Interferências do pulso de inundação nas atividades econômicas da Comunidade da Barra do São Lourenço

Documentos relacionados
MODELAGEM NA ESTIMATIVA DE ÁREA E VOLUME DA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DE CURUAI. Vitor Souza Martins

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai Porção Brasileira Período de Análise: 2012 a 2014

Utilização de imagens de satélite para criação do mapa de uso e cobertura da terra para o estado de Goiás Ano base 2015

Uso da terra na bacia hidrográfica do alto rio Paraguai no Brasil

Segmentação e Classificação. Prof. Herondino

Maria Gonçalves da Silva Barbalho 1 André Luiz Monteiro da Silva 1 Mariana Almeida de Araújo 1 Rafael Antônio França Ferreira 1

Sensoriamento Remoto e Qualidade da Água

ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO MÉDIO-BAIXO CURSO DO RIO ARAGUARI

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM IMAGEM ALOS PARA O MAPEAMENTO DE ARROZ IRRIGADO NO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA SC

Los impactos del Cambio Climático en el Pantanal. Alcides Faria

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

PROCESSAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA CARACTERIZAÇÃO DE USOS DO SOLO

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

Distribuição de formações Pioneiras no Pantanal brasileiro. Victor Danilo Manabe¹ João dos Santos Vila da Silva¹

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR. GROSSA

45 mm ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DE LAGOAS NA REGIÃO DA BAIXA NHECOLÂNDIA PANTANAL DE MATOGROSSO DO SUL

Perspectivas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sobre a pesquisa em geotecnologias no Pantanal e em Mato Grosso do Sul

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

PREVISÃO DE CHEIAS E SECAS DA EMBRAPA AUXILIA PANTANEIROS

LINHA DE PESQUISA: DINÂMICAS DA NATUREZA

José Hamilton Ribeiro Andrade (1); Érika Gomes Brito da Silva (2)

Promoção: Parceiros: Coordenação técnico-científica: Coordenação Geral:

USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XIDARINI NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM.

VARIÁVEIS GEOMORFOLÓGICAS NO ESTUDO DE DESLIZAMENTOS EM CARAGUATATUBA-SP UTILIZANDO IMAGENS TM-LANDSAT E SIG

OS INCÊNDIOS DE 2010 NOS PARQUES NACIONAIS DO CERRADO

Monitoramento de soja através do uso de imagens de satélite: regiões de Tabaporã e de Sinop, Mato Grosso

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

Classificação de imagens de Sensoriamento Remoto. Disciplina: Geoprocessamento Profª. Agnes Silva de Araujo

MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E DA EXPANSÃO URBANA EM ALFENAS, SUL DE MINAS GERAIS

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO ORAL - GEOPROCESSAMENTO

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - MONITORAMENTO AMBIENTAL

Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal: análise da distribuição e localização de dados

ANÁLISE TEMPORAL DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DE REFLORESTAMENTO NA REGIÃO DO CAMPO DAS VERTENTES-MG

82 ISSN Dezembro, 2010 Corumbá, MS

Mapeamento de áreas ocupadas com cana-de-açúcar no município de Campo Florido por meio de imagens Landsat / TM

ANALISE DA INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS OBTIDAS ATRAVÉS DE SATÉLITES NO AUMENTO DA DENGUE: ESTUDO DE CASO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE, MS.

Mapeamento do risco de deslizamento de encostas na região da Serra do Mar no Estado do Rio de Janeiro

GERAÇÃO DE CARTA DE USO DO SOLO DA ILHA DE ITAPESSOCA, GOIANA, PERNAMBUCO

Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo SP. RESUMO

Mapeamento espaço-temporal da ocupação das áreas de manguezais no município de Aracaju-SE

FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM DA BACIA DO ALTO CURSO OESTE DA BAHIA. Crisliane Aparecida Pereira dos Santos 1, Pablo Santana Santos 2

Análise da acurácia posicional de imagens do Pantanal coletadas pelos sensores CCD/ CBERS-2B e OLI/Landsat-8

Mapeamento de áreas alagadas no Bioma Pantanal a partir de dados multitemporais TERRA/MODIS

Geografia. As Regiões Geoeconômicas do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

ESPACIALIZAÇÃO DE PARÂMETROS DE SOLO EM UMA MICROBACIA DE OCUPAÇÃO URBANA - SOROCABA/SP

IMPORTÂNCIA SOCIOAMBIENTAL DA CONSERVAÇÃO DO PULSO DE INUNDAÇÃO DO PANTANAL. Por: *Débora Fernandes Calheiros.

