ANIMAIS PEÇONHENTOS DO MUNICÍPIO DE MANGARATIBA, RJ

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Transcrição:

Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2013, v. 16, n. 16, p. 25 40 ANIMAIS PEÇONHENTOS DO MUNICÍPIO DE MANGARATIBA, RJ CARDOSO, Carlos Ferreira de Lima 1 SOARES, Marcelo de Araújo 2 Resumo O município de Mangaratiba fica na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro e é considerado o portão principal da Costa Verde. A economia do município é caracterizada principalmente pelo turismo, por conta da exuberância de seus atrativos naturais e culturais. No estado do Rio de Janeiro são diagnosticados anualmente centenas de casos de acidentes com animais peçonhentos, entretanto, muitos desses registros não fazem parte das estatísticas oficiais do Ministério da Saúde. A falta de informações dos Sistemas de Informações do Ministério da Saúde sobre o município de Mangaratiba levou-nos ao desenvolvimento do presente estudo, que teve por objetivo apresentar informações e registros sobre os índices de acidentes com animais de importância médica deste município, que, atualmente, sente o impacto causado pelo crescimento do Porto de Itaguaí e a duplicação da Rodovia Rio-Santos e que vem acelerando o processo de ocupação da região, devastando áreas florestadas, aumentando os registros de sinantropismo de diversas espécies de animais de importância médica e aumentando o número de acidentes com animais peçonhentos nesta região turística. No presente trabalho registramos acidentes no município, entre os anos de 2007 e 2011, que são aqui informados. Palavras-chave: Animais peçonhentos. Mangaratiba. Rio de Janeiro. 1 Acadêmico Bolsista PIBIC&T/UCB (Mar/2012 a Set/2012). Universidade Castelo Branco. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Orientador. Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Biodiversidade. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Abstract The city of Mangaratiba is in the metropolitan region of the state of Rio de Janeiro and is considered the main gate of the Costa Verde. The city's economy is mainly characterized by tourism, because of the exuberance of its natural and cultural attractions. In the state of Rio de Janeiro are diagnosed each year hundreds of cases of accidents with venomous animals, however, many of these records are not part of the official statistics of the Ministry of Health Lack of information of Information Systems of the Ministry of Health on the council Mangaratiba led us to the development of this study, which aimed to provide information and records on accident rates with animals of medical importance of this council, which currently feeling the impact caused by the growth of the Port of Itaguaí and duplication of the Highway Rio-Santos and that is accelerating the process of occupation of the region, devastating forest areas, increasing sinantropism records of several animal species of medical importance and increasing the number of accidents with venomous animals in this tourist region. In the present work accidents recorded in the county between the years 2007 and 2011, which are reported here. Keywords: venomous animals. Mangaratiba. Rio de Janeiro. Introdução Segundo BANDIM et al., 2009, Mangaratiba, que era originalmente apenas uma denominação de uma pequena região habitada por índios tupinambás, passou a ter também a denominação de Aldeia de Nossa Senhora da Guia formada pelos índios tupiniquins trazidos por Martim de Sá. O maior desenvolvimento deste território, que hoje compreende este município, estava localizado nas terras de Itacuruçá, de Ingaíba e Conceição de Jacareí que, além das plantações de feijão, arroz, milho, mandioca, também produziam café, açúcar e aguardente. Em 1802, registra-se um aumento do território da aldeia com o cultivo em terras devolutas. Neste período, um dos principais rendimentos dos aldeãos era o aforamento das terras. Em 1814, Mangaratiba foi elevada à categoria de freguesia de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba, ainda pertencente à Angra dos Reis da Ilha Grande juntamente com a vila de Angra dos Reis da Ilha Grande e a de Paraty, representava neste período histórico uma importante região econômica, sobretudo na produção de aguardente voltada tanto para o mercado interno como 26

