SOBRE A EFICIÊNCIA DE PEQUENOS E GRANDES E RESERVATÓRIOS

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Transcrição:

SOBRE A EFICIÊNCIA DE PEQUENOS E GRANDES E RESERVATÓRIOS José Nilson B. Campos 1, Ticiana M. de Carvalho Studart 1, David Duarte G. Martinz 2 e Luiz Sérgio V. Nascimento 3 RESUMO O presente trabalho analisa a influência da evaporação na eficiência de 40 reservatórios superficiais pequenos e grandes - situados na Bacia do Jaguaribe, Ceará. A equação do balanço hídrico é tratada de forma adimensional e o efeito da evaporação é avaliado através de um fator adimensional que engloba as três principais variáveis que, devido a esse fenômeno, interferem no rendimento do reservatório: a lâmina evaporada durante a estação seca, a forma da bacia hidráulica e o deflúvio médio anual. ABSTRACT This paper intends to evaluate the influence of evaporation on the efficiency of 40 reservoirs in Jaguaribe River Basin, Ceará. The water budget equation is in its dimensionless form and the evaporation effect is analyzed by a dimensionless factor which embodies thee important parameters: mean evaporation depth during the dry season, reservoir shape factor and mean annual discharges. 1- INTRODUÇÃO A acumulação de água em reservatórios superficiais é condição essencial à sobrevivência no Nordeste Brasileiro Mas, considerando as altas taxas de evaporação da Região, é importante que se escolha, para a implantação de novos açudes, locais que maximizem a eficiência do armazenamento, surgindo assim, a célebre e polêmica questão: qual o mais eficiente, o pequeno ou o grande açude? Será mesmo válido o argumento, muitas vezes utilizado por defensores dos pequenos açudes, de que os grandes açudes, por possuírem um espelho d água maior e, portanto, evaporarem um volume d água também maior, não são apropriados para Região? Na realidade, reservatórios, pequenos ou grandes, têm dependendo das circunstâncias, suas vantagens e desvantagens. Além do mais, não existe uma linha mágica a partir da qual o reservatório passa de pequeno a médio, de médio a grande, ou ainda de bom a ruim. É nesta análise que o presente trabalho pretende jogar um pouco mais de luz. 1 Professores do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará - Campos do Pici - Bloco 713 - Fone: (85)288.9623 - Fax 85)288.9627 e-mail: nilson@ufc.br e ticiana@ufc.br 2 Engenheiro Civil, Bolsista de Apoio Técnico do CNPq 3 Estudante do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq 1

2- METODOLOGIA Para entender o processo de troca regularização x evaporação x sangria que ocorrem no processo de estocagem de águas superficiais utilizou-se o diagrama Triangular de Regularização (Campos, 1996). 2.1 - A EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO No Diagrama Triangular de Regularização, o balanço hídrico de um reservatório é representado pela equação: Z t +1 = Z t + I t E M S t (1) onde Z t = volume afluente acumulado no reservatório no início do período t; I t = volume afluente à reserva durante o período t, t+1; E v = volume anual evaporado da reserva durante a estação seca; M = volume anual retirado da reserva e S t = volume sangrado da reserva durante o período t, t+1. Para permitir um tratamento racional a essa equação, as relações cota x área e cota x volume são representadas por: Z(h) = αh 3 (2) A(h) = 3αh 2 (3) onde: Z(h) = volume da reserva a altura h, A(h)=área do espelho d água a altura h; h = altura da água até o ponto mais profundo do lago e α= fator de forma do reservatório. Calculando-se o volume evaporado a partir da lâmina anual de evaporação durante o período seco (Ev) e das equações 2 e 3, a Equação 1, após ter todos os termos divididos por μ (volume afluente médio anual), é transformada em: Z t +1 / μ = Z t / μ + I t /μ - (3α 1/3 Ev) / (μ 1/3 ) M/μ - S t /μ (4) Todos os parâmetros que influenciam no rendimento do reservatório, devido ao efeito da evaporação, estão inseridos no fator adimensional de evaporação (f E ), definido por Campos (1987) e dado por: f E =(3α 1/3 Ev) / μ 1/3 (5) 2.2 - OS PROCESSOS DE TROCA EM UM RESERVATÓRIO Os deflúvios afluentes a um reservatório (μ) são transformados em três partes: a retirada para fins utilitários (M); as perdas por evaporação (E) e as perdas por sangria (S). Pelo princípio de conservação de massa tem-se: μ = E[M] + E[S] + E[E] (6) onde, E[ ] representa o operador valor esperado. 2

