SÍNCOPE DA PROPAROXÍTONA: UMA VISÃO VARIACIONISTA

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Transcrição:

225 SÍNCOPE DA PROPAROXÍTONA: UMA VISÃO VARIACIONISTA André Pedro da Silva 1 Dermeval da Hora 2 Juliene Lopes Ribeiro Pedrosa 3 INTRODUÇÃO Os primeiros pensamentos abordando de forma inerente a relação entre língua e sociedade surgiram com Meillet, no século XIX, que mais tarde ganharam seguidores que o desenvolveram. Contudo, só em meados do século XX receberam significativa repercussão e alargamento com os estudos de Willian Labov, impetuoso defensor entre a relação língua e sociedade. Surge, assim, a partir desses estudos a Teoria da Variação Lingüística ou Sociolingüística Quantitativa (TARALLO, 2002, p. 7-8). A principal contribuição da Sociolingüística está em descrever a língua como objeto social variável e passível de sistematização. Daí, as maiores contribuições da Sociolingüística são: mostrar que o caos lingüístico é passível de sistematização e que, para a variação, o fator social é imprescindível. Observando os processos relacionados à língua falada, percebe-se que essa modalidade de linguagem difere das normas formalizadas pela gramática normativa. Isso nos mostra que a complexidade dos fenômenos lingüísticos ultrapassa as regras préestabelecidas. A Sociolingüística veio mostrar a importância de estudos que descrevem o perfil lingüístico dos falantes, desviando-se dos preconceitos existentes sobre a linguagem, uma vez que considera o fator social como dado relevante na determinação de formas de falar. Assim, a Sociolingüística mostra que a língua mostra processos correlacionados a fatores lingüísticos e extralingüísticos. Dessa forma, aceita a língua como objeto social, logo variável, fazendo-nos crer que a língua não é passível de sistematização. Assim sendo, os estudos acerca da linguagem oral foram intensificados, já que essa modalidade apresenta-se dinâmica. No Português do Brasil (PB), a síncope das proparoxítonas vem se sobressaindo no falar de várias regiões. A escolha do aspecto fônico deve-se ao fato de este nível refletir mais imediatamente as diferenças sociais e regionais, como também ao fato de esse aspecto causar muitos problemas na aquisição da língua escrita, dadas as divergências estruturais que apresentam e a tentativa de representação de uma pela outra. Para alcançar tal intento, analisaremos trabalhos já publicados que norteiam essa perspectiva e esse fenômeno, como: concepções Variacionistas de Cristina Schmitt e Regina Celi Pereira, respectivamente, Redução Vocálica Postônica e Estrutura Prosódica e As Vogais Médias Pretônicas na Fala do Pessoense Urbano; além da Síncope, objeto deste estudo, por Marisa Amaral. 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPB, na linha de pesquisa Variação e Mudança. 2 Professor Dr. da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Letras. CNPq. 3 Professora Ms. da Universidade Estadual da Paraíba, Campus III (UEPB).

