OCORRÊNCIA DE GRANITO ORBICULAR E}1 COUTO DO OSSO (SERRA DA PENEDA)

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Transcrição:

OCORRÊNCA DE GRANTO ORBCULAR E}1 COUTO DO OSSO (SERRA DA PENEDA) por MARGARDA C. SMÕES * e ARMANDO MORERA** RESUMO Na presente nota dá-se conhecimento da ocorrência de um granito orbicular na região de Couto do Osso, descreve-se em linhas gerais a geologia onde este se enquadra e faz-se o estudo microscópico dos diferentes orbículos, au-ibuindo aos mesmos origem metassomática.... - ABSTRACT ln this paper, the ócurrence of an orbicular granite outcropping in thecouto do Osso (region in the north of Portugal) is referred. Together with the general description of the geology of the different exisfing orbicules are petrographically studied with a metassomatic origin being suggested for them. - NTRODUÇÃO O afloramento objecto do presente estudo, localizei-se cerca de 1 500 metros do v. g, Matança, da carta mlitar de Portugal dos. Serviços Cartográficos do Exército, à escala 1/25 000, folha n. o 9 (Gavieira), concelho de Arcos de Valdevez._ A descoberta da ocorrência deve-se a um dos elementos (António Simões) da brigada dos Serviços Geológicos de Portugal-Direcção Geral de Geologia e Minas constituída pelos técnicos auxiliares Norberto Silva, António Simões e Laurentino Ribeiro, chefiada por um dos autores (A. M.). Foi esta equipa incumbida de efectuar o levantamento geológico da carta ld (Arcos de Valdevez), à: escala 1/50000, tendo o granito orbicular de Couto do Osso surgido no â1l1,bito deste trabalho. _ O aparecimento de granito orbicular na região não ~de todo inédito, pois, já em 1915, o Dr, A. Sousa Torres colheu e fez chegar ao Museu de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa alguns orbiculosque dizia ter encontrado próximo de Lamas de Mouro (Castro Labor-eiro). Neste local foram feitas várias tentativas para localização do afloramento de granito orbicular. que teria dado origem aos referidos nódulos, mas em vão. A hipótese daqueles orbículos- terem sido colhidos no afloramento agora encontrado e situado cerca de 30 l<m a Sul da citada povoação, parece-nqs remota, dadas as características dos orbíc"!llospor nós encontrados e as mencionadas no trabalho de C. TEXERA (1959). Granito de fácies orbicular é pouco conhecido em Portugal, mas ocorre com frequência noutros países, nomeadamente Estados Unidos da América (Novo México), França (Maciço de Guéret) e particularmente na Finlândia. - ENQUADRAMENTO GEOLÓGCO O afloramento de granito orbicular de Couto do Osso, ocorre no granito da Serra da Peneda; Na figura 1 pode-se observar nas proximidades do lócal de ocorrência do granito em estudo, três tipos de granitos hercínicos, a saber: granito de grão médio a grosseiro, porfiróide e predominantemente biotítico, com megacristais de 4 a 5 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura, granito de grão médio, biotitico e não porfiróide, parecendo ser simplesmente diferenciação granular do primeiro; por último, há a considerar a existência de um «stock» granítico de grão fino com biotite em percentagem menor. que n.os granitos anteriormente descritos. Este granito, de grão fino, é intrusivo no granito porfiróide da Serrada Peneda e apresenta. extensa digitação em direcção a sudeste. Laboratório da Direcção Geral de Geologia e Minas. "Serviços Geológicos de Portugal, D. G. G. Minas. 125

