NANCOMPÓSITOS SBR/ARGILA ORGANOFÍLICA BRASILEIRA

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Transcrição:

NANCOMPÓSITOS SBR/ARGILA ORGANOFÍLICA BRASILEIRA : Thiago R. Guimaraes 1, Ana Rita Morales 2, Lucilene B. Paiva 2, Francisco R. Valenzuela-Diaz 3 * 1 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Depto. Eng. Metalúrgica e de Materiais, atualmente na Imerys 2 Faculdade de Engenharia Química, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP 3* Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Depto. Eng. Metalúrgica e de Materiais, São Paulo, SP, frrvdiaz@usp.br Este trabalho foca a obtenção de compósitos de elastômero SBR com bentonita brasileira não tratada e tratada com sal orgânico a fim de torná-la organofílica. As argilas foram caracterizadas por DRX e incorporadas à razão de 10pcr. Os compósitos foram caracterizados por DRX e suas capacidades de resistência a tração foram obtidas. Para comparação, foi medida a resistência a tração (RT) de compósitos similares obtidos com duas argilas organofilicas importadas Compósitos com a argila brasileira tratada apresentaram RT 233% superior a de compósitos sem argila, 200% superior ao do compósito com argila não tratada e 133% superior ao compósito com a argila Cloisite 30B. Com relação ao compósito com argila importada 20ª, apresentou valor de RT 17% inferior. Todos os compostos obtidos apresentaram alongamento na ruptura superior ao do composto sem argila. Os resultados de DRX em conjunto com os de RT evidenciam a obtenção de nanocompósitos intercalados com a argila brasileira tratada.. Palavras-chave: SBR, nanocompósitos, bentonita, argila organofílica. SBR Brazilian organophilic/ Clay nanocomposites. The aim of this work is the obtaining of SBR composites using a Brazilian raw bentonite and the same bentonite treated with an organic salt. The clays were characterized by XRD. The clay addition in the composites was 10 pcr. The composites were characterized by XRD and had measured theirs tension strength (TS). The composite with Brazilian treated clay showed TS 233% higher than a composite with no clay, 133% higher than a composite with Cloisite 30B organophilic clay and 17% lower than a composite with Cloisite 20A organophilic clay. XRD and TS data evidence that the composite with Brazilian treated clay is an intercalated nanocomposite. Keywords: nanocomposites, bentonite, SBR, organophilic clay. Introdução A borracha de estireno-butadieno (SBR) é atualmente o elastômero sintético mais consumido mundialmente. Juntamente com a borracha natural (NR), estima-se que ambas ocupem de 70 a 75% do volume total consumido de borracha no mundo. O primeiro registro de preparação do SBR foi na Alemanha em 1929. Porém naquele momento não apresentou propriedades interessantes quando comparada à NR. Foi somente durante a Segunda Guerra Mundial que o SBR começou a ganhar importância quando parte do sudeste asiático foi tomado pelo Império Japonês, interrompendo o fornecimento de borracha natural para os países aliados. O SBR é utilizado principalmente na indústria automobilística. A fabricação de pneus e outros componentes presentes em automóveis como perfis, coxins, revestimentos para embreagens de acionamento mecânico são os principais propulsores do consumo do material em questão. Além

disso, este é considerado, juntamente com a borracha natural e com o polibutadieno (BR) como elastômeros É essencial que as borrachas sintéticas recebam cargas em sua formulação 1. A diversidade de cargas utilizadas em compostos de borracha é grande e estas podem ser divididas em cargas funcionais e inertes. Como principal tipo de carga funcional podemos destacar o negro de fumo. Certamente esse é o tipo de carga funcional mais utilizado para borracha ao redor do mundo e o mesmo consegue incrementar praticamente todas as principais propriedades dos compostos de borracha. Outro importante tipo de carga funcional são as sílicas. Estas incrementam tensão de ruptura e força de rasgamento tal qual o negro de fumo, porém apresentam menor resistência à abrasão, alongamento e dureza. Por outro lado, as propriedades elétricas são melhoradas 2. A processabilidade dos compostos com sílica também fica prejudicada quando comparada aos compostos de negro de fumo. A cor clara é outra vantagem atraente das sílicas. A principal carga inerte para composto de borracha são as argilas. O principal tipo de argila utilizada é o caulim. Admite-se que tais materiais promovem pequenas melhorias em propriedades quando adicionados em grandes quantidades. No entanto, é sabido que as argilas servem apenas como um simples material de enchimento, diminuindo o custo do composto, não provocando de forma prática nenhum tipo de melhoria de propriedade em baixas concentrações. Nanocompósitos de polímero e argilas como nanocargas tiveram o primeiro ou um dos primeiros trabalhos publicados pelo Instituto Tecnológico da Toyota na década de 1980, relatando-se a obtenção de um nanocompósito de Poliamida 6 e montmorilonita (MMT) (1). Com pequenas adições de MMT obtiveram melhoras consideráveis nas propriedades mecânicas. Atualmente é possível presenciar uma produção científica muito fértil em torno do assunto, focada em associações dos mais diversos tipos de polímeros e argilominerais, métodos de obtenção e propriedades estudadas. As propriedades mecânicas são o principal tipo de propriedade reportada em artigos científicos a respeito de propriedades de nanocompósitos relacionados a materiais elastoméricos. A facilidade de mensuração, o baixo custo dos métodos empregados e também a proximidade destes métodos com as atuais estruturas disponíveis ao transformador de compósitos de borracha, colocam tais propriedades como as mais medidas nesse tipo de publicação. Dentre as propriedades mais medidas podemos citar a tensão e alongamento de ruptura, módulo de elasticidade a 300% de alongamento, dureza e força de rasgamento. Em paralelo, a relação dessas propriedades com propriedades reológicas e de cura são importantes, pois servem, em conjunto, para explicar diversos comportamentos dos nanocompósitos elastoméricos.