226 APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO FENÔMENO A Síncope das Proparoxítonas é a supressão de um ou mais segmentos na(s) sílaba(s) átona(s) postônica(s) de um vocábulo. Quando esta ocorre, o grupo consonantal decorrente constitui um ataque ou uma coda bem formados. Este trabalho é descrito à luz da Sociolingüística Quantitativa ou Laboviana, tendo em vista contar com dados probabilísticos e quantitativos dos autores observados e analisados, a fim de estabelecer uma relação entre os fenômenos para ter noção do que influencia a Síncope das Proparoxítonas. Para alcançar tal intento, foi necessário analisar o comportamento das Vogais Pretônicas por Pereira; as Vogais Postônicas e suas Reduções por Schmitt; e por fim, a Síncope das Proparoxítonas na visão de Amaral. Convém esclarecer que o caráter desse trabalho, acerca da Síncope das Proparoxítonas, é puramente bibliográfico, ou seja, fazemos uso de trabalhos já realizados com esta variável, para supor certas influências de determinados fatores (lingüísticos e extralingüísticos). Com isso, não é nossa intenção, neste momento, apresentar dados de corpus, nem tampouco teorias explicativas que dêem conta do fenômeno estudado, uma vez que este servirá de base para um trabalho futuro, com análise de dados de fala de um corpus a ser levantado na cidade de Sapé PB. Assim, este fenômeno será posteriormente retomado para desenvolvimento da escritura e defesa de uma dissertação de mestrado, onde será minuciosamente analisado. Neste trabalho, apresentamos uma breve análise, bibliográfica, como dantes falado, de apenas um dos inúmeros aspectos da língua portuguesa. Conhecer um pouco dessa realidade significa buscar entender o comportamento lingüístico de cada falante e, na sua totalidade, o comportamento da comunidade lingüística brasileira. RESULTADOS ACERCA DOS FENÔMENOS A cerca das pretônicas, Pereira (1997), verificou que as vogais sofrem influências tanto das consoantes anteriores, quanto da posteriores, onde estas podem ser elevadas, abertas ou fechadas. Referente às consoantes anteriores, Pereira (1997), constatou que há um maior índice de elevação de e quando a consoante anterior é uma velar ou uma labial, onde apareceram com peso relativo (.79) e (.53), respectivamente. Em relação a o, tanto a labial, quanto a sibilante influenciaram sua elevação. Ex.: qu[i]ria, m[i]nina, p[i]ru, b[i]bida, b[i]xiga, p[i]rigoso; b[u]tar, b[u]neca, b[u]cado, b[u]lacha, m[u]leque, m[u]derna, f[u]gão, s[u]frimento, s[u]ssego, s[u]stento. Houve abertura do e devido o contexto vocálico seguinte e vibrante posterior (independente do contexto subseqüente). Para o, os contextos que influenciaram em sua abertura foram a consoante alveolar (principalmente o grupo consonantal pr) e as palatais. Ex.: v[é]rdade, p[é]cado, m[é]drosa, b[é]bendo; r[é]visão, r[é]sumo, r[é]ligião, r[é]vista, r[é]frigerante; pr[ó]fissão, pr[ó]prietário, pr[ó]dutividade, pr[ó]cura; n[ó]vicentos, d[ó]cumento.

227 A palatal precedente favorece o fechamento de e e a vibrante posterior apresenta-se como maior favorecedora ao seu fechamento do o. Ex.: g[ê]mendo, g[ê]ralmente; os demais casos são derivados do verbo chegar (independentemente da vogal seguinte) ch[ê]guei, ch[ê]garam, ch[ê]gasse, ch[ê]gado; Ex.: r[ô]mântico, r[ô]tina, r[ô]mance, r[ô]lei, r[ô]lou e r[ô]dou. No que tange às consoantes posteriores, Pereira (1997) notou que apenas a sibilante e palatal firmam-se como favorecedoras de elevação de e. Quanto a o não se tem nenhum contexto fonológico seguinte que condicione a sua elevação. Ex.: b[i]xiga e s[i]guinte. Quanto à abertura, a vibrante posterior apresenta-se como maior favorecedora de e e, no que se refere a o, o único contexto fonológico seguinte favorável à abertura e o da sibilante. Ex.: p[é]rgunta, p[é]rfume, t[é]rminar, v[é]rdura, s[é]rviço, s[é]rtaneja; pr[ó]cidimento, p[ó]ssibilidade, p[ó]ssuir, pr[ó]cesso, n[ó]ção, d[ó]cente. A vogal não-recuada e demonstra não sofrer nenhuma influência do contexto fonológico seguinte, quando se trata do fechamento. Já para o, aponta-se dois contextos favoráveis ao fechamento: a palatal com peso de (.63) e a vibrante posterior (.54). Ex.: g[ô]staria, p[ô]stura, c[ô]lheres, c[ô]stumava; m[ô]rdida, t[ô]rtura, t[ô]rcida. De acordo com Pereira (1997), as variáveis extralingüísticas não são relevantes para os estudos acerca das pretônicas, uma vez que todas ficaram próximas ao ponto neutro. Em relação as postônicas, Schmitt (1987) averiguou que as variáveis lingüísticas pertinentes ao seu estudo eram: juntura, consoante precedente, segmento seguinte e posição no sintagma frasal. Referente à juntura, comprovou-se que o contexto mais favorecedor é o do sandhi externo, como: gente interessante > gentiinteressante > gentinteressante e quarto escuro > quartuiscuro > quartiscuro. A consoante precedente aponta as palatais e as velares /k, g, x,, / como favorecedoras a elevação de e. E, ainda de acordo com Schmitt (1987), não há favorecimento por parte de nenhuma consoante posterior quanto a elevação de o. 4 As obstruintes labiais, alveolares, palatais e velares favoreceram a elevação tanto do e quanto do o em se tratando do segmento seguinte. E houve elevação, em ambas, quando se posicionam como núcleo ou periferia (seja à direita ou à esquerda) do sintagma. Já nos finais de frase não foi freqüente a elevação das vogais. Nas análises extralingüísticas, Schmitt (1987) verificou que, no que tange a Etnia, o comportamento das vogais postônicas depende da interferência de outras línguas faladas na região. Os italianos fazem maior uso da elevação (.75), seguido dos fronteiriços (.52) e dos alemães (.24). Quanto ao tipo de entrevista, observou-se que a elevação foi mais aplicada no teste (perguntas) e não na fala livre (relatos), apesar deste ser um ambiente de maior tensão. Já 4 Não podemos contar com os exemplos do corpus de Schmitt (1987), uma vez que o material disposto a nós, não os apresentava.