também para ser utilizado como moeda de troca por escravos africanos no mercado atlântico. De 1920 em diante, o crescimento urbano começou a se desenvolver. Muitas casas foram construídas e o fluxo de veranistas aumentou. Pequenos lugarejos foram se transformando em vilas balneárias de veraneio zona sul. Em 1949, a inauguração da Estrada RJ-14 ampliou ainda mais o desenvolvimento turístico da região, como também facilitou o escoamento de pescado, da produção de bananas e de outros produtos agrícolas, valorizando ainda mais as terras dos pequenos balneários e sítios da zona rural. Só não foram atendidas por esse beneficiamento as áreas do município que se localizam entre a Praia do Saco e Conceição de Jacareí, por não contarem com nenhuma melhoria no acesso pelo continente. Esta região, neste período histórico, pouco se desenvolveu no sentido de urbanização. Durante este período, o turismo já passou a contribuir fortemente para a receita municipal, juntamente com a produção de bananas e com o pescado, que teve Itacuruçá como a principal área produtora. Com a inauguração da Rodovia Rio-Santos em 1974, todo o município sentiu o boom da explosão demográfica e com ela também veio à descaracterização de suas vilas balneárias, do seu turismo, do processo de favelização de suas encostas. Os setores de empreendimento imobiliário e da construção civil, juntamente com os setores de turismo passaram a contribuir fortemente na economia local. A paisagem da região vem mudando por completo: as encostas litorâneas e os lugarejos de campos verdejantes vão dando lugar a enormes áreas de condomínios. Os cenários bucólicos dos barquinhos de pesca e os veleiros no mar se transformaram em ancoradouros de enormes navios cargueiros a espera de uma vaga no porto, além dos navios transatlânticos com turistas brasileiros e, principalmente, estrangeiros durante a temporada de verão (BANDIM et al., 2009). O município de Mangaratiba fica na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro e é considerado o portão principal da Costa Verde. Sua área total é de 361,8 km² e é distribuída em seis distritos: Mangaratiba (1 º ), Conceição de Jacareí (2 º ), Itacuruçá (3 º ), Muriqui (4 º ), São João Marcos (5 º ) e Praia Grande (6 º ). O município encontra-se cerca de 90 km distante da capital do Rio de Janeiro. Possui 18.854 habitantes, segundo o censo realizado em 2000. O clima predominante é úmido, e nas áreas serranas encontra-se o clima subtropical mesotérmico com verões brandos sem estações secas. Na frente das escarpas também ocorre o clima mesotérmico, porém com verões quentes e estações secas. Na baixada acontece o inverso com temperaturas mais elevadas, sem 27

estação seca definida. A temperatura média é de 25 C, que varia entre a mínima de 10 C e máxima de 40 C (BANDIM et al., 2009). Animais peçonhentos são aqueles que possuem peçonha, ou toxina, e um aparato constituído por ferrões, presas ou quelíceras, para inocular esta substância química. A toxina que os animais peçonhentos produzem, serve para matar ou paralisar os animais dos quais se alimentam, auxiliando em suas digestões e em sua defesa quando se sentem ameaçados (FREITAS, 2011). No estado do Rio de Janeiro são diagnosticados anualmente centenas de casos de acidentes com animais peçonhentos, mas que em função da falta de informação e de conhecimento prévio dos responsáveis pelo preenchimento de fichas, de prontuários médicos e no pronto atendimento muitos desses registros não são inseridos nas estatísticas oficiais do Ministério da Saúde. Deste modo, a falta de informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN, do Ministério da Saúde, que não inclui informações sobre o município de Mangaratiba, levou-nos ao desenvolvimento do presente estudo. O objetivo desta investigação foi apresentar informações e registros sobre os índices de acidentes com animais de importância médica deste município, que atualmente, sente o impacto causado pelo crescimento do Porto de Itaguaí e pela duplicação da Rodovia Rio-Santos. Tais iniciativas vêm acelerando o processo de ocupação desta região turística, devastando áreas florestadas, aumentando os registros de sinantropismo de diversas espécies de animais de importância médica e aumentando o número de acidentes com animais peçonhentos. Metodologia O presente trabalho teve por objetivo apresentar informações e registros sobre os índices de acidentes com animais venenosos ou peçonhentos do município de Mangaratiba. A coleta foi realizada através de fichas e arquivos de registros, dados e informações nos hospitais públicos e particulares, clínicas, postos de saúde em zonas urbanas e rurais, assim como na Secretaria Municipal de Saúde no período de 2007 a 2011. O método possibilitou identificar os principais grupos de animais peçonhentos do município de Mangaratiba e reconhecer sua relação com o meio urbano, esclarecendo os aspectos sinantrópicos dos acidentes. Portanto, o trabalho contribui significativamente para o conhecimento específico sobre animais de importância médica da região, gerando 28

