3 Agronomia-01 PERDAS NA COLHEITA MECANIZADA DE MILHO NO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA-MG LOSSES IN THE CORN MECHANICAL HARVESTING ON TRIÂNGULO MINEIRO AND ALTO PARANAÍBA AREAS-MG SILVA, R.P. 1 ; CAMPOS, M.A.O. 2 ; MESQUITA, H.C.B. 3 ; ZABANI, S. 3 1 Prof. Dr., Curso de Agronomia, FAZU - Faculdades Associadas de Uberaba, Uberaba - MG; E-mail: rouverson.silva@uol.com.br; 2 Engenheiro Agrônomo, Grupo JM., 5ª Avenida, 113, Centro CEP: 75.830-000. Mineiros GO; E-mail: marcogjm@hotmail.com; 3 Engenheiro Agrônomo. RESUMO: O milho (Zea mays) é uma das mais principais culturas cultivadas no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, apresentando uma elevada produção e alta tecnologia. Entretanto, o índice de perdas na colheita mecanizada não é um fator devidamente conhecido e a sua determinação pode influir de forma positiva na elevação da renda dos produtores. Assim, visando quantificar as perdas totais na colheita mecanizada de milho, este trabalho apresenta os resultados obtidos em avaliações realizadas em três propriedades da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba - MG. As amostragens foram realizadas ao acaso, durante a colheita da safra 2002/2003, sendo as perdas avaliadas em função da idade, velocidade de trabalho e sistema de trilha das colhedoras. Os resultados obtidos permitiram concluir que as colhedoras com idade entre 0 e 5 anos e as máquinas com sistema de trilha axial apresentaram menores perdas do que as colhedoras com mais de 6 anos, e do que aquelas com sistema de trilha radial, respectivamente. PALAVRAS-CHAVE: Colhedoras; milho; sistema de trilha. ABSTRACT: This work presents the evaluation results gotten in three properties of the Triângulo Mineiro and Alto Paranaíba regions, determining the losses in the corn harvest. The results indicate that the harvesters with 0-5 years old had lesser losses than the harvesters with more than 6 years. The machines with axial track system had presented minor losses than those with radial track system. KEYWORDS: Track; losses; harvesters.
4 INTRODUÇÃO Os maiores produtores de grãos do estado de Minas Gerais, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba devem sua alta produção, principalmente, ao relevo favorável à mecanização agrícola e ao bom nível tecnológico dos produtores. A colheita, como última etapa do processo de produção, torna-se uma operação muito delicada, sendo necessários cuidados especiais visando minimizar as perdas do processo. MANTOVANI (1989) relatou que as perdas na colheita de milho ocorrem de três formas principais: na pré-colheita, na plataforma de corte e nos mecanismos internos da colhedora. Esses três fatores somados acarretam perdas severíssimas à produção, em âmbito estadual e nacional. De acordo com SLC (1988), citado por MOLIN; OLIVEIRA; MAZZOTTI (1998), as perdas na colheita da cultura de milho não devem ultrapassar 2%. Segundo MESQUITA et al. (2002) existe uma relação entre a idade da colhedora e o nível de perdas na colheita, sendo que as máquinas com mais de 15 anos apresentaram perdas 30% superiores àquelas encontradas nas colhedoras mais novas. Os autores relataram ainda que o ano de fabricação é o fator que causa mais perdas, quando comparado a outros fatores tais como: eficiência do operador, condições da lavoura e conservação da máquina. Para ALVES SOBRINHO & HOOGERHEIDE (1998), outro fator preponderante é a baixa escolaridade dos operadores aliado à falta de treinamento, que pode dificultar a redução das perdas na colheita. Essa redução pode ser facilitada se os produtores fizerem um acompanhamento da colheita, com monitoramento constante. Em trabalho realizado em uma propriedade produtora de milho em Uberaba MG, SILVA; CAIXETA; SILVA (1998) observaram que as perdas ocorridas na colheita podem ser relacionadas à falta de treinamento dos operadores, ao mau estado de conservação do maquinário, às condições inadequadas de condução da cultura e à alta umidade dos grãos durante a colheita. OLIVEIRA; LIMA; LOPES (1995) verificaram um baixo nível de perdas para a cultura de milho, quando observadas as regulagens periódicas e a manutenção constante, para duas colhedoras de marcas diferentes, submetidas às mesmas condições de trabalho. O desenvolvimento de metodologias para a regulagem da colhedora, assim como o uso de novos mecanismos que potencializem o desempenho da máquina, são alguns dos meios para reduzir as perdas a níveis técnico e economicamente aceitáveis. MESQUITA et al. (2001) observaram que essas perdas podem ser parcialmente evitadas, tomando-se uma série de cuidados como: monitoramento rigoroso
5 das velocidades de trabalho da colhedora, aferição regular dos mecanismos de trilha, limpeza e separação. De acordo com MESQUITA et al. (2002), colhedoras que possuem sistema de trilha longitudinal ou axial, apresentaram menores danos mecânicos às sementes quando comparadas àquelas que apresentam sistema de trilha radial. SKROMME (1977), citado por COSTA et al. (2002), confirmou que as colhedoras axiais possuem maior capacidade de colheita e apresentam redução de danos mecânicos às sementes, embora ainda apresentem um custo considerado elevado para os produtores brasileiros. COSTA et al. (2002) afirmaram que a alta variabilidade encontrada em estudos da qualidade de sementes durante a colheita demonstram que as causas estão relacionadas a fatores como: manutenção deficiente, regulagens inadequadas e chuvas durante o período de colheita. Este trabalho objetivou avaliar as perdas de grãos da cultura de milho (Zea mays) em lavouras das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, na safra 2002/2003, em função da idade, da velocidade de trabalho e do sistema de trilha (axial ou radial) das colhedoras. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado em três propriedades produtoras de milho, avaliando-se as perdas em nove colhedoras nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, durante os meses de março a maio de 2003. Os dados foram coletados por uma equipe da FAZU - Faculdades Associadas de Uberaba, utilizando a metodologia do copo medidor graduado, desenvolvida por MESQUITA et al. (1982), citado por MESQUITA et al. (2001). Foram mensuradas as perdas de milho em sacas/hectare (sc ha -1 ), por meio da coleta de todos os grãos caídos no solo, dentro de armações de madeira e barbante de 2m 2, com comprimento igual à largura da plataforma de corte. Foram coletadas amostras constituídas de quatro repetições para cada colhedora avaliada, com distâncias de 50 metros entre as amostras caracterizando um DIC (Delineamento Inteiramente Casualizado). As perdas foram determinadas antes do início da colheita (perdas pré-colheita), colocando-se a armação em áreas não colhidas, e após a passagem da colhedora (perdas totais). As perdas de cada máquina foram obtidas por meio da diferença entre as perdas totais e as perdas précolheita. Os dados foram anotados em planilhas, que possuíam campos para anotação do ano de fabricação, rotação do cilindro, abertura do côncavo, perdas, sistema de trilha (axial ou radial), marca e modelo das colhedoras. Para a obtenção dos valores de rotação e velocidade de
6 deslocamento, acompanhou-se o operador em um percurso equivalente ao comprimento do talhão durante a colheita, anotando-se na planilha as leituras realizadas no painel das máquinas. Para as colhedoras mais antigas, que não possuíam velocímetro, determinou-se a velocidade de deslocamento da máquina cronometrando-se o tempo de percurso em 10 metros com três repetições, e obtendo-se a velocidade média. A umidade dos grãos foi obtida por meio de aparelho digital portátil, no momento da colheita. Já a idade da colhedora foi obtida através de pergunta direta ao responsável pela colheita, consulta aos manuais ou conferência da chapa, que indica o ano de fabricação, afixada na colhedora. Os modelos de colhedora utilizados são apresentados na Tabela 1. Utilizando o programa ANOVA foram realizadas análises de variância com um fator de classificação, e aplicado o pós-teste de Tukey a 5% de probabilidade para comparar as perdas de grãos em função: da velocidade de deslocamento, da rotação do cilindro, da idade das colhedoras, do sistema de trilha e da condição da propriedade. Devido ao agrupamento de dados realizado, os números de amostras foram diferentes para cada parâmetro analisado. Em todas as tabelas, as médias seguidas de mesma letra, ou a ausência da mesma, nas colunas demonstram que não diferem entre si, pelo pós-teste de Tukey a 5% de probabilidade. TABELA 1 - Especificação das colhedoras estudadas. Colhedora Idade (anos) Sistema de trilha John Deere 1175 4 Radial John Deere 1175 3 Radial SLC 7500 (n=06) 9 Radial Case 2388 (n=28) 4 Axial Case 2388 (n=29) 4 Axial SLC 6200 15 Radial Case 2388 0 Axial JD STS 9650 0 Axial RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2, pode-se observar que máquinas com idade entre 0 e 5 anos apresentaram menores valores de perdas para a cultura de milho quando comparadas àquelas com mais de 6 anos de idade. Esses resultados divergem daqueles encontrados por SILVA; CAIXETA; SILVA (1998),
7 que não constataram nenhuma correlação direta entre a idade das máquinas com as perdas na colheita. Em relação aos altos valores observados para o coeficiente de variação, MESQUITA et al. (2002) e MESQUITA et al. (2001), também encontraram valores elevados em trabalhos avaliando as perdas na cultura de soja, o que pode ser justificado pela alta variabilidade das amostras encontradas em vários trabalhos de colheita realizados em condições de campo. A velocidade de deslocamento da colhedora e a rotação do cilindro não foram influenciadas pela idade das máquinas, como apresentado na Tabela 2. TABELA 2 - Perdas de grãos, velocidade de deslocamento e rotação do cilindro em função da idade das colhedoras. Idade (anos) Perdas (sc ha -1 ) Velocidade (km h -1 ) Rotação do cilindro (rpm) 0 a 1 0,40 a 7,75 a 515,00 a 2 a 5 0,64 a 6,75 a 610,00 a >5 2,05 b 6,00 a 600,00 a Teste F 1,627 n.s. 1,279 n.s. 23,031 * C.V. 12,236% 11,933% 53,447% * Significativo a 5% de probabilidade. Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo pós teste de Tukey a 5% de probabilidade. Além da idade das colhedoras, outros fatores tais como: o estado de conservação da máquina e a eficiência do operador também podem ter influenciado as perdas (ALVES SOBRINHO & HOOGERHEIDE, 1998). Além destes fatores, um outro, de igual importância, a ser observado é a velocidade de deslocamento. Analisando a Tabela 3, pode-se observar que, para as condições estudadas, a velocidade de deslocamento influenciou significativamente as perdas de grãos, sendo que as colhedoras que trabalharam em faixas de velocidade de 4 a 6km h -1 apresentaram perdas superiores àquelas encontradas para máquinas com velocidades superiores a 7km h -1, o que pode ser explicado pelo fato das colhedoras axiais trabalharem com velocidades de deslocamento mais altas (Tabela 2). Quanto à rotação do cilindro não foram encontradas diferenças significativas em função da velocidade.
