Comentário 7 de junho de 2017 Avaliação dos Riscos da Indústria de Seguros e do País (IICRA, na sigla em inglês) Brasil: Setor de seguros de ramos elementares (P&C) Analista principal: Mariana Gomes, São Paulo, 55 (11) 3039-9728, mariana.gomes@spglobal.com Contato analítico adicional: Pedro Breviglieri, São Paulo, 55 (11) 3039-9725, pedro.breviglieri@spglobal.com Fundamentos Revisamos o setor de seguros de ramos elementares (Property and Casualty ou P&C) da República Federativa do Brasil (BB/CW Neg./B em moeda estrangeira e moeda local e braa-/cw Neg./-- na Escala Nacional Brasil) com base na nossa metodologia de Avaliação dos Riscos da Indústria de Seguros e do País (IICRA, na sigla em inglês para Insurance Industry Country Risk Assessment) e mantivemos nossa avaliação de risco moderado para o setor. Outros países cujo risco do setor de seguros de P&C avaliamos como moderado são Colômbia, Itália e África do Sul. Risco-país: moderado O IICRA do setor de seguros de ramos elementares (P&C) do Brasil reflete o risco-país moderado, com base em nossa visão dos riscos econômico e político, riscos do sistema financeiro, cultura de pagamento e Estado de Direito do país. Acreditamos que as baixas perspectivas de crescimento para o Brasil poderão impor limites para o nível de crescimento das seguradoras domésticas, enquanto a tendência negativa nas taxas de juros deve pressionar a rentabilidade da indústria em função da redução na receita de investimentos. Após dois anos de contração econômica, as perspectivas de crescimento do Brasil são, em nossa opinião, menores que as de outros países com estágio similar de desenvolvimento. Esperamos um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 0,5% para 2017, melhorando para 2,0% no próximo ano. Por outro lado, as dinâmicas inflacionárias melhoraram significativamente, dado que a
inflação de preço ao consumidor caiu para 6,3% no final de 2016 versus 10,7% no fim de 2015, e a inflação esperada é de 4,6% em 2017 e 4,1% em 2018. Ao mesmo tempo, a inflação controlada permite ao Banco Central reduzir as taxas de juros, que projetamos em 8,5% em 2018. As dinâmicas políticas no Brasil pioraram após as recentes alegações de corrução contra o presidente Michel Temer, surgidas durante as investigações da operação Lava Jato em curso. A governabilidade já está comprometida, visto que o presidente perdeu algum apoio partidário e a votação programada da Reforma da Previdência provavelmente será agora adiada. Um longo período de paralisia política em meio ao enfraquecimento do presidente, um longo processo de transição ou a ausência de uma base de apoio político coerente e bem articulada para aprovar reformas após uma rápida transição política, provavelmente pesariam sobre nossa opinião acerca da eficácia institucional e de governança do Brasil. Dado o aumento das incertezas políticas, há o risco de estagnação dos lentos avanços na solução dos grandes desafios fiscais e econômicos enfrentados pelo país, no contexto de um já longo caminho de ajustes. A cultura de pagamento e o Estado de Direito influenciam o desempenho das seguradoras, dada a importância dos acordos contratuais de longo prazo. Nossa avaliação desse subfator no Brasil é de risco moderado e incorpora indicadores externos, como os indicadores de governança do Banco Mundial para o Estado de Direito, facilidade de execução de contratos, controle da corrupção, e o Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International. Risco da indústria: Intermediário Classificamos o risco da indústria do setor de P&C brasileiro como intermediário, com base na avaliação dos cinco subfatores relacionados à indústria: rentabilidade medida pelo retorno sobre capital (return on equity ou ROE), risco do produto, barreiras à entrada, tendência da penetração de seguros e estrutura institucional. ROE (neutro) A rentabilidade do setor de P&C declinou nos últimos anos em meio à desaceleração econômica brasileira. Em função do aumento da inflação nos anos anteriores, a rentabilidade do setor enfraqueceuse diante dos crescentes custos de reparo no segmento de seguros de veículos, que representa quase 40% dos prêmios totais do setor de P&C. Além disso, o índice de perda do setor aumentou em decorrência do maior nível de roubos e fraudes diante do enfraquecimento econômico, o que esperamos continue prejudicando o desempenho das empresas nos próximos anos, dado o provável baixo crescimento do PIB brasileiro em 2017 e 2018. Por consequência, o índice combinado do setor de P&C atingiu 100,8% em 2016, versus a média de cinco anos de 98%, e acreditamos que permanecerá em torno de 100% no próximo ano. Estimamos que o ROE e o retorno sobre receitas (ROR) também se enfraquecerão para 12,0% e 8,0% em 2017, respectivamente, versus a média de 16,3% e 11,7% nos últimos cinco anos, em função de nossas expectativas de queda nas taxas de juros no Brasil, o que deve reduzir os ganhos financeiros do setor. Por outro lado, esses indicadores devem apresentar uma ligeira melhora para 13% e 9%, respectivamente, em 2018 considerando a retomada do crescimento da economia e a menor pressão sobre o índice combinado. Não acreditamos que exista tomada de risco excessiva na indústria. Monitoramos as linhas de seguro garantia que vêm crescendo rapidamente, o que, por sua vez, pode indicar um sinal de crescente concentração em poucos segurados. Contudo, não vemos isso como um risco expressivo para o setor de P&C brasileiro como um todo, porque o negócio de seguro garantia responde por menos de 5% dos prêmios da indústria. S&P Global Ratings 2