informações sobre biologia clínica e terapêutica dos acidentes, abordando conceitos sobre reconhecimento, tratamento, profilaxia e epidemiologia. Análise de dados SERPENTES O temor pelas serpentes encontra-se impregnado no imaginário popular, muito embora esse medo não tenha sido suficiente para motivar medidas eficientes no controle dos acidentes por eles provocados (CARDOSO & WEN, 2009). A OMS (Organização Mundial de Saúde) calcula que ocorram no mundo 1.250.000 a 1.665.000 acidentes por serpentes peçonhentas por ano, com 30.000 a 40.000 mortes (SWARROP & GRAD, 2001). Conforme o Ministério da Saúde & Conselho Nacional das Secretarias Municipais - CONASEMS (2009), as serpentes peçonhentas de importância em saúde pública no Brasil são as do gênero Bothrops Wagler (1824) jararaca, jararacuçu, urutu, cotiara, caiçaca, Crotalus Linnaeus (1758) cascavéis, Lachesis Daudin (1803) surucucu, surucucu-pico-de-jaca e Micrurus Wagler (1824) corais verdadeiras. Na maioria dos casos, a picada constitui-se de uma inoculação subcutânea ou intramuscular na vítima. As marcas das presas no local da picada geralmente são visualizadas, mas não raramente se observa somente uma única perfuração, ou arranhaduras e, eventualmente, nenhuma marca é visível (FRANÇA & MÁLAQUE, 2009). A peçonha deste grupo possui três ações básicas: a proteolítica, que resulta em lesões locais como edema, bolhas, equimose e necrose; a ação coagulante, causadora do efeito de retardar a coagulação sanguínea, podendo causar até mesmo a incoagulabilidade do sangue, levando a hemorragias iniciais pelas mucosas e posteriormente pela própria pele. E, por fim, a ação hemorrágica, que proporciona lesões na membrana basal dos capilares, facilitando assim as hemorragias. Os sintomas mais característicos dos acidentes com jararacas são: dor e edema local, equimoses, sangramento no local da picada e necrose discreta ou intensa, podendo às vezes causar destruição parcial ou total dos tecidos envolvidos. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e mais raramente, choque e problemas renais (FREITAS, 2011). O tratamento prévio à soroterapia consiste em algumas ações recomendáveis imediatamente após o acidente, a saber: Sempre que possível, manter o paciente em repouso, evitando correr ou deambular. Tranquilizar o paciente, podendo ser administrados analgésicos. Não fazer garroteamento (torniquete) do membro afetado, 29

sucção ou incisão no local da picada. Limpar cuidadosamente o local com água e sabão. Não colocar substâncias sobre a ferida (fumo, café, esterco, ervas etc.) ou fazer curativos oclusivos. Monitorizar, sinais vitais e volume urinário. E remover o paciente a um centro de tratamento para aplicação do soro específico (FRANÇA & MÁLAQUE, 2009). Os acidentes com serpentes podem ser evitados. Antes de tudo, é importante saber que, conforme disposto na Norma Regulamentadora Rural nº. 4, aprovada através da Portaria n 3.06, de 12/4/1988, do Ministério do Trabalho, os proprietários rurais são obrigados a fornecer gratuitamente aos seus empregados proteção para os pés, pernas, braços e mãos. Com isto, por exemplo, o uso de botas pode evitar 80% dos acidentes, e o de sapatos comuns pode prevenir até 30% das ocorrências. Para evitar a presença das serpentes nas proximidades da residência, é importante realizar a limpeza das áreas ao redor da casa, paiol ou plantação, eliminando montes de entulho, acúmulos de lixo ou de folhagens secas e alimentos espalhados no ambiente. Estas medidas evitam a aproximação de ratos, pois são o principal alimento das serpentes (FUNDACENTRO, 2001). Figura 1 Acidentes com serpentes no município de Mangaratiba de 2007 a 2011. 30