Sensoriamento Remoto: introdução ao Processamento Digital de Imagens. Patricia M. P. Trindade; Douglas S. Facco; Waterloo Pereira Filho.

ANÁLISE GEOESPACIAL DAS DINÂMICAS AMBIENTAIS DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIO MONTEIRO-PB

¹ Universidade Federal de Campina Grande

RELÁTORIO FINAL DO PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC/CNPq/INPE) Fabiane Ferreira Silva (INPE, Bolsista PIBIC/CNPq)

ANÁLISE DOS DESASTRES NATURAIS OCORRIDOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IJUÍ NO PERÍODO DE 2003 A

Uso de Sensoriamento Remoto na quantificação das lagoas do Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul

Classificação de níveis de degradação de pastagem no município de Rio Negro, MS

ANÁLISE TEMPORAL DO ESPELHO D ÁGUA DO AÇUDE ENGENHEIRO ÁVIDOS (PB) USANDO IMAGENS DE SATÉLITE

Sensoriamento Remoto

Palavras-chave: Sensoriamento remoto, Levantamento fitossociológico.

Ecologia de Paisagem Conceitos e métodos de pesquisa 2012

Fonte:

EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO CERRADO GOIANO: CENÁRIOS POSSÍVEIS E DESEJADOS

Geoprocessamento na Criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural RPPN s

80 ISSN Dezembro, 2009 Corumbá, MS

*Nome/Denominação social *Identificação fiscal nº, *residência/sede em, *Província ; *Município, *Comuna ; *Telefone ; *Telemóvel ; *Fax ; * ;

ANÁLISE ESPACIAL DA GRIPE A (H1N1) NA MESORREGIÃO DO SUL DE MINAS GERAIS

Ciclo diurno das chuvas intensas na Região Metropolitana de Belo Horizonte entre 2007 e 2010.

AVALIAÇÃO DAS PROJEÇÕES DE PRECIPITAÇÃO DOS MODELOS CLIMÁTICOS GLOBAIS DO QUARTO RELATÓRIO DO IPCC PARA O BRASIL *

Uso de Imagens de Satélite para o Estudo do Uso da Terra e Sua Dinâmica

Reis, Claudio Henrique; Amorim, Raul Reis Imprensa da Universidade de Coimbra; RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança

Monitoramento do Comportamento do Rio Paraguai no Pantanal Sul- Mato-Grossense 2007/2008

Figura 10- Mapa da Planície de Inundação para a cota de 15 m, nas proximidades da cidade de Propriá.

ANALISE DE DADOS AMBIENTAIS POR MEIO DO USO DE IMAGENS DE SATÉLITE

Tadeu Corrêa Pinheiro. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Pessanha Ribeiro

APL Serra do Amolar.

CADERNO DE EXERCÍCIOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE CIEÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA DEFESA DE MONOGRAFIA

Sistema de informação geográfica na integração do conhecimento científico e tecnológico da cafeicultura em Minas Gerais

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NO PANTANAL DE AQUIDAUANA COM O USO DE GEOTECNOLOGIAS

Monitoramento do. comportamento do rio Paraguai na região de. Corumbá, Pantanal Sul- Mato-Grossense, 2009/2010. Introdução

ANÁLISE MULTI-TEMPORAL DO USO DA TERRA E DA COBERTURA VEGETAL NO SUL DE MINAS GERAIS UTILIZANDO IMAGENS LANDSAT-5 TM E CBERS-2B

O POTENCIAL TURÍSTICO DAS ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM GOIÁS

Mapeamento urbano por classificação hierárquica semi-automática baseada em objetos

Mapeamento do uso do solo

Unidades de Conservação

SENSORIAMENTO REMOTO APLICADO A ANÁLISE AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO: A CLASSIFICAÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NO MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA-BA

Estudo da Área de Preservação Ambiental do Banhado São José dos Campos E. E. Olímpio Catão Sala 11 sessão 2

Uso de geotecnologias livres para o mapeamento das plantações de Eucalipto, Nossa Senhora do Socorro-SE

SIBGRAPI Campo Grande (MS), Brasil. Hemerson Pistori (UCDB) Marcelo Siqueira (UFMS) Marcelo Walter (UFPE) Claudio Jung (UNISINOS)

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Aplicação da metodologia do projeto panamazônia no Pantanal, município de Barão de Melgaço, MT

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Lenda pantaneira. Categories : Reportagens

IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE QUEIMADAS NA ILHA DO BANANAL NO PERÍODO DE 2008 A 2012 UTILIZANDO IMAGENS DO SATÉLITE TM/LANDSAT-5.

