Princípios da Ordem Primeira da Sociedade de São Francisco ******************************************************************************



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Transcrição:

Princípios da Ordem Primeira da Sociedade de São Francisco ****************************************************************************** Nota Histórica Os Princípios são derivados basicamente dos documentos da Christa Seva Sangha, uma irmandade estabelecida em 1922 em Poona, Índia. Eles foram revisados, pela primeira vez, em 1930 pela Irmandade do Amor de Cristo, de St. Ives, Huntingdonshire, England e depois, em 1937, quando a Irmandade de S. Francisco de Assis, de Hilfield, Dorset, England se uniu a eles, formando a Sociedade de São Francisco. Em 1967, a Ordem de São Francisco, em Monte Sinai, New York, Estados Unidos, agregou-se à Sociedade de São Francisco quando então, Os Princípios foram adotados como parte da Regra dos irmãos da Primeira Ordem. A Comunidade de São Francisco, uma irmandade feminina fundada em 1905 na Inglaterra, que se tornou parte da Sociedade de São Francisco em 1964, adotou Os Princípios como parte de sua Regra. Em 1973, elas foram reconhecidas como as irmãs da Primeira Ordem. O texto geralmente usado é o mesmo correntemente em uso até 1966, mas agora incluindo linguagem e citações bíblicas tiradas da Nova Versão Revista e Corrigida da Bíblia (No original The New Revised Standard Version of the Bible) de 1989. Os Princípios são organizados para a leitura diária durante o mês. Autorização O presente texto dos Princípios foi autorizado a fazer parte integrante da Regra da Ordem Primeira da Sociedade de São Francisco pelo Encontro Conjunto dos Capítulos de Irmãos e Irmãs da Ordem Primeira em 1993, e ratificados pelo Encontro Conjunto dos Capítulos em 1996. Direitos autorais The Society of Saint Francis 3

O propósito da Ordem Dia 1: O Mestre Jesus fala: Verdadeiramente vos digo, a não ser que o grão de trigo caia na terra e pereça, ele permanecerá apenas um simples grão; mas se ele morrer, trará muitos frutos. Aquele que amar sua vida, perdê-la-á, e aquele que abandonar sua vida, terá a vida eterna. O que deseja servir a mim, deve seguir meus passos, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. Também diz: Quem a mim serve, o Pai o honrará (Jo 12.24-26). O Mestre mostra a todos nós, pelo exemplo de Seu próprio sacrifício, o segredo de como dar bons frutos. Ele Se entrega a Si mesmo à morte e, nesse momento, Ele se torna fonte de vida nova para milhares. Erguido da terra em sacrifício, Ele traz até si multidões, dos quais os gregos foram sinal e profecia, e cuja aproximação ao Seu grupo de seguidores provoca Nele uma visão extática sobre Sua Missão (Jo 12.20-21). A vida que se tenta preservar é a que perece: a vida à qual renunciamos se torna a vida eterna. Dia 2: Este mandamento de renúncia e sacrifício, que é a lei da própria vida frutífera do Mestre, é transmitido a Seus servos, para que através dele se comprometam a segui-lo em Seus passos. Aqueles que O seguem, Ele promete a inefável recompensa da união com Ele próprio, assim como a aceitação do Pai. Portanto, o propósito da Ordem Primeira é edificar uma irmandade de homens e mulheres que, por aceitarem a Cristo como seu Senhor e Mestre, através de um ato de testemunho, procurarão segui-lo no caminho de renúncia e sacrifício, e em favor de seus irmãos e irmãs no mundo inteiro, através do serviço por amor. As Três Condições de Vida Dia 3: A comunidade, reconhecendo que Deus em todos os tempos tem chamado alguns de seus filhos a aceitarem um estado do celibato em prol do reino dos céus, para que pudessem livremente se entregar a Seu serviço, sem outras preocupações, lança diante de si a meta de construir uma corporação de homens e mulheres inteiramente dedicados exclusivamente a Ele, tanto no corpo como no espírito. Tais servos, em resposta ao chamado de Deus, após um período suficiente de provação voluntariamente dedicam-se a uma vida de devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo, nas condições de pobreza, castidade e obediência. Dia 4: Não é sem razão que essas três condições foram sempre abraçadas por aqueles que desejam viver uma vida religiosa de desprendimento, pois elas definem o ideal de perfeita renúncia ao mundo, à carne e ao demônio, que são os grandes inimigos da vida espiritual. Pobreza Dia 5: O Mestre voluntariamente abraçou uma vida de pobreza neste mundo. Ele que era rico, contudo, em favor dos Seus se tornou pobre (2 Cor 8.9). Ele escolheu nascer num estábulo e para, Seu crescimento físico, escolheu viver na casa de um carpinteiro de vilarejo. Mesmo essa humilde casa, foi por Ele deixada para trás quando chegou à idade adulta e passou a viver como um andarilho, sem um lugar sequer para repousar Sua cabeça (Mat 8.20). (Jo 12.26) Chama também a nós para vivermos em pobreza. Quem busca Me seguir, deve seguir Meus passos. Nenhum de vós pode tornar-se Meu discípulo se não deixar para trás tudo o que possui (Lc. 14.33). Os irmãos e irmãs, portanto, almejam serem pobres em seu espírito. Desejam escapar do amor ao mundo e às coisas que nele há e, por isso mesmo, como seu patrono São Francisco, querem 4

viver, por amor, na pobreza. Anseiam unicamente as riquezas inefáveis de Cristo. Reconhecem efetivamente que, enquanto alguns de seus membros podem ser chamados a seguir literalmente o exemplo de São Francisco, através de uma vida de real penúria e extrema simplicidade, para a maioria deles, um ideal tão sublime não será possível. Dia 6: Os irmãos e irmãs desejam não possuir nada que não possa ser partilhado com todos de seu convívio e o que possuírem serão coisas tais que os ajudem tão somente a satisfazer suas necessidades. Eles não recebem pagamento e não têm posses pessoais. Vivem como uma família, possuindo tudo em comum. Recebem para seu uso somente aquilo que atende as necessidades simples da vida. E mesmo assim, aquilo que recebem não é considerado por eles como de fato seu, mas um empréstimo que lhes é concedido por um determinado período de tempo. Uma vez que afastaram de suas vidas individuais as armadilhas do mundo, não devem permitir que elas sejam trazidas para dentro da comunidade constituída, o que pode ter um efeito devastador e fatal. Pouco se ganharia se após terem abandonado suas posses pessoais, viessem, contudo, a viver luxuosamente, aproveitando da abundância de bens em comum. Assim sendo, a comunidade deve afastar-se de todo tipo de excessos. As construções a serem erguidas e o estilo de vida permitido devem ser os mais simples possíveis, consistentes com uma boa saúde e com o trabalho eficiente. Se há dinheiro além do suficiente para suprir as necessidades básicas, que seja este gasto em obras de misericórdia e no serviço para com os outros, ou ainda, que seja usado para o adorno, no que for preciso, da casa de Deus com adequada moderação, ou ainda, para a aquisição de livros necessários à execução do trabalho pelo estudo. Dia 7: Em todas as coisas, que os irmãos e irmãs façam, devem mostrar a simplicidade de verdadeiros franciscanos e, pouco se preocupando com o mundo, onde não passam de estrangeiros e peregrinos, mantenham seus corações voltados para o lar espiritual, que é o lugar onde está seu tesouro (Mat 6.21). Castidade Dia 8: Os irmãos e irmãs, assim como todos os cristãos, são conclamados a resistir e, pela Graça de Deus, conquistar as tentações da carne e a viver vidas de pureza e autocontrole. Devem eles sempre se esforçar por serem castos, através da disciplina da fé e da oração, tanto na mente como no corpo. Além disso, eles devem promover a perene adoração ao Senhor em todo lugar que forem, (1 Cor 7.35) entregando-se inteiramente ao Seu trabalho, sendo casados somente com Cristo, o fiel esposo, tendo aceito por sua livre vontade a vocação do celibato. Eles isso o fazem não por acreditar que a condição de quem não for casado seja por si mais elevada do que a condição do casado, mas porque acreditam que, para eles, a condição de não casado é a condição na qual Deus quer que eles O sirvam. Dessa forma, eles esperam com confiança que Deus lhes conceda a graça necessária para que possam viver esta vida, uma vez que se a mesma for vivida de uma forma contrária à Sua vontade, isto poderia lhes trazer uma condição de maior preocupação ainda do que o casamento. Dia 9: Ao aceitarem o estado de castidade, os irmãos e irmãs devem se guardar contra o perigo de se tornarem egoístas, voltados somente para si mesmos, frios ou indiferentes aos interesses dos demais. Seu relacionamento como esposos e esposas de Cristo não deve enfraquecer ou afetar suas afeições humanas. Pelo contrário, sua união com Ele, possibilita que derramem seu amor ainda mais ricamente sobre todos aqueles com quem entram em contato. 5

