A estação Arqueológica da Tapada da Venda, Pedroso, Celorico de Basto (Norte de Portugal): primeiras impressões das escavações de 2001

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Transcrição:

Nova Série, Vol. XXIII, 2002 A estação Arqueológica da Tapada da Venda, Pedroso, Celorico de Basto (Norte de Portugal): primeiras impressões das escavações de 2001 Ana Bettencourt António Dinis Isabel Sousa e Silva Carlos Cruz e José Pereira 1 ABSTRACT This article draws upon the recent archaeological excavations at the site of Tapado da Venda (Celorico de Basto). This site was excavated in the seventies, being the results yet unpublished to date. This is an open settlement site dating to the 2 nd millennium BC. This site, which appear to have had short live, was occupied by a farming community. 0. INTRODUÇÃO Com este texto, pretende-se relatar os trabalhos de escavação arqueológica, realizados durante o verão de 2001, na estação arqueológica da Tapada da Venda, no âmbito do projecto The Entre-Douro-e-Minho landscape since middle of III to the end of II millenium BC, aprovado e financiado pela Fundação da Ciência e Tecnologia. Esta estação, parcialmente escavada por Francisco Alves 2, em 1978, no quadro do alargamento de um caminho que pôs a descoberto um número significativo de fossas abertas no saibro, ainda não tinha sido alvo de estudos posteriores que permitissem a sua inserção cronológica-cultural precisa (Est. IV 1 e 2). Deste modo, e atendendo a que um dos objectivos do projecto referido é a obtenção de dados para o estudo da bacia do Ave no II milénio AC, pareceu-nos interessante efectuar uma sondagem no local 3, passível de fornecer 1 Ana Bettencourt (Professora Auxiliar do Departamento de História da Universidade do Minho), António Dinis (Mestre em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Isabel Sousa e Silva (Mestranda de Arqueologia na Universidade do Minho), Carlos Cruz (Mestre em Arqueologia pela Universidade do Minho) e José Pereira (Mestrando de Arqueologia na Universidade do Minho). 2 A quem agradecemos ter-nos cedido os dados das antigas escavações para estudo. 3 Nos trabalhos de campo contámos com a participação de Alda Rodrigues, Andreia Silva, Carla Carvalho, Hugo Cardoso, Liliana Sampaio, Luciano Vilas Boas, Luís Alves, Maria João Amorim, Mónica Salgado e Nuno Miguel Ferreira alunos da licenciatura em História variante Arqueologia da Universidade do Minho e com António Mário Dinis, estudante do Ensino Secundário. Obtivemos, ainda, a colaboração de vários funcionários da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu do Rego que procederam à remoção de aterros e ajudaram a tapar as quadrículas após a sua escavação integral. O levantamento topográfico foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Celorico de Basto, a quem agradecemos. 187

documentação para a sua contextualização, assim como para a reconstituição páleo-ambiental da área 4. 1. LOCALIZAÇÃO, CONTEXTO GEOMORFOLÓGICO E AMBIENTAL A estação arqueológica da Tapada da Venda, localiza-se no distrito de Braga, concelho de Celorico de Basto, freguesia de São Bartolomeu do Rego, lugar de Pedroso (Est. I.-1). As coordenadas geográficas segundo a Carta Militar de Portugal na escala 1:25.000, folha 86 são as seguintes: Latitude: 41 26 20" N, Longitude: 8 04 38" W Altitude: 670 a 660 metros (Est. I.-2). A Tapada da Venda situa-se junto à escola primária do lugar de Pedroso, numa chã da vertente nordeste do Alto do Couto, pequena elevação do planalto da Lameira. Para norte, a estação liga às terras altas do planalto e, para sul e oeste, relaciona-se através de um declive suave com um pequeno vale aluvionar. Este é formado por uma linha de água, que dista desta jazida cerca de 100m, correndo para o rio de Levandeira, um dos que alimenta o rio do Bugio, afluente do Ave. Segundo a Carta Geológica de Portugal, na escala 1:50 000, n. 10-A, de 1987, o substrato rochoso da região é composto por granito porfiróide de grão grosseiro, com duas micas, essencialmente biotítico, sem ocorrência de afloramentos à superfície. Atravessam a zona inúmeros filões de quartzo. Muito perto, existem aluviões actuais e depósitos areno- -argilosos de fundo de vale. Segundo a Carta Mineira de Portugal, na escala 1:500 000, de 1960, não existem recursos mineiros metálicos, nas proximidades da estação arqueológica. O coberto vegetal arbóreo, que povoa actualmente o local, com Eucaliptos, Pinheiros e resquícios de Carvalhos e Castanheiros, impede o domínio visual, possível noutras circunstâncias, sobre os vales formados pela linha de água que lhe corre a 100m para este e pelo rio de Lavandeira. O acesso à Tapada da Venda faz-se através da estrada municipal que liga a freguesia do Rego ao lugar da Travessa, atravessando o Lugar de Pedroso. A estação em análise foi parcialmente destruída por esta estrada que a divide em duas partes. 2. METODOLOGIA Atendendo aos objectivos propostos e após análise do terreno, de plantas e fotografias das escavações de 1978, optámos por abrir três áreas de escavação que denominámos de Corte 1, Corte 2 e Corte 3 (Est. II.). O Corte 1 localizou-se a oeste da estrada, em zona não intervencionada em 1978. Era 4 Está em preparação o estudo monográfico desta estação arqueológica. 188