Reunião Banco do Brasil

Análise comparativa entre dados georreferenciados da rede hidrográfica do Município de Sete de Setembro RS

PANTANAL: UM PARAÍSO SERIAMENTE AMEAÇADO

Utilização de imagens do satélite CBERS-2 para atualização da base cartográfica de recursos hídricos do estado do Rio Grande do Norte.

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

MORTALIDADE POR CÂNCER NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL, NO PERÍODO DE 1998 A 2007

Utilização de imagens-fração na classificação automática supervisionada da vegetação no município Barão de Melgaço/MT

Transcrição:

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 653-660 Interferências do pulso de inundação nas atividades econômicas da Comunidade da Barra do São Lourenço Maxwell da Rosa Oliveira 1 Beatriz Lima de Paula Silva 1 Aguinaldo Silva 1 Luciana Escalante Pereira 1 Tayrine Pinho de Lima Fonseca 1 Edson Rodrigo dos Santos da Silva 1 1 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Campus do Pantanal UFMS-CPAN Av. Rio Branco, 1270 79304-020 - Corumbá - SP, Brasil max.oliveira2102@gmail.com, beatriz.paula@ufms.br, aguinaldo.silva@ufms.br, l.escalnte.pereira@gmail.com, tayrine.fonseca@hotmail.com, edson_r_silva@yahoo.com, Resumo. O Pantanal é uma planície alagável, com tamanho aproximado de 160.000 km2 abrangendo três países. Dentro deste ecossistema, existem varias comunidades ribeirinhas. O objetivo deste trabalho foi identificar como o pulso de inundação afeta as atividades econômicas da comunidade da Barra do São Lourenço, para isso foram feitas classificações supervisionadas utilizando dois softwares gratuitos, em imagens landsat-5, nas épocas da cheia e seca. Foi visto que este pulso de inundação é essencial para manutenção das atividades econômicas da comunidade. Palavras-chave: Pantanal, comunidades ribeirinhas, inundação, sensoriamento remoto, processamento de imagens. 653

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 654-660 Abstract. Pantanal is a floodplain, with approximate size of 160,000 KM2, and it s spanning three countries. Inside this ecosystem, there are several riverine communities. The objective of this study was to identify how the flood pulse affects the economic activities of the Barra do São Lourenço community, for this, it was made two supervised classification using free software in Landsat -5 images, in times of flood and drought. It has been seen that this flood pulse is essential to maintaining the economic activities of the community. Key-words: Pantanal, riverine communities, inundation, remote sensing, image processing. 1. Introdução O Pantanal é uma planície alagável, com tamanho aproximado de 160.000 km2 (Junk et al., 2006). O seu território abrange três países: Brasil, Bolívia e Paraguai. Dentro do território brasileiro sua área compreende cerca de 140.000 km2, contidos dentro de dois estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Junk et al., 2006). A região possui um ciclo anual de cheia e seca, também chamado de pulso de inundação, responsável por ditar toda a dinâmica ecológica deste bioma. Este pulso pode variar em relação a intensidade da cheia e seca e a duração destas. É ditado por fatores externos e internos. Segundo Moraes et al. (2013), os principais fatores internos que determinam o quanto e qual região irá inundar é a topografia da região, que normalmente apresenta uma baixa declividade, além da densidade e localização das chuvas. Devido sua alta complexidade, se torna quase impossível prever sua intensidade, mas a partir de mapeamentos das inundações anteriores pode-se prever quais locais podem ser atingidos. Dentro desse complexo sistema, encontram-se algumas comunidades ribeirinhas e tradicionais. Estas comunidades podem ser conceituadas dentro dos dois termos. Pode ser entendida como comunidade ribeirinha, porque de acordo Silva e Silva (1995) comunidades ribeirinhas são definidas como as que residem às margens do rio, com uma afinidade maior a água do que com a terra, tendo como atividade predominante a pesca. E também se enquadram dentro da definição de tradicionais, pois possuem como base econômica, atividades pautadas no conhecimento e no uso de recursos naturais renováveis, fazendo com que estes possam ser considerados como comunidades tradicionais de acordo com Diegues (2000). Dentre outras comunidades distribuídas no território pantaneiro, existem as localizadas as margens do Rio Paraguai, no trecho que corta a borda Oeste do Pantanal, estas possuem cerca de 400 ribeirinhos (Siqueira, 2015). Estes em sua maioria têm como principais atividades econômicas a pesca profissional artesanal e a coleta e comercialização de iscas vivas, porém algumas famílias também utilizam a criação de animais, produção de horta, e o extrativismo para complementar a renda familiar ou para consumo próprio (Almeida e Silva, 2011; Amâncio, et al. 2008). 2. Objetivo Esse trabalho tem por finalidade identificar as interferências ocasionadas pelo pulso de inundação, nas atividades econômicas da comunidade ribeirinha Barra do São Lourenço. 3. Material e Métodos A Comunidade Barra do São Lourenço está localizada nas coordenadas 17 54 38 S e 57 27 32 W, à margem esquerda do Rio Paraguai (Figura 1). A comunidade está inserida dentro da sub-região pantaneira denominada de Paraguai. Próximo a comunidade tem-se a presença da confluência dos rios Cuiabá e Paraguai, a Serra do Amolar, além das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Acurizal e Penha (Siqueira, 2015). Segundo Almeida e Silva (2011), no ano de 2011 habitavam na comunidade 19 famílias e cerca de 77 pessoas, sendo em 654