massas ovóides, umas quase esféricas, outras elipsoidais e outras alongadas, estas parecendo deformadas (Fig. 3), ligadas por matriz semelhante ao granito regional. As dimensões dos orbiculos são bastante diversas desde diâmetros de alguns centimetros podendo atingir 26 cm de comprimento por 23 cm de largura. O núcleo dos nódulos pode ser constituido por rocha de grão fino, mesocrática, biotitica, de onde se destacam macrocristais idiomorfos de feldspato, por rocha de grão mais grosseiro, idêntica ao granito que cimenta os orbiculos, ou ainda apresentarem tendência leucocrática, essencialmente quartzo-feldspáticos, sendo praticamente ausente a biotite. Os diversos tipos de núcleos são rodeados por uma camada de fe1dspato e quartzo, de cor clara rosada, de 3 ao- 5 cm de espessura. Como,foi dito anteriormente, alguns orbiculos (Figs. 3 e 4) parecem estar deformados, mas como se pode observar nas referidas figuras, esses orbiculos não apresentam qualquer direcção preferencial -pelo que a deformação estará ligada à génese da rocha. Segundo P. HupÉ (1948) os orbiculos ter -se-iam formado em meio plástico, podendo um orbiculo, durante a sua formação, exercer acção mecânica sobre orbiculo próximo, deformando-o. - PETROGRAFA Do granito orbicular, aflorante em Couto do Osso, foram colhidos orbiculos de a$pecto'diferente (Fig.,.5 e ~), dos quais foi feito o estudo ~miá6scópico.~ -,- "-," -, ' Legenda!: GRANTO PORFRdlDE, DE GRÃO GROSSERO, BOTíTCO ~ GRANTO OE GRÃO MÉDO. B10TiTlCO O GRANTO DE GRÃO' FNO ~ FLÃO DE ROCHA BÁSCA,-J LMTE GEOLÓGCO /FALHA,,' FALHA PROVÁVEL Fig. 1 - O""",=""",,,,,,,,,,S,,,OOm,.--' LMTE GEOLÓGCO PROVÁVEL OCOR~NCA DE GRANTO ORBCULAR Geologia da região de Couto do Osso. Localização da ocorrência de granito orbicular As rochas do maciço revelam, quase sempre, indicios de tectonização, traduzidos pela presença de quartzo com extinção ondulante e deformação mais ou menos intensa dos planos de macla das plagioclases e planos de clivagem das micas. Examinando ainda a figura 1 são observáveis duas direcções de falhas hercinicas tardias, NE-SW e NNW"SSE; esta; parece rejeitar aquela, direcção. Como já foj dito, o granito orbicular encontra-se instalado no granito porfiróide, de grão,médio a grosseiro, biotitico, da Serra da Peneda. O afloramento desenvolve-se segundo E-W, tendo cerca de 10 m de comprimento por 4 ou 5 m. de largura, sendo limitado do lado sul por uma diaclase, de oeste encosta ao granito biotitico porfiróide regional e a norte e leste,está enyolvido por rocha qua~e exclusivamente constituida por megacristais de feldspato potássico (microclina) ligados por- matriz.-granitica de'grão-médio_(-fig.' 2)." _', -- - A,rócha:: de f4cies orbicular é' formada' por -A - ORBíCULO DA FGlJRAS.' No orbiculo representado na Fig. 5, foram executadas lâminas delgadas, respectivamente no núcleo, contacto núcleo-invólucro e invólucro. a) Núcleo Ao microscópio o núcleo do orbiculo em estudo exibe uma matriz xeno-hipautomórfica granular, de granularidade fina, de onde se destacam macrocristais de microclina, plagioclase e quartzo. Os constituintes da matriz são os mesmos, associando-se biotite. Microc/ina Em cristais anédricos a subeuédricos com a maca tipica" em xadrez, às vezes, nem sempre bem esboçada, amicrocllna é em grande parte pertitica (Pigs. 10 e 11), com finosfilonetes albiticos. Os cristais maiores contêm quartzo globular e pequenos cristais deplagioclase~do, tipo albite fresca e bem geminada.,quer na microclina da base propriamente dita, quer na de geração fenocristalina o intercrescimento com quartzo; às vezes lembra «micropegmatite» (Fig. 7); É evidente alteração caulinitica e fracturação (Fig. 8). ' ' Plagioclase Este feldspato ocorre em cristais euédricos ~a subeuédricos, maclados -segundo,alei de albite e àlbite-catlsbàâ, codi altetação sei.icítica mais àcen~ tuada -tio interior. Asmicrofr.actlmi.S são igualmente 126