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) nosso objectivo perceber se a estação se estendia para essa zona aplanada. O Corte 2 foi efectuado a norte das antigas escavações, em área contígua às mesmas. Aqui, o objectivo era detectar estruturas semelhantes às encontradas anteriormente e tentar definir as suas funcionalidades. O Corte 3 foi realizado numa pequena elevação a oeste do corte 1, à cota de 695m. Serviu para determinarmos a localização da jazida arqueológica em termos morfológicos e precisar um pouco mais a sua distribuição no espaço circundante. Enquanto estratégia de trabalho optou-se por valas de sondagem nos cortes 1 e 3 e por escavações em área, no corte 3. A malha dos quadrados correspondeu a 1 x 1m. Com a ajuda de uma retro-escavadora, iniciámos os trabalhos pela remoção do aterro do corte 2, resultante das obras da estrada em 1978. Por precaução foram deixados cerca de 30 centímetros de entulho em toda a área, retirados, posteriormente, pela equipa de escavação. Quando foi detectada a camada humosa, anterior aos aterros, prosseguimos a decapagem por camadas naturais. Todos os perfis e estruturas foram registados, desenhados, fotografados e cotados. Os fragmentos cerâmicos associados a estruturas, bem como os materiais metálicos, líticos e pequenas concentrações de ecofactos, foram posicionados nas três variáveis, x, y e z. Os sedimentos provenientes das fossas e buracos de poste foram crivados a seco, com crivos de malha muito fina, capazes de permitir a identificação de sementes de pequeno porte. Os sedimentos sobre pavimentos ou empedrados foram também crivados com o objectivo de se recolherem ecofactos. O material proveniente da escavação deu entrada no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, onde foi lavado e marcado pela equipa de escavação durante os meses de Outubro e Novembro. Os líticos, de difícil classificação, serão identificados por António Caetano Alves e Diamantino Pereira Ìnsua, ambos geólogos da Universidade do Minho que integram este projecto. Os ecofactos foram enviados para análises de antracologia e carpologia, a efectuar por Isabel Figueiral. Dos ecofactos foram retiradas amostras para datação radiométrica a realizar nos Laboratórios Rocasolano de Madrid e Angstrom, Uppsala. A data da amostra aqui publicada, foi calibrada pelo programa da Universidade de Oxford, OxCal 3.5 (BRONK RAMSEY, 1995) através da curva de calibração (INTCAL 98, Stuiver et al., 1998). 3. ESCAVAÇÃO 3.1. Corte 1 3.1.1. Estratigrafia Neste corte a estratigrafia apresenta a seguinte sequência (Est. V 1): A terras de aterro, heterogéneas, com manchas amarelas de saibro e bolsas de terra castanha muito escura. Por vezes ocorre algum material arqueológico descontextualizado. Camada 0 humosa. Terra castanha acinzentada, heterogénea, pouco compacta, com muitas raízes de pequeno porte, arenosa. Por vezes ocorre algum material arqueológico descontextualizado. 189

Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno- -limosa, com pedras de pequeno e médio porte e alguns carvões dispersos. Camada onde ocorre o nível de ocupação e abandono da estação arqueológica. Camada 2 terra castanha clara, mais arenosa e menos compacta que a anterior. Contém pedras de pequenas dimensões. Corresponde à mistura das camadas 1 e 3. Camada 3 arena granítica. 3.1.1.1. Estratigrafia das fossas e ou buracos de poste da cam. 1 Fossa 1 (Quad. C1/B1) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. Fossa 2 (Quad. C1) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. Fossa 3 (Quad. E1) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. Fossa 4 (Quad. E1) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. Fossa 5 (Quad. B1) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. Fossa 6 (Quad. B2) Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa. 3.1.2. Estruturas Apenas foram encontradas seis pequenas fossas ou buracos de poste abertos na camada 1 mas penetrando nas camadas 2 e 3. 3.1.3. Espólio da camada 1 e 2 Cerâmico A totalidade da cerâmica encontrada é de fabrico manual, de pasta arenosa com desengordurastes de quartzo e de feldspato. As pastas são de textura mediana e grosseira e as cozeduras medianas e más. O acabamento é, na quase totalidade, alisado. A maioria dos fragmentos são lisos. Apenas registámos um bordo com incisões (?) sobre o lábio. As bases são de fundo plano simples. Os bordos são de formas pequenas e médias, sem vestígios de fuligem. Na fossa 1 ocorreu uma concentração de fragmentos cerâmicos do mesmo recipiente, cuja colagem revelou estar incompleto. Na fossa 4 também apareceu um fragmento de cerâmica. 190

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) Lítico O espólio lítico foi efectuado em matéria prima local. Registámos artefactos em pedra polida e lascada. No primeiro grupo incluímos os polidores e os fragmentos de moinhos moventes, efectuados, normalmente, em granito de grão fino. No segundo, detectámos lascas, uma ponta de seta (?) e uma raspadeira (?), em quartzo leitoso. Registámos, igualmente, cristais de quartzo, seixos com vestígios de lípidos e seixos fumigados. Ecofactos Recolhemos carvões de pequenas dimensões, dispersos na camada 1, assim como concentrados, no interior da fossa 6. Data de radiocarbono Da camada 1, retirámos uma amostra de carvões para datação por AMS. Esta foi realizada no Laboratório Angstrom, do Departamento de Ciências Materiais, da Universidade de Uppsala, Suécia. A data obtida, de entre os meados do séc. XV AC e os finais do séc. XIII/ /inícios do XII AC é perfeitamente aceitável. Ref. laboratório C 14 (Anos BP) Idade calibrada (anos AC 1 sigma) 68.2% Ua 19499 3065±50 1410-1260 Idade calibrada (anos AC 2 sigma) 95.4% 1440-1190 (92.7%) 1180-1160 (1.3%) 1140-1130 (1.4%) 3.2. Corte 2 3.2.1 Estratigrafia (Est. III 1 e 2): A estratigrafia deste corte apresenta a seguinte sequência: A terras de aterro, heterogéneas, com manchas de tonalidade amarela decorrente do saibro e bolsas de terra castanha muito escura. Ocorrência de algum material arqueológico descontextualizado e presença de espólio contemporâneo, como vidros e plásticos. Camada 0 humosa. Terra castanha acinzentada, heterogénea, pouco compacta, arenosa, com muitas raízes de pequeno porte, em decomposição. Camada 1 terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno- -limosa e com alguns carvões dispersos. Contém pedras de pequenas dimensões. Camada onde ocorre o nível de ocupação e abandono da estação arqueológica. Camada 2 arena granítica. 3.2.1.1. Estratigrafia das fossas Fossa 1 (Quad. D4/E4) Camada 1a camada muito heterogénea, com manchas de terra castanha escura, de média compacidade, areno-limosa e manchas de saibro, com disposição oblíqua. Camada de abandono (Est. III 2). 191