6º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Cuiabá, MT, 22 a 26 de outubro 2016 Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 655-660 sua maioria adultos com faixa etária de 22 a 60 anos. A principal atividade econômica é a coleta de iscas vivas, seguida pela pesca e pela agricultura em pequena escala, além do extrativismo (Almeida e Silva, 2011). Figura 1 Localização da comunidade ribeirinha Barra do São Lourenço. A área de estudo foi definida a partir das regiões utilizadas pelos ribeirinhos para suas atividades econômicas durante os trabalhos de campo. A identificação dos locais utilizados pela comunidade foi realizada pelos próprios moradores. Para isto, foi disponibilizado a estes imagens impressas onde os mesmos puderam especificar as áreas usadas pela comunidade em suas atividades (Figura 2). Figura 2 Ribeirinhos da comunidade Barra do São Lourenço, identificando em imagens impressas, pontos de realização das suas atividades econômicas. Processamento de Dados A seleção dos anos analisados foi feita a partir de pesquisas bibliográficas e consulta aos dados do Serviço de Sinalização Náutica Do Oeste (ssn6). 655

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 656-660 Devido ao grande acervo de imagens disponíveis gratuitamente, os dados de sensoriamento remoto utilizados são do satélite Landsat-5, órbita 227, ponto 072. Utilizando-se de fontes bibliográficas, dados de altura pluviométrica do Rio Paraguai e qualidade das imagens, foram selecionados os anos de 1988 e 1989 como os mais representativos para cheia e os anos de 2005 e 2007 os mais representativos para seca. Posteriormente, através de uma segunda análise realizada sobre as imagens ficaram definidos os anos de 1988 e 2005 para o desenvolvimento da pesquisa. As imagens foram adquiridas por meio do catálogo de imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sendo datadas respectivamente de 15/05/1988 3 03/09/2005. Após a definição dos anos, as imagens foram baixadas para serem trabalhadas em programas de Sistema de Informação Geográfica (SIG). O processamento dos dados foi realizado em softwares livres de Sistema de Informação Geográfica (SIG), sendo usados o Qgis versão 2.10 e Spring versão 5.2. No Qgis foi realizado todo o pré-processamento da imagem, que consiste em fazer as composições coloridas das bandas e georreferenciar as imagens. No Spring foi realizada a classificação das imagens pelo método de classificação supervisionada. O processo de classificação do Spring conta uma pré etapa de segmentação. A segmentação foi feita utilizando o método de Crescimento de Regiões, com as configurações de 5 de similaridade e 5 de área (pixel). Com as imagens devidamente segmentadas iniciou-se o processo de treinamento, que consiste em coletar áreas amostrais para cada alvo que pretende-se analisar, para cada classe foram coletadas em média 30 amostras, podendo variar de acordo com a abundância das classes na imagem. Na classificação adotou-se o método Bhattacharya, tendo 99% como limiar de aceitação, a escolha deste classificador se deu, devido a existência de trabalhos já comprovando sua eficácia na classificação supervisionada (Abrão et al., 2015). 4. Resultados e Discussão A comunidade da Barra do São Lourenço está localizada à margem esquerda do Rio Paraguai e, por isso, está sujeita as consequências do ciclo de cheias do Pantanal. Como pode ser visto na Figura 03 a diferença do nível de água em períodos de seca e cheia registrada em trabalhos de campo na região da pesquisa. Figura 03- Apresenta como a cheia pode interferir nas atividades da comunidade, na foto A foi no período de seca (setembro de 2015), foto B julho de 2014. Durante a realização do trabalho com a comunidade, foram apontados 10 pontos, sendo que 4 são regiões onde é realizado o extrativismo de arroz selvagem (Oryza latifólia), e os demais pontos é realizada a coleta de isca viva (Figura 4). Como pode ser visto os pontos de cultivo de arroz estão localizados todos ao Sul da comunidade sendo o mais distante cerca de 11 km e o mais próximo a aproximadamente 3km 656