Obediência Dia 10: O Mestre, tendo vindo ao mundo não para fazer a Sua própria vontade, mas a vontade daquele que O enviou, tornou-se obediente até a morte, e morte de cruz. Ele diz a todos que O seguem: Tomai sobre si o meu jugo e aprendei de mim, pois eu sou manso e humilde de coração, e assim encontrareis descanso para suas almas.(mat11.29.) Os irmãos e irmãs, portanto, almejam entregar suas vontades à vontade de Deus, no espírito de perfeita obediência, para que, livres do egoísmo e do orgulho, tornem-se instrumentos apropriados aos Seus divinos propósitos, e assim encontrem a verdadeira liberdade e paz. Dia 11: Além disso, ao voluntariamente aceitar a Regra que os une, os irmãos e irmãs prometem solenemente viver segundo essa Regra e obedecer às decisões do Capítulo, através do qual o pensamento comum da comunidade é interpretado e expresso. É parte do trabalho dos Ministros administrar a Regra e assegurar-se de que as decisões do Capítulo sejam observadas. Suas orientações, portanto, a menos que sejam contrárias à Regra ou sejam por si pecaminosas, devem ser atendidas prontamente e com toda a disposição de espírito. Na ausência deles, a obediência é devida a seus Assistentes. Os irmãos e irmãs que forem encarregados de um determinado setor de trabalho, devem também ser obedecidos no referido setor. No entanto, ninguém deve, por estar obedecendo à autoridade seja de quem for, agir contrário aos ditames de sua própria consciência. Os Ministros prestam, como os outros membros, obediência à Regra e ao Capítulo e são chamados a exercer sua autoridade, não com um espírito de parcialidade, orgulho ou egoísmo, mas com imparcialidade e amor, pedindo humildemente na oração o apoio da sabedoria divina para exercer seu trabalho. Dia 12: O compromisso individual de obediência dentro da comunidade é muito bem acatado por todos os membros, sendo entendido como parte da própria obediência que é devida a Deus. Eles acreditam que, se Deus os chamou para levarem suas vidas de conformidade com a Regra, em cumprimento às obrigações dessa mesma Regra, deverão de todo coração viver em obediência a Ele. Portanto, aceitarão com alegria quaisquer limitações ou humilhações que esta obediência envolva, sendo esse modo que o orgulho é vencido e uma consagração ainda mais perfeita é atingida. Quando estiverem trabalhando longe de sua comunidade, os irmãos e irmãs devem se colocar debaixo da disciplina da paróquia ou sociedade na qual estiverem vivendo. As Três Formas de Serviço Dia 13: Os irmãos e irmãs buscarão servir ao Mestre por meio de uma vida de devoção, por meio do estudo sagrado e pelas obras. Na vida da comunidade como um todo, essas três formas de serviço encontrarão uma forma plena e equilibrada de expressão. Na verdade, não se espera que todos se dedicarão de igual maneira a essas três tarefas. É natural que as diversas atribuições variem de acordo com a habilidade particular que Deus deu a cada um e que alguns, com a aprovação de seu Ministro, entreguem-se de forma intensa à oração e à contemplação, outros à busca do conhecimento e à escrita de livros, e outros ainda dediquem-se principalmente ao ministério do serviço ativo. Contudo, deve ser encontrado espaço em suas vidas para que caiba cada uma dessas três atribuições. Oração Dia 14: Louvor e oração constituem a atmosfera na qual os irmãos e irmãs se dispõem a viver. Devem esforçar-se por manter sempre o recolhimento na direção da presença de Deus e do mundo das coisas invisíveis. Uma profunda devoção pessoal a Cristo é um manancial oculto de alegria e energia pessoal. Ele é para os irmãos e irmãs o Deus Encarnado, único e adorável, crucificado e ressurrecto, cujo amor é a inspiração para o serviço e a recompensa por todo o sacrifício. 6

Dia 15: Para que sua união com o Senhor seja renovada e fortalecida, os irmãos e irmãs se unem diante de Deus em oferenda diária do memorial de Sua morte e paixão, alimentando-se de Sua vida sacrificial. A Santa Eucaristia é o centro em torno do qual suas vidas giram. Ela é, acima de tudo, o centro de suas vidas de oração. A hora da Oração Matutina serve ao propósito de preparar a mente e o espírito para a entrada no santuário sagrado. A meditação que se segue é a oportunidade para o encontro com Aquele que, pelo Sacramento, torna-se presente no interior de cada um, Nele se alimentando em seus corações, pela fé e com ações de graças. Os Ofícios de Intercessão e de Ação de Graças são momentos em que aqueles que se uniram a Ele em comunhão e pela meditação poderão pedir a Deus conforme a Sua promessa para conosco: Se permaneceres em Mim e Minhas palavras permanecerem em vós, tudo o que pedirdes em Meu Nome, vos será concedido (Jo 15.7). É também o momento de render graças a Ele por continuarem realizando tão sagrada experiência pessoal. O Ofício Vespertino é o momento, ao final do dia de trabalho, em que é renovada a oferta de louvor e adoração ao Senhor. No silêncio dessa hora, os corações dos que ali se reúnem, penetram na paz que, acompanhada da luz primordial criada por Deus, permanecerá imutável no interior de cada um, mesmo quando se alongarem as sombras da vida. O Ofício Vespertino é a bênção protetora do Mestre. Dia 16: Os irmãos e irmãs devem estar sempre cientes de quão essencial é o exercício da oração em qualquer segmento de suas vidas. Sem a constante renovação da Graça divina, a vontade se enfraquece, a consciência se enche de tédio, a mente perde seu brilho e até mesmo o vigor físico padece. Eles devem, portanto, estar sempre em guarda contra a freqüente tentação de deixar que outros trabalhos tomem o lugar da hora bendita de oração, lembrando que, se for dessa forma que querem aumentar o volume de atividades realizadas, isso terá como custo a perda do valor verdadeiro e da qualidade dessas mesmas atividades. Devem ser persistentes e pontuais no comparecimento às orações da comunidade. Deve ter em mente que é de pouco valor estar presente às devoções comunitárias com o espírito distraído ou ausente. Devem procurar fazer de cada Ofício uma oferenda devotada que venha do fundo do íntimo. A oferenda reverente, ordenada e singela da adoração comunitária é o coração da vida da comunidade. Dia 17: No entanto, os irmãos e irmãs devem também guardar com todo o zelo cristão os momentos de oração particular. Devem lembrar que o culto comunitário não é um substituto para a comunhão silenciosa da alma individual com Deus. Devem mesmo se esforçar por ir cada vez mais longe no desfrutar dessa comunhão, mantendo uma permanente consciência da presença de Deus em suas vidas, até ao ponto em que, como diz o Apóstolo, possam na verdade orar sem cessar. (Tes 5.17). Dia 18: Foi com o propósito de apoiar a atitude e a prática do recolhimento que a regra do silêncio foi estabelecida. Os irmãos e irmãs não deverão receber esta regra do silêncio como uma imposição artificial, nem como uma mera regra restringindo o uso da palavra, mas como uma ocasião que lhes é oferecida para aperfeiçoar a percepção da presença divina. Com o mesmo espírito, receberão o convite para retiros e para os dias de silêncio promovidos pela Regra da comunidade, valorizando-os como oportunidades para renovarem e aprofundarem a vida espiritual pelo afastamento das distrações externas. 7

