CANTORES TRANSATLÂNTICOS: COMPANHIA ITALIANA NA FORMAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO

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Transcrição:

CANTORES TRANSATLÂNTICOS: COMPANHIA ITALIANA NA FORMAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO Péricles Vanzella Amim Péricles Vanzella Amim Doutorado Linha de Pesquisa HTA Orientador Prof Dr Paulo Ricardo Merísio Orientadora Profª Drª Maria de Lourdes Rabetti Doutorando em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Mestrado e Bacharel em Artes Cênicas com habilitação em Teoria do Teatro pela mesma instituição. Participou da organização das Missões de Trabalho do Acordo de Cooperação Internacional UNIPD- UNIRIO - 1º Aditivo: Artes Cênicas/Teatro. É pesquisador do Laboratório Espaço de Estudos sobre o Cômico (LEEC), na UNIRIO onde atua desde sua Iniciação Científica e do Grupo de Pesquisa História e Historiografia do Espetáculo, do CNPq. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 17-21 17

CANTORES TRANSATLÂNTICOS: COMPANHIA ITALIANA NA FORMAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO Péricles Vanzella Amim Prof Dr Paulo Ricardo Merísio Orientador Profª Drª Maria de Lourdes Rabetti Orientadora Abordar o teatro brasileiro do século XIX implica em olhar atentamente para as tradições teatrais que perpassaram e compuseram este período, estabelecendo interações de diferentes ordens, volumes e frequência. Dentre nossas principais referências, França (objeto de alguns estudos e inúmeras menções, especialmente relativos à segunda metade do século), Itália e Portugal assumem papel importante, pela consistência e desdobramentos de sua presença. Em 1813, inaugura-se a edificação encomendada por D. João VI, o Real Teatro São João. A partir de então nosso palco passa a ser ocupado por diversas companhias estrangeiras que por aqui farão turnê. A primeira temporada lírica no Rio de Janeiro, segundo Ayres de Andrade (1967), ocorre de 1814 a 1824, ano em que o Real Teatro de São João sofre o primeiro incêndio, e ganha o novo e mais conhecido nome, Imperial Teatro São Pedro de Alcântara. No espaço destes 10 anos, companhias estrangeiras passarão por nosso palco, moldando o olhar brasileiro sobre a cena. O objeto escolhido diante deste contexto foi a companhia lírica italiana que se apresentou no Real Teatro de São João / Imperial Teatro São Pedro de Alcântara de 1822 a 1830, aproximadamente. Na verdade, definir o objeto como uma companhia talvez seja uma maneira equivocada de abordá-lo: temos fontes ao longo de toda a década de 1820 que mencionam companhia italiana no Real Teatro de São João. Uma fonte de 1822 chega a listar o elenco, e alguns cantores são os mesmos que aparecem em notícias de 1826 e 1829, por exemplo. Com estas informações em mãos, partimos para o doutorado sanduíche (programa PDSE da CAPES) junto à Universidade de Pádua (UNIPD), na Itália, esperando encontrar XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 17-21 18

fontes documentais relativas ao empresário italiano ou à formação da companhia no país de origem ata, contrato, documentos epistolares, etc.. Surpreendentemente, nos deparamos com fortes indícios de que a companhia não teria se formado na Itália, ao contrário do que normalmente ocorria na época. Não descobrimos um empresário ou qualquer tipo de documento relativo à empreitada transatlântica; contudo, encontramos inúmeros livretos de praticamente todos os componentes da companhia italiana mencionados nos periódicos do Rio de Janeiro, a saber: Francesco Fasciotti, Pablo Rosquellas, Michele Vaccani, Gaetano Ricciolini, Vittorio Isotta, Fabricio Piacentini, Nicola Majoranini e Salvador Salvatori. Nestes livretos, vimos que as datas de encenações de óperas na Itália coincidem com o período em que outros componentes já estão no Brasil. Ainda não unificada, a península itálica da primeira metade do século XIX alternou diferentes domínios. Na pesquisa por livretos dos atores/cantores/dançarinos da companhia italiana do Real Teatro de São João, é curioso notar uma significativa maior quantidade de óperas encenadas em cidades de norte a noroeste da península, como Parma, Pavia e, principalmente, Turim. Outro dado interessante é a maior presença de livretos de óperas encenadas em Lisboa quando se aproxima a vinda para o Brasil; grosso modo (uma vez que os componentes partem em datas diferentes), depois de 1816. Ainda de caráter comum entre os cantores pesquisados, a grande maioria dos livretos encontrados notificam a encenação no período do carnaval; e não raro encontramos parentes como parte dos elencos das óperas, como Teresa Fasciotti e Justina Piacentini. Além disto, de modo geral, o posto ocupado pelo ator/cantor/ dançarino nos elencos italianos se mantinha no Brasil. Francesco Fasciotti, cantor castrado, deixou a Itália como primeiro cantor (soprano ou tenor) e chegou ao Brasil não só no mesmo posto como com um alto salário, tanto no Real Teatro de São João quanto na Real Câmara e na Capela Real ( Gazeta do Brasil, 11/07/1827). XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 17-21 19

