TROCAS LÍQUIDAS DE CARBONO USANDO O MÉTODO DA COVARIÂNCIA DE VÓRTICES EM UMA FLORESTA DE ARAUCÁRIA NO SUL DO BRASIL

Documentos relacionados
;

Cálculo das trocas de carbono num agroecossistema de arroz com aplicação de técnicas de preenchimento de falhas

ESTIMATIVA DOS FLUXOS TURBULENTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO Maria Helena M. MARTINS 1,2 e Amauri P. de OLIVEIRA 1

Separação do fluxo de CO 2 em respiração e assimilação para uma cultura de soja no Sul do Brasil

Análise dos fluxos de água e CO2 de um canavial, em pós-colheita mecanizada. Rubmara Ketzer Oliveira; Felipe Gustavo Pilau; Thais Letícia dos Santos

Variação vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã em dois períodos distintos (chuvoso e seco).

, CALOR LATENTE E SENSÍVEL EM UMA ÁREA PRODUTORA DE ARROZ IRRIGADO NO CENTRO DO RIO GRANDE DO SUL.

Nome do Sítio Experimental: Cruz Alta. Localização e Mapas do Sítio Experimental: Latitude: Longitude: Altitude: 432 m

ESTUDO PRELIMINAR DO FLUXO DE GÁS CARBÔNICO NA RESERVA FLORESTAL DE CAXIUANÃ, MELGAÇO P A

8.4 - Clima e Fluxos Atmosféricos de Água, Energia e CO 2

Comparação interanual dos fluxos de energia em floresta primária na Amazônia Central: a seca de 2005

CLIMA IV Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas. Medição de fluxos de energia, CO 2 e H 2 O na canópia urbana e suburbana do Porto

ASPECTOS OBSERVACIONAIS DO FLUXO E DA CONCENTRAÇÃO DE CO 2 EM ECOSSISTEMA DE MANGUEZAL AMAZÔNICO

Eficiência no uso de água e luz em plantação de Eucalyptus

Perfil de temperatura do ar e do solo para uma área com vegetação e sem vegetação em um pomar de mangas em Cuiaraná-PA

FLUXOS TURBULENTOS DE DIÓXIDO DE CARBONO SOBRE O RESERVATÓRIO DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU PR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO EM METEOROLOGIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

ANÁLISE HORÁRIA DO PERFIL VERTICAL DE TEMPERATURA E UMIDADE DO AR EM DIFERENTES ÉPOCAS DO ANO EM UMA FLORESTA TROPICAL AMAZÔNICA.

Ricardo Acosta 1, Debora Roberti 1, Gisele Rubert 1, Marcelo Diaz 1, Ivan Cely 1 e Osvaldo Moraes 1,2. Resumo. Abstract

Análise preliminar da relação entre emissão de CO 2 do solo e e do ecossistema em um agroecossistema do sul do Brasil

PERFIL TRIMESTRAL, MENSAL E HORÁRIO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO DO VENTO AS MARGENS DA BAIA DE CAXIUANÃ, MELGAÇO, PA: ESTUDO DE CASO.

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DOS FLUXOS DE ENERGIA SUPERFICIAS PARA UMA CULTURA DE ARROZ IRRIGADO

ESTUDO DE VULNERABILIDADE DO BIOMA AMAZÔNIA AOS CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. André Lyra

ALBEDOS EM ÁREAS DE PASTAGEM E DE FLORESTA NO SUDOESTE DA AMAZONIA

Estimativa da evapotranspiração em dois sistemas de cultivo para soja, utilizando o método Eddy Covariance

PADRÕES MICROMETEOROLÓGICOS DA PLANTAÇÃO DE CANA-DE- AÇÚCAR

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Nova Abordagem para a Estimativa do Fluxo de Calor no Solo para o Bioma Pampa

ANÁLISE DE TENDÊNCIAS EM SÉRIES DE DADOS DE LONDRINA E PONTA GROSSA, PR. Mirian S. KOGUISHI, Paulo H. CARAMORI, Maria E. C.

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE FRICÇÃO DO AR NA ESTIMATIVA DE TROCA LÍQUIDA DE CO 2 EM FLORESTA TROPICAL

ESTUDO DA DIREÇÃO E VELOCIDADE DO VENTO EM SANTA MARIA, RS.