evidentes. Em secções geminadas segundo a lei de albite e pertencentes à zona simétrica determinou-se uma oligoclase-albite com cerca de 10 % em molécula An. Mirmequite é frequente no contacto dos dois feldspatos. Quartzo Alotriomorfo, penetra e recorta os feldspatos, formando «golfos» lembrando o quartzo das rochas vulcânicas. Contém as habituais inclusões pontuais. Como já referimos existe uma 2. a geração de quartzo, globular. Biotite É o mafito que está presente, de tonalidade verde acastanhada com pleocroismo que varia desde este tom, segundo z, ao amarelado segundo x. Em geral não aparece em plagas isoladas, disseminadas, mas sim em pequenos ninhos (Fig. 12), associados aos minerais acessórios, tais como apatite, zircão e grãos de minerais opacos. b) nvólucro Ao microscópio verifica-se que se passa do núcleo ao invólucro por aumento da % de micropertites, quartzo goticular no seio da microclina, acentuando -se os aspectos gráficos, disseminação e quase ausência de biotite. Resumidamente podemos fazer a seguinte comparação: Orbículo Núcleo nvólucro Micr. pertítica < Micr. pertítica Plagioclase > Plagioclase (+ ácida) Quartzo < Quartzo Biotite > Biotite A título de conclusão preva podemos afirmar que o aumento da % de quartzo de neoformação, presença de albite fresca no seio da microclina, formação de mirmequite e aumento de pertitização, são factores indicativos da intervenção de metassomatismo que se terá desenvolvido do centro para a periferia, aliás teoria já abordada por outros autores. B - ORBíCULO LEUCOCRÁTCO Na Fig. 6 temos representado um orbiculo claro, leucocrático, parecendo, à vista desarmada, essencialmente feldspático, não se observando a mesma diferença nítida entre núcleo e invólucro. Este é muito ténue, evidenciando-se apenas por certo zonamento e disposição radial dos cristais que formam a zona envolvente. A fracturação é intensa, como se pode verificar na Fig. 6.. Em lâmina delgada, observam-se cristais desel1;' volvidos de microclina em geral pertítica, contendo inúmeras inclusões de quartzo e plagioclase do tipo albítico (Figs. 13 e 14). É evidente a fracturação. Assinalou-se presença de mirmequite e rara biotite cloritizada (peninizada). Para a bordadura do orbículo a composição é idêntica mas aumenta a % de elementos microgranulares. A explicação para a formação de orbículos deste tipo pode ser dada de igual modo por existência de uma fase já muito avançada de assimilação do magma granítico e intenso metassomatismo sódico passando-se outro tanto com o granito pegmatítico que ocorre na área e que passamos a descrever. C - GRANTO PEGMATíTCO Rocha de estrutura grosseira, pegmatítica, intensamente fracturada. Ao microscópio, os macrocristais são de microclina quase sempre pertitica, com inclusões de plagioclase euédrica, fresca e bem geminada, correspondendo a uma oligoclase ácida. Os restantes constituintes mineralógicos são plagioclase ligeiramente zonada, quartzo e rara biotite cloritizada (peninizada). Mirmequite ocorre no contacto dos dois feldspatos. D - ROCHA ENCAXANTE A rocha -encaixante que cimenta os orbiculos por nós descritos é um granito porjir6ide, de grão médio a grosseiro, biotítico, calco-alcalino. O estudo em lâmina delgada, revelou rocha de textura porfiróide, de base xeno-hipautomórfica granular, constituída essencialmente por microclina, oligoclase, quartzo e biotite esverdeada. Apatite, zircão e alanite são minerais acessórios; ocorrem normalmente como inclusões na biotite. São visíveis alterações do tipo caulinítico na microclina, sericítico na plagioclase e clorítico na biotite. V - CONCLUSÕES Como é do conhecimento geral a explicação de estruturas orbiculares tem tido diferentes interpretações. No caso do granito orbicular de Couto do Osso, explicamos a génese do mesmo, da forma que nos pareceu mais lógica e aceitável, pondo-a contudo sob reserva, dado que, infelizmente não nos foi possível consultar bibliografia mais recente do que a citada e que admitimos exista. Assim, conjugando as observações de campo e as efectuadas ao microscópio, supomos estar em presença de granito orbicular com orbículos cujo núcleo terá resultado de material pré-existente, de natureza ligeiramente mais básica do que o granito encaixante. A variação observada nos diferentes orbiculos poderá ser então explicada por intervenção de metassomatismo do tipo alcalino que se terá processado do centro para a periferia, sendo nesta, mais acentuado. No entanto, será de admitir que fenómenos de granitização terão igualmente intervido, com cristalização acentuada de microclina. A Tocha de fácies orbicular ter-se-á pois formado na fase final de instalação do maciço granítico da Peneda e a sua origem poderá estar ligada a encraves 127

