ABELHAS SILVESTRES DE UMA ÁREA RESTRITA DA PAISAGEM URBANA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO (BRASIL).

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Transcrição:

ABELHAS SILVESTRES DE UMA ÁREA RESTRITA DA PAISAGEM URBANA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO (BRASIL). Patricia Oliveira-Rebouças (1); Poliana Duarte (2); Thiago Francisco Carneiro Neto (3); Vinina S. Ferreira (4); Kátia M. Medeiros de Siqueira (5) Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, Campus III, Universidade do estado da Bahia 1,2,3,5 Laboratório de Entomologia, Universidade Federal do vale do São Francisco 4 preboucas@uneb.br Resumo: Muito se tem para conhecer sobre a apifauna do semiárido brasileiro e como estão estruturadas as comunidades de abelhas relacionadas ao bioma Caatinga. O objetivo desse estudo foi descrever a guilda das abelhas nativas em uma área urbana, inserida na região semiárida. As abelhas foram coletadas mensalmente, de dezembro de 2011 a dezembro de 2012, por dois dias consecutivos, das 6:00 às 17:00 h, utilizando a metodologia de Sakagami. Foram coletados 802 abelhas pertencentes a 30 gêneros, totalizando 48 espécies inventariadas. Apidae foi a família mais representativa, reseponsável por 84% das espécies de abelhas coletadas, seguida de Colletidae (60; 8%), Megachilidae (33; 4%), Andrenidae(18; 2%) e Halictidae (15, 2%). Quinze espécies de abelhas foram consideradas dominantes. Centris e Xylocopa foram os gêneros que contribuiram com o maior número de espécie, nove e cinco espécies de abelhas resepctivamente. O valor da diversidade (H ) para essse estudo foi igual 2,92 e o índice de uniformidade (J ) foi 0,76 logo, a distribuição do total indivídos para cada espécie se apresentou de forma equitativa, não sendo observado uma dominancia de poucas espécies com muitos indivíduos. A curva de acumulação das espécies apresentou uma leve estabilização, e a utilização de estimadores de riqueza sugerem que entre 78% a 88% das espécies de abelhas nativas presente no local foram coletadas durante esse estudo. Dentre as espécies capturadas, foi feito o registro de Centris xantomelaena, uma endêmica da Caatinga, o fortalece a hipótese de que permanencia de áreas naturais presente na paisagem urbana, contribuem com manutenção da população de abelhas nativas, através da garantia de fontes tróficas e sitios de nidificação para esses organismos. Palavras-Chave: Centris, Xylocopa, Caatinga, Apidae, Centris xantomelaena.

Introdução As abelhas são os principais polinizadores das angiospermas de ambientes naturais e cultivados (Nabhan e Buchmann, 1997). No semiárido nordestino, os serviços de polinização, atrelados aos projetos de irrigação de culturas, garantem uma elevada produção de frutas (Siqueira et al. 2011). Por outro lado, a acelerada fragmentação da vegetação natural, como o que ocorre com a Caatinga, presente no entorno dos cultivos tem reduzido a oferta dos recursos florais e de locais de nidificação, o que pode refletir futuramente na queda da produção de alimentos (Kremen et al. 2002 ). Os inventários da fauna de abelhas, auxiliam na determinação de parametros ecológicos como riqueza e composição de espécies, que são importância para a avaliação de impactos decorrentes das atividades antrópicas e, também, à adoção de técnicas eficientes de manejo e conservação (Klink & Machado, 2005). Informações sobre a diversidade das abelhas no semiárido, estão registardas em alguns levantamentos, principalmente em áreas naturais, realizados em diferentes estados tais como, Bahia (Aguiar & Zanella. 2005, Batalha-Filho et al 2007), Paraíba (Aguiar & Martins, 1997), Pernambuco (Millet-Pinheiro & Schlindwein, 2008), Piauí (Lourenzo et al 2003) e no Rio Grande do Norte (Zanella 2000). O objetivo desse estudo foi descrever a guilda de abelhas silvestres silvestres presente na paisagem urbano de uma área de domínio da Caatinga (Campus III/UNEB), com intuito de agregar informações sobre a diversidade das abelhas nativas do semiárido brasileiro. Metodologia Área de estudo O estudo foi realizado na área do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais DTCS do Campus III UNEB em Juazeiro-Bahia (09º25 43.6 S, 40º32 14 W, 384m). O clima da região segundo a classificação de Köppen é BSwh quente seco, semiárido com precipitação pluviométrica média anual de 542 mm, com as chuvas concentradas no período de outubro a abril (EMBRAPA, 2016). Na área de estudo há um predomínio de vegetação de porte herbáceo-arbustivo, com espécies exôticas e plantas nativas da Caatinga com por exemplo Rhaphiodon echinus (Lamiaceae) e Chamaecrista hispidula (Fabaceae).

