O metabolismo microbiano na dinâmica de difusão de gases no solo

Documentos relacionados
Física do Solo Danni Maisa da Silva

METABOLISMO CELULAR PROCESSOS E MOLÉCULAS ESPECÍFICAS 06/08/2015. Oxidação: ocorre a saída de um átomo H; Redução: envolve o ganho de um átomo H.

POROSIDADE DO SOLO. Aula 4. Prof. Miguel Cooper

INTRODUÇÃO. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

FOTOSSÍNTESE E RESPIRAÇÃO Fotossíntese C4 e Ciclo de Krebs

Características dos seres vivos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Escola Secundária Anselmo de Andrtade Biologia e Geologia de 10º Ano

CITOLOGIA IV (UECE/ENEM) Profa Eduarda de Souza

Obtenção de nutrientes pelos seres vivos

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS OU CICLOS DA MATÉRIA

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

BIOLOGIA DO SOLO: estrutura e diversidade

BIOLOGIA - 3 o ANO MÓDULO 08 CÉLULAS: RESPIRAÇÃO CELULAR ANAERÓBIA

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

RELAÇÕES SOLO-ÁGUA-PLANTA-ATMOSFERA

LSO O solo como habitat para micro-organismos. Marcio Rodrigues Lambais Fernando Dini Andreote

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Respiração celular e fermentação Parte 3. Professor: Alex Santos

Metabolismo energético das células

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

Prof. MSc. Leandro Felício

Microbiologia e Bioquímica do Solo

Ciclos Biogeoquímicos

Fisiologia Vegetal RESPIRAÇÃO. Prof. Dr. Roberto Cezar Lobo da Costa. Universidade Federal Rural da Amazônia Instituto de Ciências Agrárias (ICA)

Processos Biológicos para a Remoção de Poluentes

BIOENERGÉTICA. Equipe de Biologia Leonardo da Vinci

CARACTERÍSTICAS DOS SERES VIVOS

METABOLISMO BACTERIANO:

Professora Leonilda Brandão da Silva

Eco new farmers. Módulo 2 Solos e nutrientes vegetais. Sessão 1 Solos e fertilização dos solos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE DISCIPLINA DE SOLOS I UNIDADE VII

CURSO DE AGRONOMIA FERTILIDADE DO SOLO

Obtenção de nutrientes pelos seres vivos

PROCESSO DE TRATAMENTO

FERMENTAÇÕES. Via metabólica de degradação da glicose

INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS FERMENTATIVOS. Professora: Erika Liz

Fluxos de Energia e de Materiais nos Ecossistemas

Reino Monera Reino Monera Características da célula Fonte de energia Reino Monera Reino Monera Fonte de matéria orgânica Reprodução

A energética celular:

AULA 03: Nutrição e metabolismo bacteriano

RELAÇÕES MASSA/ VOLUME

CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E DO CRESCIMENTO BACTERIANO 1

Temperatura de Superfícies Naturais

ATRIBUTOS FÍSICOS E ÁGUA NO SOLO

TICA. Prof. Bruno Ramello

Aula Manejo de dejetos suinos 1/9. Produção de suínos. Eduardo Viola

ARMAZENAGEM E EMBALAGEM EM ATMOSFERA CONTROLADA OU MODIFICADA

Dalvan J. Reinert, PhD J. Miguel Reichert, PhD

Atributos físicos e químicos do solo -Aula 7- Prof. Josinaldo Lopes Araujo Rocha

10.2 Parâmetros de qualidade da água

SOLO. Matéria orgânica. Análise Granulométrica

ABSORÇÃO RADICULAR, TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES

Professora Priscila F Binatto

LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS

21/11/2011. Interrelação fatores físicos ÁGUA NO SOLO. Propriedades do solo, fatores de crescimento & produção de plantas.

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS OU CICLOS DA MATÉRIA

A energética celular:

CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA PROFª LUCIANA GIACOMINI

EXPERIMENTOTECA DE SOLOS POROSIDADE DO SOLO 1

Ciclos Biogeoquímicos

NÚCLEO DE ENGENHARIA DE ÁGUA E SOLO

SAAE Serviço autônomo de Água e Esgoto. Sistemas de Tratamento de Esgoto

Microrganismos Anaeróbios. História. Louis Pasteur. Trabalho científico pioneiro sobre Vida Microbiana na Ausência de Oxigênio FERMENTAÇÃO

Biologia. Fotossíntese. Professor Enrico Blota.

Bioquímica Fermentação. Profª. Ana Elisa Matias

Conservação de alimentos pelo uso de processos fermentativos

Ciências Naturais, 6º Ano. Ciências Naturais, 6º Ano FICHA DE TRABALHO 1. Escola: Nome: Turma: N.º: Conteúdo: Absorção. Escola: Nome: Turma: N.

