A floresta, a fauna e as populações tradicionais. Juarez Pezzuti NAEA/UFPA

Documentos relacionados
DIREITO AMBIENTAL. Proteção à Fauna Lei n 5.197/67 Parte 1. Prof. Rodrigo Mesquita

PROVA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ QUESTÕES DE DIREITO AMBIENTAL

DIREITO AMBIENTAL. Proteção à Fauna Lei n 5.197/67 Parte 2. Prof. Rodrigo Mesquita

Zootecnista Henrique Luís Tavares Chefe Setor de Nutrição da Fundação Parque Zoológico de São Paulo

Degradação da Diversidade Biológica

Acordo de Gestão de Recursos Naturais

ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA E O CONTEXTO INTERNACIONAL. André Jean Deberdt Coordenação Geral de Fauna/IBAMA

Prof. Leandro Igrejas.

DIREITO AMBIENTAL. Proteção à Fauna Lei n 5.197/67 Parte 3. Prof. Rodrigo Mesquita

TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Legislação Ambiental Aplicada a Parques Eólicos. Mariana Torres C. de Mello

Salvador 27 de NOVEMBRO de 2008

JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO Promotor de Justiça. Professor Universitário. Mestre em Integração Latino Americana - UFSM.

BELÉM, 19 de maio de 2017

Portaria SEAPPA Nº 93 DE 10/06/2011 (Estadual - Rio Grande do Sul)

Sistema Nacional de Unidade de Conservação

CRIMES AMBIENTAIS. Lei Nº de 12/02/1998

MR16 Caça de primatas no Brasil: panorama e alternativas Lísley P. Lemos Priscila Ma. Pereira Helder Queiroz João Valsecchi

PRÁTICA AMBIENTAL Vol. 2

Manejo integrado de fauna aquática na várzea: Pirarucu, Quelônios e Jacarés. Juarez Pezzuti NAEA/UFPA Marcelo Crossa - IPAM George Rebêlo - INPA

Discussão sobre os efeitos da Portaria MMA nº 445, de

RESOLUÇÃO CEMAM Nº 26, DE

Política Nacional de Meio Ambiente: unidades de conservação. Biogeografia - aula 4 Prof. Raul

SUMÁRIO CONSTITUIÇÃO FEDERAL

MELIPONICULTURA/LEGISLAÇÃO - SÍNTESE

Roteiro da Apresentação. 1. Evolução Histórica 2. Problemas de Aplicabilidade 3. Reflexões

LEI N 5.197, DE 3 DE JANEIRO DE 1967

CRIMES CONTRA A FAUNA

Disciplina: Manejo de Fauna Professor ANTÔNIO L. RUAS NETO

DIREITO AMBIENTAL. Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC-Lei nº de 2000 e Decreto nº de 2002

Construção da Politica Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

S UMÁRIO. Capítulo 1 Meio Ambiente Doutrina e Legislação...1. Questões...6 Gabaritos comentados...8

Analise do Quadro Legal para Conservação da Biodiversidade em Moçambique e Desafios sobre Educação Ambiental

SISEMA. Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. POLÍCIA MILITAR D E M I N A S G E R A I S Nossa profissão, sua vida.

Conferências de Segurança Alimentar e Nutricional. Irio Luiz Conti CONSEA/REDESAN/FIAN INTERNACIONAL Fone: (51)

nós estamos trabalhando firmemente para a preservação na medida que não mexemos e não manejamos silvestres

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

PLANTAS MEDICINAIS MARCOS REGULATÓRIOS DE RECURSOS GENÉTICOS. Marcio Mazzaro Coordenador Geral CGNIS/DIAGRO/SDI Green Rio - RJ, 24 maio 2019

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS

22/9/2010. UNESP Biologia Marinha Gerenciamento Costeiro LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A RESPONSABILIDADE DO INFRATOR AMBIENTAL NO ÂMBITO PENAL AULA 4

Responsabilidade Social e Ambiental - Política Global do Grupo Santander -

LEI ID E C RIM I E M S AMB M IE I NTA T IS

O produtor pergunta, a Embrapa responde

ORDEM DE CHAMADA PROVA ORAL DATA: 08/11 (Quarta-feira) SALA 1

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO PARA A COORDENAÇÃO DA ACÇÃO AMBIENTAL

Número de Diploma. Data da. Nome Lei. Cria o quadro jurídico/legal da gestão do ambiente na República Democrática de São Tomé e Príncipe

Direito Humano à Alimentação Adequada

SEMINÁRIO PAN- AMAZÔNICO DE PROTEÇÃO SOCIAL

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOAS

Áreas de Alto Valor de Conservação

SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

LEI Nº 5.197, DE 03 DE JANEIRO DE 1967

Resumo gratuito SNUC Prof. Rosenval Júnior. Olá, pessoal!

- CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO E O USO DOS CURSOS D ÁGUA TRANSFRONTEIRIÇOS E DOS LAGOS INTERNACIONAIS (Helsinque, 1992);

LICENCIAMENTO AMBIENTAL LEGISLAÇÕES PERTINENTES

LEI Nº , DE 29 DE JUNHO DE 2009

Rapel comercial Plano de Manejo do MoNa Pão de Açúcar Legislação 23/07/2016

A APA DO ANHATOMIRIM NO CONTEXTO DO SNUC

RESOLUÇÃO CONJUNTA SEMAD IEF Nº 2.749, 15 DE JANEIRO DE 2019

Plano Estratégico de Conservação e Uso da Biodiversidade do Município de Juruti, Pará

Gabinete do Presidente

O BIOMA CERRADO. Arnaldo Cardoso Freire

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Dec. nº 4.339, de 22/08/2002

Tutela Penal do Meio Ambiente

À Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade Pará (SEMAS)

Lei n.º 4.771/1965 Institui o novo Código Florestal, ainda vigente.

A PAN-AMAZÔNIA E A COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA)

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE REDAÇÃO SUBSTITUTIVO DO RELATOR AO PROJETO DE LEI Nº 4.490, DE 1.994

ENCCEJA RESUMO. O que é biodiversidade. Biodiversidade. Natureza 1. Ponto crítico

NATUREZA E BIODIVERSIDADE. Que vantagens lhe trazem?

Mil Madeiras Preciosas ltda. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PC-007/2007

Soc o i c o i - o B - io i d o i d v i e v r e si s da d de do Brasil

Agricultura familiar, orgânica e agroecológica. Semana do Meio Ambiente

Região Norte: Apresentação e aspectos físicos

Direito Ambiental noções gerais. Ana Maria de Oliveira Nusdeo Faculdade de Direito da USP

VII Seminário técnico-cientifico de análise dos dados referentes ao desmatamento na Amazônia Legal

Manual para Elaboração dos Planos Municipais para a Mata Atlântica

HISTÓRICO PRINCÍPIOS AMBIENTAIS CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

PROJETO TARTARUGAS DA AMAZÔNIA

Contribuições das RPPNs da IP para a Conservação da Biodiversidade. 11 de Novembro de 2016

Documento compartido por el SIPI

CENTRO ESTADUAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO CEUC. APA-Nhamundá

NOVO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: Principais mudanças e implicações. Lei n , de 25 maio de Volume 2 Série Cartilhas ao Produtor

LISTA DE EXERCÍCIOS CIÊNCIAS

Direito Ambiental Constitucional. Inclui Princípios constitucionais correlatos

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

TERMO DE REFERÊNCIA. Definição de uma linha de base de biodiversidade e serviços ambientais para o município de São Félix do Xingu - Pará

Instituto O Direito Por Um Planeta Verde Projeto "Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos"

EQUACIONAMENTO JURÍDICO E AMBIENTAL DA RENCA VII ENCONTRO DE EXECUTIVOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL A AGENDA MINERAL BRASILEIRA ADIMB 29 DE JUNHO DE 2017

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO IBB021. Por que é importante? Por que é necessário? Por que é importante? Conservação em Paisagens Modificadas pelo Homem

VII.XIII: Legislação Ambiental relacionada ao PMMA

Legislação Penal Crimes ambientais Crimes de preconceito Terrorismo Tortura

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ IDSM/OS/MCTI PROGRAMA DE MANEJO DE PESCA

01. (CONSULPLAN) - Considerando-se a Lei do Meio Ambiente (Lei nº 9.605/98) analise as assertivas:

CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. Seção I Dos Crimes contra a Fauna

Transcrição:

A floresta, a fauna e as populações tradicionais Juarez Pezzuti NAEA/UFPA juca@ufpa.br

Conservação da fauna amazônica em uma pesrpectiva histórica 10 milhões de habitantes antes da invasão européia (Prestes-Carneiro et al., 2016) Desmatamento inexpressivo Dois padrões básicos de ocupação Várzeas e margens de grandes rios Subsistência baseada na fauna aquática Pequenos núcleos em terra firme (nômades e seminômades) Caçadores

Peixes e quelônios constituem fonte básica de alimento para os povos ribeirinhos (400g/pessoa/dia) Cerdeira et al., 1997 Adams, 2003 Pezzuti et al., 2008 Isaac et al., 2015

Causas da perda da biodiversidade Destruição do habitat Fragmentação do habitat Exploração direta Poluição Introdução de espécies exóticas Aumento de ocorrência de doenças Mudanças climáticas (poluição?)

