Direito de propriedade



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Transcrição:

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Direito de propriedade Uma análise económica ao direito português 08-04-2012 Josefina Carreira, n.º 2451

Sumário 1. Enquadramento legal; 2. Modo de aquisição; 3. Defesa da propriedade; 4. Extinção do direito de propriedade; 5. Importância do registo; 6. Pontos a reter. 1. Enquadramento legal; O direito de propriedade está plasmado e regulado no Código Civil, no TÍTULO II - Do direito de propriedade. Logo, a sua relevância jurídica é evidente, como direito real por excelência. Deste direito sobressai a sua tendente plenitude, uma vez que a propriedade abrange todos os direitos sobre a coisa (geralmente), a sua elasticidade, já que o direito à partida vai alargar-se ao máximo de faculdades possíveis, consoante haja ou não outros direitos reais sobre determinada coisa. Acrescente-se que o direito de propriedade geralmente não tem prazo. Artigo 1305.º (Conteúdo do direito de propriedade) O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas. Todavia, isto não significa que o direito de propriedade seja absoluto, como veremos adiante. Num sentido extrajurídico, nem faria sentido, já que a vida em sociedade o impede que assim seja. É também no seguimento desta constatação que se evoca o princípio da publicidade para que sejam passíveis de conhecimento por outros sujeitos e para segurança do comércio jurídico. A publicidade, embora não seja essencial à validade do negócio jurídico que constitui o direito, é requisito de eficácia relativamente a terceiros e concretiza-se através do Registo predial e de coisas móveis de valor considerável. Artigo 5.º Oponibilidade a terceiros 1 - Os factos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respectivo registo. No entanto, quando o proprietário de um automóvel, por exemplo, faz uso do seu automóvel, em princípio à vista de todos, está já espontaneamente a dar publicidade ao seu direito sobre o carro. Em oposição, o registo público deste direito corresponderá a uma publicidade provocada.

2. Modo de aquisição: como se adquire o direito de propriedade? O direito português prevê determinados modos de aquisição do direito de propriedade, conforme estipula o art.º 1316º: Por contrato (compra e venda; doação) Sucessão por morte incentivo à constituição de património. Por usucapião Por ocupação (art.1318.º) Por achamento (arts.1323.º e 1324.º) Artigo 1323.º (Animais e coisas móveis perdidas) 1. Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa a seu dono, ou avisar este do achado; se não souber a quem pertence, deve anunciar o achado pelo modo mais conveniente, atendendo ao valor da coisa e às possibilidades locais, ou avisar as autoridades, observando os usos da terra, sempre que os haja. 2. Anunciado o achado, o achador faz sua a coisa perdida, se não for reclamada pelo dono dentro do prazo de um ano, a contar do anúncio ou aviso. 3 -Restituída a coisa, o achador tem direito à indemnização do prejuízo havido e das despesas realizadas, bem como a um prémio dependente do valor do achado, no momento da entrega, calculado pela forma seguinte: até ao valor de (euro) 4,99, 10%; sobre o excedente desse valor até (euro) 24,94, 5%; sobre o restante, 2,5%. 4. O achador goza do direito de retenção e não responde, no caso de perda ou deterioração da coisa, senão havendo da sua parte dolo ou culpa grave. Tendo em conta a análise das hipóteses colocadas em aula, verifica-se que as soluções adoptadas pelo nosso direito, partindo da regra da propriedade originária, incentivam uma protecção e procura adequadas, pelo menos por parte do proprietário. Artigo 1324.º (Tesouros) 1. Se aquele que descobrir coisa móvel de algum valor, escondida ou enterrada, não puder determinar quem é o dono dela, torna-se proprietário de metade do achado; a outra metade pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado. 2. O achador deve anunciar o achado nos termos do n.º 1 do artigo anterior, ou avisar as autoridades, excepto quando seja evidente que o tesouro foi escondido ou enterrado há mais de vinte anos.

