A Trindade na História Adventista do Sétimo Dia

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Transcrição:

A Trindade na História Adventista do Sétimo Dia Merlin D. Burt E. G. White Estate Branch Office Andrews University A última década viu um aumento na atividade antitrinitária dentro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Embora esta atividade seja significativa, ela tem permanecido às margens do movimento. Quatro razões para esta atividade devem ser mencionadas. (1) Existe disponibilidade de informação através da internet. (2) Vários outros grupos Adventistas que emergiram do movimento Millerita, continuaram a manter uma perspectiva antitrinitária. (3) Alguns Adventistas pensam que a doutrina da Trindade vem da teologia Católica e portanto deve ser falsa. O que muitos não têm compreendido é que a doutrina Católica da Trindade difere da doutrina Bíblica da Trindade dos Adventistas do Sétimo Dia. Isto inclui a geração eterna do Filho e a impassibilidade divina, que são influenciadas pela filosofia Grega. (4) Talvez o mais significativo, seja que nas últimas poucas décadas alguns Adventistas têm pensado em retornar à primitiva fé histórica Adventista, ou ao que poderia ser chamado neo-restauracionismo. Alguns têm falhado em reconhecer a natureza dinâmica da teologia Adventista do Sétimo Dia. Os Adventistas sempre têm procurado um entendimento mais claro da verdade Bíblica. Historicamente, suas doutrinas têm crescido de seu núcleo distintivo original das Três Mensagens Angélicas e conceitos relacionados. Um seguimento pequeno mas significativo e crescente de Adventistas históricos está advogando um retorno à posição antitrinitária. Os Adventistas do Sétimo Dia têm sempre estado Biblicamente centrados na teologia e doutrina. Eles têm rejeitado um credo estático e têm sempre procurado estudar, entender, e seguir a Bíblia como a fonte de doutrina e o guia para a experiência. Consequentemente, não deve causar surpresa que a doutrina Adventista tem se desenvolvido com o passar do tempo construindo sobre estudos prévios e novos da Bíblia. Quando o Adventismo Sabatista surgiu durante os anos finais da década de 1840, ele trouxe várias verdades Cristãs e as colocou na estrutura da profecia cumprida e avançou na descoberta de ensinos bíblicos. Uma quantidade de ensinos bíblicos explicou o que havia acontecido em 1844 e por que Jesus não tinha vindo. O santuário celestial, o ministério do tempo do fim de Jesus no Lugar Santíssimo, e o Sábado como o selo de Deus foram focos particulares. O entendimento Adventista de várias perspectivas teológicas continuou a se desenvolver e a melhorar com o passar do tempo. Dois exemplos são o Sábado e o dizimar. Os Adventistas Pioneiros concluíram inicialmente que o Sábado devia começar e terminar às 18:00 horas. Foi em 1855, aproximadamente uma década depois da ênfase inicial sobre o Sábado, que a apresentação bíblica e histórica de J. N. Andrews influenciou os crentes a adotarem o por do sol como o tempo correto para o começar e findar o Sábado. O dizimar primeiro começou em 1859 como Benevolência Sistemática e possuia pouco ou nenhuma ligação com o ensino Bíblico dos dez por cento. Não foi até os anos 1870 que um reestudo cuidadoso do assunto levou os Adventistas do Sétimo Dia a adotarem a estrutura de dizimar como nós praticamos hoje. Um processo semelhante é evidente no entendimento Adventista da natureza de Deus e a Trindade. O propósito deste artigo é esboçar de forma breve o desenvolvimento histórico do ponto de vista da Trindade para os Adventistas do Sétimo Dia desde o seu princípio até o presente. 1

