Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

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Transcrição:

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: 1519-0501 apesb@terra.com.br Universidade Federal da Paraíba Brasil Cardoso, Luciana; Zembruski, Cíntia; Sartori Casarin Fernandes, Daniela; Boff, Inajara; Pessin, Vanessa Avaliação da Prevalência de Perdas Precoces de Molares Decíduos Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, vol. 5, núm. 1, janeiro-abril, 2005, pp. 17-22 Universidade Federal da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63750104 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Avaliação da Prevalência de Perdas Precoces de Molares Decíduos Artigo Original Evaluation of Prevalence of Precocious Losses of Deciduous Molars Luciana CARDOSO* Cíntia ZEMBRUSKI** Daniela Sartori Casarin FERNANDES*** Inajara BOFF**** Vanessa PESSIN**** RESUMO O objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento epidemiológico da prevalência de perdas precoces de primeiros e segundos molares decíduos de crianças atendidas na disciplina de Odontopediatria da Universidade Luterana do Brasil Torres/RS. Para isso, foram analisadas 404 fichas de pacientes assistidos no período de março de 2001 a julho de 2002 na referida disciplina. Os resultados mostraram que 172 pacientes apresentaram perdas precoces de molares decíduos constituindo uma prevalência de 42,6%, sendo que 91 crianças eram do sexo masculino (46,2%) e 81 crianças do sexo feminino (39,1%). A cárie dentária representou 100% da causa das perdas precoces e os dentes mais comumente perdidos foram os segundos molares decíduos inferiores. Desta forma, deve-se investir mais esforços na prevenção da doença cárie visto que ainda são perdidos muitos dentes decíduos precocemente devido à ocorrência desta doença. ABSTRACT The aim of this study was to make an epidemiological survey of the prevalence of early loss of first and second primary molars from children attending the Paediatric Dentistry Clinic of the Lutheran University of Brazil (Torres/RS). In order to attend this object, the records of 404 patients were analysed in the time interval of March of 2001 to July of 2002. The results showed that 172 patients had precocious loss of deciduous molars, which is correspondent to a prevalence of 42.6%. Considering this population, 91 children were boys (46.2%) and 81 were girls (39.1%). Dental caries represent the unique (100%) reason for the early loss of deciduous molars and the teeth most commonly lost were the mandibular second deciduous molars. It could be concluded that more efforts should be invest in the prevention of dental caries because many primary teeth are still being lost in an early age because of the occurrence of this disease. DESCRITORES Dente decíduo;epidemiologia; Odontopediatria. DESCRIPTORS Deciduous tooth; Epidemiology; Pediatric dentistry. * Especialista em Odontopediatria ULBRA, Mestre em Odontopediatria UFSC, Professora de Odontopediatria da ULBRA/Torres RS. ** Mestre em Odontopediatria Unicastelo, Professora de Odontopediatria da ULBRA/Torres RS. *** Especialista em Odontopediatria ULBRA, Mestre em Odontopediatria ULBRA, Professora de Odontopediatria da ULBRA/Torres RS.

INTRODUÇÃO Apesar do curto período de tempo que os dentes decíduos permanecem em boca, estes são de grande importância para a função mastigatória, articulação, oclusão, fonação, estética e, sobretudo, para a normal e correta evolução do sistema mastigatório, sendo considerados excelentes mantenedores de espaço naturais, pois podem evitar os problemas associados à diminuição do perímetro do arco, migrações dentárias, perda de espaço e outros problemas que podem causar desequilíbrio na oclusão (NOGUEIRA et al. 1998; ANDO, 2000; SILVA; CARDOSO, 2000). Um dos problemas freqüentemente observados na dentição decídua e mista é a perda precoce de molares decíduos decorrente, principalmente, da destruição pela cárie dentária ou acometida pelos traumatismos. A perda de um dente é considerada precoce se ocorrer antes do estágio 6 de Nolla (formação coronária completa e formação radicular já iniciada) ou um ano antes de sua exfoliação fisiológica dependendo da situação que for mais precoce (MENEZES; ARAÚJO, 1992/1993). Tendo em vista que a época aproximada para a exfoliação