Em momentos como esses, os irmãos e irmãs procurarão tornar mais vívida sua devoção para com Cristo Nosso Senhor. Quando ocorrer que a fraqueza humana os impedir de um maior envolvimento espiritual, deverão se voltar para Cristo, com especial reverência pelo sacramento da penitência e absolvição, e em humilde contrição, acompanhada do desejo sincero de emenda de vida, serão limpos do pecado e renovados pela Graça. Estudo Dia 19: O verdadeiro conhecimento é o conhecimento de Deus. A mais elevada sabedoria é aquela pela qual a alma se une a seu Deus. Prioridade, portanto, será dada entre os irmãos e irmãs ao exercício do estudo e à prática da busca da elevação da alma a Deus, para a qual o estudo devocional das Escrituras será a principal ajuda. Deverão também estudar o ensino dos santos cristãos no que diz respeito à vida espiritual. É uma expectativa da comunidade que algumas das casas se tornem não só casas de oração, mas também de aprendizado. Pelo reconhecimento do valor e da importância do estudo, algumas horas de cada dia são reservadas para esse propósito pela Regra. Com a finalidade principal de assegurar a manutenção dessas horas ininterruptas de estudo se estabelece a regra de um pouco de silêncio, sempre que possível. Trabalho Dia 20: O Mestre Jesus tomou sobre Si a forma de servo. Ele veio não para ser servido, mas para servir. Andou por toda a parte fazendo o bem, curando os enfermos, levando as boas novas aos pobres, fortalecendo os quebrantados de espírito. (Mc 10.45; At 10.38; Mt 8.16; Lc 4.18; Is 61.1). Os que querem tornar-se servos Seus e segui-lo, devem se aplicar no ministério do serviço para com os outros. As atividades de trabalho, através das quais os irmãos e irmãs buscam servir a seu Mestre, começam dentro de casa e no jardim. A varrição, a limpeza e outras tarefas domésticas, bem como certos tipos de trabalho manual, são proporcionados para que todos possam contribuir para a mordomia da casa e para sua própria manutenção pessoal. Todos devem ser capazes de se envolver em alguma forma de trabalho manual. Todos devem se preocupar com as necessidades da comunidade em seu trabalho para com Deus e analisar concretamente, no estrito sentido econômico, o que é preciso fazer. Irmãos e irmãs terão suas próprias tarefas pessoais, tanto quanto possível. São Francisco disse que não há lugar na comunidade para os membros ociosos. Dia 21: Além do serviço feito em prol da própria comunidade, há muitas variedades de ministérios, principalmente junto aos abandonados, aos doentes, aos que sofrem e aos necessitados. A comunidade se propõe no tocante a esses atos de misericórdia a organizar uma programação de serviços, lembrando que o que fizermos para o menor de nossos irmãos, estaremos fazendo para o próprio Mestre. Ao auxiliarmos a mitigar a pobreza, podemos estar a Ele dando comida e bebida. Ao usarmos de hospitalidade com forasteiros, podemos estar a Ele recebendo. Ao aliviarmos os sem teto e sem roupa, podemos estar a Ele vestindo. Ao cuidarmos dos doentes, podemos estar Dele cuidando. Ao visitarmos os encarcerados, podemos estar para Ele levando a esperança. (Mat 25.35-45). A comunidade não deve, na verdade, ter a expectativa de vir a dispor de muitos fundos para administrar as atividades de caridade. Contudo, com alegria cederá seus membros para tais serviços e irá cooperar com todos aqueles que, fora da comunidade, já estão envolvidos nisso. Em todos esses trabalhos, a comunidade procurará servir a todos, independente de credo, oferecendo seus serviços, não como um engodo, mas como um reflexo do amor de Cristo. 8

Dia 22: A principal forma de serviço que os irmãos e irmãs devem poder oferecer, entretanto, é mostrar aos outros o Cristo que é a inspiração e a razão de ser de suas vidas, em todo Seu esplendor e poder. Não farão isso com espírito agressivo, nem em contenda com as crenças dos outros, mas porque, tendo conhecido em suas experiências pessoais o poder de Cristo que salva do pecado e promove a renovação de vida, precisam partilhar esse supremo tesouro com os demais. Será, portanto por causa da plenitude do amor devotado a Cristo, que eles levarão seu Mestre amado a todos. Devem lembrar que, na tarefa de levar Cristo aos outros, o testemunho de suas próprias vidas é mais eloqüente do que suas palavras. Por essa razão, os Franciscanos, em lugar de fazerem muita pregação em publico, procuram viver uma vida através da qual o próprio Cristo possa se manifestar. Além disso, haverá entre eles alguns particularmente chamados para o ministério da Palavra. Todos devem estar prontos em qualquer ocasião para responder pela fé que existe dentro deles (1 Pd 3.15) e devem estar preparados para orientar os que sinceramente buscam a Verdade. Devem estar preparados pela fé, pela oração e pelo direcionamento espiritual para fortalecer a fé dos cristãos e ter condições de conduzi-los em suas vidas espirituais. Dia 23: Os irmãos e irmãs devem sempre se alegrar por poder atender os que vêm até eles pedindo ajuda ou conselho. Nunca devem dar a impressão de que não tem tempo para esse ministério. Ao contrário, quando tal serviço se fizer necessário, deverão deixar de lado qualquer outro trabalho, inclusive o exercício da oração, certos de que tal negligência aos demais trabalhos, será vista como agradável aos olhos Daquele que se fez Servo de todos. As Três Ênfases da Ordem Dia 24: As três ênfases que devem permear de modo especial a vida de todos os irmãos e irmãs são a humildade, o amor e a alegria. Para que os objetivos da comunidade sejam realizados e seu trabalho seja profícuo é preciso que a preocupação com esses três pontos seja a tônica da vida de seus membros. Se não houver essa preocupação, o trabalho será estéril e sem resultados. Humildade Dia 25: Os irmãos e irmãs deverão se esforçar por manter vivo entre eles o exemplo Daquele que (Fil 2.7) esvaziou- se a Si mesmo, tomando a forma de servo, e que, na derradeira noite de Sua vida agiu como um humilde servo e lavou os pés aos discípulos (Jo 13.4-5) Sempre procurarão viver conforme esse modelo, (1 Pd 5.5) vestindo-se com humildade ao tratar com os demais. Humildade é o reconhecimento da verdade sobre Deus e sobre nós mesmos, o reconhecimento de nossa insuficiência e dependência, entendendo que não há nada que tenhamos deixado de receber. É a mãe de todas as virtudes cristãs. Como disse São Bernardo de Clairvaux Nenhuma instituição espiritual pode se sentir firme nem por um instante, a não ser que tenha seus fundamentos na humildade. É a primeira condição para uma vida feliz dentro da família. Assim sendo, os que vivem na casa devem sempre lembrar que irmãos e irmãs que se sentirem muito confiantes de que estão certos todo o tempo e que se apressam em impor sua opinião sobre os demais, não hão de se sentir contentes por ter que conviver com a disciplina da subordinação e da punição. Eles trarão aborrecimentos para a vida da família ao se sentirem envolvidos por um ambiente de harmonia e ordem que depende de todos cumprirem com alegria as tarefas que lhes forem confiadas. Aceitar de bom coração a regra da obediência e o cumprimento leal de ordens pouco agradáveis ou difíceis será uma forma de crescer na Graça. Dia 26: Os irmãos e irmãs devem sempre se livrar de pensamentos de conflito uns com os outros, não buscando o destaque pessoal, mas ao contrário, considerando os outros melhores do que a si mesmo. (Filp 2.3) As falhas que vêem nos outros devem ser assunto para oração e não para a crítica, estando sempre mais prontos a tirar a trave do seus próprios olhos do que criticar o cisco nos olhos do próximo. (Mt 7.5) Quando convidados, devem preferir sentar nos 9