Até 1890: Período Antitrinitário Até próximo da virada do Século Vinte, a literatura Adventista do Sétimo Dia estava quase unanimemente em oposição à divindade eterna de Jesus e à personalidade do Espírito Santo. Durante os tempos mais antigos alguns até mesmo mantinham o ponto de vista que Jesus foi criado. É muito importante entender que os pontos de vista Adventistas não eram homogêneos. A tensão teológica dentro do Adventismo começou durante o movimento Millerita e é ilustrada pelos dois líderes principais, William Miller e Joshua V. Himes. Miller, sendo um Batista, era Trinitário. Ele escreveu: Creio num único e verdadeiro Deus, e que existem três pessoas na Divindade.... As três pessoas do Deus Triuno são unidas. 1 Himes, um associado íntimo de William Miller, possuía a crença da Conexão Cristã. A ramificação nordeste da Igreja Cristã rejeitava quase unanimemente a doutrina da Trindade como não escriturística. 2 É importante observar que os Adventistas Milleritas estavam focados na breve vinda de Jesus e não consideravam necessário discutir sobre o assunto da Trindade. Os dois fundadores principais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Joseph Bates e James White, do mesmo modo que Himes, tinham sido membros da Conexão Cristã e rejeitavam a doutrina da Trindade. Joseph Bates escreveu sobre seus pontos de vista: Com respeito à Trindade conclui que era uma impossibilidade para mim crer que o Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, também era Deus todopoderoso. 3 James White escreveu: Aqui poderíamos mencionar a Trindade, que afasta a personalidade de Deus, e de Seu Filho Jesus Cristo. 4 Tanto Bates como White estavam ansiosos para manterem as personalidades separadas do Pai e do Filho. Esta preocupação era causada, em parte, pela forte influência espiritualizadora entre os Adventistas do Noivo durante 1845 e 1846. Um problema semelhante se tornaria evidente de novo por volta da virada do século vinte com a despersonalização de Deus e os pontos de vista panteístas de J. H. Kellogg. 5 Embora James White rejeitasse a doutrina da Trindade, ele cria em três grandes poderes no Céu. Isto é refletido em seu primeiro hinário. 6 Embora se opusesse à Trindade ele não cria que Cristo era inferior ao Pai. Em 1877 ele escreveu: A inexplicável trindade que transforma a divindade de três em um e um em três, é ruim o suficiente; porém o ultra Unitarianismo que torna Cristo inferior ao Pai é pior. 7 Nem todos concordaram com James White sobre a igualdade do Pai com o Filho. Durante os anos de 1860 Uriah Smith, por muito tempo editor da Review and Herald, creu que Jesus era o primeiro ser criado. 8 Por volta do ano 1881, ele tinha mudado para a crença que Jesus foi gerado e não criado. 9 Uma lista seletiva de Adventistas que, quer falava contra e/ou rejeitava a eterna divindade de Cristo inclui J. B. Frisbie, J. N. Loughborough, R. F. Cottrell, J. N. Andrews, D. M. Canright, J. H. Waggoner e C. W. Stone. 10 W. A. Spicer em um ponto contou a A. W. Spalding que seu pai, depois de se tornar um Adventista do Sétimo Dia (ele anteriormente era um ministro Batista do Sétimo Dia), ficou tão ofendido na atmosfera antitrinitária em Battle Creek que ele parou de pregar. 11 Revisando os escritos de vários pioneiros, certas preocupações frequentemente aparecem. Rejeitando a Trindade, alguns viam o ponto de vista Cristão ortodoxo como triteísmo pagão. Outros argumentavam que a Trindade degradava a personalidade de Cristo e do Pai obscurecendo a distinção entre Eles. Embora as posições primitivas sobre a Trindade e divindade de Cristo fossem falhas, houve uma tentativa sincera para se opor a certos erros legitimados. Próximo ao ano 1890, os Adventistas chegaram a uma posição mais ou menos harmoniosa quanto ao divino Filho de Deus ser gerado ou originado. Ele era visto como o Criador com o Pai. A natureza do 2

