Já vimos que a conceituação dependerá da natureza jurídica (teoria) que se dê ao processo.

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#PROCESSO# 1 INTRODUÇÃO 1.1 Conceito e Natureza Jurídica Já vimos que a conceituação dependerá da natureza jurídica (teoria) que se dê ao processo. Assim, temos 3 teorias: Teoria da Norma O processo judicial seria aquele em que se produz normas através da jurisdição Teoria do Fato ato jurídico complexo ou procedimento processo como espécie de ato jurídico (ato jurídico complexo de formação sucessiva no tempo). Teoria do Fato efeito jurídico conjunto de relações jurídicas que se estabelecem entre os diversos sujeitos do processo. - Essas diversas relações jurídicas formam uma ÚNICA RELAÇÃO JURÍDICA COMPLEXA, que seria o conceito aqui de processo Como visto, dessas 3 extraímos o conceito de processo do Prof. DINAMARCO: procedimento animado pela relação jurídica em contraditório. Esse conceito parte de 3 elementos essenciais: a) Procedimento é uma estrutura/esqueleto sobre a qual o processo se estabelece. b) Contraditório não existe processo em contraditório. c) Relação jurídica processual é uma relação análoga, que coexiste, à relação jurídica material (vínculo entre autor, juiz e réu criando deveres e direitos entre eles no processo). - É o instrumento de efetivação junto ao Estado-Juiz daquela relação material (que vai movimentar o processo).

O processo é o instrumento da jurisdição. Aquele de que se vale o juiz para aplicar a lei ao caso concreto e solucionar o conflito. DINAMARCO processo é método de trabalho para o exercício a jurisdição, da ação e da defesa, informado pelo contraditório. O processo é composto pelo procedimento e pela relação jurídica processual. Percebe-se a relação entre os 4 institutos fundamentais. 1.2 Processo x Procedimento É o elemento concreto do conceito de processo. MARCUS VINICIUS GONÇALVES: A depender da natureza da demanda no processo diferencia-se a forma pela qual os atos processuais serão encadeados e ordenados: esta forma pela qual os atos processuais se desencadeiam e se ordenam recebe o nome de procedimento. Assim, o processo é o conjunto abstrato. Procedimento é o modo extrínseco de ser do processo, é o modo pelo qual ele se revela concretamente (comum, especial). DINAMARCO conjunto de atos realizado pelo juiz, autor e réu. procedimento é também o desenho sistemático dos atos a serem realizados, exigências relativas a cada um e ordem sequencial deles. DIDIER procedimento é, então, um ato complexo de formação sucessiva, já que é um conjunto de atos no qual os posteriores dependem dos anteriores. Mas não se pode ignorar que há o ato-complexo procedimento, e cada um dos atos processuais singularizados que formam o procedimento. Isso é importante se ter em mente para o estudo das invalidades processuais, bem como da aplicação da norma processual no tempo.

1.3 Características da Relação Processual A relação processual é: a) Autônoma é diferente da relação material; b) Pública é uma relação de direito público. Isso porque o juiz é um dos sujeitos, ou seja, o Estado é um dos sujeitos. c) Única os atos e situações jurídicas são interligados e formam um corpo único. Ademais, um depende do outro. d) Complexa cria inúmeras situações jurídicas ativas e passivas: i) Situações Ativas poderes, direitos e faculdades; ii) Situações Passivas estado de sujeição, deveres e ônus. Obs. A maioria das relações jurídicas é simples. Já no processo o autor tanto vive situação ativa como passiva (ex. produção de prova ônus, ou seja, situação passiva). Qualquer das partes vive ambas as situações em uma única relação. Por isso é complexa. e) Dinâmica se desenvolve/movimenta no tempo. OBS. Para ser processo válido é necessário que os atos que compõe o procedimento sejam praticados no exercício de situações jurídicas ativas e passivas que nascem da relação processual existente e válida. 1.4 Objeto do Processo DINAMARCO: A pretensão deduzida no processo para ser apreciada pelo juiz e receber uma decisão. É representada pelo pedido contido na petição inicial. O objeto do processo constitui o mérito deste.