Amostragem das abelhas As abelhas foram capturadas por dois coletores, que percorriam trilhas independetes e coletavam as abelhas utilizando redes entomológicas, seguindo a metodologia de Sakagami. As abelhas coletadas foram montadas e identificadas no laboratório de Entomologia do DTCS/UNEB. As coletas foram realizadas no horário de 7:00 às 16:00h, no período de dezembro/2011 a dezembro/2012. Análise de dados As espécies dominantes foram determinadas pela fórmula de Kato et al (1952), onde o limite de dominância (LD) foi obtido pelo inverso do número total de espécies capturadas multiplicadas por 100 (Sakagami & Matsumura 1967). Foram calculados os índices de diversidade de Shannon (H ), índice de equitabilidade de Pielou (J ) e verificada a correlação entre as variáveis bióticas (abundância de abelhas) e abióticas (temperatura, precipitação e umidade) através do coeficiente de correlação de Spearman (ρ), sendo consideradas significativas P<0,05 pelo teste t de Student. O software PAST versão 1.85 (Hammer et al 2001) foi utilizado para essas análises. A constância das espécies de abelhas (C) foi calculada pelo percentual da razão entre o número de meses em que a espécie x foi encontrada e o total de meses amostrados, onde as espécies foram classificadas em três categorias: Constante (C>50%), acessória (C entre 25% e 50%) e acidental (C<25%) (Silveira-Neto et al 1976). A Curva do Coletor foi construída através da acumulação do número de espécies capturadas durante o período de coleta. Além disso, a suficiência amostral da guilda das abelhas nativas foi calculada pelos estimadores não paramétricos de riqueza Chao 1, ACE (Abundance-based Coverage Estimator), Jackknife 1 e Bootstrap através do programa EstimateS 9.1.0 (Colwell 2013). Resultados e discussão Foram coletados 802 individuos de abelhas silvestres pertencentes a 30 gêneros, totalizando 48 espécies foram inventariadas. A família Apidae apresentou a maior abundância de indivíduos (N=674; 84%), seguida da família Colletidae (60; 8%), Megachilidae (33; 4%), Andrenidae(18; 2%) e Halictidae (15, 2%). Apidae foi a família com maior riqueza de espécie (35 espécie). As abelhas da família Apidae também se destacam por sua riqueza de espécie e abundância em outros investários já realizados na região semiárida (Viana 1999, Aguiar & Zanella 2005, Rodarte et al 2008).

Segundo Zanella & Martins 2003, a estrutura da comunidade de abelhas da caatinga é caracterizada por uma baixa riqueza em espécies. Em alguns estudos realizados em áreas restritas da região semiárida do nordeste foram obtidas entre 31 (Viana 1999) e 83 espécies (Zanella 2003), contrastanto com os valores obtidos (101 espécies) por Locatelli & Machado (2001) em brejos de altitude, formações de floresta úmida, encontradas no domínio morfoclimático das caatingas. Os maiores valores de abundância foram observados em dezembro/2011, janeiro, outubro e novembro/12, totalizando 51% de todas as abelhas capturadas nesse estudo (Fig 1). Embora tenha sido resgistrada diminuição no número de abelhas em fevereiro/2012, mês de maior valor de precipitação pluviomátrica acumulada (128,9 mm), não foi constatada correlação significativa (ρ =0,3812; P=0,198) entre essas variáveis (precipitação pluviométrica X abundância). Segundo Zanella & Martins (2003), o período de maior abundância e diversidade de abelhas na Caatinga, não coincide exatamente com o período chuvoso, e sim com o periódo de maior oferta de recursos florais. Figura 1. Número de abelhas, precipitação pluviométrica (mm), temperatura ( o C) e umidade relativa do ar (%) no Campus III/UNEB em Juazeiro, Bahia, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012. Quinze espécies de abelhas foram consideradas dominantes segundo o Limite de Dominancia (LD), estipulado pelo Indice de Kato, sendo consideradas as espécias mais frequentes desse estudo (Fig.2). Destaque para Centris trigonoides, Ceratina (Crewella) sp., Centris tarsata e Perditomorpha sp. sendo as espécies de abelhas que apresentaram abundância relativa acima de 7%. O predomínio dos gêneros Centris e Xylocopa também foi observado nesse estudo, sendo coletadas cinco espécies do

