Máquinas bem adaptadas: Plantio Direto com Qualidade! C ontinuando a perse guir o plantio direto com qualidade na região lindeira à represa de Itaipu, trataremos, nessa edição, sobre as estratégias utilizadas relacionadas à mecanização agrícola para se conseguir tal objetivo. Para se atingir o plantio direto com qualidade, é indispensável o uso da adubação verde, a rotação de culturas e a manutenção da cobertura morta sobre o terreno, por isso o uso de máquinas agrícolas deve visar, sempre, um solo com boa cobertura, mesmo após a operação de semeadura, o que podemos chamar de "plantio direto invisível". Para atingir esse objetivo os pesquisadores do IAPAR estudam componentes de ataque ao solo nas "plantadeiras" (semeadoras de precisão) que mobilizem pouco o solo e, também, dispositivos de aterramento que retornem o solo e a palhada sobre o sulco aberto para o plantio. Isso possibilita manter a cobertura morta, protegendo as sementes para se obter uma adequada emergência das mesmas. Evidentemente que isto somente pode ser obtido se houver palha sobre o solo. Desta forma, outra estratégia do "Projeto Plantio Direto com Qualidade" é o aperfeiçoamento das "semeadeiras" (semeadoras de fluxo contínuo) para viabilizar a rotação de culturas e o uso de adubos verdes no sistema.
DINÂMICAS DE SEMEADORAS DE PLANTIO DIRETO F oram 33 modelos de semeadoras avaliadas em 2001. Seus resultados foram apresentados nas Dinâmicas de Marechal Cândido Rondon (cinco de abril) e de Entre Rios do Oeste (30 e 31 de agosto). Estiveram presentes aos eventos 1400 pessoas, com predominância dos produtores da região. Participaram dos testes três indústrias de São Paulo (ATB - BALDAN, JUMIL e MARCHESAN), três indústrias do Paraná (KÚLZER & KLIEMANN, MORGENSTERN E PLANTI CENTER) e seis do Rio Grande do Sul (FANKHAUSER, GIHAL, IMASA, MAX, SFIL/STARA E VENCE TUDO). Os eventos contaram sobretudo com o imprescindível apoio das prefeituras de Marechal Cândido Rondon e Entre Rios do Oeste. A coordenação técnica foi do Iapar com patrocínio da Itaipu Binacional, além da articulação regional. A AVANÇOS OBTIDOS COM AS "PLANTADEIRAS" s 21 semeadoras de precisão avaliadas não apresentaram problemas de distribuição de sementes e fertilizantes, mas, quanto à qualidade de semeadura, foram observadas diferenças que servem como alerta para o aperfeiçoamento das mesmas. As máquinas que possuíam componentes de aterramento do sulco apresentaram, sobre o terreno, em torno de 85% de cobertura morta após a semeadura e as que não possuíam esse dispositivo apresentaram 70% de cobertura. Esse fato é importante para quem busca alcançar a meta do plantio direto "invisível", pois permite maior eficiência no plantio Em Marechal Cândido Rondon, observou-se em torno de 10a 15% a mais de germinação das sementes de soja nas máquinas que possuíam os aterradores. Em Entre Rios do Oeste, não foi possível identificar esse efeito devido à necessidade de irrigar a área após a semeadura. Esse fato tem sido motivo de aperfeiçoamento das "plantadeiras", salientando-se que em agosto de 2000, em avaliação realizada no Norte do Paraná, poucas eram as indústrias que ofereciam componentes para o apropriado acabamento do sulco. Na Dinâmica de Entre Rios do Oeste em agosto de 2001, de onze máquinas, sete possuíam aterradores e os demais fabricantes já apresentaram propostas de aperfeiçoamento de seus produtos. Essa é uma conquista dos produtores, técnicos e fabricantes e significa um importante avanço na mecanização agrícola. Outro fator que dificulta manter a cobertura morta sobre o terreno é o componente de ataque ao solo. O disco de corte e a haste sulcadora, que são necessários para o corte da palha e abertura de um sulco para deposição de fertilizante e sementes, em geral mobilizam muito o solo. O solo argiloso, com certa plasticidade, adere aos discos de corte e à haste, sendo lançado para fora do sulco. As hastes, quando largas e não dimensionadas, abrem demasiadamente o sulco reduzindo a cobertura morta sobre o terreno e prejudicando a implantação das culturas.