Como μ é uma constante, ao se alterar os elementos da Equação 4, ou a capacidade do reservatório (K), o efeito será uma transferência entre os elementos do lado direito da Equação 6. A maneira como se dá essa transferência será analisada neste trabalho. 3- ANÁLISE DO FATOR ADIMENSIONAL DE EVAPORAÇÃO O efeito da evaporação no rendimento de um reservatório é função direta do fator adimensional de evaporação. Reservatórios com menores f E apresentam uma maior eficiência (Campos,1996). A presença do termo μ 1/3 no denominador deste parâmetro faz com que os rios caudalosos tendam a apresentar um menor valor para f E. Por outro lado, esses rios necessitam, para um mesmo f K, um maior volume de acumulação. Nessa situação, pode-se esperar, via de regra, um maior valor para α e, conseqüentemente, uma tendência de aumento do valor de f E. Para analisar como essas duas tendências opostas se contrabalançam, selecionou-se 40 reservatórios na Bacia do Jaguaribe e calculou-se os valores de f E para cada um deles. A razão da escolha deveu-se à procura de uma base homogênea que permitisse a comparação dos resultados. Os dados utilizados são os do Plano de Gerenciamento das Águas da Bacia do Jaguaribe (COGERH, 1999). Os valores da capacidade (K), fator de forma (α), volume médio afluente anual (μ), lâmina evaporada durante a estação seca (Ev) e fator adimensional de evaporação (f E ) são os observados na Tabela 1. Tabela 1. Principais características dos 40 reservatórios analisados na Bacia do Jaguaribe Açude K (hm³) α μ (hm³/ano) Ev (m) f E Atalho II 108,25 2.524,78 97,78 1,02 0,09 Banabuiú 1.800,00 10.529,16 768,42 0,97 0,07 Boa Viagem 47,00 3.008,00 28,88 0,97 0,14 Broco 17,50 6.377,55 4,59 1,07 0,36 Canafístula 13,12 9.857,25 5,91 1,00 0,36 Canoas 69,25 870,99 19,31 1,08 0,12 Cedro 126,00 37.333,33 25,84 0,95 0,32 Cipoada 17,30 12.997,75 32,25 1,00 0,22 Ema 10,40 5.324,80 9,65 1,00 0,25 Favelas 30,10 10.969,39 32,38 1,07 0,22 Fogareiro 118,81 5.025,82 267,85 0,97 0,08 Gomes 2,39 121,42 48,61 1,10 0,04 Ingazeiro 11,32 2.763,67 11,57 1,02 0,19 Joaquim Távora 23,66 8.622,45 7,40 0,95 0,30 Lima Campos 63,65 34.204,49 24,78 0,95 0,32 Nobre 22,09 10.054,62 1,68 0,97 0,53 Nova Floresta 7,62 2.007,16 118,84 0,95 0,07 Olho d'água 21,30 1.792,39 5,49 0,95 0,20 Orós 1.956,30 37.097,24 1.042,36 0,95 0,09 Patu 71,80 2.659,26 73,42 0,97 0,10 Pedras Brancas 434,00 22.049,48 157,21 0,97 0,15 Poço da Pedra 50,00 4.695,72 46,09 1,08 0,15 Poço de Barro 52,00 15.407,41 29,57 1,00 0,24 Prazeres 32,50 338,29 6,18 1,02 0,12 Quixabinha 32,41 1.476,40 3,29 1,02 0,24 Quixeramobim 54,00 14.501,02 354,36 0,97 0,10 R. dos Carneiros 37,18 945,96 3,61 1,02 0,20 Riacho do Sangue 61,42 12.501,53 77,54 0,97 0,16 Riacho dos Tanques 12,78 7.395,83 2,99 0,97 0,39 3