dos primeiros (1 ) e segundos (2 ) molares decíduos é por volta dos nove e 11 anos de idade, respectivamente, a perda ocorrida antes deste período implica em uma perda precoce. As crianças brasileiras apresentam um dos mais altos índices de extrações dentárias prematuras, sem manutenção do espaço perdido, o que pode ocasionar a redução do perímetro do arco e aumento da sobremordida entre outros problemas funcionais (THOMAZ et al., 2002). Kronfeld (1953) estudou extrações precoces de 1 e 2 molares decíduos na Faculdade de Odontologia da cidade de Nova York. Dos 68 (100%) casos de perdas precoces de primeiros molares decíduos, observou que 30 (44,11%) foram seguidas de perdas de espaço e conseqüente má posição dentária naquele quadrante, e, em 38 (55,38%) não houve perda de espaço, sendo que em 12 dos 38 casos, mantenedores de espaço haviam sido corretamente empregados. Dos 52 casos de perdas de segundos molares decíduos, em 29 (55,76%) houve a perda de espaço e conseqüentemente má posição dentária e em 23 (44,24%) não ocorreu perda de espaço, sendo que em 14 casos mantenedores de espaço foram empregados. Poetsch (1975) realizou um estudo durante 24,6 meses, com 41 crianças, nas quais 42 1 s molares e 71 2 molares decíduos foram extraídos precocemente. As extrações dos 1 s molares decíduos mostraram que 52% dos 1 pré-molares sucessores irromperam em posições aceitáveis; 12% dos espaços não fecharam e os 1 prémolares tiveram ainda a oportunidade para irromper; 2% espaços fecharam e estavam estabelecidas as más-oclusões. Nos casos das extrações dos 2 s molares decíduos observou-se que 34% dos segundos pré-molares irromperam em posição aceitável; em 4% os espaços não fecharam e os pré-molares ainda tiveram a chance de irromper; em 3% os 2 pré-molares haviam irrompido em má-oclusão e em 59%, houve perda de espaço. Ronnerman (1977) pesquisou um grupo de 186 crianças com e sem perda precoce de molares decíduos, mostrando que antes dos sete anos e meio de idade o 1 molar decíduo foi perdido duas vezes mais na mandíbula do que na maxila, representando 26% e 11% respectivamente, ao mesmo tempo em que o 2 molar decíduo foi perdido aproximadamente quatro vezes mais na mandíbula (29%) do que na maxila (7%). Nesta mesma pesquisa, relatou que crianças com perda de dentes decíduos antes dos sete anos e meio de idade desenvolviam mais apinhamentos do que as crianças que não tiveram seus dentes decíduos perdidos precocemente. Nogueira et al. (1998) realizaram uma pesquisa na cidade de Belém, em que examinaram 1.830 pacientes, sendo 956 do sexo masculino e 874 do feminino, para analisar as perdas precoces de dentes decíduos. Destes, 280 (15,3%) apresentavam perda precoce de um ou mais dentes. Os molares decíduos representaram o maior número de perdas (49,8%), sendo que o 1 molar inferior decíduo (84) foi o dente com maior freqüência de perdas (12,6%), já o 2 molar inferior (85), foi o dente com menor freqüência de perdas (8,4%). As principais causas de perdas precoces foram respectivamente: cárie (246 dentes), seguido de trauma (86 dentes), sendo que somente aos três anos a maior causa das perdas foi devido ao trauma. Alamoudi (1999) avaliou a prevalência de perda prematura de molares decíduos e apinhamento na dentição decídua. Foram avaliadas 502 crianças entre quatro e seis anos de idade. Observou-se que 31 crianças (6,2%) apresentavam perdas prematuras de molares decíduos, especialmente o elemento 84. Em 27 crianças (5,4%) foi constatado apinhamento dentário, sendo a maioria na maxila e no sexo masculino. Silva e Cardoso (2000) realizaram um levantamento epidemiológico da prevalência de perdas precoces em 108 crianças que procuraram atendimento na clínica integrada do curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará nos anos de 1998 e 1999. A idade da amostra variou entre dois e 10 anos de idade, com média de 6,7 anos, composta de 60 meninos e 48 meninas. A prevalência de perdas precoces foi de 54,62%, 49,15% sexo masculino e 50,84% no feminino. Os dentes mais ausentes foram os molares inferiores