Barcarena e Abaetetuba

Terras Indígenas Resistindo às frentes de expansão Parques no papel estão com seus dias contados? Reserva Biológica do Gurupi Area: 2,712 km²

MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA CONTAMINAÇÃO DE PODOCNEMIS UNIFILIS (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE) POR AGROTÓXICOS E MERCÚRIO NA BACIA DO RIO XINGU MARINA TEÓFILO PIGNATI

Relação sinérgica entre fragmentação e caça Fragmentação afeta principalmente animais de grande porte Fragmentação aumenta acessibilidade Viabilidade das populações fica comprometida

Desmistificando Diversas experiências bem sucedidas de manejo comunitário Pirarucu, manejo de lagos Manejo de jacarés Quelônios Gargalos legais para o manejo de fauna

LEI N 5.197, de 03/01/1967 Lei de Proteção à Fauna Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha. 1º Se peculiaridades regionais comportarem o exercício da caça, a permissão será estabelecida em ato regulamentador do Poder Público Federal.

LEI N 5.197, de 03/01/1967 Lei de Proteção à Fauna Art. 7º A utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de espécimes da fauna silvestre, quando consentidas na forma desta Lei, serão considerados atos de caça. Art. 8º O Órgão público federal competente, no prazo de 120 dias, publicará e atualizará anualmente: a) a relação das espécies cuja utilização, perseguição, caça ou apanha será permitida indicando e delimitando as respectivas áreas; b) a época e o número de dias em que o ato acima será permitido; c) a quota diária de exemplares cuja utilização, perseguição, caça ou apanha será permitida.

LEI 9.605 - Lei de Crimes Ambientais (12/02/1998) ART.29 - Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida ART.37 - Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III - (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

Decreto 6040/2007 Política Nacional de Populações e Comunidades Tradicionais Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais Art 3 (Objetivos específicos) I - garantir aos povos e comunidades tradicionais seus territórios, e o acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica

Decreto nº 7.272, de 25/08/2010 Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN) Define as diretrizes e objetivos da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, dispõe sobre a sua gestão, mecanismos de financiamento, monitoramento e avaliação Diretrizes I) promoção do acesso universal à alimentação adequada e saudável, com prioridade para as famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional IV) promoção, universalização e coordenação das ações de segurança alimentar e nutricional voltadas para quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais VII) apoio a iniciativas de promoção da soberania alimentar, segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada

Decreto nº 7.272 25/08/2010 - Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN) Art. 2º; 1o A adoção dessas políticas e ações deverá levar em conta as dimensões ambientais, culturais, econômicas, regionais e sociais. Art. 3o blablablá..., tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Art. 4o A segurança alimentar e nutricional abrange: II a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável dos recursos

A caça e o caçador na legislação brasileira 1) Lei 5197 de 03/01/1967- Lei de Proteção à Fauna 2) Constituição Federal de 1988 3) Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 07/06/1989 4) Decreto 592 de 06/07/1992 - Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) 5) Lei 9605 de 12/02/1998 - Lei de Crimes Ambientais 6) Lei 9985 de 18/07/2000 - Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) 7) Lei 10406 de 10/01/2002 Código Civil 8) Lei 10826 de 22/12/2003 - Estatuto do Desarmamento 9) Decreto 5051 de 19/04/2004 - Promulgação da Convenção 169 da OIT 10) Decreto 5758 de 13/04/2006 - Cria o Plano Nacional de Áreas Protegidas (PNAP) 11) Lei 11346 de 15/09/2006 Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SISAN 12) Decreto 6040 de 08/02/2007 - Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNDSPCT) 13) Decreto 6514 de 22/07/2008 - Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente 14) Lei 11.959 de 29/06/2009 - Código de Pesca 15) Lei Complementar 140 de 08/12/2011 Regulamenta o Artigo 23 de CF

Obrigado Manejo participativo de quelônios na várzea de Santarém