Tabela 1 (cont). Principais características dos 40 reservatórios analisados na Bacia do Jaguaribe Açude K α μ Ev f E (hm³) (hm³/ano) (m) Riacho Verde 14,67 2.985,96 1,83 0,97 0,34 Rivaldo de Carvalho 6,42 14.858,32 12,47 1,07 0,34 Santo Ant de Russas 29,70 29.700,00 93,32 1,00 0,21 São José II 29,15 5.933,24 14,00 0,95 0,22 Serafim Dias 43,00 39.929,77 101,39 1,07 0,24 Thomas Osterne 28,79 1.842,56 5,64 1,02 0,21 Trapiá II 18,19 1.315,83 14,44 0,97 0,13 Trici 16,50 3.673,09 25,39 1,07 0,17 Trussu 263,00 7.661,36 73,74 0,95 0,13 Várzea do Boi 51,80 23.577,61 44,38 1,07 0,26 Vinícios Berredo 434,05 22.052,02 158,50 0,97 0,15 Os parâmetros de forma de cada reservatório foram calculados fazendo se α = K / h³, onde K é a capacidade do reservatório e h, a altura da superfície d água correspondente à capacidade. O valor de Ev, evaporação no lago durante a estação seca, foi calculada a partir dos dados das Normais Climatológicas (INEMET, 1990). Como os dados referem-se a medidas pelo evaporímetro Piché, efetuou-se correção proposta por Coêlho (2000), transformando-os em valores equivalentes à evaporação no Tanque Classe A. A seguir aplicou-se fator de correção do tanque proposto por Molle e Cadier (1992), em função da área do reservatório. Todos os reservatórios têm área da bacia hidráulica superior a 50 ha, com exceção do Açude Gomes. Aos primeiros aplicou-se K a igual a 0,70; à exceção aplicou-se k a igual a 0,75. Estudou-se a correlação entre f E e μ para os 40 reservatórios analisados. O melhor ajuste foi obtido com a curva f E =0,397μ -0,24 (Figura 1). Fator adimensional de evaporação x Deflúvio médio anual Bacia do Jaguaribe fe 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00 1200,00 deflúvio anual (hm3) Figura 1. Pares de valores do fator adimensional de evaporação (f E ) versus deflúvio médio afluente anual (μ) para os 40 açudes analisados na Bacia do Jaguaribe. O baixo valor de r² (0,48) se dá, principalmente, pela pequena quantidade de açudes de grande porte na amostra (apenas quatro com deflúvio médio anual superior a 200 hm³/ano). Contudo, é possível perceber uma tendência de decrescimento de f E com o aumento de μ. 4

3.1 A ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS RESERVATÓRIOS ATRAVÉS DO DTR A determinação da eficiência de cada reservatório (em termos de percentual de μ liberado e evaporado) foi efetivada através do Diagrama Triangular de Regularização DTR (Campos, 1996). Para fins de comparação, admitiu-se que todos os reservatórios têm um fator adimensional de capacidade (f K ) igual a 1 (ou seja, têm capacidade de armazenamento igual aos seus respectivos volumes afluentes médios anuais) e coeficiente de variação dos deflúvios anuais (CV) igual a 1,2 (Figura 2). O nível de garantia suposto pelo DTR é de 90%. Figura 2. Diagrama Triangular de Regularização para CV=1,2 (Campos, 1996) Os valores de f E de cada reservatório são os observados na Tabela 1. Os percentuais de μ liberados, evaporados e sangrados por cada reservatório são os expostos na Tabela 2. 5