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (2009), ocorrem entre 19 mil a 22 mil acidentes ofídicos por ano. Segundo a Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP) do Ministério da Saúde (2009), no período de 1990 a 1993 ocorreram 81.611 acidentes, com uma média de 20 mil casos/ano para o país. A média de incidência foi de 13,5 acidentes /100 mil habitantes, com a região Centro-Oeste contribuindo com o maior índice do país (33 acidentes/100 mil habitantes); seguida pela região Norte (24 acidentes/100 mil habitantes), região Sul (16 acidentes/100 mil habitantes) e região Sudeste (13 acidentes/100 mil habitantes). A região Nordeste figurou com o título de menor índice (sete acidentes/100 mil habitantes), provavelmente devido à subnotificação, tendo em vista as dificuldades de acesso aos serviços de saúde dessa região. Dentre os casos em que o gênero da serpente foi informado, Bothrops foi responsável por 90,5% dos casos, Crotalus por 7,7%, Lachesis por 1,4% e Micrurus por 0,4%. A letalidade geral foi de 0,45%, sendo maior nos acidentes crotálicos (1,87%) (PINHO & PEREIRA, 2001). No município de Mangaratiba foram registrados, segundo os dados enviados pela Secretaria Municipal de Saúde, 73 casos de acidentes envolvendo serpentes, entre os anos de 2007 e 2011, sendo que sete casos em 2007, 16 em 2008, 23 casos em 2009, ano com maior número de acidentes, 18 casos em 2010 e 9 em 2011 (figura 1). As serpentes causadoras do maior número de acidentes ofídicos no município foram às jararacas e jararacuçus, viperídeos que pertencem ao gênero Bothrops. ARANHAS Segundo LUCAS (2009), é característica exclusiva das aranhas a presença de glândulas de veneno associado às quelíceras. Quase todas as espécies apresentam essa característica. As raras exceções são espécies da família Uloboridae e Holoarchaeidae. Todas as demais têm veneno e podem causar acidentes. Entretanto, nem todas são responsáveis por acidentes graves em humanos, devido a diversos fatores como: baixa toxicidade de veneno para humanos, quantidade insuficiente de veneno injetado, quelíceras não capazes de perfurar a pele ou pelo fato de as espécies viverem em locais pouco frequentados pelo homem. A Organização Mundial de Saúde considera apenas quatro gêneros de aranhas com espécies que podem causar um envenenamento grave no 31

ser humano, a saber: Latrodectus, Loxosceles, Phoneutria (Araneomorphae) e Atrax. No Brasil, as aranhas perigosas pertencem aos três primeiros gêneros, totalizando cerca de 20 espécies. Com relação aos casos de acidentes com aranhas no município de Mangaratiba, segundo dados enviados pela Secretaria Municipal de Saúde, foram registrados três casos, sendo um em 2007, um em 2009 e um em 2011. As aranhas causadoras de acidentes no Estado do Rio de Janeiro pertencem ao gênero Loxosceles. Existem dois tipos de acidentes com Loxosceles: Loxoscelismo cutâneo e Loxoscelismo cutâneo-visceral. O quadro clínico de Loxoscelismo cutâneo apresenta edema, eritema, dor, equimose, palidez cutânea, bolha, vesícula, necrose, febre, mal estar e exantema. Já o Loxoscelismo cutâneo-visceral apresenta, além das características mencionadas acima: icterícia, oligúria, anúria e alterações laboratoriais indicativas de hemólise. No local da picada, observa-se uma pápula branca em volta de uma auréola vermelha, ligeiramente dolorosa, estendendo-se rapidamente de maneira a formar uma placa eritematosa que pode se estender por todo o membro ou uma parte do tronco. O edema e as bolhas aparecem logo. O edema é duro, quente e vermelho, de aspecto marmorizado, com pequena hemorragia, acompanhado de uma zona periférica de vasodilatação periférica. O soro antiloxoscélico passou a ser produzido no Brasil a partir da década de 60. São produzidos no país os soros antiloxoscélico (SALox) e antiaracnídico (SAAr) (BARBARO & CARDOSO, 2009). Figura 2 - Acidentes com aranhas no município de Mangaratiba de 2007 a 2011. 32