últimos lugares (Lc 14.10), do que disputar as melhores posições. Contudo, se lhes for confiado um trabalho do qual se sentem pouco capazes ou indignos de o fazer, não devem se esquivar de aceitá-lo por humildade, mas ir adiante no desafio sabendo que o poder de Cristo nos aperfeiçoa na fraqueza (2 Cor 12.9). Mesmo em seu relacionamento com os de fora, os irmãos e irmãs devem poder mostrar a humildade de seu Mestre. Devem receber bem toda oportunidade de fazer um serviço humilde que lhes é oferecido, nunca indo atrás do destaque pessoal ou do elogio. Em particular, devem resistir à tentação de se sentir superiores aos demais por terem dedicado suas vidas à religião, entendendo que muitas vezes são muito maiores as dificuldades conhecidas pelos que abraçaram profissões comuns e que as enfrentam com ainda maior dignidade. Amor Dia 27: O Mestre nos diz: Pelo amor que tiverdes uns pelos outros sereis reconhecidos como Meus discípulos (Jo 13.35). O amor é a característica que distingue os verdadeiros seguidores de Cristo. Assim sendo, ele deve ser uma nota de destaque na vida dos que especificamente desejam se consagrar como servos de Cristo. Deus é amor. e, para aqueles cujas vidas estão ocultas com Deus em Cristo (Col 3.3), o amor deverá ser a própria atmosfera a envolver tudo que façam. É este amor que os irmãos e irmãs deverão mostrar para com todos com quem se sentirem naturalmente ligados pelos laços de relacionamento ou amizade. Seu amor por eles crescerá cada vez mais na mesma medida com que o amor de Cristo crescerá dentro deles mesmos. Com igual afeição, amarão aqueles com quem estão unidos na família da comunidade, orando por cada um individualmente e esperando crescer nesse seu amor. Devem estar em guarda contra tudo que ameaçar esse amor, como pensamentos mais amargos, debates desgastantes, gestos enraivecidos, nunca deixando de pedir perdão a todo aquele contra quem tenham pecado. Igualmente, devem procurar estar em amor com outros com quem tenham naturalmente menos afinidades, uma vez que esse amor não advém de uma afeição natural, mas do supremo amor de Deus a eles concedido por sua comunhão com Cristo. Desse modo, ele traz testemunho de sua origem divina. Nosso Senhor queria que a unidade daqueles que acreditam Nele fosse para o mundo um testemunho especial de Sua missão divina. A comunidade deve poder mostrar o espetáculo de uma família cristã cujos membros, mesmo diversificados por etnia, educação e personalidade, estão unidos em uma fraternidade por esse amor sobrenatural. E por último, procurarão também estender esse amor, que se assemelha ao de Cristo a todos aqueles com quem mantém contato em função do trabalho em comum, sejam eles cristãos ou não. E lembrando que o amor é medido pelo sacrifício, alegrar-se-ão em colocar quaisquer bens que possuam, sejam eles físicos, mentais ou espirituais ao serviço daqueles que forem colocados por Deus diante deles para o exercício desse ministério. Alegria Dia 28: Finalmente, os irmãos e irmãs, alegrando-se sempre no Senhor, (Filip 4.4) devem poder demonstrar, em suas vidas, a graça e a beleza da divina alegria. Devem lembrar que são seguidores do Filho do Homem, que comia e bebia (Lc 7:34), que amava os pássaros e as flores, que abençoava as crianças (Mc 10:16), que era amigo dos coletores de impostos e das prostitutas, que sentava na mesa tanto de ricos como de pobres. Assim sendo, colocarão de lado a indiferença ao tratarem com tudo aquilo que é de interesse das pessoas simples, e esquecendo toda tristeza e melancolia, irão se rejubilar com eles no riso e na amizade. Alegrar-se-ão com a beleza do mundo criado por Deus e com todas as criaturas vivas, a nenhuma coisa considerando profana ou imunda. (At 10.28). Deverão saber conviver com todo o tipo de pessoas, procurando eliminar suas tristezas e levando ânimo a todas as criaturas de Deus. Trarão consigo felicidade 10

e uma paz interior que poderá ser sentida por todos, mesmo que não reconheçam de onde ela provém. Dia 29: Esta alegria é igualmente uma dádiva divina e ela provém exclusivamente da comunhão pessoal com Deus em Cristo. Por essa razão, ela permanece presente mesmo nos dias sombrios de dificuldade, encorajando diante das decepções da vida e trazendo serenidade e confiança nos momentos de enfermidade e sofrimento. Aqueles que a possuem sabem conformar-se com o vilipêndio, o escárnio, os insultos, as perseguições e os padecimentos por causa de Cristo, (II Cor 12.10) ; pois quando forem fracos, aí então, estarão sendo fortes.. Dia 30: Essas três notas, humildade amor e alegria, que devem marcar as vidas de irmãos e irmãs, são graças celestiais, as quais somente podem ser alcançadas pela generosidade divina. Nunca poderão ser conseguidas pelos próprios esforços. São dádivas miraculosas do Espírito Santo. Contudo, é da vontade de Cristo, nosso Mestre, operar milagres através de Seus servos. Dessa forma, quando se esvaziarem de si mesmos e inteiramente se entregarem a Ele, eles se tornarão vasos escolhidos do Senhor e instrumentos eficazes de Sua obra poderosa, sendo capazes de realizar ainda muito mais do que poderiam pedir ou imaginar. (Ef 3.20.) 11