6º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Cuiabá, MT, 22 a 26 de outubro 2016 Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 657-660 da comunidade. Essa distância entre os pontos e a comunidade pode apresentar-se como um empecilho, já que segundo Santana (2013) uma das principais dificuldades da comunidade é a locomoção a longas distâncias, devido a falta de condução adequada na comunidade. Deste modo, esta distância pode se tornar um fator limitante, para suas atividades econômicas. Observando-se apenas os pontos de extrativismo de arroz, pode-se notar que todos os pontos estão localizados em campos inundáveis sazonalmente (Figura 5). Análises fenológica realizada por Bertazzoni e Damasceno (2010), mostraram que á espécie encontrada na região (Oryza latifólia) é resistente as inundações, estas variações no nível da água influenciam na formação de sua sinflorescência, sendo ainda um dispersor secundário para espécie, tornando, esta característica importante para manutenção dá espécie na região. Figura 4 Pontos onde são realizadas atividades econômicas de ribeirinhos da comunidade Barra do São Lourenço. A - ano de 2005, região na época da seca. B ano 1988, região na estação da cheia. 657

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 658-660 Figura 5 Pontos de extrativismo de arroz da comunidade da Barra do São Lourenço. A ano 2005, região na época da seca. B ano 1988, região na época da cheia. Desta forma, cheias pouco intensas, onde não haveria a inundação destes campos, podem reduzir a quantidade de áreas inundáveis, perturbando a reprodução e dispersão da espécie, podendo acarretar em uma menor produção do arroz selvagem e menores áreas de possível extração do mesmo, afetando de modo direto os ribeirinhos que trabalham com o extrativismo do arroz. Os pontos de captura de iscas estão localizados todos ao Norte da comunidade, o mais distante à aproximadamente 7 km (Figura 6). Por estarem localizados em braços do Rio Paraguai, ao contrário dos pontos de cultivo de arroz, estes permanecem inundados durante todo o ano, porém com uma redução em suas áreas alagadas na época da seca. À tuvira é uma das iscas mais capturadas e comercializadas na região pantaneira (Catella, et al., 2009). Estes animais possuem como habitat ambientes lênticos, coberto por plantas aquáticas que retêm matéria orgânica proveniente do processo de inundação (Rezende et al., 2006). Segundo Moraes e Espinoza (2001) a melhor época de captura é entre agosto e outubro, na vazante, pois nesta época a água volta a calha do rio, diminuindo seu nível nos corixos, braços e outros corpos d água, aumentando assim a probabilidade de captura destes peixes. Deste modo as áreas utilizadas pelos moradores são ideais para a realização da coleta de tuvira. Pois estes ambientes sofrem uma expansão da área inundada na época da cheia, aumentando a disponibilidade de habitats dos animais. E uma redução na época da seca, porém não secam completamente, pois recebem água dos rios, aumentando a probabilidade de captura, sem extinguir o habitat. Assim como o arroz a redução desses pulsos de inundações pode afetar a coleta de iscas, pois iria causar uma redução no habitat desses animais, nas áreas de coleta utilizadas por eles. 658