Tabela 2. Percentuais liberado, evaporado e sangrado, considerando-se f K =1, CV=1,2 e G=90% para os 40 reservatórios analisados na Bacia do Jaguaribe Açude % Liberdado % Evaporado % Sangrado Nobre 11,18 32,72 56,11 Riacho Verde 19,41 22,55 58,05 Riacho dos Tanques 17,04 25,44 57,52 Quixabinha 24,64 16,21 59,15 R. dos Carneiros 26,63 13,83 59,54 Broco 18,67 23,45 57,88 Olho d'água 26,59 13,88 59,53 Thomas Osterne 25,85 14,76 59,39 Canafístula 18,68 23,43 57,89 Prazeres 30,89 8,75 60,36 Joaquim Távora 21,34 20,20 58,46 Ema 24,04 16,93 59,03 Ingazeiro 26,94 13,46 59,60 Rivaldo de Carvalho 19,51 22,42 58,07 São José II 25,66 14,99 59,35 Trapiá II 30,13 9,66 60,21 Canoas 30,94 8,70 60,36 Lima Campos 20,49 21,23 58,28 Trici 28,12 12,05 59,83 Cedro 20,26 21,51 58,23 Boa Viagem 29,81 10,04 60,15 Poço de Barro 24,28 16,65 59,07 Cipoada 25,29 15,43 59,28 Favelas 25,25 15,48 59,27 Várzea do Boi 23,42 17,68 58,90 Poço da Pedra 28,98 11,02 60,00 Gomes 34,91 4,00 61,08 Patu 32,03 7,41 60,56 Trussu 29,91 9,92 60,17 Riacho do Sangue 28,66 11,41 59,94 Santo Antônio de Russas 26,16 14,39 59,45 Atalho II 32,32 7,07 60,62 Serafim Dias 24,66 16,19 59,15 Potiretama 37,50 0,97 61,53 Nova Floresta 33,28 5,93 60,79 Pedras Brancas 29,04 10,95 60,01 Vinícios Berredo 29,06 10,92 60,01 Fogareiro 33,08 6,17 60,76 Quixeramobim 31,80 7,67 60,52 Banabuiú 33,51 5,66 60,83 Orós 32,12 7,29 60,58 Para melhor análise dos dados, dividiu-se os reservatórios em classes, em função do volume médio afluente anual (μ). Os percentuais de μ liberado, evaporado e sangrado, considerando-se o ponto médio de cada classe, são os observados na Tabela 3. 6

Tabela 3. Percentuais liberado, evaporado e sangrado de cada classe de açude Classe Ponto médio da % liberado % evaporado % sangrado (hm³/ano) classe 0-10 5 0,23 0,18 0,59 10-20 15 0,27 0,13 0,60 20-30 25 0,25 0,16 0,59 40-50 45 0,28 0,12 0,60 50-100 75 0,30 0,10 0,60 100-200 150 0,31 0,09 0,60 200 1.200 500 0,33 0,07 0,61 Observa-se claramente na Tabela 3 que, em média, os grandes reservatórios são mais eficientes que os pequenos, tanto em termos de percentual efetivamente liberado, quanto em termos de perdas por evaporação, ambos em relação aos seus deflúvios médios afluentes anuais (μ). Os pequenos reservatórios (com μ até 10 hm³/ano) regularizam, em média, 23% de μ e evaporam 18% de μ. Os grandes reservatórios (com μ entre 200 e 1.200 hm³/ano) têm um desempenho muito melhor: em termos médios, regularizam 33% de μ e evaporam apenas 7% de μ. 4 - CONCLUSÃO O fator adimensional de evaporação (f E ) é um importante indicador da eficiência de regularização de um reservatório, pois engloba três importantes fatores intervenientes no processo de evaporação: o fator de forma do reservatório, o deflúvio médio afluente anual e a lâmina evaporada durante a estação seca. Em função da combinação destes três parâmetros, a escolha adequada dos locais onde implantar os açudes pode significar um acréscimo (ou decréscimo) substancial nas perdas globais por evaporação de uma bacia hidrográfica. Os percentuais liberados e evaporados em cada reservatório são muito sensíveis às variações de f E ; os percentuais sangrados, por sua vez, permanecem praticamente constantes, independentemente do f E. Pelas analises feitas neste trabalho, não se pode afirmar que reservatórios construídos em rios de vazões maiores são sempre mais eficientes; entretanto, é lícito dizer que existe uma tendência de que os reservatórios construídos em rios mais caudalosos sejam mais eficientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS J. N. B. (1987). A procedure for Reservoir Sizing on Intermitent Rivers under Evaporation Rate. Tese de Doutorado, Colorado State University, Fort Collins, Colorado, USA. CAMPOS J. N. B. (1996). Dimensionamento de Reservatórios: o Método do Diagrama Triangular de Regularização. Edições UFC. COÊLHO, P. P. (2000). Cálculo das Disponibilidades Hídricas de Pequenos Açudes no Estado do Ceará, Projeto de Final de Curso, Universidade Federal do Ceará. 7

COGERH (1999). Plano de Gerenciamento das Águas da Bacia do Rio Jaguaribe. INEMET(1992). Normais Climatológicas (1961 1990). Instituto Nacional de Meteorologia. MOLLE, F. e CADIER, E. (1992). Manual do Pequeno Açude. SUDENE/ORSTOM, Recife, Pe. 8