Uma Reconstrução da Regra Primitiva de São Francisco 1210 ******************************************************************** Em o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. O Irmão Francisco aqui solenemente promete obediência e reverência ao Papa Inocêncio e a seus sucessores. 1 - A Regra de Vida dos Irmãos é esta: viver em obediência, em castidade e sem propriedades, seguindo o ensinamento e os passos de Cristo que nos diz Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dê aos pobres e assim terás um tesouro nos céus. E então venha me seguir; e Se alguém quiser me seguir, que negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me; e também: Se alguém quiser me seguir e não abandonar a seu pai e sua mãe, e a seus filhos, irmãos e irmãs, e ainda, a sua própria vida, ele não poderá ser meu discípulo; e ainda Todo aquele que deixar seu pai, sua mãe, irmãos e irmãs, esposa filhos e sua casa por amor de mim, receberá cem vezes mais do que tudo isso e herdará a vida eterna. 2 - Se alguém, por inspiração divina, desejar aceitar essa vida e juntar-se aos Irmãos, que seja bem recebido por eles e, para isso, deverá vender todos seus bens e doar zelosamente tudo aos pobres. Que todos os Irmãos vistam roupas rudes, produzidas com pano de saco ou outro tipo de roupa velha, isto tudo com a bênção de Deus, pois o Senhor nos diz: Aqueles que andam vestidos com todo o aparato e vivem em delícias habitam as casas dos reis. Eles podem comer de tudo que é colocado diante deles, conforme o Evangelho; portanto, vós deveis vos alimentar do que é colocado diante de vós. 3 - Nenhum dos Irmãos terá qualquer poder ou dominação, especialmente entre eles mesmos. Como o Senhor nos diz no Evangelho: Os príncipes dos Gentios exercem domínio sobre eles e os que entre eles são grandes exercem autoridade sobre eles, mas isso não sucederá entre os Irmãos. Pois quem quiser ser o maior entre os Irmãos, que seja ministro e servo deles; e aquele que for o maior entre eles que seja como o mais jovem de todos. E que ninguém seja chamado de irmão, mas todos de igual modo sejam chamados de Irmãos Menores. E que todos lavem os pés uns dos outros. 4 - Todos os Irmãos, onde quer que estiverem vivendo junto com outras pessoas para servir e trabalhar por elas, não serão mordomos nem governantes e não terão nenhum poder de mando sobre a casa daqueles a quem eles servem. Não exercerão nenhum cargo que possa causar escândalo ou traga inquietação de alma, mas antes serão submissos e estarão subordinados a todos aqueles que estiverem naquela casa. E que todos os irmãos que saibam trabalhar, que trabalhem e utilizem toda habilidade que tiverem aprendido, contanto que seja ela honesta e não seja contrária ao bem de sua alma. E por seu trabalho receberão as coisas de que precisam para atender suas necessidades, mas não receberão dinheiro. E ainda, quando assim for necessário, que mendiguem por seu sustento, junto com os demais irmãos. 5 - Todos os Irmãos deverão procurar seguir a humildade e a pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo, lembrando sempre que não buscamos possuir nada neste mundo, exceto aquilo de que nos fala o Apóstolo: Se estivermos alimentados e vestidos, com isso nos contentemos. E que os Irmãos busquem o regozijo por estar no convívio dos desprezados, vivendo entre os pobres e fracos, no meio dos doentes e leprosos, e andando junto aos que mendigam pelas estradas. E quando necessário, que peçam doações da caridade, em nada se envergonhando por isso. 6 - E todos os Irmãos deverão ter cuidado para não falar mal de ninguém e de não brigar; em vez disso, que guardem momentos de silêncio para que Deus conceda Sua Graça sobre eles. Não devem ter disputas entre si, nem com os demais, cuidando para sempre responder com humildade, dizendo: Nós somos servos inúteis. E que os Irmãos se amem entre si, conforme nos diz o Senhor: Meu Mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. 12

7 - Quando os irmãos forem pelo mundo, não deverão levar nada consigo: nem documentos de valor, nem bolsa, nem pão, nem dinheiro, nem cajado. E em toda casa em que entrarem, primeiro dirão: Que a paz seja sobre esta casa. E nesta mesma casa irão permanecer bebendo e comendo do que lhes for fornecido. Não deverão revidar ao mal, mas para quem lhes esbofetear um lado da face, oferecerão também o outro lado; e a quem lhes tomar a capa, não o impedirão de levar também a túnica. Que os Irmãos dêem o que lhes for pedido por qualquer um; e a quem lhes tomar algum bem, não peçam para que o devolvam. 8 - Que todos os Irmãos, onde quer que estejam, lembrem que deram a si mesmos e entregaram seus corpos ao Senhor Jesus Cristo, por amor de Quem, eles deverão se sujeitar a seus inimigos, visíveis e invisíveis. Conforme diz o Senhor: Quem perder sua vida por amor de mim, há de têla de volta como vida eterna. 9 - Todos os Irmãos serão católicos, viverão e falarão como católicos. Se, entretanto, alguém se desviar da fé e da vida católica, por palavra ou ação, e não se redimir de seu erro, que seja expulso de nossa Fraternidade. Que tratemos a todos os clérigos e religiosos como nossos superiores em tudo que se refere à salvação da alma e que não for contrário a nossa religião; e respeitemos sua ordem, seu cargo e seu trabalho no Senhor. 10 - E que seja esta a exortação ou outra semelhante, acompanhada de louvor, a ser proclamada por todos meus Irmãos, sempre que o quiserem e entre seja quem for estiverem, com a bênçãos de Deus: Com temor e honra, louvor e bênção, dai graças e adorai ao Senhor Deus Todo Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador de todas as coisas. Arrependei vos e oferecei frutos dignos do arrependimento, sabendo que em breve haveremos de morrer. Dai e vos será dado. Perdoai e serei perdoados. Se não perdoardes os pecados dos homens, também o Senhor nosso Deus não haverá de vos perdoar os pecados. Confessai os vossos pecados. Abençoados são aqueles que morrem em penitência, pois habitarão o Reino de Deus. Ai daqueles que morrem impenitentes, pois se tornarão filhos do diabo, para quem eles trabalham, e acabarão indo para as chamas eternas. Vigiai e fugi de todo mal, perseverando até o fim naquilo que é bom. Em nome do Senhor, eu suplico a todos os Irmãos que aprendam o propósito e o significado dessas coisas que foram escritas neste caminho da vida, para a salvação de nossas almas e para trazê-las freqüentemente à memória. E eu louvo ao Deus, Triúno Todo Poderoso, que ele possa abençoar a todos aqueles que ensinam, apreendem, guardam ou retêm essas palavras em seu coração, sempre que eles lembrarem e realizarem essas coisas que estão aqui escritas para nossa salvação. E eu imploro a eles, beijando seus pés, que respeitem, aprendam e guardem todas essas coisas. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, é agora, e será sempre, por todos os séculos. Amém. 13

Regra bulada ******************* Introdução Damos-lhe esse nome porque foi aprovada pela bula Solet annuere de Honório III (1223). Nunca houve dúvidas quanto à autenticidade nem quanto ao texto desta Regra. São numerosíssimos os manuscritos medievais que a trazem, mas nem precisamos deles: temos o pergaminho original da bula, que inclui a Regra, e está guardado em Assis (com muitas fotocópias modernas espalhadas por nossos conventos). Nos arquivos do Vaticano também ficou uma cópia, com pequenas diferenças devidas a falhas dos amanuenses. É a Forma de Vida que vale deste 1223 para todos os Frades Menores e, por isso, é amplamente conhecida por todos os franciscanos, que a sabem de cor.. Cap. I Em nome do Senhor! Começa a vida dos Frades Menores A Regra e vida dos Frades Menores é esta, a saber: observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo vivendo em obediência, sem próprio e em castidade. Frei Francisco promete obediência e reverência ao senhor papa Honório e a seus sucessores canonicamente eleitos e à Igreja Romana. E os outros frades estejam obrigados a obedecer a Frei Francisco e a seus sucessores. Cap. II Sobre os que querem receber esta vida e como devem ser recebidos Se alguns quiserem receber esta vida e vierem aos nosso frades, mandem-nos aos seus ministros provinciais, aos quais somente e não a outros se conceda a licença de receber frades. Mas os ministros examinem-nos diligentemente sobre a fé católica e os sacramentos da Igreja. E se crerem em todas essas coisas e as quiserem confessar fielmente e observar firmemente até o fim e não têm mulheres ou, se as têm, e já entraram as mulheres em um mosteiro ou lhes deram licença com autorização do bispo diocesano, emitido já o voto de continência, e que sejam as mulheres daquela idade que delas não possa originar-se suspeita, digam-lhes a palavra do santo Evangelho (cfr. Mt 19,21, par.) que vão e vendam todas suas coisas e procurem distribuí-las aos pobres. O que, se não puderem fazer, basta-lhes a boa vontade. E guardem-se os frades e seus ministros de serem solícitos por suas coisas temporais, para que façam livremente de suas coisas tudo que o Senhor lhes inspirar. Contudo, se precisar de conselho, tenham licença os ministros de enviá-los a alguns temerosos de Deus, com cujo conselho seus bens sejam dados aos pobres. Depois concedam-lhes os panos da provação, a saber, duas túnicas sem capuz e o cíngulo, e bragas e um caparão até o cíngulo, a não ser que aos mesmos ministros alguma vez pareça melhor outra coisa, segundo Deus. Mas, acabado o ano da provação, sejam recebidos na obediência, prometendo observar sempre esta vida e regra. E de nenhum modo lhes será lícito sair desta religião, conforme o mandato do senhor Papa, porque, segundo o santo Evangelho, ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus (Lc 9,62). E os que já prometeram obediência tenham uma túnica com capuz e outra sem capuz, os que quiserem ter. E os que são forçados por necessidade possam levar calçado. E todos os frades vistam-se de roupas vis e possam remendá-las com sacos e outros retalhos com a bênção de Deus. Os quais admoesto e exorto a que não desprezem nem julguem os homens que virem vestidos com roupas finas e coloridas, usando comidas e bebidas delicadas, mas antes julgue e despreze cada um a si mesmo. 14