228 concernente a acentuação, as paroxítonas seguem o padrão geral e as proparoxítonas são marcadas de alguma forma, mesmo sendo estas, em geral, eruditas e devessem receber uma pronúncia mais cuidada, por essa razão, mais silabada. As proparoxítonas pronunciadas como paroxítonas foram consideradas com recebendo acento na penúltima sílaba (fosfro, abobra, estomo). Nos estudos de Amaral (2002) o contexto fonológico seguinte, os traços de articulação das vogais e o peso da sílaba precedente foram os fatores lingüísticos apontados como relevantes à síncope das proparoxítonas. Analisando o contexto fonológico seguinte, os resultados indicaram que o apagamento da postônica não-final foi mais favorecido pela presença da vibrante (.83): chácara > chacra; seguido da lateral (.53): pétala > petla (formando um grupo consonantal licenciado pelo sistema). Kiparsky (1979, p. 432) apresenta o lugar de /r/ na Hierarquia de Soância : oclusiva, fricativa, nasais, l, r, w, y, i, o, e, a. Observa-se, com isso, que a vibrante /r/ tem mais soância em relação a lateral /l/. As outras consoantes (oclusiva, fricativa e nasais) têm, respectivamente, menos soância, motivo pelo qual não são licenciadas para formar a segunda consoante do ataque complexo, sujeitando-se ao apagamento junto à vogal postônica não-final fígado > *figdo > figo. E formas como máquina > *makna não ocorrem, por não formarem um grupo consonantal licenciado pelo sistema lingüístico português. No que se refere aos traços de articulação das vogais, destacou-se como maiores favorecedores ao apagamento as sílabas com labiais /o, u/ Com peso relativo de (.63). É válido lembrar que, no grupo das coronais, as proparoxítonas mais resistentes à síncope têm o /i/ como vogal postônica e os contextos circundantes não apresentam grupos consonantais bem formados, como: atlântico [tk], médico [dk], África [frk], genético [t k], grávida [vd], máquina [kn], ótimo [t m], rápida [pd]. Amaral (2002) observou que quanto ao peso da sílaba precedente, a leve (.53) favorece mais do que a sílaba pesada (.38), como: pétala, cágado, abóbora. Para buscar elementos que refletissem os resultados, Amaral (2002) valeu-se do Princípio da Saliência Fônica, segundo o qual as formas mais salientes, com mais material fonético, são mais resistentes a processos de mudança do que as menos salientes, ou seja, com menos material fonético (Naro e Lemle, 1976). Avaliando o contexto fonológico precedente, Amaral (2002) contatou que a velar é a mais propícia ao apagamento (.60), como óculos, círculo, cágado. Já a labial mostra um contexto menos favorecedor (.48), apesar de haver maior número de palavras envolvendo este fator, muitos informantes não aplicaram a regra. Como ambiente menos favorecido, observou-se a alveolar (.46), respectivamente: abóbora e música. Já nos fatores extralingüísticos, Amaral (2002) observou a escolaridade, tipo de entrevista, sexo e faixa etária. Analisando esses fatores, Amaral (2002) considera o fator escolaridade a mais significativa, onde as pessoas mais escolarizadas tendem a apagar menos (.40) do que as que nunca foram à escola ou freqüentaram até a 4ª série (.60). Quanto ao tipo de entrevista, os resultados mostram que o peso relativo é (.61) na fala livre e (.44) na fala dirigida, evidenciando o favorecimento da situação mais natural. O fator sexo, parece desempenhar papel pouco significativo, pois ficaram próximos do ponto neutro (.56 e.44). Ainda assim este fator aponta o homem como favorecedores à síncope. Examinando a faixa etária, comprovou-se que os falantes mais velhos (59 anos em diante) apresentaram um índice de (.71) nas formas com apagamentos, seguidos dos mais

