Procedimento Administrativo Tutela Coletiva nº 1.34.030.000124/2009-41 RECOMENDAÇÃO Nº 05/2009 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com amparo nos artigos 127, caput, 129, incisos II e VI, da Constituição da República, artigos 1º, 2º, 5º, incisos III, e, IV e V, 6º, incisos VII, a e d, e XX, e 8º, inciso II, da Lei Complementar 75/93, e CONSIDERANDO que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, e que o Ministério Público tem como funções institucionais a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, de conformidade com a Constituição Federal, artigos 127, caput, e 129, incisos II e III, e Lei Complementar 75/93, artigo 5º; CONSIDERANDO que dispõe o art. 129, inciso II, da Constituição Federal ser função institucional do Ministério Público: zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia ; CONSIDERANDO que cabe ao Ministério Público a expedição de recomendações, visando a melhoria dos serviços de relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis (LC 75/93, art. 6º, XX);
2 reconhecido (art. 6 da CF/88); CONSIDERANDO que a saúde é direito social constitucionalmente a defesa do consumidor; CONSIDERANDO ser função institucional do Ministério Público Federal CONSIDERANDO que tramita nesta Procuradoria da República no Município de Jales/SP o Procedimento Administrativo Tutela Coletiva nº 1.34.030.000124/2009-41, que visa apurar questões relacionadas à ausência de informações nas embalagens de alimentos servidos nos 'serviços de bordo' das aeronaves durante voos domésticos e internacionais, especialmente quanto à indicação de ingredientes e tabela nutricional dos produtos ; CONSIDERANDO que o contrato de transporte aéreo é relação de consumo travada entre a companhia aérea e o passageiro, estando regida pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90); CONSIDERANDO que o Código de Defesa do Consumidor estabelece o princípio da transparência como regente das relações de consumo (art. 4º, caput do CDC); CONSIDERANDO que o mesmo Código de Defesa do Consumidor estabelece o princípio da boa fé objetiva nas relações de consumo (art. 4º, III do CDC); CONSIDERANDO que é direito do consumidor receber informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (art. 6º, III do CDC); CONSIDERANDO que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores (...) obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º, caput do CDC).
3 CONSIDERANDO que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) editou, em 08 de janeiro de 2003, a Resolução RDC nº 2, que estabelece o Regulamento Técnico, para fiscalização e controle sanitário em aeroportos e aeronaves; CONSIDERANDO que a mencionada resolução estabelece que a empresa aérea deverá manter as condições de segurança e qualidade dos alimentos ofertados para consumo a bordo (art. 15), bem como que os alimentos produzidos para consumo a bordo, deverão apresentar-se embalados e com a seguinte identificação: I - Razão Social, II - CNPJ do fabricante, III - Data de fabricação, IV - Data de validade (art. 19); CONSIDERANDO que a mesma resolução não afasta a necessária observância à legislação, estabelecendo que para efeito da segurança e qualidade dos alimentos, deve ser observado o disposto na legislação pertinente (art. 21, 2º) CONSIDERANDO que após a edição da retrocitada resolução, em 23 de dezembro de 2003, a ANVISA editou a Resolução RDC nº 359 e Resolução RDC nº 360 que impôs a obrigatoriedade de rotulagem nutricional dos alimentos produzidos e comercializados, qualquer que seja sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos aos consumidores (Anexo I, item 1º, Res. RDC nº 360/03); CONSIDERANDO que na rotulagem nutricional devem ser declarados os seguintes nutrientes: valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans e sódio, bem como outras informações (art. 2º, RDC nº 360/03); CONSIDERANDO que, sem prejuízo das determinações normativas anteriormente mencionadas, é direito do consumidor ter exato conhecimento do produto que está recebendo e ingerindo, não apenas em razão do que estabelece a norma consumerista mas, e principalmente em virtude de aspectos ligados à saúde; CONSIDERANDO, na linha da referência anterior, que a Lei 10.674, de 16 de maio de 2003, obriga a que os produtos alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten, como medida preventiva e de controle da doença celíaca ;