Cap. III Do ofício divino e do jejum, e como os frades devem ir pelo mundo Os clérigos rezem o ofício divino segundo a ordenação da Igreja Romana, exceto o saltério, pelo que poderão ter breviários. Os leigos digam vinte e quatro Pai-nosso por matinas, por laudes cinco, por prima, terça, sexta, noa, por cada uma destas sete, pelas vésperas porém doze, pelas completas sete; e rezem pelos defuntos. E jejuem desde a festa de Todos os Santos até o Natal do Senhor. Mas a santa quaresma que começa na Epifania até os quarenta dias contínuos, que o Senhor consagrou por seu santo jejum (cfr. Mt 4,2), os que voluntariamente a jejuam sejam abençoados pelo Senhor, e os que não quiserem não sejam obrigados. Mas jejuem a outra, até a Ressurreição do Senhor. Mas em outros tempos não tenham que jejuar, senão na sexta-feira. Mas em tempo de manifesta necessidade não estejam obrigados os frades ao jejum corporal. Aconselho, porém, admoesto e exorto meus frades no Senhor Jesus Cristo que, quando vão pelo mundo, não litiguem nem contendam com palavras (cfr. 2Tm 2,14), nem julguem os outros; mas sejam amáveis, pacíficos e modestos, mansos e humildes, falando a todos honestamente, como convém. E não devem cavalgar, senão obrigados por manifesta necessidade ou doença. Em qualquer casa em que entrem, digam primeiro: Paz a esta casa (cfr. Lc 10,5). E segundo o santo Evangelho, seja licito comer de todos os alimentos que lhes servirem (cfr. Lc 10,8). Cap. IV Que os frades não recebam pecúnia Mando firmemente a todos os frades que de nenhum modo recebam dinheiro ou pecúnia por si ou por intermediário. Mas, para as necessidades dos enfermos e para vestir os outros frades, os ministros apenas e os custódios, por meio de amigos espirituais, tenham solícito cuidado, segundo os lugares e tempos e frias regiões, como lhes parecer servir à necessidade; sempre salvo, como foi dito, que não recebam dinheiro ou pecúnia. Cap. V Do modo de trabalhar Os frades a quem o Senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem fiel e devotamente, de modo que, afastando o ócio inimigo da alma, não extingam o espírito da santa oração e devoção, ao qual as outras coisas temporais devem servir. Como mercê do trabalho recebam para si e seus irmãos o necessário para o corpo, menos dinheiro ou pecúnia, e isso humildemente, como convém a servos de Deus e seguidores da santíssima pobreza. Cap. VI Que de nada se apropriem os frades, do pedir esmolas e dos frades enfermos Os frades de nada se apropriem, nem casa, nem lugar, nem coisa alguma. E como peregrinos e forasteiros (cfr. 1Pd 2,11) neste século, servindo ao Senhor em pobreza e humildade, vão por esmola confiadamente, e não devem envergonhar-se, porque o Senhor se fez pobre por nós neste mundo (cfr. 2Cor 8,9). Esta é aquela eminência da altíssima pobreza que vos constituiu, caríssimos irmãos meus, herdeiros e reis do reino dos céus, vos fez pobres de coisas e sublimou em virtudes (cfr. Tg 2,5). Seja esta a vossa porção, que leva à terra dos viventes (cfr. Sl 141,6). À qual, prendendo-vos totalmente, nada mais queirais possuir para sempre embaixo do céu, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E, onde quer que estão e se encontrarem os frades, mostrem-se familiares mutuamente entre si. E com segurança manifeste um ao outro sua necessidade, porque, se a mãe ama e nutre o seu filho (cfr. 1Ts 2,7) carnal, quanto mais diligentemente deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual? E se algum deles cair na doença, os outros frades devem servi-lo como quereriam ser servidos (cfr. Mt 7,12). Cap. VII Da penitência a impor-se aos frades que pecam Se alguns dos frades, instigando o inimigo, pecarem mortalmente, naqueles pecados dos quais foi ordenado entre os frades que se recorra só aos ministros provinciais, tenham os preditos frades que recorrer a eles, o mais depressa que puderem, sem demora. Os próprios ministros, se são presbíteros, imponham-lhes penitência com misericórdia; mas, se não forem presbíteros, 15

façam que se lhes imponha por outros sacerdotes da Ordem, como lhes parecer melhor segundo Deus. E devem cuidar de não se irar nem perturbar pelo pecado de alguém, porque a ira e a conturbação impedem a caridade em si e nos outros. Cap. VIII Da eleição do ministro geral desta fraternidade e do capítulo de Pentecostes Todos os frades sejam sempre obrigados a ter um ministro geral e servo de toda a fraternidade e tenham que obedecer-lhe firmemente. Quando ele falecer, faça-se a eleição do sucessor pelos ministros provinciais e custódios no capítulo de Pentecostes, em que os ministros provinciais tenham sempre que se reunir juntos, onde quer que for estabelecido pelo ministro geral; e isso uma vez cada três anos ou em outro termo maior ou menor, como for mandado pelo predito ministro. E se em algum tempo parecer à totalidade dos ministros provinciais e dos custódios que o predito ministro não é suficiente para o serviço e a utilidade comum dos frades, tenham os preditos frades, aos quais foi dada a eleição, em nome do Senhor, a eleger outro para seu custódio. Mas depois do capítulo de Pentecostes possa cada um dos ministros e custódios, se quiserem e lhes parecer oportuno, convocar uma vez seus frades a capítulo, no mesmo ano e em suas custódias. Cap. IX Dos pregadores Os frades não preguem na diocese de um bispo quando lhes for proibido por ele. E nenhum dos frades se atreva absolutamente a pregar ao povo, se não tiver sido examinado e aprovado pelo ministro geral desta fraternidade, e por ele lhe tiver sido concedido o ofício da pregação. Admoesto também e exorto os mesmos frades a que, na pregação que fazem, sejam examinadas e castas suas palavras (cfr. Sal 11,7; 17,31), para a utilidade e edificação do povo, anunciandolhes os vícios e as virtudes, a pena e a glória, com brevidade de sermão; porque palavra abreviada fez o Senhor sobre a terra (cfr. Rm 9,28). Cap. X Da admoestação e correção dos frades Os frades que são ministros e servos dos outros frades visitem e admoestem seus frades e os corrijam humilde e caridosamente, não lhes prescrevendo o que for contra sua alma e nossa regra. Mas os frades que são súditos lembrem que por Deus negaram suas próprias vontades. Por isso lhes prescrevo firmemente que obedeçam a seus ministros em tudo que prometeram ao Senhor observar e que não é contrário a sua alma e à nossa regra. E onde houver frades que saibam e conheçam que não podem observar a regra espiritualmente, devam e possam recorrer a seus ministros. Mas os ministros os recebam caritativa e benignamente e tenham tanta familiaridade com eles que possam falar-lhes e agir como senhores com seus servos; pois assim deve ser, que os ministros sejam servos de todos os frades. Mas admoesto e exorto no Senhor Jesus Cristo que se guardem os frades de toda soberba, vanglória, inveja, avareza (cfr. Lc 12,15), cuidado e solicitude deste século (cfr. Mt 13,22), detração e murmuração, e não cuidem os que não sabem letras de aprender letras; mas atendam a que sobre todas as coisas devem desejar ter o Espírito do Senhor e sua santa operação, orar sempre a ele de coração puro e ter humildade, paciência na perseguição e na enfermidade e amar os que nos perseguem e repreendem e acusam, porque diz o Senhor: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam (cfr. Mt 5,44). Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque deles é o reino dos céus (Mt 5,10). Mas o que perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10,22). Cap. XI Que os frades não entrem nos mosteiros de monjas Mando firmemente a todos os frades não tenham relações suspeitas ou conselhos de mulheres, e não entrem nos mosteiros de monjas, fora aqueles a quem se concedeu licença especial pela sé apostólica; nem se façam compadres de homens ou mulheres para que, nessa ocasião, não se origine escândalo entre os frades ou sobre os frades. 16