Espírito Santo foi ligeiramente considerada embora Ele fosse geralmente considerado ser a influência onipresente do Pai ou do Filho em vez de uma pessoa. De 1890 a 1900: Surgimento do Sentimento Trinitário Ao começarem os anos 1890, dois dos principais pensadores sobre cada lado da justificação pela fé/lei em Gálatas concordavam sobre o assunto da divindade derivada de Jesus. E. J. Waggoner escreveu em seu livro Cristo e Sua Justiça editado em 1890: Houve um tempo quando Cristo procedeu e veio de Deus... mas esse tempo estava tão afastado nos dias da eternidade que para a compreensão finita era praticamente sem princípio. 12 Em 1898 Uriah Smith escreveu no livro Confiando Em Jesus: Somente Deus é sem princípio. Na era mais primitiva quando um início poderia ser um período tão remoto que para as mentes finitas ele é essencialmente a eternidade a Palavra apareceu. 13 O período depois da Conferência Geral de 1888 viu uma nova ênfase sobre Jesus e o plano da salvação. Isto naturalmente levou a uma consideração de Sua divindade e o que ela significa para a redenção da humanidade. A. T. Jones esteve entre os primeiros (com a significativa exceção de Ellen G. White) a sugerir que Cristo era eternamente preexistente. Jones enfatizava Colossenses 2:9 e a ideia que em Cristo estava a plenitude da Divindade corporalmente. Ele também descreveu Cristo como a Palavra eterna. 14 Embora ele evitasse a palavra Trindade, em 1899 ele escreveu: Deus é um. Jesus é um. O Espírito Santo é um. E estes três são um: não existe discordância nem divisão entre eles. 15 Ellen G. White desempenhou um papel profético na confirmação da divindade de Jesus e as três pessoas da Divindade. Tão primitivamente como 1878, ela se referiu a Jesus como o eterno Filho de Deus. 16 No livro O Desejado de Todas as Nações ela escreveu: [Cristo] Se anunciou ser o autoexistente e Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. 17 Ela escreveu do Espírito Santo como a Terceira pessoa da Divindade. 18 Ellen G. White desempenhou um importante papel instando a igreja a respeito da posição bíblica Trinitária. Entretanto, muitos anos depois da publicação do livro O Desejado de Todas as Nações, a igreja geralmente evitou estas e outras declarações. Embora ela nunca tenha usado o termo Trindade em seus escritos publicados, ela repetidamente comunicou o conceito. M. L. Andreasen questionava se Ellen G. White tinha realmente escrito algumas de suas declarações no livro O Desejado de Todas as Nações e em outros livros. Durante 1909, Andreasen passou três meses em Elmshaven, Califórnia, e ficou convencido da acuracidade de sua posição publicada. 19 De 1900 a 1931: Transição e Conflito Durante as três primeiras décadas do século vinte, a igreja permaneceu dividida em sua posição sobre a divindade de Cristo. O uso da palavra Trindade continuou a ser evitada na imprensa. W. W. Prescott e F. M. Wilcox, ambos editores da Review and Herald, foram os principais apoiadores da plena e eterna divindade de Jesus. Durante os anos de 1890 Prescott foi mais vagaroso do que Jones para aceitar o novo ponto de vista. Mas depois de 1900, como editor da Review and Herald, ele publicou artigos sobre a personalidade, e natureza eterna do Pai, Filho e Espírito Santo. 20 Prescott ainda cria que Jesus possuía uma existência derivada do Pai. Na Conferência Bíblica de 1919 ele apresentou uma série de oito devocionais para a assembléia intitulada A Pessoa de Cristo que expressava este ponto de vista. Cuidadosa discussão nesta conferência mostrou que existiam opiniões variadas. 21 O início do século vinte viu os Adventistas e Protestantes Fundamentalistas batalhando contra a alta crítica e o novo modernismo crescentes no Cristianismo. O liberalismo rejeitava a divindade de Jesus e Seu nascimento virginal. Artigos Adventistas defendendo o ponto de vista bíblico começaram a aparecer 3