Fossa 2 (Quad. F4, F5, G4, G5) Camada 1a areão cinzento. Fossa 3 (Quad. G5) Camada 1a terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa, igual à camada 1. Fossa 4 (Quad. G4) Camada 1a terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa, igual à camada 1. Fossa 5 (Quad. G3) Camada 1a camada muito heterogénea, com manchas de terra castanha escura, de média compacidade, areno-limosa e lentículas de saibro, com disposição oblíqua. Camada de abandono (Est. III 1). Fossa 6 (?) (Quad. F2, G2) Camada 1a terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa, igual à camada 1. Fossa 7 (?) (Quad. H1) Camada 1a terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa, igual à camada 1. Fossa 8 (?) (Quad. I1) Camada 1a terra castanha muito escura, de média compacidade, homogénea, areno-limosa, igual à camada 1 (Est. IV 2). 3.2.2. Estruturas (Est. V 2; VI 1 e 2). São várias as estruturas detectadas neste corte. Os buracos de poste, de profundidades e diâmetros variados, são em número de vinte e distribuem-se, por vezes, de forma orientada. Nos quadrados F2, F3, G2, G3, G4, G5, H1 e I1 estes parecem formar um semicírculo, muito provavelmente delimitando um recinto no qual se incluiriam fossas e um pavimento de saibro que se crê oval e pequeno (P.1). Também nos quadrados D4, D5, E4 e E5 se detectaram restos de um pavimento ou de um empedrado irregular, composto por pedra miúda e saibro, (P.2), associado a buracos de poste e a uma fossa dupla (F. 1). 3.2.3. Espólio Cerâmico A cerâmica encontrada é totalmente de fabrico manual, de pasta arenosa e de textura mediana e grosseira. A cozedura é redutora de média ou má qualidade. O acabamento é sempre alisado, salvo as excepções em que os fragmentos se encontram corroídos. A maioria dos fragmentos são lisos. O único fragmento ornamentado apresenta um cordão com incisões (?). As bases são de fundo plano simples. As asas são de secção rectangular. Os bordos são de formas pequenas e médias. Destacamos um bordo com aba horizontal pequena. Alguns fragmentos apresentam matéria orgânica adossada às paredes internas. A maioria dos fragmentos aparece dispersa na camada. Há, no entanto, na fossa 4, uma acumulação de 22 fragmentos cerâmicos, muitos deles do mesmo vaso, em associação com um quartzo fumigado e um polidor. 192

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) Na fossa 5 também apareceram 15 fragmentos cerâmicos, alguns deles de diferentes vasos. Lítico O espólio lítico foi efectuado em matéria prima local, como o quartzo, o granito e o quartzito. Em pedra polida registámos polidores sobre seixos e fragmentos de moinhos moventes e dormentes. Em pedra lascada detectámos um cristal de quartzo, afeiçoado na extremidade proximal, um núcleo e uma lasca. Recolhemos, igualmente, cristais de quartzo, calhaus de quartzo com vestígios de lipídos ou fumigados e fragmentos de granito fumigados. Ecofactos Retirámos carvões de várias dimensões, quer dispersos na camada, quer concentrados em áreas que vieram a revelar-se buracos de poste. A maior concentração ocorreu nos buracos de poste números 4 e 5. Sementes de cereais, entre outras espécies, foram recolhidas dispersas na camada 1 e em fossas, principalmente na número 1 que continha uma grande quantidade de ecofactos. 3.3. Corte 3 Este Corte foi realizado numa pequena elevação a oeste do Corte 1. A abertura de dois quadrados permitiu constatar que o povoado não se expandiu para este local, motivo pelo qual foram suspensos os trabalhos. 3.3.1. Estratigrafia A estratigrafia deste corte era muito pouco espessa. Camada 0 camada humosa. Terra castanha acinzentada, heterogénea, pouco compacta, com muitas raízes de pequeno e médio porte. Camada 1 terra castanha escura, de pouco compacidade, arenosa e com um nível de pedras muito consistente. Degradação do granito? Camada 2 granito de base. 3.3.2. Estruturas Nos dois quadrados abertos no corte 3, não detectámos estruturas perecíveis. Apenas um imbricado de blocos graníticos que poderão resultar da desintegração da rocha de base. 3.3.3. Espólio Não foi detectado espólio de qualquer tipo. 193