Vittorio Isotta alternava entre primeiro e segundo tenor na Itália, e chegou ao Rio de Janeiro basicamente como segundo tenor, por vezes substituindo Fasciotti como primeiro, só ganhando fama e elogios na imprensa algum tempo depois. Michele Vaccani tem trajetória de primeiro barítono na Europa, assim como no Rio de Janeiro. Além de atuar como cantor, aparece como empresário assinando o prefácio de Griselda ossia la virtù al cimento, ópera de Ferdinando Paer encenada em Pavia no carnaval de 1800. Tem também alguma atuação como dançarino, na Itália e no Rio de Janeiro, assim como Gaetano Ricciolini, com quem Vaccani sai do Brasil. ( Império do Brasil: Diário Fluminense 1825-1831, 01/02/1825) Paulo Rosquellas foi um violinista, empresário, cantor e compositor espanhol, importante para a história da presença italiana no Brasil segundo Lino de Almeida Cardoso (2006), sua chegada em 1819 teria alavancado a temporada lírica carioca, parte da companhia italiana e organizador de migrações de cantores do Rio de Janeiro para Buenos Aires (entre eles Michele Vaccani e Gaetano Ricciolini), onde fundou uma companhia em 1824 (BASSO, 1988) depois do incêndio no Real Teatro de São João. Destacou-se como profissional na América do Sul, onde compôs óperas que protagonizou, como Il Gran Califfa di Bagdad, encenada no Real Teatro de São João (s/d) com livreto em italiano e português e elenco composto por Teresa Fasciotti (irmã de Francesco Fasciotti), Gaetano Ricciolini, Michele Vaccani e Maria Candida. Fabricio Piacentini é mencionado algumas vezes nos periódicos do Rio de Janeiro. Um detalhe interessante de sua carreira anterior à partida da Europa é que todos os livretos que encontramos sobre ele nos arquivos italianos são de Lisboa, e abarcam os anos de 1817, 1818 e 1819, e sabemos que ele chega ao Brasil em maio de 1820 (segundo Registro de Estrangeiros no Arquivo Nacional), o que aponta para uma carreira mais tímida na península itálica. Encontramos um livreto de Nicola Majoranini: La Clotilde, ópera de Carlo Coccia encenada em Modena no carnaval de 1820. Majoranini faz Tartufo, 5º no programa. Assim como Salvador Salvatori (sobre o qual não encontramos nenhum documento), Majoranini não tem destaque nos periódicos cariocas do período. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 17-21 20

REFERÊNCIAS: ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo; 1808-1865: Uma fase do passado musical do Rio de Janeiro à luz de novos documentos. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1967. BASSO, Alberto. Dizionario Enciclopedico Universale della Musica e dei Musicisti: le biografie. Torino: Unione Tipografico Editrice Torinese, 1988. CARDOSO, Lino de Almeida. O som e o soberano: uma história da depressão musical carioca pós-abdicação (1831-1843) e de seus antecedentes. Tese (Doutorado em História Social) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. XVII Colóquio do PPGAC/UNIRIO 2017 p. 17-21 21