Grupo Parlamentar. PROJECTO DE LEI Nº 174/XI Alteração ao Código Penal. Exposição de motivos

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Transcrição:

Grupo Parlamentar PROJECTO DE LEI Nº 174/XI Alteração ao Código Penal Exposição de motivos O presente projecto de lei visa proceder a um conjunto de alterações ao Código Penal no sentido de reforçar os requisitos para a concessão do regime de liberdade condicional, especialmente nos casos de criminalidade grave e violenta, e valorizar a reincidência, consagrando algumas das ideias que o CDS-PP considera passíveis de contribuir para melhorar a eficácia da resposta penal face ao crescente aumento da criminalidade grave e violenta. O CDS-PP defende o princípio do cumprimento integral das penas nos crimes mais graves. Nem é admissível que outra posição se possa assumir perante o recrudescimento do número de crimes violentos em Portugal que, outrora, figurava nas estatísticas como um dos mais seguros da Europa. Assembleia da República Palácio de S. Bento 1249-068 Lisboa Telefone: 21 391 9233 Fax: 21 391 7456 Email: gpcds@pp.parlamento.pt http://cdsnoparlamento.pp.parlamento.pt

O crime violento aumentou cerca de 11% no decurso do ano de 2008, por comparação com o de 2007, aumento este que é considerado em termos globais, mas que, por tipos de crime (nomeadamente, os praticados com recurso a armas de fogo) chega a valores muito mais elevados e que a tendência do ano transacto, infelizmente, parece não inverter. Sucede que, com alguma frequência os autores desses crimes são reincidentes, que se encontram em cumprimento de pena de prisão e foram colocados em regime de saídas precárias, ou mesmo já em liberdade condicional. Na revisão de 2007, foi eliminado o nº 4 do art. 61º, que estabelecia regras mais apertadas para a concessão da liberdade condicional quanto estivessem em causa determinados crimes mais graves (crimes contra as pessoas ou crime de perigo comum), o que implica que todos os criminosos passem a beneficiar dos mesmos pressupostos e do mesmo regime, independentemente da gravidade e natureza do crime cometido. O CDS-PP entende que não deve ser assim. O CDS-PP considera necessário reintroduzir regras que tomem em conta a gravidade dos crimes cometidos e, além disso, introduzir outras que restrinjam ou eliminem a possibilidade de colocação em liberdade condicional sempre que os condenados a prisão tenham, respectivamente, 2

praticado ou reincidido na prática de crimes graves contra as pessoas, contra a paz e humanidade ou contra a paz pública. Entende por isso o CDS-PP, fazer sentido reflectir na liberdade condicional, os diferentes graus de censurabilidade justificados pela actividade delinquente, tomando-se em conta a gravidade dos crimes cometidos. Em consequência, justifica-se, neste caso, a criação de um regime progressivamente mais restritivo, até ao limite da impossibilidade da aplicação da prisão preventiva em casos manifestamente muito graves. Assim, o CDS-PP propõe-se introduzir as seguintes alterações ao regime da liberdade condicional: - Estabelecer a verificação cumulativa dos requisitos da expectativa fundada, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena de prisão, de que uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes, bem como que a libertação se revele compatível com a defesa da ordem e da paz social, para que possa ser aplicada; 3

- Estabelecer como regra para que a liberdade condicional possa ser aplicada, sempre que se encontrem cumpridos dois terços da pena; - Exigir o cumprimento de três quartos da pena, tratando-se de condenação pela prática de crime que integre o conceito de criminalidade violenta, nomeadamente com recurso a arma de fogo, em pena superior a 5 anos de prisão; - Assumir que o regime da liberdade condicional não será aplicável, tratando-se de condenação pela prática de crime doloso que integre o conceito de terrorismo, criminalidade especialmente violenta, criminalidade altamente organizada, ou reincidência após condenação em pena superior a 8 anos de prisão. Pelo exposto, os Deputados abaixo assinados apresentam o seguinte projecto de lei: Artigo 1.º Os artigos 30º, 61º e 99º do Código Penal, na versão alterada e republicada pela Lei nº 59/2007, de 4 de Setembro, passam a ter a seguinte redacção: 4

Artigo 30º [ ] 1.. 2.. Artigo 61.º [ ] 1 A aplicação da liberdade condicional depende sempre do consentimento do condenado, e da verificação cumulativa dos seguintes pressupostos: a) Ser de esperar, fundadamente, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes; e b) A libertação se revelar compatível com a defesa da ordem e da paz social. 2 Sendo de aplicar, o tribunal coloca o condenado em liberdade condicional: a) Como regra, quando se encontrem cumpridos dois terços da 5

pena; b) Quando se encontrem cumpridos três quartos da pena, tratandose de condenação pela prática de crime que integre o conceito de criminalidade violenta, nomeadamente com recurso a arma de fogo, em pena superior a 5 anos de prisão. 3 O regime da liberdade condicional não é aplicável, tratando-se de condenação pela prática de crime doloso que integre o conceito de terrorismo, criminalidade especialmente violenta, criminalidade altamente organizada, ou reincidência após condenação em pena superior a 8 anos de prisão. 4 Em qualquer das modalidades a liberdade condicional tem uma duração igual ao tempo de prisão que falte cumprir, mas nunca superior a cinco anos. Artigo 99.º [ ] 1 (...) 2 (...) 3 (...) 4 (...) 5 É correspondentemente aplicável o disposto nos nºs 1 e 4 do artigo 61.º. 6

6 (...)» Artigo 2º É revogada a alínea c) do artigo 11º da Lei nº 59/2007, de 4 de Setembro. Artigo 3º A presente lei entra em vigor sessenta dias após a sua publicação. Palácio de S. Bento, 11 de Março de 2010. Os Deputados, 7