ALGUMAS DIRETRIZES SOBRE O APOSTOLADO PAROQUIAL Pe. PEDRO ARRUPE, S.J. 1. O Decreto da CG 31ª, que trata da aceitação das paróquias, introduziu uma mudança real na atitude da Companhia face ao apostolado paroquial (D. 27, III, 10; Comp. Jur. 442). Por ele se vê que os Provinciais solicitaram com freqüência diretrizes mais atuais sobre esta matéria. A respeito do mesmo tema, as Congregações Provinciais de 1978 enviaram ao Pe. Geral oito Postulados, procedentes de seis Assistências diversas. Parece, pois, oportuno apresentar aos Provinciais algumas indicações que os possam ajudar: (a) a discernir quando e como podem aceitar novas paróquias em sua Província; (b) a melhorar a qualidade de nosso trabalho nas paróquias a nosso cargo; (c) a atender aos jesuítas da terceira idade que, cada vez mais numerosos, trabalham como párocos ou coadjutores, a título pessoal, em paróquias não confiadas à Companhia. 2. Apesar das dificuldades em traçar diretrizes sobre estes pontos, que sejam válidas para toda a Companhia, alguns princípios gerais podem auxiliar para melhor organizar este apostolado, novo em muitas Províncias. Os Provinciais que quiserem aproveitá-los darão, sem dúvida, orientações mais detalhadas que se adaptem às circunstâncias particulares de suas Províncias. Como regra geral tenha-se presente que: (a) a importância e as dificuldades do trabalho paroquial obrigam-nos hoje a não aceitá-lo se não for com grande senso de responsabilidade; (b) sua direção deve ser confiada tão-somente a religiosos especialmente bem formados em pastoral, catequese, liturgia, homilética etc. I. QUANDO E EM QUE CONDIÇÕES PODEMOS ACEITAR PARÓQUIAS? 3. Releiamos o texto do Decreto 27, III, 10, 1 e 2 da CG 31ª: A nossa Companhia de boa mente faz sua a vontade da Igreja, expressa pelo Concílio Vaticano II, de que os religiosos chamados pelos Bispos, segundo as exigências da necessidade, prestem o auxílio de seu trabalho nos vários ministérios pastorais, sem exceção dos paroquiais. Em geral a cura paroquial de almas, depois das mudanças de disciplina introduzidas pela Igreja nas paróquias entregues a religiosos, já não se pode ter por contrária aos princípios das Constituições.
Mas por causa da importância da matéria, ao Pe. Geral é que compete, depois de ponderadas todas as circunstâncias, julgar se havemos de aceitar algumas paróquias ou deixá-las. Os textos dos contratos com os Ordinários, a respeito das paróquias, têm que ser aprovados pelo Pe. Geral. 4. Com efeito, até à 31ª, a Companhia aceitava muito poucas paróquias, exceção feita nos países de missão, e assim mesmo durante o tempo de sua primeira evangelização: o apostolado paroquial era considerado como pouco conforme com a mobilidade e disponibilidade, tão essenciais à vocação da Companhia para qualquer serviço da Igreja universal. Em outros tempos as paróquias poderiam entorpecer esta mobilidade e disponibilidade. Hoje, pelo contrário, a porta está aberta para o apostolado paroquial. Não se pode dizer, contudo, que esteja de todo aberta, uma vez que o Decreto da CG 31ª reserva ao Pe. Geral a faculdade de aceitar as paróquias. 5. Exatamente por causa da importância da matéria, o Provincial deve ter sólidas razões para propor ao Pe. Geral a aceitação de uma paróquia: - não deve condescender com excessiva facilidade ao pedido de algum Bispo; - antes de tudo há de considerar as maiores necessidades objetivas da região; - deverá ter mais em conta os programas apostólicos elaborados pela Conferência Episcopal para todo o país, do que os pedido deste ou daquele Bispo. É necessário também que o trabalho apostólico da paróquia em questão possa corresponder às prioridades da Companhia, especialmente as que foram expressas no Decreto 4 da CG 32ª. Enfim, devem ser consideradas também nossas possibilidades, num momento em que faltam, às vezes, indivíduos aptos para continuar ou incrementar outras atividades apostólicas próprias da Companhia. 6. Tendo presentes estes aspectos, pode parecer muito desejável a aceitação desta ou daquela paróquia; contudo, se nos responsabilizarmos por elas, é essencial que este apostolado esteja bem integrado no programa apostólico da Província. 7. Por isto, onde, por motivos históricos, a Companhia assumiu a responsabilidade de muitas paróquias... e surgem novas necessidades apostólicas, dever-se-á, enquanto possível, planejar uma saída programada desse apostolado paroquial, já bem desenvolvido, o qual dever-se-ia confiar prioritariamente ao clero secular. 8. Já que o Decreto da CG 31ª reserva ao Pe. Geral tanto a aceitação das paróquias, como a aprovação dos respectivos contratos, os Provinciais não esperem até a última fase da negociação com os Bispos; pelo contrário, devem submeter o problema ao Pe. Geral desde o início, com as razões pró e contra, e não prosseguir até que o Pe. Geral tenha manifestado o seu consentimento. Devem enviar-lhe também o projeto do contrato antes da assinatura.