mais frequentemente nas publicações da igreja. Sem levar em consideração as diferenças individuais sobre detalhes, ministros Adventistas passaram para a fileira contra os perigosos pontos de vista liberais. Naturalmente, aqueles que rejeitavam a eterna preexistência de Cristo não desejavam falar de Seu início e desse modo enfraqueceram seu argumento contra a alta crítica. Até mesmo artigos sobre a Trindade eram tolerados. 22 O resultado foi uma crescente apreciação da plena divindade do Filho de Deus. De 1931 a 1957: Aceitação do Ponto de Vista Trinitário F. M. Wilcox foi crucial na facilitação da transição final para um ponto de vista Adventista do Sétimo Dia aceitável sobre a Trindade através de sua orientação na Declaração das Crenças Fundamentais de 1931 e de seus artigos na Review and Herald. 23 Resumos doutrinários foram cuidadosamente evitados durante as primeiras décadas do século vinte em parte devido ao conflito sobre a Trindade. De acordo com L. E. Froom, Wilcox era respeitado por todos os grupos por sua firmeza, integridade, e lealdade à Fé no Advento e ao Espírito de profecia ele, como editor da Review, provavelmente fez o que nenhum outro homem teria feito para alcançar unidade na aceitação. 24 Não foi até 1946 que a Sessão da Associação Geral votou oficialmente a Declaração das Crenças Fundamentais. 25 Durante os anos de 1940, uma maioria sempre crescente da igreja cria na divindade eterna e não derivada de Cristo e na personalidade do Espírito Santo, no entanto existiram alguns que recuaram e até mesmo resistiram ativamente a mudança. Estes faziam parte de um grupo composto principalmente de uns poucos ministros mais velhos e professores de Bíblia. Em 1944 o livro Daniel e Apocalipse de Uriah Smith foi revisado e seus comentários sobre a natureza divina de Cristo derivada foram removidos. 26 Em 1957, o livro Questions on Doctrine fixou a doutrina da Trindade ou Divindade para os Adventistas. Embora o livro tenha produzido conflito em outras áreas, virtualmente não houve discordância a respeito do claro ensino do livro sobre a Trindade. 27 A sequência não ambígua de declarações sobre a Trindade nas Crenças Fundamentais Adventistas do Sétimo Dia foram revisadas e votadas na Sessão da Associação Geral de 1980. O processo de aceitação da doutrina da Trindade continuou de 1900 a 1950. As influências chaves na mudança foram: (1) Estudos bíblicos publicados repetidamente sobre o tópico; (2) Declarações claras de Ellen G. White; (3) Resposta Adventista aos ataques do liberalismo moderno sobre a divindade de Cristo e seu nascimento virginal; e (4) As declarações das Crenças Fundamentais feitas por F. M. Wilcox e seus editoriais na Review and Herald. Podemos aprender várias lições da história do desenvolvimento da doutrina da Trindade na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Primeira, devemos reconhecer que o desenvolvimento da teologia Bíblica Adventista tem usualmente sido progressivo e corretivo. Isto é claramente ilustrado na doutrina da Trindade. A orientação do Espírito Santo é dinâmica e não estática. Outros conceitos doutrinários, tais como o início do Sábado (1855), o tema do Grande Conflito (1858), e dizimar (1878) se desenvolveram de modo semelhante. Este desenvolvimento nunca supôs uma substituição de paradigma que contradissesse o claro ensino Bíblico do ministério de Jesus no santuário celestial e o fundamento profético da Igreja. Segundo, o desenvolvimento da doutrina da Trindade demonstra que algumas vezes mudanças doutrinárias requerem a passagem de uma geração anterior. Para os Adventistas do Sétimo Dia, levou mais de 50 anos para a doutrina da Trindade se tornar normativa. Terceira, o dom de profecia ajudou a igreja a ter confiança e unidade bíblica sobre a Trindade. Declarações não ambíguas de Ellen G. White venceram a controvérsia e proveram confiança na transição para nosso ponto de vista atual. Finalmente, a teologia Adventista é sempre supremamente dependente da Escritura. A Bíblia nos diz que a vereda do justo [é] como a luz 4

