22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina VIII-013 ELEIÇÃO ELETRÔNICA NA SABESPREV UMA INOVAÇÃO COM VITÓRIA DA CIDADANIA Walter Sigollo(1) Administrador de Empresas pela Universidade São Judas São Paulo. Curso de especialização em Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas FGV. Superintendente de Recursos Humanos e Qualidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SABESP. Nilton João dos Santos(2) Tecnólogo em Processamento de Dados. Pós-graduado em Didática do Ensino Superior pela Universidade Mackenzie. Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie. Gerente do Departamento de Gestão de Recursos Humanos da SABESP. Roberto Affonso Anciães(3) Administrador de Empresas. Pós-graduado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP-SP). Analista de Recursos Humanos da SABESP. Sérgio Ferreira Batista(4) Administrador de Empresas pela Universidade Santana. Pós-graduado em Recursos Humanos pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP-SP). Analista de Recursos Humanos da SABESP Endereço(1): Avenida do Estado, 561 Ponte Pequena São Paulo - SP - CEP: 01107-900 - Brasil - Tel: (11) 3388-6822 -
e-mail: wsigollo@sabesp.com.br RESUMO Com as novas Leis Complementares de nº 108 e 109, que trouxeram mudanças significativas na Entidade de Previdência Privada, sancionadas em 29 de maio de 2001, determinaram, entre outros aperfeiçoamentos, que dois órgãos da estrutura organizacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, o Conselho Deliberativo e o Conselho Fiscal, passassem a ter igual número de representantes da patrocinadora e dos participantes e assistidos. Sendo que para estes últimos a escolha do representante seria através de voto direto. O prazo concedido para o enquadramento à nova legislação foi de apenas um ano, ou seja, em 31 de maio de 2002 a Fundação deveria já ter empossado os seus novos conselheiros. O pouco tempo disponível somado às condições peculiares da Sabesp, uma empresa com 18000 empregados e que atua em 366 municípios do Estado de São Paulo, transformou a disposição legal num grande desafio. Para elaboração e condução do processo eleitoral foi constituída uma comissão com sete membros, sendo um representante da Sabesp, um da Fundação Sabesprev, três representantes dos Sindicatos, um da Associação dos Aposentados e outro das demais entidades representativas dos empregados, sendo definido que as eleições seriam totalmente eletrônica via internet. Para a realização das eleições a Comissão desenvolveu o regulamento, contratou empresa para desenvolvimento do sistema de votação e senhas eletrônicas, bem como, um auditor de sistemas para acompanhamento do processo, elaborou e distribuiu de cartilha informativa a todos os empregados e aposentados, contratou um estúdio de gravação para que todos os candidatos gravassem mensagem para divulgação na TV Corporativa. O site para votação ficou disponível por uma semana, onde do local de trabalho ou de suas residências todos puderam votar com tranqüilidade e segurança, ao final da votação, a apuração foi transmitida através de telão e em apenas 15 minutos todos os 11.535 votos estavam apurados e já eram conhecidos os representantes nos Conselhos Deliberativo e Fiscal da Fundação Sabesprev. A votação eletrônica mostrou uma participação elevada, ou seja, mais de 57% do colégio eleitoral, resultado altamente positivo numa eleição voluntária e realizada pela primeira vez. PALAVRAS-CHAVE: Eleição, Votação, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Comissão Eleitoral. INTRODUÇÃO
A necessidade de adequação à nova lei foi encarada como uma oportunidade para um salto de qualidade na relação entre a Fundação Sabesprev e seu conjunto de mais de 20 000 segurados. Um objetivo claro ficou estabelecido: aproveitar ao máximo o potencial de participação embutido numa eleição direta de representantes. Uma eleição é uma prática de democracia e um instrumento para fortalecer os laços de um grupo com interesses em comum. Estas eleições foram marcadas pela inovação, a começar pela votação, que foi realizada totalmente de maneira eletrônica via internet, dispensando o uso de urnas físicas e votação no papel, obtendo assim maior agilidade e confiança na eleição. Algumas características existentes faziam com que o processo realmente se mostrasse um desafio, dentre elas a não obrigatoriedade do voto, era a primeira vez que os empregados votavam nos representantes da Fundação. Como atender o maior número de participantes? Sendo que os votantes estavam dispersos em mais de 400 localidades. Como votar eletronicamente? Se poucos tinham acesso à informática, e principalmente como garantir a segurança e o sigilo do voto? Para fazer frente a estes e muitos outros questionamentos, nenhum detalhe foi esquecido, destacando a mobilização e sensibilização dos empregados e aposentados para participar do processo, a atuação efetiva da Comissão Eleitoral, o desenvolvimento de sistema para votação e a atuação