No que diz respeito às propriedades de tração e alongamento, a melhoria descrita na literatura ocorre sempre que há formação de nanocompósitos de elastômeros com argilas organofílicas. O aumento dos valores de tensão e alongamento em ruptura e módulo de elasticidade em 300% de alongamento ocorre geralmente nos estudos realizados, independentemente do tipo de elastômero ou argilomineral utilizado (2-4). Um dos fatores que explicam o comportamento de melhoria em tais propriedades é a formação de uma estrutura na qual a grande razão de forma das argilas organofílicas produz uma maior interação interfacial entre polímero e argilomineral. Quando nanocompósitos se formam, independentemente de suas estruturas serem intercalada ou esfoliada, existe um melhor aproveitamento da grande razão de forma que esses materiais podem proporcionar aos compósitos poliméricos. Acompanhado ao aumento da tensão de ruptura e do módulo a 300% de alongamento, ao contrário do que se possa estimar, ocorre também, geralmente, um incremento nos valores de alongamento dos nanocompósitos poliméricos com argilas organofílicas. Acompanhando o aumento de tensões e alongamento, ocorre também um aumento dos valores de dureza Shore A e também da força de rasgamento. Tais propriedades são importantíssimas sob o ponto de vista de projeto de compósitos elastoméricos e servem como diretrizes para os transformadores de borracha, principalmente em aplicações onde a resistência a abrasão e desgaste são importantes. É objetivo deste trabalho descrever a preparação de nanocompósitos SBR/argila organofílica nacional, caracterizando os mesmos por técnicas de DRX e comparar os resultados com os compósitos obtidos com a mesma argila natural, isto é, antes da sua organofilização. Experimental Na tabela I encontram-se listadas as matérias primas utilizadas para a preparação dos compósitos deste trabalho. Tabela I: Elastômero e aditivos utilizadas para a fabricação dos compósitos. Argilomineral SBR 1502 Enxofre MBTS Óxido de Zinco Ácido esteárico Função Matriz Polimérica Agente de Cura Acelerador de Cura Ativador de Cura Lubrificante O elastômero SBR 1502 é, ao lado de SBR 1500 e SBR 1006, o elastômero sintético mais utilizado ao redor do mundo. A sua utilização está fincada na indústria de pneus e também em compostos

para a indústria automobilística em geral. Da mesma forma, enxofre, MBTS e óxido de Zinco são os aditivos mais utilizados para compostos elastoméricos em geral principalmente por apresentarem baixo custo. Como elementos de reforço utilizados para a confecção dos compósitos para estudo de propriedades foi utilizada uma bentonita em estado natural (FG ) e tratada com sais orgânicos (FGT). A FGT foi fornecida pelo LMPSol, Laboratório de Materias-Primas Particuladas e Sólidos Não Metálicos do PMT/EPUSP, Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A denominação dos compósitos obtidos é a seguinte: CP (padrão, sem argila) CFG, com argila não tratada e CFGT (com argila organofílica) As formulações dos compósitos estão expressas na tabela II: Tabela II: Formulações utilizadas para a preparação dos compósitos. Dosagem dos componentes dos compósitos formados (PCR) Componente CP CFG CFGT SBR 1502 100 100 100 Enxofre 2,5 2,5 2,5 MBTS 1,5 1,5 1,5 Óxido de zinco 5 5 5 Ácido esteárico 1 1 1 FG 10 FGT 10 A preparação dos compósitos iniciou-se com a pesagem de todos os componentes descritos na tabela II em quantidade suficiente para a preparação de 1,2 kg de compósito pronto para processamento. A mistura e homogeneização dos componentes foram realizadas em calandra de dois rolos. Em seguida, a manta obtida do compósito não curado foi resfriada em bancada até atingir temperatura ambiente. As mantas foram cortadas e curadas a 160ºC em prensa hidráulica. As argilas foram caracterizadas por DRX, e os compósitos por DRX, tendo medidas a sua resistência à tração em ruptura e módulo de elasticidade a 300% de alongamento, alongamento em ruptura, rasgamento e dureza em escala Shore A.