3. Se o achador não cumprir o disposto no número anterior, ou fizer seu o achado ou parte dele sabendo quem é o dono, ou o ocultar do proprietário da coisa onde ele se encontrava, perde em benefício do Estado os direitos conferidos no n.º 1 deste artigo, sem exclusão dos que lhe possam caber como proprietário. 3. Defesa da propriedade Judicial (relevância da acção de reivindicação) Segundo o art.º 1311.º, o proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor da coisa o reconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituição do que lhe pertence. Este direito de reivindicação não prescreve com o tempo, mas também não prejudica os direitos já adquiridos por usucapião (art.º 1313º). Extrajudicial Artº 336º, n. 1 a) acção directa É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo. art.º 1320º b) Direito de tapagem art.º 1356º e segs. c) Recuperação de animais selvagens art.º 1320º, n.º 1 1. Os animais bravios habituados a certa guarida, ordenada por indústria do homem, que mudem para outra guarida de diverso dono ficam pertencendo a este, se não puderem ser individualmente reconhecidos; no caso contrário, pode o antigo dono recuperá-los, contanto que o faça sem prejuízo do outro. Outras formas de defender a propriedade incluem invadir prédio alheio para recuperar coisa que acidentalmente aí se encontre (art. 1349º, n.º 2) e ainda reparar obra defensiva de água situada em prédio alheio para evitar dano eminente (art. 1352º). A privação da propriedade (cfr. 62.º CRP, 1308.º e 1310.º CC) Nacionalização (tem como objecto empresas) Requisição (privação temporária) Confisco (de índole sancionatória) Expropriação

Quando a necessidade de expropriação decorra de calamidade pública ou de exigências de segurança interna, é possível recorrer a este processo de imediato. Nos casos restantes, só é possível recorrer à expropriação depois de esgotada a possibilidade de aquisição por via do direito privado, e mediante o pagamento de uma indemnização, por motivo de utilidade pública. Nos termos do art.º 3º do Código das Expropriações, estas devem limitar-se ao necessário à medida que contribuírem para o bem-estar social. Por acessão - quando com a coisa que é propriedade de alguém se une e incorpora a outra coisa que lhe não pertencia (alheia ou res nullis). 4. Como se extingue o direito de propriedade? Perda da coisa De acordo com o n.º 1 do art. 1344.º do Código Civil, a propriedade dos imóveis abarca o espaço aéreo e o subsolo correspondentes à superfície da coisa, assim como o que nela esta (construído, por exemplo). Os limites materiais que se impõem a este direito pleno derivam do que a lei consagrar e de negócios jurídicos eventualmente celebrados. Desta forma, há que ter em atenção que a perda da coisa não é uma simples destruição, como ilustram o exemplos abaixo citados: A é proprietário de um monte que é arrasado por catástrofe natural. Não obstante o acontecimento, continua a haver objecto do direito de propriedade, embora com novas características físicas (o que antes era uma elevação pode passar a apresentar-se como uma superfície aplanada). Não há desaparecimento: por baixo da superfície há o subsolo de que A já era proprietário antes do desastre natural. Sendo B proprietário de uma fracção autónoma de um prédio urbano que é totalmente demolido em face de um sismo, o direito de propriedade sobre tal fracção extingue-se, à partida, já que a modificação sofrida pela coisa a torna inapta a ser objecto do direito real até ali existente. Abandono (conduta): não se refere a casos de descuido do proprietário, mas sim a um abandono propositado do titular com intuito de não mais ter essa coisa no seu património. Renúncia (negócio jurídico unilateral): o titular do direito, por negócio jurídico unilateral (que deve ser registado), renuncia de forma expressa do seu direito sobre a coisa. É um acto livre, desde que não prejudique terceiros.