da auditoria de sistemas. O registro de uma participação tão expressiva comprovou o que já se esperava, o processo realmente mobilizou a maioria dos empregados e ex-empregados da Sabesp num grande exercício de cidadania e a busca pela melhoria contínua e a possibilidade de transformar um grande desafio em uma oportunidade de crescimento, foram fatores determinantes para o êxito e sucesso deste trabalho. OBJETIVO DA ELEIÇÃO Há dois anos, uma mudança legal nos estatutos e regulamentos das entidades de previdência complementar patrocinadas por empresas públicas e autarquias impôs uma necessidade de rápida adequação às instituições desse tipo existentes no país. As novas Leis Complementares de nº 108 e 109, sancionadas pelo presidente da República em 29 de maio de 2001, determinaram, entre outros aperfeiçoamentos, que dois órgãos da estrutura organizacional das entidades -- o Conselho Deliberativo e o Conselho Fiscal -- passassem a ter igual número de representantes da patrocinadora e dos participantes e assistidos. Sendo que os conselheiros representantes dos participantes e assistidos deveriam ser escolhidos por meio de eleição direta. O prazo concedido para o enquadramento à nova legislação foi de apenas um ano, ou seja, em 31 de maio de 2002 a Fundação deveria já ter empossado os seus novos conselheiros. O pouco tempo disponível somado às condições
peculiares da Sabesp, uma empresa com diversas unidades dispersas geograficamente no estado de São Paulo, transformou a disposição legal num grande desafio. Um objetivo claro ficou estabelecido: aproveitar ao máximo o potencial de participação embutido numa eleição direta de representantes. Uma eleição é uma prática de democracia e um instrumento para fortalecer os laços de um grupo com interesses em comum. Para tanto, a Sabesp, patrocinadora da Fundação partiu para uma inovação na forma de fazer a eleição dos novos conselheiros -- a votação eletrônica, via internet, dispensando totalmente o uso de urnas físicas e votação no papel, até mesmo a votação por correspondência, comum em eleições desse tipo, foi descartada. Essa escolha ampliou o desafio, porque uma característica dos quadros da Sabesp é o grande contingente de empregados da categoria operacional. Muitos trabalham em campo e não costumam ter acesso ao computador. O uso da tecnologia seria o melhor modo de alcançá-los? Eles seriam atraídos e se disporiam a participar voluntariamente de uma votação que não tem caráter obrigatório? Como mobilizar um conjunto de mais de 20.000 pessoas entre participantes e assistidos? PERFIL DA SABESP E DA SABESPREV A Sabesp - A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, atua no planejamento, execução e operação de sistemas de água potável, esgotos e efluentes industriais. Com aproximadamente 18 000 empregados, atua em 366 dos 645 municípios paulistas e atende a uma população de 24 milhões de pessoas. A Sabesprev - A Fundação Sabesp de Seguridade Social, é uma entidade fechada de previdência privada e sem fins lucrativos. Seu objetivo é prestar serviços de previdência complementar e de saúde para os empregados e ex-empregados da Sabesp, proporcionando segurança e bem-estar aos segurados. Entre participantes ativos e assistidos, isto é, aposentados e pensionistas, os segurados somam 20.170. A Fundação administra um patrimônio constituído por contribuições financeiras da empresa e dos participantes do plano previdenciário para assegurar a manutenção dos benefícios propostos. Para isso conta com uma estrutura de Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal. Suas diretrizes de administração geral, planos de benefícios e política de investimentos dos recursos disponíveis são estabelecidas pelo Conselho Deliberativo, que é composto por seis membros e respectivos suplentes, metade deles são representantes dos participantes e assistidos (aposentados) do Plano Previdenciário e a outra metade é indicada pela Sabesp. Os membros do Conselho Deliberativo têm mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos ou indicados por mais quatro. O Conselho Fiscal funciona como um organismo de controle interno, encarregado de acompanhar e examinar as contas, livros e documentos da entidade. Conta com quatro membros e igual número de suplentes, com mandatos de quatro anos. Da