HASTES APROPRIADAS PARA SOLOS ARGILOSOS o pesquisador do IAPAR Rubens Siqueira apresenta resultados dos estudos e do desenvolvimento de hastes sulcadoras mais apropriadas aos solos argilosos do Paraná Apartir de um estudo do IAPAR com treze diferentes hastes sulcadoras existentes no mercado nacional, foi possível identificar um acréscimo de 60% na força de tração exigida no plantio. Quando a profundidade de trabalho variou de 8,8 cm para 14,3 cm a força aumentou de 115 kgf para 275 kgf. Significa que, se aumentarmos a profundidade, a potência exigida do trator poderá ser duplicada. Hastes com desenho parabólico, ângulo de ataque da ponteira em torno de 20 e espessura de 22mm podem também, apresentar até 100% de redução no esforço de tração. Esses dados têm sido confirmados nas avaliações de semeadoras de plantio direto motivando a indicação à oficinas e produtores da região para adaptarem suas máquinas com essa nova haste sulcadora. Esse serviço faz parte do convénio com a ITAIPU, sendo muito bem recebido na região. O IAPAR procura ofertar essa tecnologia à praticamente todas as oficinas regionais que realizam adaptações de semeadoras. Sobre esse assunto, os trabalhos de validação de tecnologia realizados em oito municípios lindeiros (quatorze produtores de referência e 32 Unidades Técnicas de Validação), nos dois últimos anos, mostrou que a haste recomendada pelo IAPAR exigiu 8,6 cv de potência do trator em cada linha da "plantadeira" e as máquinas com hastes dos demais fabricantes exigiram, em média, 10,4 cv, considerando uma profundidade de trabalho de 10 cm. Observouse também uma menor mobilização do solo. Destaca-se que, se a rotação de culturas for utilizada adequadamente, com plantas de cobertura como o nabo pivotante, as aveias, centeio e milheto entre outras, o solo torna-se macio, podendo-se trabalhar com facilidade, com discos duplos ou simples na abertura de sulco ao invés de hastes sulcadoras. Na semeadura de soja do ano agrícola de 1999/ 2000, deve-se destacar o veranico ocorrido no mês de novembro. Em municípios como Pato Bragado, as perdas foram totais. Analisando-se as propriedades acompanhadas pelo IAPAR e ITAIPU, após as chuvas do início de novembro, constatou-se que, quem semeou com hastes sulcadoras obteve em média 64% de emergência e quem semeou com discos duplos obteve 48%. A semeadura com discos duplos apresenta muitos riscos nos solos com textura muito argilosa. E importante observar que, devido à grande resistência desses solos, os discos não aprofundam mais do que 6 cm e as sementes ficam muito próximas do fertilizante. Como o sulco fica raso, falta umidade para a germinação das sementes, como ocorreu na estiagem de 1999. Esta situação fica ainda mais crítica quando os solos estão compactados, devido ao tráfego intenso de máquinas, principalmente com umidade do solo elevada.
O que o técnico pensa... o Engenheiro Agrónomo Neri Noro que trabalha na COTREFAL "LAR", atende produtores de soja e milho no município de Santa Helena há muitos anos. Ele tem acompanhado o projeto "Plantio Direto com Qualidade" e se diz entusiasmado com os resultados alcançados. Com relação às adaptações realizadas pelo IAPAR nas máquinas de semeadura, ele chama atenção especial para as modificações das hastes sulcadoras: "As hastes antigas abriam um rombo muito grande na linha de plantio, movimentando muita terra, que ficava exposta à erosão e à infestação de ervas daninhas. O modelo de haste proposto pelo IAPAR promove menor movimentação do solo, abrindo um sulco menor e mantendo mais palha na linha de plantio. Além disso, ela economiza potência do trator e em consequência combustível. Muitos agricultores já estão fazendo a adaptação e a maioria que está comprando máquinas novas já estão trocando o sistema de hastes". AVANÇOS CONSEGUIDOS COM AS "SEMEADEIRAS" E m Abril de 2001, na Dinâmica de Marechal Cândido Rondon foram avaliadas e apresentadas 4 multissemeadoras e uma "semeadeira". Já em Entre Rios do Oeste havia 5 multisemeadoras e 2 "semeadeiras". As semeadoras de fluxo contínuo ("semeadeiras") deixaram de ser vendidas na última década, principalmente pela grande redução na área plantada de trigo. Encontram-se hoje produtores utilizando máquinas com mais de 15 anos, ou até semeando as culturas de inverno a lanço e gradeando em cima. Sabe-se que não somente a germinação é prejudicada nesse caso, como também há grande redução da cobertura vegetal pela ação da gradagem.
