Rosa Alva e Rosa Carmim E ra uma vez uma viúva que vivia em uma cabana no campo e cultivava duas belas roseiras: uma branca e a outra vermelha. A viúva tinha duas filhas, moças lindas e boas, que se chamavam Rosa Alva e Rosa Carmim, pois as cores de seus rostinhos lembravam as cores das rosas. Todas as tardes, as duas irmãs, de mãos dadas, passeavam pela mata, colhendo pitangas e amoras.
Rosa Alva e Rosa Carmim ajudavam a mãe nos afazeres de casa, e a cabana estava sempre limpa e organizada. À noite, após o jantar, sentavam-se ao lado do fogo e liam juntas velhos contos e lendas. Certa noite de inverno, enquanto liam, ouviram bater à porta. Rosa Carmim abriu a porta e deparou-se com um enorme urso preto. Deu um grito de terror e fugiu, enquanto Rosa Alva correu para se esconder embaixo da cama. Não temam! Não vou fazer mal a vocês, só preciso me aquecer um pouco, já estou quase congelado disse o urso. O urso agachou-se perto do fogo e as duas irmãs acalmaram- -se. Depois, começaram a brincar com ele. Desde esse acontecimento, o urso voltou todas as noites. Batia à porta e deitava-se ao lado do fogo. Depois, brincava alegremente com Rosa Carmim e ainda mais com Rosa Alva.
Passaram-se meses. Chegou a primavera. A mata e os campos estavam verdes e frescos. Certa noite, o urso disse: Vou deixar vocês por um longo período. Não irão me ver até o próximo inverno. E por qual motivo? perguntaram em coro as irmãs. Terei de ficar na mata para defender o meu tesouro de um anão malvado. No inverno, devido ao frio, ele não sai da toca, mas agora, com o calor, ele rouba tudo o que achar. As duas irmãs ficaram muito sentidas com a partida do amigo.
Alguns dias depois, a mãe pediu às filhas para apanhar ramos secos na floresta. No caminho, encontraram uma grande árvore caída no chão, com as raízes expostas, e ali um anão, velho e enrugado, com uma enorme barba se mexia e pulava. A ponta da barba estava presa entre as raízes da árvore. Ao ver as irmãs, o anão olhou-as fixamente e esbravejou: Não fiquem aí olhando como múmias, façam alguma coisa! Não percebem que fiquei preso? Andem, bobocas! Rosa Alva tirou do bolso uma tesourinha e cortou a ponta da barba. Logo que se viu livre, o anão malcriado agarrou um saco cheio de ouro e se afastou, praguejando contra as jovens.
Na semana seguinte, Rosa Alva e Rosa Carmim foram ao riacho pescar para o jantar. Mal chegaram e viram o anão sendo puxado pela barba por um enorme peixe. Para não cair na água, o anão havia se agarrado a uma planta. Elas seguraram o anão barbudo e tentaram livrá-lo do peixe, mas este era muito grande e forte. Então tiveram de recorrer novamente à tesourinha, cortando mais um pedaço da barba. Monstrinhas, feias, horrorosas, querem me arruinar! Esperei séculos para que minha barba crescesse tanto. Em seguida, o anão pegou um saco repleto de pérolas e desapareceu, resmungando. Alguns dias depois, as jovens iam à cidade comprar linha e agulhas. No caminho, viram um grande pássaro de asas abertas, levando preso às garras o anão birrento, que se debatia para livrar-se, sem que a ave o largasse. Então elas o agarraram e começaram a puxá-lo, livrando-o da ave.
Quando o anão se sentiu livre, começou a esbravejar. Agarrou um saco cheio de pedras preciosas e desapareceu por uma fenda entre os penhascos. As duas irmãs continuaram a caminhar. Chegando à cidade, fizeram as compras e retomaram o caminho de volta. Enquanto passavam pelos rochedos, viram o anão que, sem precaução, havia colocado no chão o conteúdo do saco. As pedras preciosas cintilavam como as cores do arco-íris. Era um espetáculo tão belo que elas pararam admiradas. Quando o anão as viu, ficou cheio de raiva. O que fazem aí, espiãs malditas? Sumam daqui! Nem teve como continuar, pois, naquele momento, um enorme urso preto pulou de trás de uma das rochas. O anão tentou, mas não conseguiu fugir. Então começou a choramingar: Seu urso, não me faça nenhum mal! Ofereço-lhe todo o meu tesouro em troca da minha vida. Não me devore!
Mas o urso não o escutava. Levantou uma pata e acertou o anão com tanta força que o fez voar longe, morto. Rosa Alva e Rosa Carmim, aterrorizadas, correram, mas o urso disse: Não fujam... Esperem por mim... Sou eu... As jovens reconheceram a voz: era a mesma do urso que por tanto tempo tinham abrigado e aquecido na cabana, com quem tinham brincado muitas noites. Repentinamente, a espessa pele preta caiu ao chão, e apareceu um jovem magnífico, trajado com uma roupa bordada com ouro. O jovem disse: Sou filho de um rei. O maldito anão, além de roubar todo meu tesouro, me fez um feitiço. Somente com a morte dele, eu me libertaria.
As irmãs estavam surpresas. E o príncipe continuou: Rosa Alva, você que, mais do que sua irmã, brincava comigo quando eu era um urso, quer casar-se comigo? Muito feliz, Rosa Alva respondeu logo que sim. Rosa Carmim casou-se com o irmão do príncipe. A mãe das jovens mudou-se para o palácio acompanhando as filhas e levou as duas roseiras, a branca e a vermelha, que continuaram a dar flores cada vez mais lindas. E todos viveram felizes para sempre.