229 jovens de 24 a 39 anos (.57). Já os falantes da faixa intermediária 40 a 50 anos e 51 a 59 anos tendem a evitar as formas sincopadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos estudos de Pereira (1997) constatou-se que a altura da pretônica está sempre condicionada à da vogal seguinte, seja ela alta, aberta ou fechada. E apesar de não se ter trabalhado dentro de uma perspectiva de análise autossegmental, intuiu-se que todas essas variantes se submetem aos mesmos princípios que regem a Harmonia Vocálica descrita por Bisol (1981), e que, segundo Battisti (1993) a representação deste fenômeno mostrou-se tratar de uma única operação na árvore, de espraiamento/assimilação de traços, tendo como conseqüência a alteração de um traço de abertura da vogal média. Assim, verificou-se que a mesma operação de espraiamento/assimilação de traço também se configurou uma árvore que representasse os contextos favoráveis à abertura e ao fechamento. No estudo de Schmitt (1987) observou-se que o acento é condicionador por excelência dos ambientes de redução vocálica, onde se procurou uma análise que permitisse não só relacionar acento e redução, como também explicar o levantamento não categórico dos casos que as regras de levantamento das postônicas é quase categórica, inibida lingüisticamente pelo fator: vogal seguida de C ou de CV (caráter, nível, tráfego, gênero). Dessa forma, o acento interfere e tem relação na qualidade da vogal. E, tanto na pretônica quanto na postônica, o acento mantêm-se, apesar da harmonização vocálica e de certas vogais postônicas serem apagadas em determinados contextos, isso, quando aceita a formação silábica. Os resultados da análise de Amaral (2002) apresentam o contexto fonológico seguinte como maior favorecedor à síncope da proparoxítona, apontando para a líquida vibrante como o melhor contexto. A vogal posterior labial é a que mais favorece a aplicação da regra. Já a coronal é a que menos favorece, cujos ambientes circundantes, em sua maioria, formam ataques proibidos no sistema. No que concerne ao contexto fonológico precedente, a consoante velar é a mais favorecedora. É interessante observar que, em relação ao peso da sílaba anterior, a posição canônica CV facilita a regra da síncope. Vale salientar que o fator mais propício à síncope é uma sílaba bem-formada, constituída de acordo com os padrões da língua; e que a vogal labial /o/ é a mais favorável ao processo, assim como vem sendo mais propensa à elevação, relacionando, dessa forma, os fenômenos de apagamento e elevação.

230 REFERÊNCIAS AMARAL, Marisa Porto do. A síncope em proparoxítonas: uma regra variável. BISOL, Leda; BRESCANCINI, Cláudia. Fonologia e Variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. CÂMARA Jr, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2002. CHAMBERS, J. K. Sociolinguistic theory. Oxford: Blackwell, 1995. HERZOG, M. I. et al. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMANN, W., MALKIEL, Y. (eds.). Directions for historical linguistics. Austin: University of Texas Press, 1968. HORA, Dermeval da. Teoria da variação: uma retrospectiva. In: Diversidade Lingüística no Brasil. Hora, Dermeval da (org). João Pessoa: Idéia, 1997. LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Oxford: Blackwell, 1972. LUCCHESI, Dante. Sistema, Mudança e Linguagem: um processo da lingüística neste século. Lisboa: Colibri, 1998. TARALLO. Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 2002. WARDHAUGH, Ronald. An introduction to sociolinguistics. 2. ed. Oxford: Blackwell, 2001.