mesma forma paritária, metade deles são indicados pelos segurados e os demais pela Sabesp. Os membros dos Conselhos Deliberativo e Fiscal não recebem nenhum tipo de remuneração. Os conselheiros precisam ser participantes ou assistidos de um dos planos de benefício previdenciário da Sabesprev e ter, no mínimo, cinco anos de vínculo empregatício com a Sabesp ou com a Sabesprev. A ORGANIZAÇÃO DA ELEIÇÃO Para pôr em marcha a eleição de conselheiros da Fundação, foi constituída uma comissão eleitoral com sete membros, sendo um representante da Sabesp, um da Sabesprev e os demais, de entidades representativas dos empregados: o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema), o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas de Santos, Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira (Sintius), o Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp), a Associação dos Aposentados e Pensionistas da Sabesp (AAPS) e ainda um representante das diversas associações de classe (Associação Sabesp, Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp, Associação dos Administradores da Sabesp e Associação dos Engenheiros da Sabesp). Contou ainda com uma assessoria jurídica, para dirimir eventuais dúvidas e esclarecimentos quantos aos aspectos legais que cercava o processo eleitoral. O representante da Sabesp, o Superintendente de Recursos Humanos e Qualidade, foi escolhido pela comissão para ser o seu Coordenador Executivo e o representante do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, foi nomeado Secretário. A comissão eleitoral iniciou o processo com a publicação de um edital de convocação das eleições no dia 17 de abril de 2002. O edital fixou as datas da votação e abriu inscrições para os candidatos, a partir de 29 de abril, com encerramento marcado para 2 de maio. Seria importante, contudo, esclarecer e conscientizar amplamente os empregados e aposentados. Mais que isso, buscar envolvê-los e motivá-los para o exercício de seu direito. Para levar a todo o conjunto de eleitores as informações e sensibiliza-los da importância da eleição, a primeira medida tomada pela comissão eleitoral foi a elaboração, em poucos dias, de uma detalhada cartilha. Além de explicar tudo o que cada eleitor potencial precisaria saber sobre a eleição e chamar atenção para a importância da representação na Sabesprev, a cartilha divulgou o regulamento eleitoral e estimulou a apresentação de candidatos, mostrando que qualquer segurado que preenchesse os pré-requisitos seria elegível. Fichas de inscrição também foram incluídas na cartilha para facilitar a iniciativa de quem quisesse se candidatar. Mais de 20 000 exemplares do manual foram distribuídos, com etiquetas personalizadas, a todos os empregados da Sabesp e entre os aposentados e pensionistas da Sabesprev, enviado às suas residências através de correspondência registrada.
No Complexo Administrativo Ponte Pequena, foi disponibilizada uma sala especialmente equipada para a comissão desenvolver seus trabalhos e receber inscrições. Telefones e atendentes para prestar informações e elucidar dúvidas dos candidatos e eleitores foram colocados à disposição. Com a decisão de proceder à votação eletronicamente, a comissão eleitoral contratou uma empresa, com experiência já comprovada, para desenvolver um software sob medida. A contratada foi a Nib Consulting, de São Paulo, que já havia desenvolvido sistemas para a realização de eleições no Crea e na Fapesp. A CAMPANHA O empenho em envolver os participantes da Fundação Sabesprev na escolha de seus representantes deu resultado. Apresentaram-se 24 candidatos para concorrer aos cargos de conselheiros. Desses, 21 foram homologados para disputar a eleição. A campanha decolou a partir do dia 7 de maio, quando a comissão divulgou a relação dos homologados. Entidades de classe como o Sintaema Sindicato dos Engenheiros, Sintius, APU e a AAPS inscreveram e apoiaram amplamente seus representantes, e muitos outros empregados se lançaram candidatos independentes, ou seja, sem apoio de qualquer entidade. E para garantir que todos os candidatos, independentemente de seus recursos próprios e articulações de apoio, tivessem condições de levar suas mensagens aos eleitores, a comissão eleitoral criou diversos canais democráticos de propaganda. O primeiro foi um folheto com espaços padronizados para que cada candidato se apresentasse com uma foto e um texto de sua responsabilidade (figura 1). O folheto foi distribuído a todos os potenciais eleitores. A pedido da associação dos aposentados, um segundo folheto, também com espaços homogêneos, circulou com as propostas dos candidatos para a gestão da Fundação. Figura 1: Jornal enviado a todos os empregados com textos e fotos dos candidatos. A intranet e a TV corporativa foram outros veículos utilizados para a campanha eleitoral. Na TV corporativa, um estúdio completo (câmeras, diretor, maquiagem, iluminação, etc.) foi montado e uma repórter ajudou os candidatos na gravação de mensagens, com tempo igual para todos. Os horários de veiculação do programa eleitoral foram divulgados para que os eleitores pudessem assistir e conhecer os candidatos. A TV corporativa é um meio de comunicação valioso na Sabesp, especialmente em suas unidades do interior. A empresa mantém salas com televisores em pontos acessíveis aos empregados. Além de utilizar os canais e meios oferecidos pela comissão eleitoral, os candidatos tiveram a liberdade de utilizar seus próprios recursos. Assim, alguns deles chegaram a criar sites próprios para difundir suas plataformas via internet, não esquecendo é claro, dos conhecidos "santinhos" (figura 2) e os jornais das entidades.