Também nos casos de jesuítas nomeados párocos ou coadjutores, a título pessoal, deve-se celebrar contrato com o Bispo: contudo, tais contratos, contrariamente aos que tratam de aceitação de paróquias, não serão submetidos à aprovação do Pe. Geral. II COMO MELHORAR A QUALIDADE DE NOSSO TRABALHO EM NOSSAS PARÓQUIAS 9. Em certas regiões, o ministério paroquial é o único meio de inserção da Companhia no apostolado espiritual da diocese. Este fato acarreta para os jesuítas, que trabalham em paróquias, como de resto para os demais sacerdotes, o dever de seguirem fielmente as diretrizes pastorais do Ordinário do lugar. 10. A paróquia é um apostolado muito válido no mundo de hoje e oferece grandes possibilidades. Para tanto não basta que seja um lugar de administração dos sacramentos a um pequeno número de bons cristãos. A paróquia deve ser um centro onde se proclama e se aprofunda a Palavra de Deus, onde cada qual se abre para os problemas sociais, econômicos e culturais da região; deve ser também um lugar de encontro para todo o povo, e de atenção para com todos e em especial para com os pobres, os operários, os marginalizados, os nãocrentes, e para com todos os que estão longe da Igreja. A paróquia apresenta freqüentes ocasiões para realizar o serviço da fé e a promoção da justiça, de que nos fala o Decreto 4 da CG 32ª. 11. Em conseqüência das mudanças culturais, as paróquias clássicas, geográficas, nem sempre respondem com exatidão a todas as exigências atuais. Os jesuítas, comprometidos no apostolado paroquial, devem dar prova de sua criatividade. Sob a direção dos Ordinários, esforçar-se-ão por animar grupos de novo estilo, de acordo com as necessidades, por exemplo: comunidades de base que reúnam pessoas de uma mesma categoria social, ou de uma mesma profissão, bem como novas outras formas de experiência pastoral. Além disto, para atender às numerosas e rápidas mudanças de hoje, as paróquias devem rever, avaliar e adaptar, sem cessar, seus métodos de apostolado. Será, pois, muito útil que os jesuítas que trabalham nas paróquias de uma mesma região, de uma mesma Província, e ainda de uma mesma Assistência, tenham de vez em quando encontros dedicados a uma revisão de seu trabalho paroquial. Oxalá nossas paróquias, quanto possível, convertam-se em paróquias-modelo. 12. Devemos dar também à paróquia uma dimensão missionária, fazendo dela uma comunidade orientada para a missão não apenas no âmbito da própria paróquia, mas também para além de seus próprios limites. Procurar-se-á uma dimensão de universalidade, visto que não raro a paróquia tende a fechar-se em si mesma.
Finalmente torná-la sensível às necessidades humanas e cristãs para além de suas fronteiras. 13. Segundo os ensinamentos do Vaticano II devemos compreender a importância da atividade dos seculares para as comunidades cristãs: sem eles, o apostolado dos pastores não alcança sua plena eficácia. Nosso esforço será ajudar todos os paroquianos a compreenderem sua vocação ao apostolado, a qual nasce da própria vocação cristã; a promover o diálogo com os leigos e facilitar-lhes o exercício dos variados apostolados, a que se podem dedicar na paróquia. 14. Os jesuítas que trabalham em paróquias, seguindo fielmente as diretrizes do Ordinário do lugar, e evitando a aparência de querer dar lições aos outros, hão de dirigi-las conforme o nosso modo de proceder e os critérios mais típicos da Companhia (cristocentrismo, universalidade, gratuidade, aspiração ao magis inaciano, discernimento etc.). Devem empregar, de acordo com as necessidades e enquanto a prudência o permita, os métodos mais próprios da Companhia e os meios que aprenderam durante sua formação e que por certo conhecem melhor que os demais: Exercícios, Comunidades de Vida Cristã, Apostolado da Oração etc. Convém aproveitar a ocasião da redação do contrato com o Ordinário para fazer constar nele nossos critérios apostólicos característicos, e para alcançar uma justa liberdade de ação, em consonância com os princípios das últimas Congregações Gerais. 15. Lembremo-nos de que, como religiosos e jesuítas, podemos prestar um serviço não só à comunidade paroquial, mas também a outros sacerdotes comprometidos no apostolado paroquial da região: isto pelo testemunho de nossa disponibilidade, pelo desenvolvimento do sentido comunitário, já que nossa experiência de vida comunitária ajuda-nos a compreender e iluminar os problemas da vida em comum e das relações interpessoais no seio da comunidade paroquial, e pelo serviço de união e de acolhida que podemos oferecer ao clero secular. (Seria desejável que nossas casas estivessem à disposição dos sacerdotes de outras paróquias para reuniões, tempos dedicados à vida consagrada, de comunhão com Deus e de serviço dos homens.) Aberta a outros sacerdotes, a casa paroquial deve estar também aberta a outros membros da paróquia, sem prejuízo da independência necessária para a vida de uma comunidade jesuítica. 