33,62% e o 1 molar decíduo inferior 19,46% das perdas, seguidos dos molares superiores. Dos pacientes estudados, 39,13% apresentaram perda de apenas um dente e 60,84% apresentaram perda de dois ou mais dentes. Alsheneifi e Hughes (2001) realizaram uma pesquisa envolvendo 277 pacientes entre três e 13 anos de idade que freqüentavam o Hospital Fransciscano de Crianças e do Centro de Reabilitação de Boston, no qual apresentavam 567 extrações realizadas precocemente. A cárie foi o maior motivo das extrações, representando 53%. Os 1 molares decíduos foram os dentes mais comumente perdidos, totalizando 30% na idade de seis à 9 anos. Raramente foi observada perda de 2 molares decíduos nas idades mais jovens. Menezes e Uliana (2003) realizaram um estudo em que avaliaram o perfil das crianças que apresentavam perdas precoces de molares decíduos na disciplina de Odontopediatria da Universidade Federal do Paraná. Os resultados permitiram verificar que a idade em que ocorre o maior número de perdas é aos sete anos (29,1%) e os dentes mais afetados foram os 1º molares decíduos (45,8%), sendo que o principal motivo das perdas precoces dos 155 pacientes foi a cárie dentária. Segundo Moyers (1991) a perda prematura de qualquer dente decíduo pode facilitar a erupção precoce de seu sucessor permanente ou retardá-lo de acordo com o estágio de formação dentária, além disso, alerta para o fato de que o efeito da perda prematura do 1º molar decíduo não apresenta grande importância em relação à diminuição do perímetro do arco, mas, a perda do 2º molar decíduo favorecerá que o 1 molar permanente mesialize, principalmente se o mesmo não estiver irrompido quando ocorreu a perda prematura do molar decíduo. Chaves e Carvalho (1996) relataram que o efeito das perdas prematuras de 1 molares é comparável à dos segundos molares decíduos, entretanto menos severas. Os molares inferiores exibem as maiores porcentagens de perdas precoces, independente do sexo. Estes fatores, portanto, predispõem aos pacientes a desenvolver uma máoclusão precocemente, a qual poderá ser evitada através da manutenção do dente em boca até sua exfoliação fisiológica. Se a perda não puder ser evitada, indica-se a colocação de um aparelho mantenedor ou recuperador de espaço. De acordo com Poetsch (1975) a aceleração no processo de erupção dos pré-molares acontece nas seguintes situações: quando a extração do molar decíduo ocorrer na época em que o pré-molar sucessor apresentar raiz parcialmente formada, quando o molar abcesso radicular, responsável pela destruição do osso circundante. Ao contrário, se a perda precoce do molar decíduo se der antes das coroas dos pré-molares sucessores estarem completamente formadas, verificam-se atrasos na época do aparecimento desses na cavidade oral, em relação ao dentes homólogos, utilizados como controle. Para Kuramae et al. (2001) um dos efeitos mais preocupantes da perda precoce é a migração dos dentes adjacentes associado à diminuição do perímetro do arco e conseqüente falta de espaço para a erupção dos sucessores permanentes, extrusão do antagonista e instalação de hábitos. Ao mesmo tempo, Nogueira et al. (1998), relataram que as conseqüências das perdas precoces podem resultar em mordida cruzada dos dentes que erupcionaram após esta perda, possibilidade de falsa Classe II ou III de Angle, aceleração da erupção do germe do dente permanente nos casos de destruição de tecido ósseo devido à presença de uma extensa lesão associada ao dente decíduo ou formação de espessa camada de osso alveolar sobre o germe do sucessor retardando sua erupção, entre outros. Desta forma, este estudo tem como objetivo avaliar a prevalência de perdas precoces de 1 e 2 molares decíduos de pacientes atendidos na clínica de Odontopediatria da ULBRA-Torres/RS. MATERIAIS E MÉTODOS Para realização desta pesquisa foram utilizadas informações contidas nas fichas clínicas de todos os pacientes atendidos na disciplina de Odontopediatria da Universidade Luterana do Brasil Torres/RS durante o período de março de 2001 a julho de 2002, totalizando 404 fichas. Cada ficha foi analisada individualmente procurando obter das mesmas, dados referentes às perdas precoces de 1 e 2 molares decíduos através da anamnese, indicando a idade do paciente, bem como no odontograma, relação de trabalhos realizados e exame radiográfico. A perda de um dente decíduo foi considerada precoce quando ocorreu antes do estágio seis de Nolla (formação coronária completa e formação radicular já iniciada) ou um ano antes de sua exfoliação fisiológica dependendo da situação que for mais precoce ou agravante. Também foi considerado que o 1 molar decíduo normalmente exfolia fisiologicamente por volta dos 10 anos e que o2 molar decíduo tem sua exfoliação por volta dos 11 anos de idade (MENEZES; ARAÚJO, 1992/1993). Os dados obtidos das fichas foram cadastrados em um banco de dados e submetidos aos testes