Risco de produto (neutro) Acreditamos que, de um modo geral, os riscos decorrentes de eventos de catástrofes são moderados. Os perigos naturais mais comuns no Brasil são secas e inundações, que possuem pouca cobertura de seguro. O seguro rural, que é o segmento mais vulnerável a um cenário de seca/inundação, responde por cerca de 4,5% dos prêmios totais do sistema. O seguro de veículos também pode ser de certa forma vulnerável a esse risco, mas suas características tickets e diversificação geográfica baixos limitam os riscos. Por outro lado, a ocorrência de fraude no setor de P&C está crescendo, principalmente como resultado das condições econômicas fracas no Brasil. Contudo, a classificação de risco de produto em geral permanece neutra, dada a ausência de fontes adicionais de volatilidade. Barreiras à entrada (positivas) Consideramos as barreiras à entrada para o setor de seguros de P&C brasileiro como altas. Os grandes bancos têm participação significativa no mercado segurador brasileiro e essas entidades controlam os canais de distribuição. Os bancos também se beneficiam de estruturas de baixo custo e de reputação e marca consolidadas no mercado, o que em conjunto cria uma alta barreira operacional para novos competidores. Embora acreditemos que seja possível para novos participantes entrarem em linhas menores e de nicho, especialmente se elas são parte de um grande grupo internacional, é improvável que eles mudem as dinâmicas e rentabilidade da indústria em geral, dada a sua alta concentração. Além disso, a disponibilidade de recursos, como administração e equipe, que poderia impor barreiras operacionais, não é uma preocupação. Há um número suficiente de universidades que oferecem cursos em áreas especializadas, como, por exemplo, gestão de risco, nas áreas metropolitanas do país e existem muitos recursos humanos com as requeridas habilidades analíticas e especialidades técnicas. Por outro lado, o regulador implementa um processo rigoroso para aprovar novas licenças, mas ele não representa um grande obstáculo para as seguradoras, como em outras jurisdições. As exigências de capital são rígidas, mas não particularmente elevadas quando comparadas às dos setores de seguro de outros países. Perspectivas de crescimento do mercado (negativas) O crescimento nominal do segmento de P&C em 2016 foi menos de 1%, apresentando uma contração de mais de 7% em termos reais. A tendência de crescimento do setor de P&C tem seguido a da economia e, consequentemente, a principal linha da indústria (seguro de veículos) retraiu-se 2,4% em 2016. Para os próximos anos, acreditamos que essa tendência prevalecerá, com taxas de crescimento fracas para as grandes linhas. Esperamos que o setor reporte crescimento nominal de 1% em 2017 e 5% em 2018, com uma contração de 3,6% e crescimento de 0,9% em termos reais para os respectivos anos. Estrutura institucional (intermediária) Estrutura regulatória: Acreditamos que a estrutura regulatória do setor é intermediária. O órgão regulador no Brasil, a Susep - Superintendência de Seguros Privados, monitora a indústria de seguros com frequência. A Susep tem um nível adequado de sofisticação e regras estabelecidas para investimentos, adequação de capital e solvência, e para governança corporativa, controles de lavagem de dinheiro e prevenção de fraudes. Embora a Susep regule o setor brasileiro de seguros de vida, o Conselho Monetário Nacional (CMN), que é um braço do Banco Central, impõe restrições de investimentos. S&P Global Ratings 3
Histórico regulatório. Avaliamos o histórico regulatório do Brasil como intermediário para o setor de seguros de vida. Em nossa visão, a Susep, que foi estabelecida em 1988, tem sido bem sucedida na redução de riscos no mercado segurador ao requerer melhores padrões de governança para as seguradoras, enquanto busca implementar padrões internacionais de solvência no mercado local, tais como exigências mínimas para capital baseado em risco, as quais foram implementadas em 2008. Governança e transparência. Não vemos nenhuma deficiência na governança corporativa e transparência entre as seguradoras de vida no Brasil, principalmente como resultado dos controles regulatórios satisfatórios. Informações sobre a indústria de seguros e sobre cada empresa do setor estão disponíveis ao público mensalmente, mas, em nossa visão, o sistema se beneficiaria se houvesse informações públicas mais detalhadas e disponibilidade de indicadores de desempenho por linha de negócios. Critérios e Artigos Relacionados Critério Seguradoras: Metodologia de Rating, 7 de maio de 2013 S&P Global Ratings 4
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