Segundo o Ministério da Saúde em 1998, três gêneros de aranhas possuem importância médica no Brasil: Loxosceles Heinecken e Lowe, 1832, Phoneutria Perty, 1833, e Latrodectus Walckenaer, 1805. No período de 1990-1993, foram registrados 17.785 acidentes araneídicos, 18 óbitos e um coeficiente de incidência de 1,5 casos por 100.000 habitantes. A maioria dos acidentes é registrada nas Regiões Sul e Sudeste, sendo observado um incremento das notificações nos Estados do Sul. Para o Paraná, as aranhas dos gêneros Loxosceles e Phoneutria são as principais causadoras de acidentes conhecidos como loxoscelismo e foneutrismo. Dos acidentes araneídeos (acidentes causados por aranhas dos gêneros Phoneutria, Loxosceles, Latrodectus e outras aranhas) notificados no Brasil (n= 61.775) entre 1988 e 2001, os casos registrados para o Estado do Paraná representaram 44% (n=27.364) do total de casos e 72% dos casos da Região Sul (n= 38.133), conforme o Ministério da Saúde em 2002 (SILVA, 2002). No município de Mangaratiba foram registrados entre os anos de 2007 e 2011 apenas três casos de acidentes com aracnídeos, sendo um no ano de 2007, um em 2009 e 1 em 2011 (figura 2). ESCORPIÕES Segundo CARDOSO & WEN (2009), os escorpiões estão entre os primeiros animais que apareceram na Terra, datando seus fosseis aproximadamente 400 milhões de anos, sendo muito semelhantes às espécies atuais. Assim como no mundo todo, o acidente escorpiônico no Brasil constitui um problema atual de saúde pública, não só pela sua grande incidência em determinadas regiões, como pela sua potencialidade em ocasionar quadros graves, às vezes fatais, principalmente em crianças. No Brasil, três espécies de escorpiões do gênero Tityus têm sido responsabilizadas por acidentes humanos graves e mesmo fatais. O T. serrulatus ou escorpião amarelo, T. bahiensis ou escorpião marrom e T. stigmurus, sendo o T. serrulatus o responsável pela maioria dos casos de maior gravidade. Os acidentes causados por escorpiões no Rio de Janeiro, geralmente são atribuídos à espécie T. serrulatus, que causam sérias complicações, podendo levar ao óbito. Os sintomas podem variar de acordo com o tipo do acidente. Acidentes leves podem apresentar vômitos ocasionais, taquicardia e agitação discretas, decorrentes da ansiedade e da dor forte. Acidentes moderados podem provocar, além dos sintomas 33