dados e ao teste t de Student para comparação dos resultados entre si. A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo Cômite de Ética e Pesquisa da ULBRA, com protocolo número 110/2002. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para avaliar a prevalência de perdas precoces de molares decíduos foram examinadas 404 fichas de crianças que buscaram atendimento na clínica de Odontopediatria da ULBRA Torres no período de março de 2001 a julho de 2002. A prevalência das perdas precoces foi de 42,6%, sendo 46,2% no sexo masculino e 39,1%, no feminino (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição dos pacientes atendidos na disciplina de Odontopediatria quanto à presença de perdas precoces no sexo masculino e feminino. Perda precoce d e d e n t e s decíduos SEXO Total Masculino Feminino n % n % n % Sim 91 46,2 81 39,1 172 42,6 Não 106 53,8 126 60,9 232 57,4 Total 197 2 X =2,059 ; p= 0,151 100,0 207 100,0 404 100,0 A prevalência de perdas precoces observada no presente estudo é inferior à encontrada por de Silva e Cardoso (2000) que relataram uma prevalência de perdas de 54,62%, destes, 49,15% no sexo masculino e 50,84%, no feminino, com uma distribuição semelhante entre os sexos. Entretanto, foi superior à prevalência de perdas precoces de molares decíduos encontrada nos levantamentos realizados por Poetsch (1975), que observou uma prevalência de 34,08%, de Nogueira et al. (1998), de 15,3% e Alamoudi (1999) que evidenciou uma prevalência de 6,2%. Quando foi observada a quantidade de perdas por criança, verificou-se que 30,8% do total tiveram perda de somente um dente, por outro lado, 69,1% apresentaram perda de dois ou mais dentes (Figura 1). Em relação ao número de dentes perdidos por criança, existe uma semelhança em relação aos achados de Silva e Cardoso (2000) que mostram que 39,13% das crianças perderam um dente; 60,84% tiveram dois ou mais dentes perdidos precocemente confirmando a alta prevalência de crianças que perderam mais de um dente decíduo antes da época ideal. precocemente por cárie, como relatado por Poetsch (1975), Alsheneifi e Hughes (2001) e Menezes e Uliana (2003). As crianças brasileiras apresentam um dos mais altos índices de perdas prematuras de dentes decíduos devido à cárie, pois a população brasileira ainda cultiva a idéia de que os mesmos não precisam de cuidados pois serão substituídos. % 35 30 25 20 15 10 5 0 30,8 25,0 17,4 12,2 Total de Dentes 5,2 5,8 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura 1 - Distribuição dos pacientes atendidos na disciplina de Odontopediatria quanto ao número de perdas precoces. A Tabela 2 mostra que a média de molares decíduos perdidos por criança foi de 2,83 no sexo masculino e 2,43 dentes no feminino, sendo que 465 molares decíduos foram perdidos precocemente. Tabela 2 - Média de dentes perdidos por criança no sexo masculino e feminino. Quantidade total de dentes Sexo Média Desvio padrão p Masculino 2,83 1,79 Feminino 2,43 1,76 p= nível mínimo de significância do teste t 0,6 0,144 Quanto à distribuição das perdas precoces em relação ao elemento dentário, verificou-se que os 2 molares inferiores (75/85) tiveram a maior porcentagem de perdas com 29%; seguido pelos 1 molares decíduos inferiores (74/84) com 25,8% do total das perdas. O 2 molar decíduo inferior direito (85) foi o dente com maior índice de perdas totalizando 14,8%. Os dados podem ser observados na Tabela 3 e na Figura 2. Ronnerman (1977), Chaves e Carvalho (1996), Nogueira et al. (1998), Alsheneifi e Hughes (2001), 2,9