Cap. XII Dos que vão entre os sarracenos e outros infiéis Qualquer dos frades que, por divina inspiração, quiser ir entre os sarracenos e outros infiéis, peçam daí licença a seus ministros provinciais. Mas os ministros a nenhum concedam licença de ir senão aos que virem ser idôneos para enviar. Para isso imponho por obediência aos ministros que peçam ao senhor papa um dos cardeais da santa Igreja Romana que seja governador, protetor e corretor desta fraternidade, para que sempre súditos e sujeitos aos pés da mesma santa Igreja, estáveis na fé (cfr. 1Col 1,23) católica, observemos a pobreza e humildade e o santo evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que prometemos firmemente. 17

Regra de vida ******************** Aplicando o espírito dos Princípios da Primeira Ordem à nossa vida diária e ao nosso trabalho, e reforçando nossos votos de pobreza, castidade e obediência, nós, membros da Primeira Ordem nos comprometemos a seguir a Regra de Vida a seguir: ORAÇÃO Estar freqüentemente presente na Eucaristia, assumindo a comunhão diária como seu ideal. Estar presente nos Ofícios, conforme celebrados em cada casa, e fazer as Orações privadas quando impossibilitado de orar em comunidade. Normalmente serão a Oração Matutina, a Oração do Meio Dia, a Oração Vespertina e a Oração Noturna. Dedicar pelo menos uma hora por dia em oração, em adição ao tempo usado na Eucaristia e nos Ofícios. Quando longe de casa, observar a Oração Matutina e Vespertina, guardando pelo menos meia hora por dia para oração e estar presente na Eucaristia assim que surgir uma oportunidade. ESTUDO Dedicar algumas horas por semana ao estudo. TRABALHO Desenvolver um trabalho manual conforme determinado pela liderança da casa. SILÊNCIO Observar as regras determinadas para o silêncio. JEJUM Observar as regras de jejum conforme os costumes da casa e não excedê-las sem permissão. PENITÊNCIA Viver uma vida de penúria; diariamente examinar a consciência e confessar os pecados a Deus; e tendo em especial estima o sacramento da confissão e absolvição pelo qual somos limpos do pecado e renovados em uma vida de Graça, buscar o benefício da absolvição conforme exigido pela consciência. RETIRO Fazer um Retiro pelo menos uma vez por ano. DESCANSO Observar um feriado por ano, conforme definido nos Estatutos da Província. A REGRA Estar sempre familiarizado com os documentos da Sociedade pela leitura da Regra. 18

Testamento de São Francisco ****************************** Introdução Depois da Regra Bulada, o Testamento é o documento melhor e mais amplamente documentado de São Francisco. Ninguém duvida de sua autenticidade. O próprio título Testamento procede do texto do Santo. Sabe-se que São Francisco o ditou em seus últimos dias, depois de ter discutido vários pontos com os frades. Ele queria que fosse lido sempre depois da Regra, e isso sempre foi feito. Mas, desde o início, houve discussões a respeito do valor obrigatório desse documento. Já Gregório IX declarou, em 1230, que o Testamento não era obrigatório. Mas não há dúvida de que ele expressa de maneira muito candente, o pensamento do Santo sobre a sua própria vida e a que Deus lhe havia inspirado para os Frades Menores. O Senhor assim deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: porque, como estava em pecados, parecia-me por demais amargo ver os leprosos. E o próprio Senhor me levou para o meio deles, e fiz misericórdia com eles. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo; e depois parei um pouco e saí do século. E o Senhor me deu tal fé nas igrejas, que assim simplesmente orava e dizia: Nós te adoramos, Senhor Jesus Cristo, também em todas as tuas igrejas, que estão em todo o mundo, e te bendizemos, porque por tua santa cruz remiste o mundo. Depois o Senhor me deu e dá tanta fé nos sacerdotes, que vivem segundo a forma da santa Igreja Romana, por causa de sua ordem, que, se me fizerem perseguição, quero recorrer a eles mesmos. E se tivesse tanta sabedoria, quanta teve Salomão (cfr. 3Rs 4,30-31), e encontrasse sacerdotes pobrezinhos deste século, nas paróquias onde moram não quero pregar além da sua vontade. E a eles e todos os outros quero temer, amar e honrar como a meus senhores. E não quero considerar pecado neles, porque enxergo neles o Filho de Deus, e são meus senhores. E o faço por isto: porque nada vejo corporalmente neste século do mesmo Filho de Deus, senão o santíssimo Corpo e o seu santíssimo Sangue, que eles recebem e só eles administram aos outros. E esses santíssimos mistérios sobre todas as coisas quero que sejam honrados, venerados e colocados em lugares preciosos. Os santíssimos nomes e suas palavras escritas, onde quer que os encontre em lugares ilícitos, quero recolher e rogo que sejam recolhidos e colocados em lugar honroso. Também a todos os teólogos e aos que nos administram as santíssimas palavras divinas devemos honrar e venerar como a quem nos administra espírito e vida (cfr. Jo 6, 64). E depois que o Senhor me deu frades, ninguém me ensinava o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que deveria viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu o fiz escrever em poucas palavras e simplesmente, e o senhor papa confirmou para mim. E os que vinham tomar a vida davam aos pobres tudo que podiam ter (Tob 1,3), e estavam contentes com uma única túnica, remendada por dentro e por fora, com o cíngulo e as bragas. E não queríamos ter mais. Os clérigos dizíamos o Ofício segundo os outros clérigos, os leigos diziam: Pai-nosso (Mt 6,9-13); e ficávamos nas igrejas muito de boa vontade. E éramos iletrados e súditos de todos. E eu trabalhava com minhas mãos (cfr. At 20,34), e quero firmemente que todos os outros frades trabalhem em trabalho que convém à decência. Os que não sabem, aprendam, não pela cobiça de receber o preço do trabalho mas pelo exemplo e para repelir a ociosidade. 19