ABSORÇÃO RADICULAR, TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES

ABSORÇÃO RADICULAR, TRANSPORTE E REDISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES

Aula3: Nutrição, Metabolismo e Reprodução Microbiana

Transferência de água da folha para a atmosfera FISIOLOGIA VEGETAL

METABOLISMO DE CARBOIDRATOS PELAS LEVEDURAS

Respiração celular, Fermentação e fotossíntese. 1) Numa comunidade terrestre ocorrem os fenômenos I e II, esquematizados abaixo.

SLC Aula 10 Profa. Ana Paula O movimento da água e dos solutos nas plantas

CIÊNCIAS. Prof. Diângelo

Ensaio de aceleração de compostagem de resíduos de podas de árvores urbanas através da adição de RINENBAC.

BIB : Fisiologia Vegetal

Solo características gerais. Definição: solo = f(rocha+ clima + relevo+biota)

1) Introdução CONCEITO:

Iane Barroncas Gomes Engenheira Florestal Mestre em Ciências de Florestas Tropicais Professora Assistente CESIT - UEA. Gênese e Morfologia do Solo

Durante muito tempo os fungos foram classificados como vegetais aclorofilados.

Diversidade Microbiana e Habitats

FUNÇÕES MICROBIANAS NOS SOLOS: ciclos biogeoquímicos

Prof. Marcelo Langer. Curso de Biologia. Aula 12 Ecologia

Organelas e suas funções. A energética celular:

Graduação em Biotecnologia Disciplina de Biotecnologia Microbiana I. CLÁUDIA PINHO HARTLEBEN

Metabolismo dos seres vivos e gases da atmosfera FOTOSSÍNTESE & RESPIRAÇÃO

Lista Respiração aeróbica e fermentação BioZell

Microbiologia ambiental Engenharia do Ambiente. Escola Superior Agrária Instituto Politécnico de Coimbra

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) Fertilidade do Solo Prof. Josinaldo

Fisiologia e Crescimento Bacteriano

Professora Leonilda Brandão da Silva

Eco new farmers. Módulo 2 Solos e nutrientes vegetais. Sessão 2 O sistema planta/solo

Metabolismo Energético das Células. Fotossíntese Quimiossíntese Respiração Celular Fermentação

NATUREZA E TIPOS DE SOLOS ACH-1085

Disciplina: Resíduos Sólidos. 8 Compostagem. Professor: Sandro Donnini Mancini. Sorocaba, Abril de 2018.

Origem da vida. Os primeiros seres vivos

Transcrição:

Universidade Federal de Santa Maria Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo O metabolismo microbiano na dinâmica de difusão de gases no solo Doutorando: Daniel Pazzini Eckhardt

Introdução Aeração: fator limitante no desenvolvimento das culturas Principais fatores físicos que afetam o desenvolvimento das plantas, Letey (1985) = IHO: (desde a umidade no solo no PMP, ou a resistência mecânica a penetração das raízes até a umidade na CC ou a umidade com a porosidade de aeração de 10%). - Umidade elevada (baixa aeração) - Compactação (baixa aeração) - Baixa troca de gases com a superfície (respiração e toxicidade) Aeração deficiente não fornece condições para o crescimento vegetal. O limite crítico inferior de aeração em relação ao crescimento das plantas é de 10% (0,1 m 3 m -3 ) (Lal & Shukla, 2004).

Introdução Exceção: arroz (Hillel, 2004) Aerênquima: tecido constituido por células infladas ou grandes espaços intercelulares, formando cavidades no interior da planta preenchidas de ar. Possibilita a chegada de oxigênio e a retirada de gás carbônico das partes vegetais submersas (Taiz & Zeiger, 2004).

Covecção É controlado por variações de umidade, pressão barométrica e temperatura; rajadas de vento; infiltração de água; e a extração de água pelas raízes das plantas (Hillel, 2004). q g = - k g dp/dx Onde: q g é a densidade de fluxo do gás, k g é uma propriedade da matriz do solo e dp/dx é o gradiente de pressão total.

Difusão Permite o movimento de gás de uma área para outra, embora não exista gradiente de pressão para a mistura total dos gases. O gás se move em uma dada direção determinada pela sua pressão parcial. q c = - k c ar dp c /dz Onde q c é a densidade de fluxo de um componente no ar, k c ar é a difusividade do ar para o fluxo do componente, P c é a pressão parcial do componente e z é a distância.