unânimes em afirmar que os molares decíduos representam o elemento com maior número de perdas dentárias, sendo que o primeiro molar decíduo inferior (84) é o dente perdido com maior freqüência, contrariando os resultados encontrados na presente pesquisa e no levantamento de Ronnerman (1977) e Silva e Cardoso (2000), no qual o segundo molar decíduo inferior (85 ou 75) foi o dente com maior índice de perda. Tabela 3 - Distribuição de perdas precoces em relação ao elemento dentário decíduo. Dente N % 55 57 12,3 54 59 12,7 64 49 10,5 65 45 9,7 75 66 14,2 74 65 14,0 84 55 11,8 85 69 14,8 Total 465 100,0 Base dentes decíduo extraído / perdido Apesar dos avanços na prevenção e nas medidas de promoção de saúde bucal, a perda prematura de dentes decíduos continua sendo comum para muitas crianças, pois a maioria delas está relacionada com a doença cárie. Entretanto, há a necessidade da realização de mais estudos em relação a este problema a fim de termos um dado mais significativo a nível populacional. CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos neste estudo é possível concluir que: 1) A causa da perda precoce dos molares decíduos foi, em 100%, a cárie, com uma prevalência 42,6%, 46,2% no sexo masculino e 39,1% no feminino; 2) Observou-se que 30,8% das crianças tiveram perda de apenas um dente, enquanto que 69,1% apresentaram dois ou mais dentes perdidos precocemente. O dente 85 apresentou o maior índice de perda precoce (14,8%); 3) A perda média de dentes foi de 2,83 no sexo masculino e de 2,43 no feminino. REFERÊNCIAS ALAMOUDI, N. The prevalence of crowding, attririon, midline discrepancies and premature tooth loss in the primary dentition of children in Jeddan, Saudi Arabia. J Clin Pediatr Dent, Birmingham, v. 24, n. 1, p. 53-58, Fall, 1999. ALSHENEIFI, T.; HUGHES, C. Reasons for dental extractions in children. Pediatr Dent, Chicago, v. 23, n. 2, p. 109-112, Mar./April, 2001. ANDO, T. Fatores pós-natais intrínsecos de interesse para a ortodontia preventiva. In: GUEDES PINTO, A.C. Odontopediatria. 5. ed. São Paulo: Santos, 2000. Cap.40, p.739-765. CHAVES JR, C. M.; CARVALHO, L. S. Avaliação clínico radiográfica da preservação de espaço na dentição mista. Rev Assoc Paul Cir Dent, São Paulo, v. 50, n. 6, p. 509-512, nov./dez. 1996. CUOGHI, O. A. et at. Loss of space and dental arch length after the loss of the lower first primary molar: a longitudinal study. J Clin Pediatr Dent, Birminghan, v. 22, n. 2, p. 117-120, Winter, 1998. 15 12 9 6 3 0 0-3 - 6 5 4 4 5 KRONFELD, S. The effects of premature loss of primary teeth and sequence of eruption of permanent teeth on malocclusion. J Dent Child, Chicago,v. 20, p. 2-13, 1953. KURAMAE, M; ALMEIDA, M. H. C.; NOÜER, D. F.;MAGNANI, M. B. B. A. Perdas precoces de dentes decíduos etiologia, conseqüências e conduta clínica. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v. 4, n. 21, p. 411-418, maio/jun. 2001. MENEZES, F. C.; ARAÚJO, T. M. Manutenção de espaço. Rev Faculd Odontol UFBA, Salvador, v. 12-13, p. 119-126, jan./dez. 1992/1993. MENEZES, J. V. N. B.; ULIANA, G. Perfil de crianças com dentes decíduos perdidos precocemente. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v. 6, n. 31, p. 196-200, maio/jun. 2003. - 9-12 - 15 Figura 2 - Distribuição percentual de perdas precoces em MOYERS, E. R. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 483p. NOGUEIRA, J. A. S. et al. Perdas precoces de dentes decíduos e suas conseqüências para dentição futura elaboração de propostas preventivas. Rev ABO Nacional, São Paulo, v. 6, n.

POESTCH, H. Prevalência de perdas precoces em molares decíduos. Rev Gaúcha Odontol, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 18-28, 1975. Recebido para publicação: 19/0/05 Aceito para publicação: 26/04/05 RONNERMAN, A. The effect of early loss of primary molars on tooth eruption and space conditions: a longitudinal study. Acta Odont Scand, Oslo, v. 35, n. 5, p. 229-239, 1977. SILVA, A. M. V.; CARDOSO, F. C. Prevalência de perda precoce de dentes decíduos em crianças que procuram atendimento odontológico no curso de odontologia da UFPa. 2000. D i s p o n í v e l e m : h t t p : / / w w w. o d o n t o l o g i a i n f a n t i l. 8m.com/publicacoesa.htm. Acesso em 05 out. 2002. THOMAZ, E. et al. Prevalência de protrusão dos incisivos superiores, sobremordida profunda, perda prematura de elementos dentários e apinhamento na dentição decídua. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v. 5, n. 26, p. 276-282, jul./ago. 2002. Correspondência: Luciana Cardoso Rua Capitão Cruz, 2137 Montenegro - RS CEP:95780-000 E-mail: cardosoluciana@hotmail.com UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Av. Floriano Peixoto, 718 - Centro - CEP 58100-001 - Campina Grande - Paraíba Telefax: 83 333 3476 - Pabx: 83 341 3300