Figura 2: "Santinho" de candidato distribuído durante a campanha. A VOTAÇÃO No período de 7 a 13 de maio, a comissão eleitoral promoveu, por meio de carta lacrada, a distribuição de senhas eletrônicas secretas, emitidas pela Nib sem nenhuma interferência de candidatos ou da comissão, para cada um dos eleitores. As senhas, necessárias para acessar a urna eletrônica via internet, constituíram uma das medidas de segurança incluída no sistema desenvolvido para a eleição. Junto com a senha seguiu um folheto explicativo e ilustrado de como votar. Para ser aceito pelo sistema, o eleitor precisava digitar, além da senha, o número de sua matrícula. O procedimento de votação foi feito da maneira mais simples possível. O eleitor teve três alternativas de acesso: o sites da Sabesp, da Sabesprev e da Nib. Encontrava, após a tela de apresentação e da tela de registro do número de matrícula e da senha, uma tela com as opções de nome para o Conselho Deliberativo. O eleitor podia assinalar até três opções, ou ainda optar pela anulação do voto ou o voto em branco. Em seguida, encontrava a tela com os pretendentes para o Conselho Fiscal, onde poderia escolher até dois candidatos. Veja na figura 3 uma das telas de votação. Figura 3: Tela inicial de votação, disponibilizada no site das eleições. Para que houvesse a maior chance de que os eleitores participassem, foi reservado um prazo de praticamente uma semana para a votação, ininterruptamente, das 8 horas do dia 17 de maio até as 17 horas do dia 23 de maio. Para os empregados operacionais foram instalados terminais de computadores nas diversas Unidades da Sabesp. Onde, dias antes do período de votação, tiveram acesso a um simulado das eleições, para que pudessem passar por treinamento e se familiarizar com o sistema de votação, procurando assim, que o maior número de empregados viessem a exercer o seu direito de voto. A APURAÇÃO Encerrado o prazo de votação, a apuração foi realizada, conforme programado, às 18 horas do mesmo dia. Em apenas 15 minutos foi possível contar todos os votos e identificar os eleitos. A contagem, transmitida num telão, foi acompanhada pelos candidatos e pela comissão eleitoral, voto a voto (figura 4). Um auditor de sistemas independente verificou o software e acompanhou todo o processo, ajudando a assegurar a lisura da eleição e da apuração.
Figura 4: Apuração da eleição era divulgada no telão. RESULTADOS A constatação permitida pela apuração foi a de que a opção pela tecnologia se provou um tiro certeiro. Além da transparência e da lisura, a votação eletrônica contabilizou uma participação elevada: 11 535 eleitores exerceram seu direito. Um índice superior a 57% do colégio eleitoral, resultado altamente positivo numa eleição voluntária e realizada pela primeira vez. CONCLUSÃO O registro de uma participação tão expressiva comprovou o que já se esperava. O processo realmente mobilizou a maioria dos empregados e ex-empregados da Sabesp num grande exercício de cidadania. Possibilitou uma disseminação ampla de informações, estimulou o interesse pelo futuro do sistema de previdência e propagou a troca de idéias e o debate sobre questões de proveito comum. As contribuições para a melhoria da qualidade de vida e do espírito de coletividade são desdobramentos positivos que podem ser esperados da implantação de uma eleição direta de representantes. E a escolha do meio eletrônico, se mostrou uma maneira eficaz e ética de realizá-la, podendo servir de exemplo para outras instituições e empresas. A busca pela melhoria contínua e a possibilidade de transformar um grande desafio em uma oportunidade de crescimento, foram fatores determinantes para o êxito e sucesso deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEI COMPLEMENTAR 108 de 29 de maio de 2001. LEI COMPLEMENTAR 109 de 29 de maio de 2001.