16. Aproveitemos qualquer ocasião para desenvolver o ministério dos leigos; trabalhemos de tal modo que facilmente aconteça que outros (clero secular, outros religiosos, leigos formados) nos substituam na responsabilidade de nossas paróquias: desta maneira estaremos disponíveis para iniciar outro trabalho, onde for mais difícil, solucionando assim o abandono de paróquias, nas quais, após alguma experiência, se perceba que a Companhia não pode oferecer um trabalho qualificado. Nos contratos, por conseguinte, sempre que possível, indiquem-se os limites temporais de sua validade, ainda para aqueles casos em que, chegando o
momento, o Bispo dificilmente aceitará que abandonemos a paróquia ao expirar o contrato. 17. De todo o precedente, conclui-se claramente que os que estejam dispostos a trabalhar em paróquias devem possuir grandes qualidades: zelo apostólico ardente, autêntica criatividade, relações humanas fáceis, capacidade para organização. Antes de aceitar paróquias, o Provincial deverá certificar-se de que na Província há homens dotados de tais aptidões. O fato de não se encontrarem facilmente tais homens ou de não estarem eles disponíveis é uma boa razão para se abster. Nas Províncias que já aceitaram paróquias o Provincial deverá cuidar da preparação e especialização de jovens, com vistas a este apostolado, já desde o noviciado, proporcionando-lhes formação pastoral apropriada e experiência de trabalho paroquial. Aos que já trabalham em paróquias, pensará no modo de dar-lhes a melhor formação permanente possível, que os habilite a utilizar os métodos apostólicos mais eficazes. III O CASO DE JESUÍTAS QUE TRABALHAM INDIVIDUALMENTE EM PARÓQUIAS NÃO CONFIADAS Á COMPANHIA 18. Hoje não poucos dos NN., sobretudo no setor do apostolado educacional, vêem-se obrigados, pela legislação civil, a aposentar-se em determinada idade. Muitos deles, porém, encontram-se em bom estado de saúde, e capazes ainda de empreender uma segunda carreira apostólica. Este fenômeno, inteiramente novo, contribuiu para aumentar o número de jesuítas-párocos, a título pessoal, ou jesuítas-coadjutores, em paróquias não confiadas à Companhia, e na maioria dos casos trata-se de um bom serviço apostólico. 19. Será, por conseguinte, importante que o Provincial tenha um programa de conjunto para o emprego destes jesuítas da terceira idade, e cuide com suficiente previsão, antes da hora da aposentadoria, para que cheguem preparados a esta segunda etapa apostólica. Com efeito um bom número destes jesuítas poderá encontrar ocupação entre os vários apostolados da Província, contanto que tenham tido preparação adequada. Por isso o Provincial deverá providenciar, dentro do possível, a criação de ofícios, conforme aos diversos gostos e qualificações, e oferecê-los aos padres bem antes da idade de aposentadoria. O trabalho como pároco ou coadjutores, a título pessoal, em uma paróquia não confiada a jesuítas, será uma das formas possíveis para esta segunda caminhada apostólica, mas não a única. Por outro lado, num gênero muito próximo ao trabalho paroquial, deve-se ter presente o ofício de capelães, principalmente em hospitais e presídios, plenamente de acordo com a tradição da Companhia.
20. Os que preferirem trabalhar a título individual em paróquias não confiadas à Companhia não deverão negociar por si mesmos o contrato que lhes toca: esta tramitação deverá ocorrer entre o Bispo e a Companhia. Assim, MN. que vão trabalhar em paróquias receberão, como qualquer outro jesuíta, uma autêntica missão e permanecerão dentro do corpo apostólico da Companhia. Este laço de pertença é essencial a qualquer jesuíta, mas é particularmente importante para aqueles que, ao viverem em dispersão e isolados, trabalham e vivem fora de nossas casas. 21. O Provincial deve manter uma solicitude toda especial para com estes jesuítas isolados, que trabalham em paróquias de não-jesuítas. Cuidará, por conseguinte, que fiquem, realmente, vinculados a alguma comunidade, ou que pelo menos constituam entre si uma communitas ad dispersionem com Superior próprio, e com reuniões regulares, tendo em vista a ajuda mútua e a garantia de sua identidade jesuítica. O Superior os visitará em suas próprias paróquias e velará por sua saúde, situação econômica e por sua vida espiritual, especialmente nos problemas que ocorram em um ambiente de inserção paroquial. Em algumas nações, em paróquias confiadas à Companhia, existem jesuítas isolados e sozinhos, que deverão ser objeto de cuidados especiais por parte dos Superiores. Roma, 08 de dezembro de 1979 (Traduziu: Pe. LAURO LOPES, S.J.)