ANÁLISE DE DIFERENTES MÉTODOS DE PREENCHIMENTO DE FALHAS NOS FLUXOS DE CO 2 : ESTIMATIVAS SOBRE O ARROZ IRRIGADO

PARÂMETROS TÍPICOS PARA A OCORRÊNCIA DE NEVOEIRO DE RADIAÇÃO. Parte I: CARACTERÍSTICAS EM SUPERFÍCIE

Estudo do fluxo de calor sensível armazenado no dossel vegetativo em floresta tropical

BALANÇO DE RADIAÇÃO EM MOSSORÓ-RN, PARA DOIS PERÍODOS DO ANO: EQUINÓCIO DE PRIMAVERA E SOLSTÍCIO DE INVERNO RESUMO

Marcos Heil Costa UFV II Simpósio Internacional de Climatologia São Paulo, 2 e 3 de novembro de 2007

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL NO BRASIL

CÁLCULO DA TEMPERATURA VIRTUAL PARA UMA CULTURA DE CANA-DE- AÇÚCAR NO ESTADO DE ALAGOAS

ANÁLISE DO BALANÇO DE RADIAÇÃO EM SUPERFÍCIE DO EXPERIMENTO CHUVA VALE DO PARAÍBA PARA DIAS SECOS E CHUVOSOS. Thomas KAUFMANN 1, Gilberto FISCH 2

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

ESTIMATIVA DOS FLUXOS DE CALOR SENSÍVEL E LATENTE NA FLORESTA ATRAVÉS DO MÉTODO DO GRADIENTE

Introdução, Conceitos e Definições

Variabilidade mensal e sazonal da temperatura e umidade do solo no Projeto ESECAFLOR / LBA

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS NO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO PETROLINA-PE/JUAZEIRO-BA. ANTÔNIO H. de C. TEIXEIRA 1

COMPARAÇÃO DA MEDIÇÃO DE RADIAÇÃO DE ONDA LONGA ATMOSFÉRICA COM MÉTODOS DE ESTIMATIVAS EM ÁREA DE PASTAGEM NO ESTADO DE RONDÔNIA.

Aquecimento global Rise of temperature

MONITORAMENTO DOS FLUXOS DE CARBONO E VAPOR D ÁGUA EM CAATINGA PRESERVADA NO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA

Acoplamento do JULES ao BRAMS Demerval S. Moreira Saulo R. Freitas

Bianca Luhm Crivellaro 1, Nelson Luís Dias 1,2. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, UFPR; 2

Caracterização de Trocas de Calor Latente e suas Consequências na Evolução da Camada Limite Atmosférica no Cerrado do Distrito Federal

BALANÇO DE ENERGIA EM ÁREA DE PASTAGEM DURANTE A ESTAÇÃO SECA PROJETO ABRACOS

CLIMATOLOGIA E VARIABILIDADE INTERANUAL DA VELOCIDADE DO VENTO EM SANTA MARIA, RS

VARIABILIDADE CLIMÁTICA DA TEMPERATURA NO ESTADO DE SÃO PAULO. Amanda Sabatini Dufek 1 & Tércio Ambrizzi 2

Física e Meio Ambiente

AVALIAÇÃO DE UM MÉTODO EMPÍRICO PARA ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL MODELO DE ALLEN

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E INCREMENTO EM DIÂMETRO DE Matayba elaeagnoides Radlk. EM FLORESTA OMBRÓFILA MISTA ALUVIAL

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DEFASAGEM TEMPORAL ENTRE O ÍNDICE DE ÁREA FOLIAR E A EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM FLORESTA DECÍDUA TROPICAL

Método de pós-fechamento do Balanço de Energia para avaliação dos fluxos de modelos da superfície terrestre.

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

ATIVIDADE AVALIATIVA

Apresentado no XVII Congresso Brasileiro de Agrometeorologia 18 a 21 de Julho de 2011 SESC Centro de Turismo de Guarapari, Guarapari ES.

Influência da radiação de onda longa incidente no fechamento do balanço de radiação no modelo SIB2: Estimativas para pastagem no bioma Pampa

PREVISÃO DE TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS DO AR AO NÍVEL DE ABRIGO UTILIZANDO MODELO ATMOSFÉRICO DE MESOESCALA.