Difusão Exemplo: a maior concetração de O 2 na atmosfera resulta em um movimento deste gás para o solo. Já o CO 2 se move em direção oposta, uma vez que sua pressões parcial é superior na atmosfera do solo (van Lier, 2010). Atmosfera: 21% O 2, 0,035% CO 2 e 78% N 2 Solo: 78% N 2, 20% O 2, 0,35%CO 2

Introdução A retenção e a condução de fluídos no solo não é dependente da porosidade total, e sim do tamanho e distribuição de poros. Os poros variam de 0,003 micrometros até fendas no solo (Lal & Shukla, 2004). Macroporos: aeração/difusão de gases (maiores de 0,05 mm). Microporos: retenção de água (menores de 0,05 mm).

Movimento de gases no solo tamanho da raiz atividade microbiana estrutura taxa de troca de gases do local com a superficie drenagem A composição do ar depende profundidade temperatura ph época densidade

Microrganismos Fatores que alteram a comunidade microbiana Umidade (metabolismo) Aeração (metabolismo) Matéria orgânica (fonte de energia, recalcitrantes) Presença de substâncias tóxicas (inibe grupos)

Umidade Porosidade = espaço aéreo resultante do arranjo das partículas minerais e orgânicas. A umidade favorece/inibe a difusão de gases. Há um conteúdo de água que maximiza a respiração, acima deste ocorre limitação da difusão de O 2 Quando 90% do espaço poroso é preenchido com água, as vias de trocas de gases com a atmosfera são bloqueadas.

Ciclo do C - Fotossíntese: processo fisioquímico onde os vegetais sintetizam CO 2 e água, obtendo glicose, celulose e amido através de energia luminosa. - Respiração: processo de extração de energia realizado pelos heterotrófos, resultando na produção de CO 2. Fotos. = 12H 2 O + 6CO 2 6O 2 + 6H 2 O + C 6 H 12 O 6 = Resp. Metade do C assimilado pelas plantas é utilizado no metabolismo microbiano. O restante vai para fração orgânica do solo, é decomposto, ou é extraído como produto vegetal (Moreira e Siqueira, 2006).

Difusão de gases no solo Organismos aeróbios: necessitam O 2 para o seu metabolismo. O 2 consumido deve ser reposto e CO 2 produzido deve ser expelido (Hillel, 2004). Quanto mais rápido as raízes e os microrgansimos utilizam o O 2 e liberam o CO 2, maior é a necessidade de troca de gases (Brady & Weil, 2002).

Difusão de gases no solo Anaeróbios obrigatórios: O 2 é tóxico para o seu metabolismo. Anaeróbios facultativos: tem a habilidade de se desenvolver na ausência de O 2, embora o metabolismo seja mais eficiente na presença de O 2.

Difusão de gases no solo Anaeróbios facultativos utilizam compostos inorgânicos oxidados (NO 3 - SO 4 2- e metais oxidados). Essa via de obtenção de energia resulta em: desnitrificação, respiração de nitrato, redução de sulfato e metanogênese. Outros retiram energia de vias anaeróbias, produzindo ácidos orgânicos (láctico, acético, propiônico e butírico) e álcoois (etanol e butanol) através da fermentação. Essa via metabólica gera apenas 2 ATP. 2NO 3 + 12H + + 10e = N 2 + 6 H 2 O (desnitrificadores) SO 4 2 + 9H + + 8e = HS+ 4H 2 O (redutores de sulfato) CO 2 + 8H + + 8e= CH 4 + 2H 2 O (metanogênicas)

Ambiente anaeróbio Em condições de anaerobiose predomina a produção de CH 4 (Souza et al., 2011) e surge também gás sulfidríco (H 2 S). Menos de 1% de O 2 inviabiliza a respiração aeróbia

Gases Do total de CO 2 presente no solo de 50 a 80% é produzido pela população microbiana, enquanto as raízes produzem de 20 a 50% (Moreira & Siqueira, 2006). Em casos extremos, o teor de CO 2 atinge até 10%, se tornando tóxico para alguns processos da planta (Brady & Weil, 2002). As concentrações de O 2 e CO 2 no solo, somadas, nunca é superior a 21% do volume de gases (Lal & Shukla, 2004).

Ambientes anaeróbios Também estão presentes, em menores concentrações NH 3 (amonia), N 2, SO 2 (dióxido de enxofre) mais alguns compostos orgânicos voláteis, que são formados a partir da decomposição da matéria orgânica por microrganismos anaeróbios. O metabolismo anaeróbio também produz o etileno (C 2 H 4 ). Este gás é tóxico para as raízes mesmo em concentrações inferiores a 0,0001% (Brady & Weil, 2002).