TABELA 3 - Perdas de grãos e rotação do cilindro em função da velocidade de deslocamento da colhedora. 8 Velocidade (km h -1 ) Perdas (sc ha -1 ) Rotação do cilindro (rpm) 4 a 6 1,237 b 650,00 a >7 0,356 a 565,00 a Teste F 26,043 * 1,204 n.s. C.V. 61,293% 14,526% * Significativo a 5% de probabilidade. Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo pós teste de Tukey a 5% de probabilidade. Quanto aos sistemas de trilha (Tabela 4), foram encontradas diferenças significativas para as médias de grãos perdidos, sendo que as colhedoras de fluxo axial apresentaram menores perdas, enquanto que para as máquinas de fluxo radial as perdas foram 29% superiores, estando no nível aceitável para colheita de milho. Não foram encontradas diferenças significativas para a rotação do cilindro em função do sistema de trilha. TABELA 4 - Perdas de grãos, velocidade de deslocamento e rotação do cilindro em função do sistema de trilha. Sistema de trilha Perdas (sc ha -1 ) Velocidade (km h -1 ) Rotação do cilindro (rpm) Axial 0,36 a 7,62 b 555,00 a Radial 1,29 b 6,00 a 650,00 a F 35,942 * 46,091 * 2,798 * C.V. 53,612% 4,969% 13,330% * Significativo a 5% de probabilidade. Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo pós teste de Tukey a 5% de probabilidade.
9 CONCLUSÃO As colhedoras com idade entre 0 a 5 anos apresentaram perdas menores do que as colhedoras com mais de 6 anos de idade. Máquinas com sistema de trilha axial apresentaram menores perdas do que àquelas com sistema de trilha radial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES SOBRINHO, T.; HOOGERHEIDE, H.C. Diagnóstico de colheita mecânica da cultura de soja no município de Dourados - MS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27, 1998, Poços de Caldas. Anais..., Lavras - MG: UFLA/SBEA, 1998, p.52-54. COSTA, N.P.; MESQUITA, C.M.; MAURINA, A.C.; FRANÇA-NETO, J.B.; PEREIRA, J.E.; KRZYZANWSKI, F.C.; HENNING, A.A. Avaliação da qualidade de sementes e grãos de soja provenientes da colheita mecanizada em diferentes regiões do Brasil. Engenharia Agrícola, Jaboticabal - SP, v.22, n.2, p.211-219, maio 2002. MANTOVANI, E.C. Colheita mecanizada de milho. In: Colheita mecânica, secagem e armazenamento do milho. Campinas - SP: Fundação Cargill, 1989, 35p. MESQUITA, C.M.; COSTA, N.P.; PEREIRA, J.E.; MAURINA, A.C.; ANDRADE, J.G.M. Caracterização da colheita mecanizada da soja no Paraná. Engenharia Agrícola, Jaboticabal - SP, v.21, n.2, p.197-205, 2001. MESQUITA, C.M.;COSTA, N.P.; PEREIRA, J.E.; MAURINA, A.C.; ANDRADE, J.G.M. Perfil da colheita mecânica da soja no Brasil: safra 1998/1999. Engenharia Agrícola, Jaboticabal - SP, v.22, n.3, p.398-406, set. 2002. MOLIN, J.P.; OLIVEIRA, M.D.A.; MAZZOTTI, H.C. Método volumétrico para estimativa de perdas na colheita na cultura do milho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27, 1998, Poços de Caldas: Anais..., Lavras - MG: UFLA/SBEA, 1998, v.3, p.184-186.
10 OLIVEIRA, F.G. de, LIMA, J.S.S., LOPES, J.D.S. Análise e comparação de perdas na colheita mecânica de milho para duas colhedoras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRICOLA, 24, 1994, Viçosa: Anais..., Viçosa - MG: UFV/SBEA, 1995. SILVA, R.P., CAIXETA, R.V., SILVA, E.C. Perdas de grãos ocorridas na pré-colheita e mecanismos internos de uma colheitadeira de milho (Zea mays). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 27, 1998, Poços de Caldas: Anais..., Lavras - MG: UFLA/SBEA, 1998, v.3, p.214-216.