brilhante, que brilha mais e mais até o dia perfeito. Hebreus 2:1 lê: Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. [NVI]. No final das contas foi a Bíblia que levou os Adventistas do Sétimo Dia a aceitarem sua posição atual sobre a Divindade ou Trindade. 1 Sylvester Bliss, Memoirs of William Miller, Generally Known as a Lecturer on the Prophecies, and the Second Coming of Christ (Boston: Joshua V. Himes, 1853), pp. 77-78. 2 Joshua V. Himes, Christian Connection, na Encyclopedia of Religious Knowledge, ed. J. Newton Brown (Brattleboro, VT: Brattleboro Typographic, 1838), p. 363. 3 Joseph Bates, The Autobiography of Elder Joseph Bates (Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist, 1868), p. 205. 4 James White, Review and Herald, 11 de Dezembro de 1855, p. 85. 5 Veja J. H. Kellogg, The Living Temple (Battle Creek, MI: Good Health, 1903), pp. 26-36, 396-398, 450-460, 484-486. 6 Arthur L. White a Hedy Jemison, 2 de Julho de 1969; James White, comp., Hymns for God s Peculiar People (Oswego, NY: Richard Oliphant, 1849), p. 47. 7 James White, Review and Herald, 29 de Novembro de 1877, p. 72. 8 Uriah Smith, Thoughts, Critical and Practical (Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist, 1865), p. 59 9 Smith, Thoughts, 1881, p. 74. 10 J. B. Frisbie, Review and Herald, 7 de Março de 1854, p. 50; J. N. Loughborough, Review and Herald, 5 de Novembro de 1861, p. 184; R. F. Cottrell, Review and Herald, 6 de Julho de 1869, pp. 10-11; [J. N. Andrews], Review and Herald, 7 de Setembro de 1869, p. 84; D. M. Canright, Review and Herald, 29 de Agosto de 1878, pp. 73-74; 5 de Setembro de 1878, pp. 81-82; 12 de Setembro de 1878, pp. 89-90; 19 de Setembro de 1878, p. 97; J. H. Waggoner, The Atonement (Oakland, CA: Pacific Press, 1884), pp. 164-179; C. W. Stone, The Captain of our Salvation (Battle Creak, MI: n.p., 1886), pp. 15-20. 11 A. W. Spalding a H. C. Lacey, 2 de Junho de 1947. 12 E. J. Waggoner, Christ and His Righteousness (Oakland, CA: Pacific Press, 1890), pp. 21-22. 13 Uriah Smith, Looking Unto Jesus (Battle Creek, MI: Review and Herald, 1898), p. 10. 14 A. T. Jones, General Conference Bulletin, 25 de Fevereiro de 1895, p. 332; idem, General Conference Bulletin, 27 de Fevereiro de 1895, p. 382. 15 A. T. Jones, Review and Herald, 10 de Janeiro de 1899, p. 24. 16 Ellen G. White, Review and Herald, 8 de Agosto de 1878, pp. 49, 50. 17 Ellen G. White, The Desire of Ages (Washington, DC: Review and Herald, 1898), p. 530. 18 White, Desire of Ages, p. 671. 19 M. L. Andreasen, Testimony of M. L. Andreasen, 15 de Outubro de 1953, p. 3. 20 W. W. Prescott, Review and Herald, 4 de Abril de 1896, p. 232; General Conference Committee Minutes para 15 de Fevereiro de, 1902, citado em Gilbert Valentine, William Warren Prescott (dissertação do curso de Ph.D., Andrews University, 1982), p. 351; W. W. Prescott, Review and Herald, 2 de Setembro de 1902, p. 4; idem, Review and Herald, 23 de Setembro de 1902, p. 6; idem, Review and Herald, 23 de Dezembro de 1902, p. 4; idem, Lição trimestral da Escola Sabatina, primeiro trimestre de 1921, pp. 2, 9, 20; idem, A Doutrina de Cristo (Washington, DC: Review and Herald, 1920), pp. 3, 20, 21. 21 Donald E. Mansell, How the 1919 Bible Conference Transcript Was Found, White Document File, 6 de Julho de 1975. 22 Stemple White, Canadian Watchman, Setembro de 1923, p. 18; C. P. Bollman, Review and Herald, 15 de Março de 1923, p. 4; Lyle C. Shepard, Canadian Watchman, Setembro de 1927, p. 12. 23 F. M. Wilcox, Review and Herald, 23 de Março de 1944, p. 2; idem, Review and Herald, 3 de Janeiro de 1945, pp. 5-6. 24 L. E. Froom, Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1971), pp. 413, 415. 25 Robert Olson e Bert Haloviak, Who Decides What Adventists Believe: A Chronological Survey of Sources, 1844-1977, 24 de Fevereiro de 1977. 26 Uriah Smith, Daniel and the Revelation (Nashville, TN: Southern Publishing, 1941), p. 400; idem, The Prophecies of Daniel and the Revelation (Nashville, TN: Southern Publishing, 1944), p. 391. 27 Questions on Doctrine (Washington, DC: Review and Herald, 1957), pp. 30, 31, 36. 4/08 Copyright Biblical Research Institute General Conference of Seventh-day Adventists 5