gênero Xylocopa e nove Centris. Corraborando com outros levantamentos realizados no domínio da Caatinga (Zanella & Aguiar 2005). Figura 2. Abundância relativa de espécies de abelhas dominantes, coletadas no Campus III/UNEB em Juazeiro, Bahia, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012. A dominância de Xylocopa em comunidades de abelhas de áreas restritas é justificada por Silva et al (2015) pelo influência da vegetação aberta, relacionada ao hábito desse gênero de abelha em nidificar em troncos mortos, além da sua capacidade de forragear a grandes distâncias. Nove espécies de Centris foram registradas nesse estudo, sendo a maiora também encontrada em outros biomas, a única execção seria Centris xanthomelaena, uma espécie considerada endêmica da Caatinga, e que nesse inventário foi considerada uma abelha dominante e constante. Dados relacionados a contancia das espécies na área de estudo revelam que 52% das espécies coletadas foram consideradas acidentais, 19% acessórias e 29% são constantes. Centris trigonoides, Ceratina (Crewella)sp. e Centris caxiensis foram as espécies que estiveram presentes em 100% dos meses estudados, indicando que provalmente esssas espécies estejam ativas por todo ano neste habitat. O valor do índice de diversidade de Shannon (H ) foi igual a 2,92 e oscilou entre 1,43 e 2,81 ao longo dos meses estudados. O índice de uniformidade de Pielou foi compatível (J =0,76), sendo encontrados valores entre 0,92 e 0,72. Destaque para o mês de dez/11 que apresentou o menor número indivíduos e espécies de abelhas, em contraste com os valores apresentados para o mês de Jan/12, 27 espécies e 159 indivíduos (Tabela 1).

Tabela 1- Número de espécies de abelhas, riqueza, diversidade (Indice de Shannon H ) e equitatividade (Indice de Pielou- J ), coletadas no Campus III/DTCS, município de Juazeiro, Bahia, de dezembro/2011 a dezembro/2012. D J F M A M J J A S O N D Total Riqueza (sp) 5 27 22 19 21 12 9 7 12 16 20 24 18 48 Abundância (N) 9 159 121 44 69 50 16 19 31 53 51 104 84 801 Diversidade (H ) 1,43 2,66 2,64 2,66 2,81 2,19 1,92 1,79 2,28 2,46 2,75 2,28 2,53 2,92 Uniformidade (J ) 0,89 0,81 0,85 0,90 0,92 0,88 0,88 0,92 0,92 0,89 0,92 0,72 0,87 0,76 Dos paramentros utilizados nas análises de diversidade em estudos de comunidades, a combinação entre a riqueza das espécies e a uniformidade ou equidade da distribuição dos indivíduos de cada espécie inventáriada, irão fornecer informações mais robustas de como a comunidade está estruturada (Townsend et al 2006). Nesse estudo a distribuição do número de indivídos para cada espécie, ou seja a uniformidade, foi maior que 0,7, que é o limite aceito para o indice de Pielou (J ), demosntrando que não havia uma dominancia de poucas espécies com muitos indivíduos. O número de espécies de abelhas silvestres que utilizam os recursos florais disponibilizados na área do Campus III (UNEB) foi elevado para uma área urbana, quando comparamos aos valores de riqueza encontrados em estudos em áreas naturais do semiárido como, Ibiraba-BA (31 espécie; Viana 1999); Serra Negra-RN (83; Zanella 2003); Itatim-BA (60; Aguiar & Zanella 2005). A curva de acumulação das espécies (ou curva do coletor) de abelhas do Campus III apresentou tendência progressiva à estabilização (Fig.3), indicando que houve suficiência amostral das espécies de Apoidea. Em função da leve estabilização da curva de acumulação das espécies, foram utilizados estimadores de riqueza para os dados amostrais da comunidade estudada.

Figura 3- Número acumulado de espécies de Apoidea em cada mês de coletas no Campus III/DTCS, município de Juazeiro, Bahia, de dezembro/2011 a dezembro/2012. Os resultados obtidos através das análises com estimadores de riqueza não paramétricos variaram entre 54(Bootstrap) e 61(Jack 1) espécies, com valores intermediários de 60(Chao 1) e 58 (ACE) espécies (Fig. 3) para os 13 meses de coleta. Esses índices sugerem que entre 78% a 88% das espécies de abelhas nativas presente no local foram efetivamente amostradas. Entretanto, as curvas dos estimadores também não se estabilizaram, sugerindo que mais amostragens poderiam ser realizadas para elevar o número de espécies estimadas. Conclusões A guilda das abelhas silvestres da área urbana do Campus III (UNEB) é composta predominantemente por espécies do gênero Xylocopa e Centris. Essa guilda está estruturada numa diversidade elevada de espécie de abelhas, que apresenta sua abundância bem distribuida, não sendo observado uma predominancia marcante de uma determinada espécie de abelha. O registro das presença de uma espécie de abelha endêmica da Caatinga, sugere a permanencia de áreas naturais presenvadas, com fontes tróficas e sitios de nidificação, dentro da área estudada, que contribui para manutenção da população de Centris xantomelaena presente na paisagem urbana em estudo. Fomento UNEB (bolsas de Iniciação Científica) Referências

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