de granodiorito biotitico de tendência quartzodiorítica, de grão fino, que constituíram centros em torno dos quais se terá dado a cristalização do fe1dspato. Embora tivéssemos já feito referência, será de observar, uma vez mais, que não verificámos iden~ tida de nos orbículos do granito orbicular de Couto do. Osso com os de Lamas de Mouro, Midões (Oliveira do Hospital) e Serra da Estrela. AGRADECMENTOS. Ao Dr. Orlando C. Gaspar por nos ter efectuado as macrofotografias de pormenor dos orbículos e ao Sr. J.Rocha (S. EM.) pelo desenho da figura 1.. BBLOGRAFA BoTO, R...& SANTOS, J: P. (1964) - Sobre um granito orbicular da Serra da Estrela. Boi. Soe. Geol. Portugal, Porto, Vol. XV, - Fasc.... _.. RAGUlN, E. (i957) - Geologie du' granito Masson et Cie Editeurs, Paris. TEXERA, C. et ai. (1958) - O granito orbicular de Midões (Oliveira do Hospital). Rev. Fac. Ciênc. Lisboa, 2." Série, Vol. V, Fasc. 1.0 - _ (1959) _ Granito orbicular de Lamas de Mouro (Melgaço). Rev. Fac. Ciênc. Lisboa, 2." Série, Vol. V, Fasc. 1.0. 128

EST. 2 3 4 5 Fig. 2 - Ocorrência de megacristais de feldspato ligados por matriz granítica. Fig. 3 - Aspecto geral do afloramento de gr.anito orbicular, onde se poete observar a forma e deformação dos orbículos. - Fig. 4 - Pormenor da figura anterior. Fig. 5 - Orbículo descrito no texto, vendo-s~ o. núcleo com macrocristais de feldspato e o invólucro claro destacando-se daquele.

EST. f 6 7 8 9 - Fig. 6 - Orbículo leucocrático, muito fracturado. Fig. 7 - Textura e composição mineralógica, observando-se aspectos micrográficos na microclina. Nicois cruzados, X 32. Fig. 8 - Macrocristal de microclina fracturada. Presença de mirmequite. Nicois cruzados, X 32. Fig. 9 - Cristal de microclina com inclusões e substituição por albite.,nicois cruzados, X 32.

EST. 10 11 12 Fig. 10 - Cristal de microclina pertítica, fracturada, com as fracturas preenchidas por albite. Nicois cruzados, X 80. Fig. 11-Cristal de microclina pertítica (micropertite) com inclusões de quartzo e albite. Nicõis cruzados, X 32. Fig. 12 - Pequenos <<ninhos» de biotite e minerais acessórios. Nicois paralelos, X 32. Fig. 13 - Textura e composição mineralógica do orbículo leucocrático. Nicois cruzados, ~ 32.

EST. V 14 15 16 17 Fig. 14 - Aspecto da figura anterior com maior ampliação. Repare-se na pertitização da microclina. Nicois cruzados, X 80. Fig. 15 - Contacto do núcleo com o invólucro. De notar a granularidade fina do invólucro. Nicois cruzados, X 32. Fig. 16 _ Textura e composição mineralógica do granodiorito de grão fino,.biotítico. Nicois cruzados, X. 3~. '. Fig. 17 - nclusões de silimanite (s) no seio do quartzo (Qu) da amostra de rocha granodiorítica. Nicois paralelos, X 320.