Multisemeadoras: boa opção para produtores O pesquisador do IAPAR, Augusto Guilherme de Araújo, argumenta que as multisemeadoras são uma boa opção para muitos produtores, pois não é preciso comprar duas máquinas para semearem as culturas de verão, em precisão, e as de inverno, em fluxo contínuo. A s multisemeadoras existem no Brasil desde a década de 80, no entanto, não têm sido utilizadas de forma significativa em consequência da reduzida adoção da rotação de culturas e pela marcante redução da área com culturas de inverno. As indústrias que fabricam multisemeadoras vendem, atualmente, principalmente, "plantadeiras", havendo, portanto, pouco interesse no desenvolvimento daquele produto. O objetivo do IAPAR e ITAIPU é incentivar esta demanda através da demonstração dos benefícios da adubação verde e, de um modo mais amplo, da rotação de cultura. No número anterior desse informativo, os pesquisadores Ademir Calegari e Carlos Motta analisaram estas questões. Suas recomendações incluem não só uma espécie de planta para adubação verde mas, também, o uso de misturas de plantas, tais como, aveia preta, nabo forrageiro e leguminosas, como por exemplo, ervilha, ervilhaca e tremoço, dentre outras. Para semeadura de misturas destas sementes é necessário possuir vários dispositivos com diferentes dosadores. As semeadoras de fluxo contínuo possuem, geralmente, um depósito com dosador de fertilizantes e um depósito com dosador de sementes do tipo rotor acanalado. Para semear ervilha e aveia é possível utilizar os dois depósitos mas é preciso verificar se as sementes não são danificadas e se é possível obter a dosagem desejada, uma vez que, para misturas, as recomendações de densidade de sementes (n de sementes/hectare) são menores em relação à semeadura individual. Caso faça parte da mistura, espécies com sementes de diâmetro igual ou inferior a 2mm, tal como nabo, é necessário utilizar depósito e dosador próprios para sementes úmidas ou pastagens. Não é recomendável a mistura de sementes com dimensões muito diferentes em um mesmo depósito. Se isso ocorrer, as sementes maiores irão para a parte superior do depósito e as menores "descerão" para o fundo em consequência da movimentação da máquina. Os componentes de aterramento e compactação das semeadeiras sofreram várias modificações para aumentar sua eficiência, Apesar da semeadura de sementes miúdas ser raso (entre 2 e 4 mm) é importante que haja solo sobre as mesmas para possibilitar uma boa germinação. Além disso, as sementes devem ter um bom contato com o solo o que é viabilizado pela compactação realizada pelo aterrador.
O agricultor dá sua opinião... J oão Whoffner é agricultor colaborador do município de Entre Rios do Oeste. João trabalha com o Sr. Francisco Foellmer plantando soja e milho. Também é produtor de leite. Há 3 anos sua propriedade está apoiando a parceria entre o IAPAR e ITAIPU no desenvolvimento tecnológico de um Plantio Direto com Qualidade. Uma das atividades desenvolvidas em sua propriedade foi a adaptação de sua máquina de plantio. João conta: "Comecei fazendo alteração nos discos de regulagem de profundidade. Mudei o ângulo do disco e assim ele passou a voltar a terra removida. Outra mudança que fiz foi na faca de abertura do sulco. Utilizei a indicação do IAPAR. O sulco agora fica menor, revolve menos solo e mantêm mais palha na linha de plantio. Mas o que mais eu gostei é que o sulco fica menor e eu não tenho dificuldades de fazer pulverização cruzada. Não dá mais trepidação como antes, quando as valetas eram fundas. Eu ainda tenho o problema para plantar cultura de inverno. Tenho que plantar com solo seco pela dificuldade de enterrar as sementes, que devem ficar mais rasas, a 2cm. A máquina deve ter roda aterradora para garantir que a semente fique mais aderida ao solo para facilitar a germinação. Estou procurando 3 a 4 parceiros para comprar uma máquina em conjunto. Formaríamos uma associação, pois o preço é muito alto para comprar sozinho".