6º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Cuiabá, MT, 22 a 26 de outubro 2016 Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 659-660 Figura 6 - Pontos de coleta de isca viva dos moradores da Comunidade Barra do São Lourenço. A ano 1988, região na época da cheia. B ano 2005, região na época da seca. 5.Conclusões O uso de ferramentas como o geoprocessamento é importante para o estudo e planejamento de grandes áreas e também de difícil acesso como é o caso do Pantanal. Assim como apresenta-se útil para estudos de eventos sazonais como o pulso de inundação e estudos com grande intervalo de tempo. Apesar das inundações gerarem alguns transtornos a comunidade, o pulso de inundação é de extrema importância para as principais atividades econômicas da comunidade pois por meio desse sistema que vai se renovando as populações de peixes, e beneficia a coleta de iscas. 6.Agradecimentos Os autores agradecem o suporte institucional da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Câmpus do Pantanal. À Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul FUNDECT: projeto 083/2016, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq (processos 447402/2014-5 e 448923/2014-9) e também pela bolsa de pesquisador (PQ2) para Aguinaldo Silva (312.386/2014-1). 7. Referências Abrão, C. M. R.; Cunha, E. R.; Gregório, E. C.; Bacani, V. M. Avaliação de classificadores supervisionados e não supervisionados para mapeamento de uso e cobertura da terra a partir de dados Landsat-8/OLI. IN: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 17, 2015, João Pessoa. Anais... INPE, 2015. p. 5439 5446. Almeida, M. A.; Silva, C. J. As comunidades tradicionais pantaneiras Barra de São Lourenço e Amolar, pantanal, brasil. História e Biodiversidade, v. 1, n. 1, 19 p., 2011. Amâncio, C. O. G.; Amâncio, R.; Toniazzo, R. C.; Botelho, D.; Pellegrin, L. A. Caracterização Socioeconômica 659

Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 660-660 das Comunidades Chalé/Bonfim, Sub-região do Paraguai, Corumbá, MS. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2008. 9 p. (Embrapa Pantanal. Circular Técnica, 82). Disponível em:<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/download.php?arq_pdf=ct8 2 >. Acesso em: 10mar. 2016. Bertazzoni, E. C.; Damasceno, G. A. J. Aspectos da biologia e fenologia de Oryza latifolia Desv. (Poaceae) no Pantanal sul-mato-grossense. Acta Botanica Brasilica, v.25, p. 476-486, 2011. Catella, A. C.; Silva, J. M. V.; Jesus, V. M. F. Comércio de iscas vivas no Pantanal de Mato Grosso do Sul, SCPESCA/MS. Corumbá: Embrapa Pantanal; Campo Grande: SEMAC/IMASUL, 2009. 42p. (Embrapa Panatanal - recurso eletrônico 90). Disponível em: http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/download.php?arq_pdf=bp90. Acessado em: 15mar. 2016. Diegues Santana, A. C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: NUPAUB-USP, 3ª ed., 2000, p. 161. Junk, W. J,; Cunha, C. N; Wantzen, K. M.; Petermann, P.; Strüssmann, C.; Marques, M. I.; Adis, J. Biodiversity and its conservation in the Pantanal of Mato Grosso, Brazil. Aquatic Sciences, v. 68, p. 278 309, 2006. Moraes, A. S.; Espinoza, L. W. Captura e comercialização de iscas vivas em Corumbá, MS. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2001. 37p. (Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa, 21). Moraes, E. C.; Pereira, G.; Cardozo, F. S. Evaluation of Reduction of Pantanal wetlands in 2012. Geografia, v. 38, Numero especial, p. 81-93, 2013. Santana, L. L. T. Análise da Importância das Freteiras para as Comunidades Ribeirinhas no rio Paraguai na Fronteira Brasil/Bolívia. Corumbá - MS. 2013. 57 p. Dissertação mestrado (Mestrado em Estudos Fronteiriços) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, Corumbá, 2013. Silva, C. J.; Silva, J. A. F. No ritmo das águas do pantanal. São Paulo: NUPAUB/USP, 1995, p. 210. Siqueira, A. L. Conflitos socioambientais em comunidades tradicionais da fronteira Brasil-Bolívia e a experiência de implantação do turismo de base sustentável como alternativa de renda na comunidade da Barra do são Lourenço. 2015. 98 p. Dissertação mestrado (Mestrado em Estudos Fronteiriços) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, Corumbá, 2015. Resende, E. K.; Pereira, R. A. C.; Sório, V. F.; Galvão, E. M. Biologia da Tuvira, Gymnotus cf. carapo (Pisces, Gymnotidae) no Baixo Rio Negro, Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2006. 42p. (Embrapa Pantana - boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 67). Disponível em: https://www.infoteca. cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/ 812542/1/BP67.pdf. Acessado em: 07mai. 2016. 660