Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva. Ações Inclusivas de Sucesso

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Anais III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva Ações Inclusivas de Sucesso Belo Horizonte 24 a 28 de maio de 2004 Realização: Pró-reitoria de Extensão SOCIEDADE INCLUSIVA PUC MINAS

Mesa Redonda Setor Não Governamental Zilda Arns Neumann Fundadora e Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança Eu gostaria de saudar a presidente da Mesa, todos os colaboradores e, principalmente, os alunos e professores presentes e nossas queridas líderes da Pastoral da Criança que vieram aqui. Um pequeno histórico: a Pastoral da Criança começou há 20 anos, em setembro de 83, e quando, um pouco antes, o soro caseiro era tido pela medicina como o maior avanço científico do século. Só que, se as mães não fizessem o soro caseiro quando a criança tivesse diarréia, vômito, não adiantaria para nada essa grande descoberta, porque era uma coisa muito simples para evitar a desidratação, que era a maior causa de mortalidade infantil do mundo. E quando meu irmão, Dom Paulo Evaristo Arns, o Cardeal de São Paulo, esteve representando a Igreja na ONU, numa reunião da ONU em Genebra, o diretor executivo do UNICEF pediu a ele que a Igreja ensinasse as mães a preparar o soro caseiro. Quando ele voltou para São Paulo, eu moro em Curitiba, ele me telefonou contando; aí eu disse: não é só soro, tem que aprender a cuidar da gestante, aleitamento materno, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, tantas coisas. Então ele pediu que eu olhasse como poderia isso acontecesse na Igreja e eu imaginei como Jesus fez, narrado por São João e pelos demais Evangelistas, como Jesus fez para multiplicar os peixes e os pães. E à noite, eu disse a meus cinco filhos: agora, vocês vão dormir, a mamãe vai fazer um projeto que vai salvar milhões de crianças no mundo. Aí pensei: Jesus estava presente, e cinco mil homens atrás dele com fome e os discípulos preocupados só com as coisas materiais, como acontece ainda hoje, então disseram a ele: Mestre, é melhor que se vão porque é noite e estão com fome, e Jesus disse: dai- Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 1

vos vós mesmos de comer. Assim como eu, como o pediatra, a médica pediatra sempre via que as mães traziam as crianças morrendo por causas muito simples, facilmente preveníveis. Então Jesus disse, dai-vos mesmos de comer, e a Pastoral teria que fazer com que as mães soubessem cuidar dos filhos, não só da saúde, mas também da educação, prevenindo a marginalidade e não esperassem sempre o governo fazer. Por isso, digo a todos os profissionais e estudantes que o profissional é o educador, quer dizer, em qualquer profissão somos educadores, temos que educar. Mas como? Dois peixes e cinco pães? Como numa favela, num lugar de pobre? Como é que vamos fazer pra reduzir a mortalidade, fazer todo mundo aprender as coisas que devem? Então Jesus mandou que se organizassem pequenas comunidades de base, 50 a 100; assim, a Pastoral da Criança organiza comunidades, escolhe o que há de melhor nas comunidades, os talentos que são as líderes comunitárias, pois, de cada 100 líderes, 92 são mulheres no Brasil. A média nacional é de 92% de mulheres. Então, vamos dizer, em vez de pães e peixes, o que mais promove, a redução da miséria é realmente a inclusão social, é fazer com que o povo se torne forte, que o povo aprenda mais, aprenda a se cuidar, a reivindicar seus direitos, estarem presentes na luta, unidos. Então, a Pastoral da Criança escolheu, em vez de pães e peixes, multiplicar o saber e a solidariedade. As líderes, muito simples, dizem: Ah, doutor, eu gostaria de aprender mais pra ensinar mais. E para isso foram escolhidos três instrumentos de multiplicação do saber e da solidariedade. È interessante porque foi um método científico que Jesus usou, ele mandou depois ver se todos estavam satisfeitos. Aí, os discípulos, depois de abençoados os pães e peixes, abençoadas as líderes na sua missão, vão distribuindo o conhecimento e a solidariedade como os discípulos distribuíram os pães e os peixes. E, no final, a todo mês, eles têm um caderno do líder que é a base do sistema de informação. O caderno vai para uma folha, esta é encaminhada para um centro de informação onde é avaliado, e retorna para cada comunidade do Brasil, a cada três meses, a avaliação do trabalho com frases de estímulo selecionadas pelo sistema de informação. São mais de três mil palavras que o computador escolhe para cada uma das trinta e sete mil comunidades dizendo olha, parabéns, por exemplo, o aleitamento materno está muito bom, acima de 80% mas há criança desnutrida, faça isso faça aquilo ou então, a vacinação está com menos de 80%, vamos incentivar mais, as visitas, ou integrar mais com um posto de saúde. Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 2