E quando não nos derem o preço do trabalho, recorramos à mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta. Uma saudação me revelou o Senhor, que disséssemos: O Senhor te dê a paz (cfr. 2Ts 3,16). Cuidem os frades que de nenhum modo recebam as igrejas, habitações pobrezinhas e tudo que para eles se constrói, se não forem como convém à santa pobreza, que na Regra prometemos, sempre aí se hospedando como forasteiros e peregrinos (cfr. 1Pd 2, 11). Mando firmemente por obediência a todos os frades que, onde quer que estejam, não se atrevam a pedir letra alguma na Cúria Romana, por si ou por pessoa intermediária, nem para alguma igreja ou algum outro lugar, nem por aparência de pregação nem por perseguição de seus corpos; mas onde quer que não forem recebidos, fujam para outra terra, para fazer penitência com a bênção de Deus. E firmemente quero obedecer ao ministro geral desta fraternidade e ao outro guardião que lhe aprouver dar-me. E de tal modo quero estar preso em suas mãos que não possa ir ou fazer mais do que a obediência e a sua vontade, porque é meu senhor. E embora seja simples e enfermo, contudo sempre quero ter um clérigo que me faça o ofício como está contido na Regra. E todos os outros frades tenham que obedecer assim aos seus guardiães e a fazer o ofício segundo a Regra. E os que se descobrisse que não fazem o ofício segundo a Regra, e quisessem variar de outro modo, ou não fossem católicos, todos os frades, onde quer que estejam, sejam por obediência obrigados a, onde quer que encontrem algum desses, apresentá-lo ao custódio mais próximo desse lugar onde o tiverem encontrado. E o custódio seja firmemente obrigado por obediência a guardá-lo fortemente, como um homem em prisão de dia e de noite, de modo que não possa ser arrancado de suas mãos, até que em sua própria pessoa o apresente nas mãos de seu ministro. E o ministro firmemente esteja obrigado, por obediência a enviá-lo por meio de tais frades, que o guardem de dia e de noite como homem em prisão, até que o apresentem diante do senhor de Óstia, que é o senhor, protetor e corretor de toda a fraternidade. E não digam os frades: "Esta é outra Regra", porque esta é uma recordação, admoestação, exortação e meu testamento, que eu, Frei Francisco, pequenino, faço a vós, meus irmãos benditos, para isto: para que mais catolicamente observemos a Regra que prometemos ao Senhor. E o ministro geral e todos os outros ministros sejam obrigados por obediência a não acrescentar ou diminuir (cfr. Dt 4,2; 12,32) nestas palavras. E tenham sempre este escrito consigo junto da Regra. E em todos os capítulos que fazem, quando lêem a regra, leiam também estas palavras. E a todos os meus frades, clérigos e leigos, mando firmemente por obediência que não ponham glosas na regra em nestas palavras, dizendo: "Assim devem entender-se". Mas assim como o Senhor me deu de dizer e escrever simples e puramente a regra e estas palavras, assim simplesmente e sem glosa as entendais e com santas obras as guardeis até o fim. E todo aquele que observar estas coisas, no céu seja repleto da bênção do altíssimo Pai e na terra seja repleto da bênção do seu dileto Filho com o santíssimo Espírito Paráclito e todas as virtudes do céu e todos os santos. E eu, Frei Francisco, pequenino servo vosso, tanto quanto posso vos confirmo por dentro e por fora esta santíssima bênção. 20

Sociedade de São Francisco A Constituição ********************************* PREÂMBULO 1.1 A Sociedade de São Francisco foi fundada em 1937 em Cerne Abbas, Dorset, Inglaterra, pela junção da Fraternidade de São Francisco de Assis com a Fraternidade do Amor de Cristo, passando a formar a Primeira Ordem da Sociedade de São Francisco. 1.2 Em 1967, esta Primeira Ordem uniu-se com a comunidade correspondente da Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América, a Ordem de São Francisco, que foi fundada em 1919 (com o nome de A Ordem dos Irmãos Pobres de São Francisco da Congregação Americana de São Francisco). 1.3 Desde 1964, as irmãs da Comunidade de São Francisco, fundada em 1905, tornaram-se parte constituinte da Sociedade e, em 1973, foram reconhecidas como As Irmãs da Primeira Ordem da Sociedade de São Francisco. 1.4 A Segunda Ordem da Sociedade é compreendida por duas irmandades femininas: desde sua fundação em 1947 na Inglaterra, a Comunidade de Santa Clara, e de 1969 até seu fim em 2000, uma comunidade correspondente nos Estados Unidos da América, a Ordem da Clarissas Pobres da Reparação, fundada em 1922. De 1966 até seu término em 1999, a Comunidade Clarissa na Austrália foi reconhecida como uma comunidade da Segunda Ordem em formação. 1.5 A Terceira Ordem, para homens e mulheres em vida secular, surgiu quando as primeiras comunidades franciscanas foram fundadas nas diversas partes da Comunhão Anglicana. A Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco existe desde a própria inserção da Sociedade. DEFINIÇÕES 2.1 A Sociedade de São Francisco é compreendida por: Os Irmãos da Primeira Ordem As Irmãs da Primeira Ordem As Irmãs da Segunda Ordem Os Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem. 2.2 Os Irmãos da Primeira Ordem são chamados A Sociedade de São Francisco (SSF). As Irmãs da Primeira Ordem são chamadas A Comunidade de São Francisco (CSF). Os membros da Segunda Ordem são chamados A Comunidade de Santa Clara (OSC). Os Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem são chamados A Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF). GOVERNO 3.1 Um Protetor Geral de toda a Sociedade será eleito entre os Bispos Protetores Provinciais por um encontro conjunto dos Capítulos da Primeira Ordem, após consulta com a Segunda Ordem e com a Terceira Ordem. 3.2 O trabalho e o governo da Sociedade de São Francisco como um todo estará sob a supervisão do Protetor Geral. 21

3.3 Cada parte constituinte da Sociedade é governada por sua própria Constituição, Estatutos e Capítulos, e por aqueles que são chamados para administrar sua Regra nos serviços da Sociedade. 3.4 É da responsabilidade dos Ministros Gerais da Primeira Ordem, da Abadessa da Segunda Ordem e do Ministro Geral da Terceira Ordem manter em conjunto a unidade da Sociedade. Eles escolherão entre si um Mediador por um período de três anos, ou até que se encerre o cargo qualificado do membro, o que for mais curto, podendo o mesmo ser reeleito. O Mediador convocará o grupo de tempos em tempos conforme surgirem as necessidades. Se não for possível a reunião, seus assuntos serão tratados por correspondências. 3.5 É da responsabilidade do Ministro Provincial da Primeira Ordem de Irmãos, do Ministro Provincial da Primeira Ordem de Irmãs, da Abadessa da Segunda Ordem e do Ministro Provincial da Terceira Ordem manter a unidade da Sociedade em suas Províncias. FINANÇAS 4.1 Nenhum recurso financeiro será mantido ou incorporado pela Sociedade de São Francisco. As partes constituintes da Sociedade são individualmente responsáveis pelas operações financeiras e econômicas. PATRONOS 5.1 A Sociedade se coloca sob o patronato da Abençoada Virgem Maria, de São Francisco de Assis e de Santa Clara de Assis. Suas datas festivas serão observadas com devoção especial. MUDANÇAS NA CONSTITUIÇÃO 6.1 Esta Constituição será alterada por acordo das partes constituintes da Sociedade de São Francisco, sendo essa concordância veiculada pelo Mediador. Este texto foi ratificado pelas partes constituintes da Sociedade de São Francisco em 1998 e inclui emendas adotadas em 2001. 22