Balanço de Carbono aplicação do modelo CASA

MICROCLIMA E CONFORTO TÉRMICO DE UM FRAGMENTO FLORESTAL NA CIDADE DE CURITIBA-PR, BRASIL

ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR EM AREIA - PB, EM ANOS DE OCORRÊNCIA DE EL NIÑO

ESTIMATIVAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS ABSOLUTAS DO AR NO ESTADO DE SANTA CATARINA

CONFORTO AMBIENTAL Aula 2

ACA-223: Climatologia 1. Climatologia Física: Elementos e Controles do Clima: Variabilidade Diurna e Sazonal

ANÁLISE COMPARATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL ENTRE AS ÁREAS DE PASTAGEM E FLORESTA NA AMAZÔNIA CENTRAL RESUMO ABSTRACT

Introdução. Figura 1 - Esquema Simplificado do Balanço Energético da Terra

Estimativa dos fluxos de energia superficiais para o Sítio Experimental de Paraíso do Sul - RS

Palavras-chave: Vento, Convecção térmica, Energia Eólica.

MEDIÇÕES IN SITU DA CONCENTRAÇÃO DE CO2 EM UM RESERVATÓRIO TROPICAL USANDO LI-7500A E UMA BOIA METEOROLÓGICA. Doutorando em Clima e Ambiente INPA/UEA

EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA DO AR EM GOIÂNIA-GO ( ) Diego Tarley Ferreira Nascimento¹, Nicali Bleyer dos Santos², Juliana Ramalho Barros².

et al., 1996) e pelo projeto Objectively Analyzed air-sea Flux (OAFlux) ao longo de um

Seminário Combustíveis Alternativos para a Ai Aviação. 29 e 30 de novembro de 2011

Partição da evapotranspiração para uma cultura de milho Evapotranspiration partition for a maize crop. Resumo

Estudo da variabilidade espacial e vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã-PA

ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR POR MEIO DE MEDIDAS DE TEMPERATURA DE DIFERENTES MATERIAIS EXPOSTOS AO SOL

ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR POR MEIO DE MEDIDAS DE TEMPERATURA DE DIFERENTES MATERIAIS EXPOSTOS AO SOL

SAZONALIDADE TERMOHIGROMÉTRICA EM CIDADES DE DIFERENTES DIMENSÕES NO ESTADO DO PARÁ

Estudo do fluxo turbulento de calor sensível na região da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz

QUANTIFICAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE DIÓXIDO DE CARBONO EM PERFIS DENTRO DE UMA ÁREA DE FLORESTA NA AMAZÔNIA CENTRAL. RESUMO

Investigação observacional do albedo, da transmissividade e da radiação de onda curta na Estação Antártica Brasileira

Fluxos de Calor Sensível e Calor Latente: Análise Comparativa. dos Períodos Climatológicos de e

TROCAS TURBULENTAS DE ESCALARES ACIMA E NO INTERIOR DE UMA FLORESTA DE ARAUCÁRIA NO SUL DO BRASIL

ANÁLISE DE DADOS EXPERIENTAIS DE TURBULÊNCIA SOBRE TERRENO COMPLEXO

INFLUÊNCIA DA UMIDADE NA TEMPERATURA DO SOLO E NO FLUXO DE CALOR NO SOLO DECORRENTE DA PRECIPITAÇÃO EM UMA ÁREA DE PASTAGEM NA AMAZÔNIA.

Perfis verticais dos espectros das velocidades turbulentas em uma torre micrometeorológica de 140 m

PERFIL DA CONCENTRAÇÃO DE CO 2 EM UMA ÁREA MONODOMINANTE DE CAMARÁ NO NORTE DO PANTANAL

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

Balanço radioativo terra-sol

PREDOMINÂNCIA DO VENTO NA REGIÃO DE TABULEIROS COSTEIROS PRÓXIMO A MACEIÓ AL. Roberto Lyra ABSTRACT

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS SOBRE OS PLANTIOS DE EUCALIPTO

Ecologia O mundo físico Clima Clima regional

Transcrição:

TROCAS LÍQUIDAS DE CARBONO USANDO O MÉTODO DA COVARIÂNCIA DE VÓRTICES EM UMA FLORESTA DE ARAUCÁRIA NO SUL DO BRASIL Pablo E. S. Oliveira 1, Osvaldo L. L. Moraes 2, Debora R. Roberti 2, Otávio C. Acevedo 2 1 Meteorologista, Departamento de Física, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria RS, Fone 55 33012033, pablo@ufsm.br 2 Professor Adjunto, Departamento de Física, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria RS Apresentado no XVII Congresso Brasileiro de Agrometeorologia 18 a 21 de Julho de 2011 SESC Centro de Turismo de Guarapari, Guarapari - ES. RESUMO: Neste trabalho, são apresentadas as estimativas diárias da troca líquida de carbono do ecossistema (Net Ecossystem Exchange - NEE) feitas em uma torre micrometeorológica em uma Floresta de Araucária no sul do Brasil, calculadas através do método da covariância de vórtices (eddy covariance), para o período compreendido entre 27 de janeiro e 22 de outubro de 2010. Fluxos foram calculados para períodos de 30 minutos e integrados ao longo do dia, sendo apresentadas as médias diárias do NEE. São apresentadas também as médias diárias da temperatura e radiação global para o mesmo período. Períodos com falhas foram preenchidos através de técnicas de gap filling. Palavras-chave: Covariância de vórtices; Trocas líquidas de carbono, Sulflux. Abstract: In this work, we present the net ecosystem exchange estimates from a micrometeorological tower at an Araucaria Forest, in southern Brazil, computed by the eddy covariance method. A total of nine months were used. The carbon dioxide fluxes were calculated over 30 minutes period and analyzed in terms of their daily variability. Daily means of air temperature and global radiation are also presented. Gap filling methods were performed when it was necessary. Keywords: Eddy covariance, Net ecosystem exchange, Sulflux. 1.INTRODUÇÃO A queima de combustíveis fósseis associado ao constante desmatamento e queima de biomas terrestres, principalmente as áreas florestais, tem causado um aumento gradual nas concentrações de CO 2 atmosférico. Com o crescente aumento deste e de outros gases de efeito estufa na atmosfera, busca-se cada vez mais entender como os processos de interação entre a biosfera e a atmosfera terrestre ocorrem, sendo o papel das florestas de fundamental importância, já que estas podem atuar tanto como fonte quanto como sumidouro do dióxido de carbono da atmosfera. O método mais comumente usado nos últimos anos para as estimativas das trocas de gases e energia entre a superfície e a atmosfera é o da covariância de vórtices. Isto se deve ao fato de que ela permite realizar medidas de longo prazo do fluxo de gases utilizando medidas de alta frequência da velocidade vertical do vento e da concentração do gás, feita acima do dossel das plantas, provendo diretamente estimativas das trocas líquidas do ecossistema (Net ecosystem exchange NEE) (Baldocchi, 2003). O NEE é o resultado da

diferença entre a assimilação de CO 2 pelo processo de fotossíntese e a emissão por respiração autotrófica e heterotrófica. Neste trabalho, este método foi utilizado para estimar o fluxo de CO 2 de um total de 9 meses de dados de alta frequência obtidos em uma Floresta de Araucária, pertencentes ao projeto Sulflux, analisando a variabilidade diária e sazonal dos fluxos. Os fluxos foram calculados utilizando-se períodos de meia hora, e médias diárias destes fluxos foram feitas. Períodos com falhas de dados foram preenchidos utilizando-se técnicas de gap filling propostos por Falge et al. (2001, 2002) e Lasslop et al. (2010). 2. DADOS E METODOLOGIA Os dados meteorológicos e das trocas líquidas de carbono entre o ecossistema e a atmosfera foram feitas em uma torre micrometeorológica de 32 m de altura do Laboratório de Micrometeorologia da Universidade Federal de Santa Maria (Lµmet-UFSM), através do projeto sulflux (www.ufsm.br/sulflux), numa região de floresta de araucária, no município de São João do Triunfo, estado do Paraná. A área na qual a torre foi instalada é de aproximadamente 32 ha, onde a vegetação caracteriza-se como um fragmento de Floresta Ombrófila Mista ou Floresta com Araucária, tendo como espécies predominantes o pinheirodo-paraná (Araucaria angustifolia) juntamente com diversas espécies folhosas, como a imbuia (Ocotea porosa), erva-mate (Ilex paraguariensis), canelas (Lauraceae), membros da família Myrtaceae, entre outras. Apesar de ter sofrido intervenções antrópicas no passado, mantém a estrutura e composição florística típicas de florestas pouco alteradas. Segundo Durigan (1999), pela classificação climática de Köppen, a região enquadra-se no tipo Cfb, com temperatura média do mês mais frio abaixo de 18 C, verões frescos, temperatura média do mês mais quente abaixo de 22 C e sem estação seca definida. Durigan também observou a presença de vários tipos de solos, entre eles o Latossolo Vermelho-escuro, Latossolo Vermelho-Amarelo, Podzólico Vermelho-Amarelo e Cambissolo. Na torre micrometeorológica estão instalados os seguintes sensores: em 11 e 31 m de altura, com uma frequência de 10 Hz, o CSAT3 (Campbell Scientific), medindo as componentes do vento e temperatura do ar, e o LI-7500 Open Path CO2/H2O Analyser (LI- COR), medindo as concentrações de vapor d'água e CO2, assim como a pressão; no nível de 29 m, a taxa de uma medida por minuto, o HMP45C Temperature and Relative Humidity Probe (Campbell Scientific), medindo temperatura e umidade relativa do ar. Para minimizar os efeitos de topografia, foi feita a rotação de coordenadas proposta por Kaimal (1994), e foram efetuadas correções nos fluxos de CO 2 por variações de densidade do ar devido aos fluxos de calor sensível e latente, comumente conhecida como correção Webb (Webb, 1980). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES As médias diárias da temperatura do ar e da radiação global (R g ) para o período de 27 de janeiro a 22 de outubro de 2010, em um sítio experimental de floresta de araucária, são apresentadas na Figura 1. As temperaturas médias diárias variaram entre o inverno e o verão em aproximadamente 20 C. A valores máximos da média diária de R g no verão foram superiores a 300 W/m 2, e no inverno esses valores foram quase 150 W/m 2 menores.