Então, o sistema de avaliação. Então Jesus mandou avaliar. Então, a Pastoral da Criança segue a metodologia narrada por São João. E, vamos dizer, a mística de fraternidade cristã é o grande motor de animação. Os conteúdos da Pastoral da Criança, até 1992, 1993, quando houve a reunião em maio, em Nova Iorque; fui escolhida entre as quatro pessoas do Brasil para representarem o País nesse evento, e pude fazer duas palestras, uma sobre a criança e a redução da mortalidade infantil e a outra sobre a criança e o meio ambiente. No final, havia 186 países, a proposta era para reduzir a violência no mundo, começando já com a criança na barriga da mãe. Promovendo seu desenvolvimento físico, a nutrição, a saúde, vacinas, etc., seu desenvolvimento mental, quer dizer, não basta ter só saúde, tem que ter alegria de viver, a criança tem que aprender a se socializar, a se dar com os outros, além de seu desenvolvimento espiritual. Foi a primeira vez que a ONU, UNICEF, Organização Mundial da Saúde falaram em espiritualidade, nunca se dava atenção, nunca se escutava Deus nas palestras e lá foi proposta a espiritualidade, desenvolvimento espiritual e cognitivo, quer dizer, o conhecimento da criança desde pequena tem de ser incentivada. Então, fiquei muito feliz porque a Pastoral da Criança já havia desenvolvido esse guia do líder, que é considerado a bíblia da Pastoral; nele, cada capítulo é por faixa etária, se promove o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo da criança por faixa etária. Não é assim repartido aleitamento materno aqui, registro de nascimento ali; tudo que uma criança precisa é colocada nas páginas porque a mãe tem que aprender o todo. E facilita o trabalho educativo também de levar à mãe, vamos dizer, o menu que ela precisa saber. Fiquei, por isso, muito satisfeita. Então, os três instrumentos são a visita a cada mês às famílias. No Brasil são mais de 1.300.000 famílias visitadas a cada mês. São 240 mil voluntários, um pouco mais do que isso, nesse trabalho da Pastoral acompanhando 1.815.000 crianças menores de 6 anos e 92.000 gestantes. Então eles fazem as visitas a cada mês, pesam as crianças na própria comunidade. Quando comecei, havia resistência à saúde: se o posto fica aí, por que pesar na comunidade? E eu, como também educadora, fiz o curso de Educação na USP; quando fiz também o trabalho, eu me formei como sanitarista, a participação é que é a chave. Participação comunitária. Se as líderes pobres pesam as crianças, identificam desnutridos, elas querem recuperar as crianças, ajudam as famílias, se outro pesa, ficam assim distante, a coisa não acontece. Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 3

Em São Paulo, eles me provocaram. Tinha três postos de saúde em favelas. Então, em 2 postos de saúde, nós pesávamos as crianças nas comunidades da Pastoral, no meio das casinhas muitas vezes, colocava um pau entre uma casinha e outra e a balança no meio. Às vezes, pesava em cima da cama de casal. No meio daquele povo, todo mundo se conhecendo em volta e depois de seis meses fomos ver, perguntávamos pras líderes, aqueles onde antes pesavam no posto de saúde, quantos desnutridos vocês tem? Então eles diziam sabe que eu não sei? Mas lá no posto a senhora pode saber. Vocês recuperam a criança desnutrida? Não, lá no posto a senhora pode saber. Ia ao posto, havia aquela dificuldade apesar de ter sido combinado de trabalhar sempre juntos. E no outro, onde pesava na Pastoral, então havia olha tinha dez, mas só tem três, mas se Deus quiser, se Deus me ajudar, vou recuperar o que falta, né? Então, aquele assumir o compromisso, o compromisso de alcançar aqueles objetivos em nome da palavra de Deus, da fraternidade cristã, fraternidade quer dizer irmandade, que é o primeiro mandamento da lei de Deus, é amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo. Então, nós temos, vamos dizer, o amor, a fraternidade supera todas as diferenças. Então vamos passar agora um pouco ao sistema de informação, a Pastoral da Criança foi avaliada já seis anos depois porque quando nós iniciamos em Florestópolis, a mortalidade infantil do município que tinha a maior mortalidade infantil no Paraná era Florestópolis, onde trabalhavam em canaviais e era 127 por 1000 e no ano foi reduzida a 28 por 1000. E com isso se deu que deu a UNICEF, que patrocinava os pequenos gastos que se tinha, teve a certeza de ter acertado na metodologia comunitária, então o consultor do UNICEF, que era Adam Lechti, dava pulos de um metro de altura de dizia nós acertamos! Ficava muito contente, tínhamos descoberto, quer dizer, foi a Igreja mesmo que encaminhou as coisas e a gente, como profissional, ia assegurando que as partes poderiam realmente saberem fazer as capacitações, o acompanhamento e avaliação dos trabalhos. Então, quando apresentei em Seul, seis anos depois, a Pastoral da Criança, que foi considerada pelo Fórum Internacional de Nutricionistas entre os seis melhores do mundo, eles analisaram alguns pontos chaves e um deles, vamos dizer, a participação comunitária naturalmente, a fidelidade aos objetivos, que acontece muitas vezes com ONG s que começam com um objetivo e depois estão fazendo três, quatro, cinco, aí se perde. Então, a Pastoral sempre se manteve fiel aos objetivos de reduzir a mortalidade, a Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 4