Resultados e Discussão Na figura 1 são mostradas as curvas de raios-x da argila natural e tratada. Intensidade (valor arbitrário) FG FGT 1 3 5 7 9 11 2 theta Figura 1: Difratogramas de Raios X das argilas utilizadas para a fabricação dos compósitos (argilas em pó, antes do estágio de compostagem) A argila FG natural, isto é, sem tratamento, apresentou uma distância interplanar de 1,21 nm, enquanto que a FG tratada apresentou distância interplanar de 2,07 nm, demonstrando que durante o processo de tratamento com sais orgânicos a argila em questão realmente sofreu intercalação do cátion orgânico entre as suas camadas lamelares. Na figura 2 são mostradas as curvas de raios-x do elastômero padrão (sem argila) e com argila não tratada.

Intensidade (valor arbitrário) CFG FG CP 1 3 5 7 9 11 2 theta Intensidade (valor arbitrário) CFGT FGT CP 1 3 5 7 9 11 2 theta Figura 2: Curvas de Raios X do compósito FG, da amostra Padrão e da argila FG; do compósito FGT, da amostra Padrão e da argila FGT. Mesmo tendo havido uma diferença entre os picos da FG e CFG, a curva do CFG representa mais o compósito padrão do que a argila FG, essa semelhança não permite inferir se houve intercalação ou esfoliação no processo de preparação dos compostos. As curvas de raios-x da figura 3 mostram uma situação diferente quando comparada à figura 2. Os picos de FGT e CP ocupam posições bem distintas nos difratogramas, não permitindo, portanto, que os mesmos se confundam como aconteceu no caso descrito anteriormente.

O difratograma de CFGT apresenta um pico entre 6 e 7º, que representa o pico de CP. Também apresenta um pico entre 4 e 4,5º, que está praticamente na mesma posição que o pico de FGT. Além disso, outro pequeno pico, em torno de 8,5º em CFGT parece estar ligado a uma difração de segunda ordem de FGT em estado compostado. O mesmo posicionamento de FGT e CFGT entre os ângulos de 4 a 4,5º permite inferir que neste caso deve ter ocorrido intercalação do polímero no argilomineral. Os resultados de tensão de ruptura são apresentados na figura 3. Para comparação são apresentados resultados obtidos, no LMPSol, com o mesmo sistema mas com as argilas organofílicas importadas Cloisite 20A e 30B. Os pontos indicam a média das medidas encontradas e as barras representam o desvio padrão da média da propriedade de cada compósito estudado. 8,0 0 7,0 0 6,0 0 5,0 0 4,0 0 3,0 0 2,0 0 1,0 0 0,0 0 C P CF G C FG T C 2 0 A C 3 0 B Figura 3. Tensões de ruptura da amostra padrão sem argila (CP) e dos compósitos com agila FG, FG tratada (FGT) e Cloisite 20A e 30B. Observa-se que o compósito com a argila não tratada apresentou um valor um pouco superior ao do compósito sem argila (1,8MPa e 2,4MPa). O compósito com a argila tratada atingiu um valor próximo aos 6MPa, superior aos 3,6MPa do compósito obtido com a argila Cloisite 30B, mas inferior aos 7,2 obtidos com a argila 20A. Esses valores podem evidenciar a obtenção de nanocompósitos com a argila FG tratada. Todas as amostras apresentaram valores de alongamento na ruptura maiores que aos da amostra padrão (350%), com valores variando na faixa de 375% a 475%.

Conclusões Foram obtidos compósitos com elastômero SBR contendo bentonita não tratada e bentonita tratada com sal orgânico. Ensaios de DRX evidenciaram a intercalação do composto orgânico entre as lamelas do argilomineral. A adição de argila foi de 10pcr. O compósito com a argila brasileira tratada mostrou valor de resitência a tração substancialmente superior a do elastômero curado sem argila, ao do compósito com argila brasileira tratada e a de compósito similar contendo a argila organofílica importada Cloisite 30B. Compósito similar com argila organofilica importada Cloisite 20A apresentou tensão de ruptura a tração 17% superior a do compósito com argila brasileira tratada. Todos os compósitos apresentaram alongamento na ruptura superior ao do elastômero curado sem argila. Pelos dados de resitência mecânica e de DRX evidencia-se a obtenção de nanocompósitos intercalados com a argila brasileira tratada. Referências Bibliográficas 1. S.S. Ray, M. Okamoto Progress in Polymer Science, 2003, 28, 1539. 2. Y.P. Wu, Y.Q. Wang, H.F. Zhang, Y.Z. Wang, D.S. Yu, L.Q. Zhang, J. Yang Composites Science and Technology 2005, 65, 1195. 3. S. Sadhu, A.K. Bhowmick Journal of Polymer Science 2003, 42, 1573. 4. M. Arroyo, M.A. Lopez-Manchado, B. Herrero Polymer 2003, 44, 2447.