Figura 1. Médias diárias da Temperatura e da Radiação Global (R g ) para a floresta de araucária no período de 27/01/2010 a 22/10/2010. A estimativa das trocas líquidas de carbono (Net ecosystem exchange - NEE) diário foi feita através da integração dos dados de fluxo de CO 2 a cada meia hora. Os dados faltantes foram preenchidos (gap filling) seguindo a metodologia sugerida por Falge et al. (2001, 2002) e Lasslop et al. (2010). A variação diária do NEE sob a floresta de araucária no sul do Brasil é apresentada na Figura 2. O NEE diário mostra que a araucária foi praticamente um sumidouro de CO 2 em todo o período (valores negativos de NEE). Eventos pontuais mostram emissões de carbono que podem estar ligado a falhas ainda não processadas nos dados. A absorção média para o período analisado foi de -1.34 gcm -2 d -1. Os valores máximos de absorção foram de aproximadamente 5 gcm -2 d -1. Nota-se que, no período em que tanto a temperatura quanto a radiação global eram menores, a absorção de CO2 pela floresta também é menor.

Figura 2- Troca líquida do ecossistema diário (NEE) para uma floresta de araucária no sul do Brasil 4. CONCLUSÃO Neste trabalho são quantificadas as trocas líquidas de carbono (NEE) numa floresta de araucária no sul do Brasil no período entre 27 de janeiro e 22 de outubro de 2010. Nos meses mais quentes, a absorção de CO2 chegou a 5 gcm -2 d -1. Já no período de inverno, a absorção foi menor, chegando a até 3 gcm -2 d -1, com exceção de alguns poucos dias em que a absorção ficou próxima aos períodos mais quentes. A média do NEE para todo o período foi de -1.34 gcm -2 d -1, mostrando que, ao longo dos nove meses analisados, a floresta de araucária comportou-se como um sumidouro de carbono atmosférico. 5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUBINET, M. et al. Comparing co2 storage and advection conditions at night at different carboeuroflux sites. Boundary-Layer Meteorology, v. 116, p. 63 94, 2005. BALDOCCHI, D. D. Assessing the eddy covariance technique for evaluating carbon dioxide exchange rates of ecosystems: past, present and future. Global Change Biology, v. 9, p. 479 492, 2003. DURIGAN, M. E. Florística, dinâmica e análise protéica de uma Floresta Ombrófila Mista em São João do Triunfo-PR. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, 1999. FALGE, E. et al. Gap filling strategies for defensible annual sums of net ecosystem exchange. Agric. Forest Meteorol. 107, 43 69, 2001. FALGE, E. et al. Seasonality of ecosystem respiration and gross primary production as derived from FLUXNET measurements. Agric. For. Meteorol. 113, 53 74, 2002.

KAIMAL, J. C., FINNIGAN, J. J.. Atmospheric boundary layer flows: Their structure and measurement. Oxford Univ. Press, New York, 1994. LASSLOP, G. et al. Separation of net ecosystem exchange into assimilation and respiration using a light response curve approach: critical issues and global evaluation. Global Change Biol. 16, 187-208, 2010. WEBB, E. K., PEARMAN, G. I., LEUNING, R., 1980. Correction of flux measurements for density effects due to heat and water vapour transfer. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. 106, 85-100.