desnutrição, a violência. Nós temos a alfabetização de jovens e adultos, mas pra ajudar a diminuir a mortalidade infantil. Então, um dos dados dos elementos foi o excelente sistema de informação. Agora nós vamos passar um pouquinho dos resultados da Pastoral colhidos pelo sistema de informação. Nós temos um caderno do líder, é este aqui, em que cada página tem o nome da criança ou então da gestante e a cada mês são colhidos os dados e esses dados são passados para essa folha de computação que é mandada pra Curitiba e lá são digitados e é feita então, vamos dizer, feita toda aquela programação informatizada e retorna às comunidades. E agora nós conseguimos um convênio com o BNDES, já há três anos, esse é o nosso último ano, nós estamos informatizando todas as dioceses do Brasil. São trezentos e poucos pontos informatizados para trabalharem em rede. Aqui estão os dados do ano passado, dioceses, são todas as dioceses. Paróquias, 66%, quase 6 mil paróquias, comunidades 36.422. Eu gostaria de dizer que esses dados são só dos que vêm até Curitiba. Então muitas vezes, tem comunidades que funcionam, mas não mandaram os dados, então não consta aqui. Comunidades, depois temos líderes comunitários atuantes sendo que 34.973 são pessoas que moram na comunidade e trabalham com vizinhas. Mas temos assim 107.579 pessoas que formam a equipe de apoio, de capacitação e de coordenação. O que é muito importante, e é o que falta ao governo, é o acompanhamento dos trabalhos. Então, a Pastoral da Criança faz muito acompanhamento dos trabalhos através dessas equipes, temos mais de 1000 pessoas que nós chamamos multiplicadoras do modelo espalhadas pelo Brasil, atentas à qualidade e ao Guia do Líder. Para capacitar uma líder leva 40 horas, e a comunidade escolhe se querem fazer a cada sábado, domingo ou como querem fazer. Então as equipes têm que estar disponíveis de acordo com a comunidade. E não obrigar a comunidade a fazer de acordo com a equipe, porque nós temos visto que muitas vezes isso não dá certo. Média de famílias, 1.329.000, crianças 1.815.000, gestantes 3.970 e também quando se percorria as comunidades, tinham muitas líderes que são da terceira idade, então muitas diziam Dra. Zilda, o que a Pastoral da Criança podia me ajudar? Eu tenho a urina solta, eu tenho pressão alta, eu tenho insônia, eu às vezes me sinto tão triste, deprimida. E foi como aconteceram as coisas. Deus sempre em frente. Houve um seminário internacional em Curitiba, de geriatria e chovia muito na festa dos 10 anos da Pastoral da Criança, e o avião não Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 5