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conjunto de dados exumados dos cortes 1 e 2 da Tapada da Venda permitem concluir da existência de, pelo menos, um nível de ocupação. O tipo de estruturas, artefactos e ecofactos, analisados em associação, autorizam a classificação deste local como um povoado aberto, de curta-média duração, vocacionado para actividades agrícolas. Salienta-se que utilizamos o termo povoado no seu sentido mais amplo. Por este motivo não excluímos a hipótese de terem existido estruturas sepulcrais, detectadas nas escavações de 1978 e cujo estudo pormenorizado será efectuado, posteriormente. As características do corte 2 (pavimentos demasiado pequenos para serem fundos de cabanas, fossas com sementes, escassez de espólio cerâmico e lítico) permitem colocar a hipótese de estarmos perante uma área de armazenagem e tratamento de cereais, entre outros produtos. Aliás, a localização deste povoado em terras agrícolas de planalto e nas proximidades de pequenos vales aluvionares de montanha, são elementos que parecem concordar com esta hipótese. O corte 1, mais protegido a oeste por um pequeno cabeço, parece ter tido uma função distinta do corte 2. Aqui, não ocorrem grandes fossas, nem quantidade significativa de sementes, embora a quantidade de cerâmica seja proporcionalmente maior. As características genéricas do espólio admitem a integração deste povoado na Idade do Bronze do Norte de Portugal e são concordantes com a data da segunda metade do II milénio AC, obtida para o Corte 1. BIBLIOGRAFIA BRONK RAMSEY, C. (1995), Radiocarbon Calibration and Analysis of Stratigraphy: The OxCal Program. Radiocarbon, 37 (2), pp. 425-430. LEMOS, F. S., M. Martins & M. Delgado (1976/1980), O sítio proto-histórico de Pedroso, Actividade Arqueológica. Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga, pp. 32-36. STUIVER, M., Reimer, P.J., Bard, E., Beck, J.W., Burr, G.S., Hughen, K.A., Kromer, B., Mc Cormac, G., van der Plicht, J. y Spurk, M. (1998), INTCAL 98 Radiocarbon Age Calibration, 24000 0 cal BP. Radiocarbon, 40 (3), pp. 1041-1084. 194

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) EST. I-1. Localização do povoado da Tapada da Venda na Península Ibérica. EST. I-2. Localização do povoado da Tapada da Venda, na Carta Militar de Portugal. 195

EST. II. Planta geral das escavações. O Corte 1 fica do lado Oeste da EN 206, o Corte 2 fica e Este e o Corte 3 fica, também, a Oeste, mas no topo de um pequeno outeiro. 196

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) EST. III 2. Tapada da Venda Corte 2. Perfil Oeste da fossa 1. EST. III 1. Tapada da Venda Corte 2. Perfil Norte dos quadrados G2 a G5, onde podemos observar o nível de ocupação definido pelo topo de um pavimento (P) e algumas fossas abertas no saibro. 197

EST. IV 1. Tapada da Venda. Aspecto geral das escavações de 1978 (Fot. do arq. do Museu D. Diogo de Sousa). EST. IV 2. Tapada da Venda. Fossas abertas no saibro, escavadas em 1978 (Fot. do arq. Do Museu D. Diogo de Sousa). 198

A ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA TAPADA DA VENDA, PEDROSO, CELORICO DE BASTO (NORTE DE PORTUGAL) EST. V 1. Tapada da Venda Corte 1. Aspecto geral do perfil Oeste onde se registam terras de aterros, uma fina camada humosa, anterior aos mesmos e a camada arqueológica. O nível de ocupação regista-se à cota das pequenas pedras. EST. V 2. Tapada da Venda Corte 2. Pormenor de uma pequena fossa do quadrado I1, ladeada por dois buracos de poste. 199

EST. VI 1. Tapada da Venda Corte 2. Empedrado irregular dos quadrados D4, D5, E4 e E5. EST. VI 2. Tapada da Venda Corte 2. Buracos de poste e fossas, escavadas até à arena granítica. No canto inferior esquerdo podemos observar a fossa 1, de contorno muito irregular. Esta continha um enchimento muito heterogéneo, que incluía diversas sementes. 200