4 CONSIDERANDO que todos os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições 'contém Glúten' ou 'não contém Glúten', conforme o caso, bem como que a advertência deve ser impressa nos rótulos e embalagens dos produtos respectivos assim como em cartazes e materiais de divulgação em caracteres com destaque, nítidos e de fácil leitura (art. 1º, 1º, Lei 10.674/03). CONSIDERANDO que a Lei 6.437, de 20 de agosto de 1977, estabelece que a inobservância da legislação sanitária federal pode configurar infração sanitária, sujeita a diversos tipos de sanções; CONSIDERANDO que, nos termos da Resolução RE nº 2.313, de 26 de julho de 2006, a ANVISA estabeleceu a data limite 31 de julho de 2006 para adequação às Resoluções ANVISA RDC 359/03 e 360/03 ( Anexo I, item 1º, Res. RE nº 2.313/06); CONSIDERANDO que a mesma Resolução estabeleceu que a partir de 1º de janeiro de 2007, as empresas que não cumprirem as Resoluções RDC nº.s 359/2003 e 360/2003 ficarão sujeitas às penalidades previstas na Lei nº. 6437, de 20 de agosto de 1977 ( Anexo I, item 4º, Res. RE nº 2.313/06); CONSIDERANDO que a Lei 9.782, de 28 de janeiro de 1999, estabelece que a ANVISA terá por finalidade institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras. (art. 6º, caput, Lei 9.782/99); CONSIDERANDO que a mesma Lei 9.782/99 determina que compete à ANVISA estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária, bem como que cabe àquela regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública, tais como alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas embalagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos, resíduos de agrotóxicos e de medicamentos veterinários (art. 7º, III e art. 8º, 1º, II da Lei 9.782/99);
5 CONSIDERANDO que por força da Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005, cabe à ANAC, além de outras providências, adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público e para o desenvolvimento e fomento da aviação civil, da infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária do País, atuando com independência, legalidade, impessoalidade e publicidade, devendo regular e fiscalizar os serviços aéreos, os produtos e processos aeronáuticos, a formação e o treinamento de pessoal especializado, os serviços auxiliares, a segurança da aviação civil, a facilitação do transporte aéreo, a habilitação de tripulantes, as emissões de poluentes e o ruído aeronáutico, os sistemas de reservas, a movimentação de passageiros e carga e as demais atividades de aviação civil (art. 8º, X da Lei 11.182/05); CONSIDERANDO que a alimentação servida a bordo das aeronaves integra o contrato de transporte aéreo firmado entre passageiro e empresa aérea, bem como que eventual prestação inadequada do mesmo pode atentar contra a saúde do consumidor e segurança do serviço prestado; e CONSIDERANDO, por derradeiro, que esta Procuradoria da República expediu às Empresas Aéreas de Linhas Regulares no Brasil a Recomendação nº 04/2009, recomendando àquelas empresas que observem as disposições contidas na legislação pertinente, em especial na Lei 10.674/03 e nas Resoluções/ANVISA: RDC 359/03 e RDC 360/03, devendo proceder a adequação dos alimentos ofertados aos passageiros a bordo das aeronaves, fazendo-se acrescentar nas respectivas embalagens as informações nutricionais, ingredientes e se o produto contém ou não contém glúten. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com o objetivo de garantir os direitos constitucionais e legais mencionados, resolve RECOMENDAR à Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA e Agência Nacional de Aviação Civil- ANAC que, em conjunto: a) Fiscalizem todas as empresas de linhas aéreas regulares, brasileiras ou estrangeiras, que operem no Brasil, de modo a garantir o cumprimento por aquelas das determinações contidas na legislação pertinente, em especial na Lei 10.674/03 e nas Resoluções/ANVISA: RDC 359/03 e RDC 360/03, que impuseram a obrigatoriedade de rotulagem nutricional dos alimentos, qualquer que seja sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos aos consumidores;
6 b) Verifiquem se aquelas, no prazo imposto pelo Ministério Público Federal (30 dias do recebimento da Recomendação nº 04/2009- anexo), procederam a adequação dos alimentos ofertados aos passageiros a bordo das aeronaves às determinações legais e, especialmente às determinações normativas da ANVISA, fazendo-se acrescentar nas respectivas embalagens as informações nutricionais, ingredientes e se o produto contém ou não contém glúten; c) Imponham, caso, após o referido prazo, as empresas aéreas não observem a legislação de regência no que se refere à alimentação servida nos voos regulares, domésticos e internacionais, as sanções cabíveis, notadamente àquelas previstas na Lei 6.437/77, visto que a inobservância da legislação sanitária federal pode, em tese, configurar infração sanitária; d) Comuniquem às empresas estrangeiras que atuam no Brasil a igual necessidade de observância da legislação alimentar e sanitária referida na presente recomendação, alertando-as do prazo para a adequação a tais normas (30 dias do comunicado); e e) Comuniquem, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do recebimento da presente recomendação, a esta Procuradoria da República acerca das medidas que estejam sendo, concretamente, adotadas para o cumprimento dos itens anteriores sob pena de serem tomadas as medidas judiciais cabíveis; f) Por fim, faz-se impositivo constar que a presente recomendação não esgota a atuação do Ministério Público Federal sobre o tema, não excluindo futuras recomendações ou outras iniciativas com relação aos fornecedores acima indicados ou outros, bem como com relação aos entes públicos federais com responsabilidade e competência no objeto. Jales/SP, 14 de julho de 2009. THIAGO LACERDA NOBRE Procurador da República