conseguia sair de Londrina, eu fiquei lá no aeroporto esperando o momento e muitos geriatras lá. Então se acercaram e Dra. Zilda, porque a senhora não começa uma rede de solidariedade com a terceira idade?. Eu não tinha muita vontade de abrir o leque, mas me lembrava das pessoas idosas. E aí no dia seguinte, 27 geriatras vieram conhecer a sede nacional da Pastoral, que fica em Curitiba, ficaram encantados com a organização e aí nós começamos. A professora Sofia, ela mora aqui em Belo Horizonte, ela é muito entusiasmada com o Dr. João, o geriatra, então começaram a escrever um livro sobre a qualidade de vida na terceira idade para ser usado na Pastoral da Criança. E hoje, se Deus quiser, o governo vai, depois de muitos anos, vai nos dar apoio para a gente ter dinheiro para multiplicar multiplicadores, aliás, já estamos em quinze estados, já com 33.577 idosos acompanhados na Pastoral. A gente tem nove indicadores da Pastoral: tomar mais de dois litros de líquidos ao dia, procurar fazer exercícios sempre que puder, se entrosar com obra social na comunidade, evitar tapetes para não cair, tomar a vacina e outras coisas mais. E também temos o programa de rádio, 2.080 emissoras de rádio trabalham voluntariamente para a Pastoral. Então, nós temos programas de 15 minutos semanais e alunos, nós estamos com 11.234, já tínhamos 27 militantes... Já houve um problema com o Ministério da Educação que glosou as verbas... Vamos ver se recuperamos aos poucos, mas a gente realmente teve problemas. Em Minas Gerais nós estamos atendendo 6% do total de crianças pobres, 6%, quer dizer, muito pouco. A média nacional é de 20% das crianças pobres no Brasil. Adiante. No número de crianças menores de seis anos atendidas por estado, Minas Gerais está frente uma salva de palmas para Minas Gerais estamos com 221 mil trezentas e setenta e tantas crianças aqui em Minas e depois vem o Paraná, depois São Paulo, Bahia etc. No número de líderes, quer dizer, as pessoas que atuam em cada estado, também Minas está na frente. Sobre a queda de mortalidade infantil na Pastoral da Criança, começamos em 1991, mas em 87 nós já informatizamos a Pastoral da Criança até quem informatizou foi o Dr. Orlando de Castro então, em 1991, foi baixando, depois houve um ligeiro aumento não significativo para 15 por 1000: quando aumenta a miséria ou a migração, grandes chuvas no Nordeste, aumenta a mortalidade infantil. Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 6

Sobre a Evolução Histórica da Desnutrição: a criança pobre, que nasce abaixo de 2,5 quilos, tem mais de 20% de chances de morrer do que uma criança nas mesmas condições de classe média ou alta. Porque classe pobre tem a sujeira, a desinformação da mãe, a criança não consegue mamar com a mamadeira suja, a mãe escuta todos os conselhos que não deve, então realmente o risco é muito grande. Também aumentou nos últimos anos, o que nos preocupa muito, a desnutrição da gestante, que é um fator preponderante. Nós fazemos o mapa da fome e o mapa da mortalidade infantil a cada três meses, e quando nos pedem, também por municípios. Podemos dizer qual a comunidade que tem maior mortalidade, qual o tipo de morte que acontece. Temos as causas de morte também. São 1.476 municípios onde a desnutrição é de 1% a 3%, é muito baixo. De 3% a 10%, 1.717 e onde a desnutrição é maior que 10%, temos alguns municípios onde a gente começa a trabalhar com 50%, 60% de crianças desnutridas, então 565 municípios. A razão de mortes por 1000 nascidos vivos na Pastoral da Criança: são 26 dioceses onde há 30 ou mais por mil de mortalidade, o que é muito alto, e estão espalhadas no Brasil. Quem financia? Nos primeiros três anos era só o UNICEF e eu, como médica sanitarista, já fui diretora do Programa de Saúde Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Paraná, eu sabia quanto se gastava em hospitais pela diarréia, por sarampo, por outras coisas mais. Eu disse que o que mais o país precisa é de educação para a saúde. Aí saiu o primeiro convênio, Criança Esperança, doações, etc., e o estado de Minas também nos ajuda. No que se gasta, você podem ver pela Internet, toda a nossa prestação de contas está disponível pela Internet, nos mínimos detalhes. Nós estamos em 14 países no exterior, então eles normalmente vêm conhecer e pedem para a gente ir lá. O Ministério das Relações Exteriores paga a viagem para irmos implantar em outros países a Pastoral. Foram três missionários para Angola, pagaram a viagem, e a Igreja lá mantém nossos colegas... mas eles pagam a viagem, o que já é uma grande coisa. Então, assim a gente vai vendo como transferir para outros países. Anais do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva PUC Minas - Ações Inclusivas de Sucesso 7