mencionados, algumas manifestações sistêmicas não muito intensas, como sudoreses, náuseas, vômitos, hipertensão arterial, taquicardia, taquipnéia e agitação. Nos acidentes graves, as manifestações sistêmicas são bastante evidentes e intensas. Vômitos profusos e frequentes (a intensidade e a frequência dos vômitos é um bom indicador da gravidade do envenenamento), sudorese generalizada e abundante, dificultando o exame físico. O paciente queixa-se de frio e apresenta a pele arrepiada, palidez, agitação acentuada e alternada com sonolência, hipotermia, taqui ou bradicardia, extra-sístoles, hipertensão arterial, taqui e hiperpneia, tremores e espasmos musculares. Pode haver evolução para choque cardiocirculatório e edema agudo de pulmão, que são as causas frequentes de óbito no escorpionismo. O tratamento ocorre com o soro antiescorpiônico, porém só nos casos graves. Nos casos moderados o soro tem sido utilizado apenas em crianças abaixo de sete anos, por estarem no grupo de risco. Para os demais, antes da soroterapia, é indicado combater a dor, mantendo o paciente sob observação contínua. A dor local pode ser combatida com anestésicos sem vasoconstritor, injetados no local da picada ou sob forma de bloqueio (CUPO et al., 2009). Figura 3 - Acidentes com escorpiões no município de Mangaratiba de 2007 a 2011. 34

O número de acidentes com escorpiões no Brasil é bastante elevado principalmente em alguns estados como São Paulo e Minas Gerais. Notificações de ocorrências em áreas urbanas domiciliares e peridomiciliares são registradas há várias décadas. Na cidade de Belo Horizonte (MG) 2.449 acidentes ocorreram na década de 30 com 145 mortes. Em Ribeirão Preto (SP) 985 acidentes ocorreram entre 1945 e 1950 (BIONDI-DE-QUEIROZ, 1996). No Brasil, o aumento do número de casos nos últimos anos, está diretamente relacionado com a implantação, desde 1988, de um sistema de notificações pelo Ministério da Saúde. Estima-se que ocorram 8.000 acidentes/ano no país, com um coeficiente de incidência anual de aproximadamente três casos/100.000 habitantes. Os estados de Minas Gerais e São Paulo contribuem com o maior número de notificações, representando cerca de 50% do total. No Nordeste, com exceção feita a registros esporádicos das Secretarias Estaduais de Saúde, não há um estudo sistematizado deste problema. Tem-se registrado aumento significativo de acidentes nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará. Essa região chegou a contribuir, em 1995, com 27,5% das notificações do País, com uma incidência anual de 4,4/100.000 habitantes (LIRA-DA-SILVA et al., 2009). Segundo os dados coletados na Secretaria de Saúde do município de Mangaratiba, entre os anos de 2007 e 2011, foram registrados apenas dois casos de acidentes envolvendo escorpiões, um no ano de 2008 e outro em 2009 (figura 3). Discussão de Resultados Animais peçonhentos são aqueles que possuem peçonha, ou toxina, e um aparato constituído por ferrões, presas ou quelíceras, para inocular esta substância química. A toxina que os animais peçonhentos produzem, serve para matar ou paralisar os animais dos quais se alimentam, auxiliando em suas digestões e em sua defesa quando se sentem ameaçados. É importante salientar que nenhum animal venenoso ou peçonhento tem a intenção de agredir o ser humano especifica ou propositalmente; o fazem somente quando se sentem ameaçados, tocados inadequadamente ou quando são pressionados dentro de sapatos ou roupas. A maioria desses animais terrestres tem hábito noturno, saindo durante o dia à procura de abrigo a fim de evitar a luz, podendo entrar em objetos, vestuário e residências, causando acidentes (FREITAS, 2011). 35

