1 Dez poemas da obra Entre Ausência e Esquecimento de João de Mancelos Estante Editora Aveiro 1991
2 Ficha Técnica Título: Entre Ausência e Esquecimento Género: Poesia Autor: João de Mancelos Colecção: Autores Portugueses de Hoje Capa e fotografias: Carlos Duarte Data de Edição (em papel): Dezembro de 1991 Edição: Estante Editora Avenida 5 de Outubro, 47-49 3800 Aveiro, Portugal Telefone: 234.25794 Impressão (em papel): Artipol, Artes Gráficas Barrosinhas, Mourisca do Vouga Águeda, Portugal Telefone: 234.644435 Depósito Legal n.º 51857/91 Impressão Online: João de Mancelos mancelos@gmail.com http://mancelos.googlepages.com/home
3 Sobre o autor João de Mancelos, nome literário de Joaquim João Cunha Braamcamp de Mancelos, nasceu em Coimbra, Portugal, em 1968, mas divide o seu tempo entre as cidades de Aveiro e Viseu. Iniciou o seu percurso literário bastante cedo e obteve diversos prémios em concursos regionais e nacionais. É autor de várias obras em prosa e poesia, das quais se destacam: As Fadas Não Usam Batom (contos). 1ª ed. Coimbra: A Mar Arte Editora, 1998; 2ª edição, revista e com seis novos contos, Lisboa: Nova Vega, 2004; Foi Amanhã (contos). Lisboa: Nova Vega, 1999; Línguas de Fogo (poesia). Coimbra: Minerva-Coimbra, 2001; O Que Sentes Quando a Chuva Cai? (contos). Lisboa: Nova Vega, 2006. Estes livros podem ser adquiridos junto das respectivas editoras. Algum do trabalho literário de Mancelos surgiu em antologias bilingues e foi publicado no estrangeiro. O autor participa regularmente em encontros de escritores. Tem desenvolvido actividade como autor, crítico literário e declamador. Mancelos é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Universidade de Aveiro), mestre em Estudos Anglo-Americanos (Universidade de Coimbra), doutorado em Literatura e Cultura Norte-Americanas (Universidade Católica Portuguesa). Tem duas especializações, em Escrita Criativa e em Cinema (Universidade de Luton, Inglaterra). Na actualidade (2006), é docente no pólo de Viseu da Universidade Católica Portuguesa, onde lecciona Literatura Norte-Americana e Escrita Criativa.
4 Op. III: No Céu do Mundo Todas as mãos São mais seguras pela noite: Ternas, posam para o silêncio. E amam-se, destroçadas, E fazem sonhos gigantes que são moinhos, E cedo riem, sem dar por nada. Só na madrugada exausta, adormecem. Colhida a chama nua, Celebrado o fruto acidulado, Todas as mãos são mais ternura, Pela noite.
5 É esta a Noite Esta noite há talvez luar, cometas e gafanhotos de asas de prata preenchendo todo o céu. Esta noite, provaremos desse fruto estranho às aves, apenas consentido à mordedura dos poetas, no ardor de um qualquer Maio. Esta noite, todos os relógios do mundo serão nossos: esta noite provaremos do amor.
6 Neblina de Londres Ela descia a vida Como quem dança pela chuva, À flor da pele. Ia, tão antiga como o vento, Por entre a folhagem do sol. Ia, tão breve e leve Como o fumo das chaminés Ou palavras enrodilhadas nos lábios. Era rente a Outubro, E a neblina descia a rua Pelas sete paredes do silêncio.
7 Cântico de Amargos Lábios Abençoado o maníaco esquecido Que colhe as aves despenhadas E te observa, noite após noite. Os seus amargos lábios Só buscam dois segundos Para poisar nos teus. E porém Deus Precisa de toda a eternidade Para ser Deus.
8 Venenos do Paraíso Sós, Condenadas entre as veias, Trocando asas Por um vento um fogo um esquecimento, As minhas adolescentes incuráveis Injectam venenos do paraíso. Anjos feridos, elas sabem: Ainda não é hoje Que o super-homem vai ser herói, E esta noite nenhum Deus Chegará a tempo de nos salvar.
9 Verão Descendo uma Laranja Os rostos dos frutos do Verão, A sua baba salivante e doce, Descendo como uma cadente lágrima, Rente à polpa: Tanto é o desejo que se vê, Quando assim o Estio acaricia O hemisfério De uma laranja.
10 Rendez-Vous Nunca acreditei no amor: O amor é um coração de dois gumes, Só mata quem lhe sobrevive. Não me gritem o amor. Só acredito e rezo Nesse homem que ontem saltou da ponte, Saiba ele agora voar ao paraíso. E acredito na dor branca das camas de hospital, Para anjos em queda livre, E em seringas que injectam Os mais doces venenos. E acredito e respiro em ti, Porque tu desenhaste um poema nos pulsos, Mas em toda a tua coragem de alumínio, Nunca acreditaste que se pudesse Morrer assim.
11 Mundo das Mãos Minhas mãos são sempre iguais: Não há esquerda nem direita. Mas sendo como as demais, Se uma recusa, outra aceita. E o que uma tem a mais, Torna a outra insatisfeita: Ninguém diria jamais Que uma esquerda; outra, direita. Mas o maior mistério, Deste caso tão profundo, É que cada é um hemisfério, E juntas fazem o mundo.
12 Glasgow by Noght: Onde a noite Se entrega pelos telhados, Há sempre ternura: Ou são os gatos enrodilhados Nas chaminés que os consentem, Ou é a maçã da lua Na garganta do rio, Chama amadurecida. Onde a noite se espreguiça à lua, Cada gomo é já um fruto, E o horizonte posa o corpo luminoso À madrugada.
13 13 Jamais morei tão perto da noite: Hoje, até uma ave gritante Me secou na voz. Lembro-me de seres O olhar mais magoado no dia de chuva. Quase sempre um ardor De esquecimento e lâminas sujas. Menina, Que terna ave de Maio Te pôde beber assim a água Mais pura Dos teus pulsos?
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