5. Importância do registo: É no Código do Registo Predial que se reitera o fundamento do princípio da publicidade da situação jurídica dos prédios (rústicos e urbanos): a segurança do comércio imobiliário. Regra geral, há um prazo de 30 dias para que os sujeitos intervenientes procedam ao registo. Caso não o façam no prazo referido, devem entregar o emolumento em dobro (art.º 8º - D n.º 1). Tal como já foi referido, o registo predial português é um sistema de natureza pública. De facto, não há incentivo privado na sua constituição, face aos custos de manutenção e à necessidade de uniformidade nos registos e claro, da sua publicidade. Localmente, são as conservatórias do Registo Predial a terem a cargo esta função, estando ligadas a um serviço central comum, a Direcção Geral de Registos e Notariado, dependente do Ministério da Justiça. 6. Pontos a reter Tal como seria economicamente expectável, o direito de propriedade consagrado no direito português inclui tanto direito de posse como de transferência. Não é, porém, um direito absoluto, na medida em que colida com restrições legais e na eventualidade de gerar externalidades. Atendendo aos benefícios gerados pelo reconhecimento deste direito, nomeadamente o incentivo ao trabalho, ao desenvolvimento, à conservação e à manutenção do bem em causa, o sistema jurídico acaba por comportar os custos ligados ao enforcement da propriedade punir, fiscalizar, manter um sistema de registos, e permitir a negociação e consequente estabelecimento de direitos com alguma margem de liberdade negocial. Um direito de propriedade completo e bem definido transmite confiança aos seus titulares e evita, assim, a ocorrência de disputas e o sobre-investimento em actividades de protecção. Quando se fala de direitos sobre coisas encontradas pela primeira vez, o Código prevê, no caso dos tesouros, que quem descobre torna-se proprietário de metade do achado, enquanto a outra metade pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido ou enterrado, premiando a procura individual a mais eficiente e, em simultâneo, beneficiando o titular do direito sobre a coisa onde o tesouro se encontrava. O legislador admite, desta feita, o direito de propriedade como incentivo à procura da coisa. No que toca a coisas perdidas, tenha-se em consideração que a situação óptima do ponto de vista socioeconómico é, nos casos em que o proprietário pode procurar o bem perdido, a regra da propriedade original (devolução) acrescida de uma recompensa para terceiro que a encontre. Ora a nossa lei estipula que nestas situações pode o antigo dono recuperá-los, contanto que o faça sem prejuízo do outro. Se não houver recompensa em jogo, apesar de o investimento em procura por parte do proprietário ser o adequado, há um subinvestimento por parte de terceiros, que nada têm a ganhar com isso. Tratando-se de descoberta acidental, a regra da propriedade original prevalece no sistema português, em

reconhecimento do não investimento na procura (foi um acaso) e evitando a necessidade de superprotecção. A lei vem ainda reiterar a importância de um sistema público de registos, regulado especialmente pelo Código do Registo Predial, cujas vantagens garantia de uniformidade do registo e desincentivo ao roubo superam os custos administrativos desta empresa. A expropriação existe para situações precisas e restritas, numa demonstração de que a compra e venda é mais eficiente por haver troca voluntária, pelo que o processo de expropriação deve suceder somente nos casos em que o Custo de Oportunidade de determinada troca seja elevado. A compensação exigida legalmente ao Estado vem reequilibrar o bem-estar do proprietário visado. Posto tudo isto, a lei portuguesa protege o direito de propriedade e promove, com esta consagração, a eficiência da protecção e procura de bens, incentivando a constituição de património e garantindo a segurança do comércio jurídico. Consultas efectuadas: Legislação (Código Civil, Código do Registo Predial, Código das Expropriações, CRP) DUARTE, Rui Pinto; Curso de Direitos Reais, Principia, 2007. SHAVELL, Steven, "Economic Analysis of Property Law" (2002). Harvard Law School John M. Olin Center for Law, Economics and Business Discussion Paper Series. Paper 399 - http://lsr.nellco.org/harvard_olin/399