Segundo CARDOSO, 1993, in BOCHNER & STRUCHINER, 2002, apesar da longa tradição do Brasil no campo do ofidismo, somente em junho de 1986, e em decorrência da crise na produção de soro no país, que culminou com a morte de uma criança em Brasília, foi implantado o Programa Nacional de Ofidismo na antiga Secretaria Nacional de Ações Básicas em Saúde do Ministério da Saúde (SNABS/MS), dando início a uma nova etapa no controle dos acidentes por animais peçonhentos. Nessa época, os acidentes ofídicos passam a ser de notificação obrigatória no país, e dados sobre escorpionismo e araneísmo começaram a ser coletados a partir de 1988. É importante salientar que a obrigatoriedade das notificações estava intimamente ligada à crise na produção de soro, pois uma das estratégias adotadas pelo MS para enfrentar o problema, foi a aquisição integral dos soros produzidos, que implicou na racionalização da oferta do produto, em nível nacional, e o estabelecimento de cotas de soros antiofídicos para as Secretarias Estaduais de Saúde, de acordo com a demanda estimada para cada estado (CNCZAP, 1991). Atualmente, com a produção de soro estabilizada e atendendo de forma satisfatória à demanda, houve um afrouxamento na exigência da obrigatoriedade da notificação, estando a distribuição do soro não mais rigorosamente condicionada ao registro dos casos. Além disso, a adoção do SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação) em 1995, pela Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP), gerou uma reação negativa por parte dos municípios e estados, os quais se mostraram resistentes à adoção do novo sistema. Tal resistência ocasionou o não envio de dados por estas instâncias, gerando uma visível quebra de continuidade, passando de 34.218 casos de acidentes por animais peçonhentos registrados em 1995, para 19.624 em 1996, 5.744 em 1997 e 7.119 em 1998. A carência de informações coletadas através do SINAN, único sistema nacional que possui um módulo específico para tratar desse tipo de agravo à saúde, justifica a análise de outros sistemas nacionais de informação, que contemplam o registro de acidentes por animais peçonhentos (BOCHNER & STRUCHINER, 2002). Segundo BOCHNER (2003), existe uma estreita relação dos acidentes com animais peçonhentos, com populações desfavorecidas, não apenas por apresentarem elevados percentuais de renda insuficiente, mas pela carência de alfabetização dos jovens, sugerindo a pouca educação da população mais exposta. Esta constatação é bastante significativa ao pensarmos no aumento da gravidade dos casos devido a 36

condutas inadequadas tomadas pela população menos informada, como a utilização de torniquete, a colocação de diversas substâncias no local da picada, a ingestão de bebidas alcoólicas e a demora em buscar tratamento médico especializado. Conclusões Diante dos estudos realizados nesta pesquisa, perceberam-se dificuldades da população pertencente à região de Mangaratiba em lidar com acidentes provenientes do contato humano com animais peçonhentos entre os anos de 2007 e 2011. Estas dificuldades são marcadas pela falta de medidas preventivas para a tratativa de acidentes desta natureza, uma vez que são ocorrências de extrema importância em virtude de sua frequência e gravidade. Soma-se também a precariedade no relato oficial destes acidentes, ofuscando a visibilidade da problemática. No município de Mangaratiba foram registrados em 2007 sete casos de acidentes com serpentes, pela Secretaria Municipal de Saúde, no ano de 2008 foram 16 casos de acidentes. Em 2009 foram registrados 23 casos e nos anos de 2010 e 2011 foram relatados 18 e 9 casos respectivamente. Os acidentes com aranhas somam três casos, sendo um em 2007, um em 2009 e um em 2011. Com relação aos acidentes com escorpiões, foram registrados apenas dois casos, sendo um em 2008 e um em 2009. No período de 01 de janeiro de 2007 a 31 de dezembro de 2011, os acidentes envolvendo serpentes somaram 94%, sendo o grupo de animais peçonhentos o que mais causou acidentes no município. Já os acidentes com aranhas foram somente 4% e os acidentes com escorpiões somaram 2%. Estas informações não constam no SINAN e SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas). No município de Mangaratiba ocorrem diversos acidentes com animais peçonhentos, entretanto, tais ocorrências, em sua maioria, não fazem parte das estatísticas oficiais do Ministério da Saúde, tendo como principal causa a falta de informação e o despreparo dos responsáveis pelo pronto atendimento, bem como pelo preenchimento de fichas e prontuários médicos que possam gerar informações fiéis para o sistema de saúde. A falta de informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação SINAN sobre diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro reforça a premente necessidade da revisão e criação de outros sistemas regionais de informação, que contemplem os registros de acidentes por animais peçonhentos dos municípios, assim 37

