ao progresso desenfreado, que conduz ao completo desaparecimento dos usos e costumes, tradições e outros, como se pode observar naquilo que aconteceu aos cantares ao desafio, cantares de trabalho ou de peditório, aos serões e desfolhadas os quais não resistiram à transformação dos hábitos gostos e padrões. Mas para que a tradição não fosse esquecida, cabe ao N.A.I.A.A. a missão de a manter e é aquilo que tem acontecido, desde 1984 numa altura em que a tradição vinha a cair no esquecimento, o N.A.I.A.A. fez o seu reaparecimento, onde a participação dos Afifenses foi numerosa, o que incentivou ainda o continuar da Tradição Quanto a fontes escritas sobre esta Tradição, nada encontra-mos relacionado com a Sarração da Velha de Afife, a não ser uma pequena versão de monografia de Afife escrita por Avelino Meira. Fomos ainda a tempo de ouvir das pessoas mais idosas da altura, que nos contaram as suas passagens e vivências pela Tradição, sendo assim possível ainda hoje mostrar-mos a tradição, tal como ela era na antiguidade e até utilizando os mesmos materiais. O N.A.I.A.A. aposta fortemente nesta Tradição uma vez que se trata não só da mais antiga tradição da Freguesia, como uma altura que era vivida intensamente por todos os Afifenses.
A tradição começa a ser vivida a partir da quarta-feira de Cinzas onde o som dos triquelitraques começam a serem ouvidos anunciando a Sarração da Velha e angariando fundos, através de peditório para a aquisição dos materiais, nomeadamente para comprar pregos, velas e papel. Durante este espaço de tempo e durante as noites são iniciados os trabalhos de preparação, do andor da velha, sempre em segredo tanto daquilo que se pretende fazer, como do local onde decorrem os trabalhos, só na quarta-feira a meio da Quaresma é que para muitos a curiosidade fica desfeita, por vezes são ouvidos os elogios, e muitas vezes acontecia precisamente o contrário havendo mesmo desavenças entre os visados e os organizadores da tradição. Ultimamente o N.A.I.A.A. não divulga o nome da pessoa que se pretende serrar, tudo isto para evitar que as pessoas aceitem a participarem sem serem comentadas, em relação à tradição. A direcção do N.A.I.A.A.
~ A VELHA ~ Durante o Cortejo da Sarração da Velha, deparamos com um andor, no qual é colocado um boneco com o tamanho e a forma de um ser humano do sexo Feminino, que é designado por Velha. Este boneco significa a velha a serrar, ou seja a pessoa mais idosa de Afife, segundo reza a tradição. A abrir o cortejo, figura o dito andor com a efígie da Velha, que é construída para que as pessoas a identifiquem facilmente.
A construção da Velha só é iniciada após a realização do peditório e o local é normalmente em casa de um dos organizadores em local escondido e onde só eles tenham acesso. Para a construção da Velha, é necessário em primeiro lugar fazer uma padiola, que normalmente é construída em varas de austrália ou eucalipto, nesta estrutura é pregado o esqueleto da Velha, composto por uma vara colocada na vertical, onde assentam os ombros e a cintura, a partir destes nasce então o tronco e a saia moldados a partir de vimes ou salgueiros. Na parte superior da vara central é colocada a cabeça que é feita com uma chila ou com um cântaro de barro. Uma vez concluída esta etapa segue-se a parte final que consiste na colocação das velas e o revestimento a papel colado aos salgueiros ou vimes.
A cor do papel está sempre de acordo com a cor e vestuário utilizado pela pessoa a serrar, na cabeça é colocado em chapéu de palha de aba larga. Eis a Velha pronta para o cortejo.
~ TESTAMENTO ~ Na parte final da Sarração da Velha é esperado com muito entusiasmo e expectativa a leitura do Testamento, o qual antecede o Auto da Fé. A maior expectativa, sente-se entre as pessoas solteiras, pois é a estas que geralmente a velha deixa ficar os seus bens, sem contudo esquecer as Autoridades locais e mesmo o Padre da freguesia. Segundo aquilo que conseguimos apurar, os testamentos terão sido introduzidos na tradição num período posterior e aqui são criticadas as pessoas solteiras de Afife bem como as Autoridades locais, não atingindo no entanto pessoas casadas. Quanto a criticas ás Autoridades e ao Padre, estas eram toleradas mas só nesta altura. O testamento começa com as habituais formulas legais, onde não falta o Decreto-lei, a passagem pela assinatura do Notário e juiz, seguindo-se os bens, em que a testamenteira deixa à população e que passam pelos utensílios de lavoura entre outros.
Estes contemplam em forma de critica alternadamente, homens e mulheres. As quadras do testamento são todas em rima, obedecendo ao ponto humorístico local, já que o testamento está inserido na vida dos Afifenses e sempre atento ás suas falhas e erros de modo a poder criticar à boa maneira antiga, sem que as pessoas o interpretem como ataque pessoal
~ TRIQUELITRAQUE ~ Triquelitraque, é um instrumento indispensável na Sarração da Velha de Afife, quanto à sua origem, nada se sabe de concreto, no entanto em 1980, aquando contactadas as pessoas mais idosas da Freguesia, apurou-se que este era conhecido, há pelo menos duzentos anos atrás e sempre ligado à Tradição. Podemos no entanto salientar que o Triquelitraque é um instrumento que nasceu em Afife e antigamente, rara era a casa que não possuía pelo menos um Triquelitraque.
No entanto, podemos confirmar que este instrumento não é conhecido em outras localidades, mesmo naquelas onde se realizam idênticas tradições. A função deste instrumento, é produzir o ruidoso som a que todos nos habituamos a ouvir logo a seguir à quarta-feira de cinzas e até ao dia da sarração, fora este período, ele não é ouvido, porque só a partir da quartafeira de cinzas e até ao meio da Quaresma é que se pode tocar o Triquelitraque, pois a partir daqui, ele era colocado lá bem no cimo das chaminés, ficando a apanhar o fumo que conserva e seca as madeiras, tudo isto com o intuito de no próximo ano o seu som ser melhor, pois as madeiras vão ficando ressequidas. O Triquelitraque toca três marchas de sons compassados com ritmos lentos e rápidos, a que se designam por Marcha, que é tocada quando o grupo se desloca. O Esgalha, um ritmo mais vivo que muito se utiliza aquando os peditórios para a Sarração da Velha e por ultimo o Sarra, um toque que não era utilizado nos peditórios, a não ser para arreliar qualquer pessoa que não queira atender o grupo. Este toque era produzido junto a alguma casa pode querer dizer que a pessoa a Serrar será dessa casa, o que por vezes trazia complicações para o grupo se a pessoa não acatasse da melhor maneira a Tradição.
Este toque é o que acompanha o cortejo da Sarração da Velha e por vezes acompanhado da quadra: SARRA-SE A VELHA TORNA-SE A SARRAR O DIABO DA VELHA (OU A P DA VELHA) NÃO QUER ACABAR O TrIquelitraque, é um instrumento constituído por uma tábua de espessura reduzida e com duas ou mais carreiras de martelinhos que agitados produzem o som que se deseja.