como de capacitar os profissionais das Secretarias Municipais de Saúde a gerar informações necessárias e suficientes para se conhecer a real dimensão dos acidentes com animais venenosos e peçonhentos do Estado do Rio de Janeiro. Referências BANDIM, M.; HEFFENER, L.; SOUZA, L. C. Relato Histórico de Mangaratiba. Fundação Mario Peixoto. Secretaria Municipal de Cultura. Mangaratiba. Rio de Janeiro. 2009. BARBARO, K. C.; CARDOSO, J. L. C. Mecanismo de Ação do Veneno de Loxosceles e Aspectos Clínicos do Loxoscelismo. In: CARDOSO, J. L. C.; SIQUEIRA FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALÁQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2a. ed. São Paulo: Sarvier, 2009. BOCHNER, R. Acidentes por animais peçonhentos: aspectos históricos, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos. Tese de Doutorado. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro. 2003. BOCHNER, R. & Struchiner, C. J. Acidentes por animais peçonhentos e sistemas nacionais de informação. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18 (3):735-746, 2002. BIONDI-DE-QUEIROZ, I.; SANTANA, V. P. G.; RODRIGUES. D. S. Estudo retrospectivo do escorpionismo na região metropolitana de Salvador (RMS) Bahia, Brasil. Sitientibus, n.15, p. 273-285, 1996. CARDOSO, J. L. C.; WEN, F. H. Introdução ao Ofidismo. In: CARDOSO, J. L. C.; SIQUEIRA FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALÁQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 2009. Cap. 1 p. 3-5. CNCZAP (Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos). Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes Ofídicos. Centro Nacional de Epidemiologia, Fundação Nacional de Saúde. Brasília. Ministério da Saúde. 1991. CNCZAP (Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos). Acidentes Ofídicos. Centro Nacional de Epidemiologia, Fundação Nacional de Saúde. Brasília. Ministério da Saúde. 2009. 38

CUPO, O.; AZEVEDO-MARQUES, M. M. de; HERING, S. E. Escorpionismo. In: CARDOSO, J. L. C.; SIQUEIRA FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALAQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais Peçonhentos do Brasil: biologia clínica e terapêutica dos acidentes. 2. Ed. São Paulo: Sarvier, 2009. Cap. 20 p. 214-217-221. FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALÁQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 2009. Cap. 16 p 182-187. FRANÇA, F. O. de S.; MÁLAQUE, C.M.S. Acidente Botrópico. In: CARDOSO, J. L. C.; SIQUEIRA FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALÁQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 2009. Cap. 6 p. 83-91. FREITAS, M. A. Guia Ilustrado dos Animais Venenosos e Peçonhentos no Brasil. Pelotas: USEB, 2011. FUNDACENTRO. Ministério do Trabalho e Emprego. Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos. Instituto Butantan. São Paulo. 2001. LIRA-DA-SILVA, R. M.; AMORIM, A. M. de; CARVALHO, F. M.; BRAZIL, T. K. Acidentes por escorpião na cidade de Salvador, Bahia, Brasil (1982 2000). In, Gazeta Médica da Bahia. Nº 1, (143), 2009. LUCAS, S.M. Aranhas de Interesse Médico no Brasil. In: CARDOSO, J. L. C.; SIQUEIRA FRANÇA, F. O. de; WEN, F. H.; MALAQUE, C. M. S.; HADDAD JR., V. Animais Peçonhentos do Brasil: biologia clínica e terapêutica dos acidentes. 2. Ed. São Paulo: Sarvier, 2009. Cap. 14 p. 155. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Manual diagnóstico e tratamento de acidentes peçonhentos. Brasília, Fundação Nacional de Saúde, 2001. MINISTÉRIO DA SAÚDE, CONSELHO NACIONAL DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS (CONASEMS), O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios, 3. ed., Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 480 p. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Prevenção de acidentes com animais peçonhentos. São Paulo, FUNDACENTRO & Instituto Butantan, 2001. PINHO, F.M.O.; PEREIRA, I.D. Ofidismo. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. vol.47, n.1, pp. 24, 2001. 39

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