2 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS São os elementos que condicionam a existência e a validade da relação jurídica processual. São elementos que devem estar presentes (bem como as condições da ação) para que o juiz possa analisar o mérito. Na contestação, são as chamadas preliminares ao mérito, ou seja, verificadas antes do mérito descumpridas essas condições não se analisa o mérito. Se não estiverem presentes ambos (pressupostos processuais e condições da ação), não se chegará ao destino pretendido, que é o direito a uma resposta de mérito. Assim, no modelo da teoria de Liebman o processo brasileiro é calcado no seguinte trinômio: a) Pressupostos processuais; b) Condições da ação; c) Mérito. Os pressupostos processuais apenas são citados no CPC em dois artigos: 139, inciso IX (poderes/deveres do juiz) e art. 485, inciso IV e 3º (extinção do processo sem resolução de mérito). Assim, a tarefa de identificação e classificação coube à doutrina que, tradicionalmente os divide em pressupostos de: (i) existência; (ii) validade (positivos e negativos). Obs.: os pressupostos positivos são aqueles que precisam estar presentes, já os negativos são aqueles que não podem estar presentes (ex: coisa julgada, litispendência, perempção). 2.1 Pressupostos de Existência São pressupostos cuja falta ou vício gerará a inexistência do processo. São vícios que não convalescem com a passagem do tempo, ou seja, não há limite temporal para serem arguidos, mesmo após o prazo da ação rescisória. A existência que se trata aqui seria a JURÍDICA, não a fática, isto é, a condição jurídica mínima para que algo possa como instituto de direito gerar os efeitos jurídicos mínimos dele esperado.

Observação importante: trata-se de categoria polêmica. Há quem entenda não haver pressupostos de existência, pois mesmo na existência de vícios relativos a tais pressupostos o processo correu perante o judiciário e produziu efeitos normalmente. O que ocorreria, na verdade, seria um tratamento jurídico diferenciado quanto à possibilidade de convalescimento do vício: seriam insanáveis. - Para essa corrente, tais seria também pressupostos de validade. O art. 485 não fala em existência, mas em constituição. Seriam 2 os elementos de constituição, ou seja, necessários e suficientes para que o processo nasça (art. 312 do CPC): (a) PETIÇÃO INICIAL (existência de pedido); (b) EXISTÊNCIA DE JURISDIÇÃO. Obs. O pressuposto da PI trata não só da existência do pedido, mas da necessária vinculação do juiz ao pedido. Uma vez que a jurisdição é inerte o juiz só poderá se movimentar nos limites do pedido, sob pena de sentença extra petita ou ultra petita. Obs2: O parágrafo único do artigo 37 do CPC/73 (que trata da capacidade postulatória) reputava inexistente o ato praticado sem a representação do advogado, motivo pelo qual a capacidade postulatória era considerada por alguns (salvo as exceções legais) como pressuposto de existência. - A súmula 115 do STJ diz: NA INSTANCIA ESPECIAL É INEXISTENTE RECURSO INTERPOSTO POR ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO NOS AUTOS. - Atualmente, o 2º do art. 104 do CPC/15 (correspondente) diz que tal ato será apenas relativamente ineficaz. Para o réu ainda há um terceiro pressuposto de existência processual, (segunda parte do art. 312 do CPC): (c) CITAÇÃO VÁLIDA. _ CÍRITCA À CITAÇÃO COMO UM PRESSUPOSTO DE EXISTÊNCIA DO PROCESSO: O art. 330 do CPC trata do indeferimento da PI (verdadeiro julgamento do processo). O processo verdadeiramente nasce com a PI e a jurisdição. O juiz ao analisar a PI pode já

proferir sentença. O art. 331 retrata o recurso de apelação nessa situação específica, prevendo pedido de retratação em 48h. Existe um processo sem citação. O art. 332 do CPC/15 (antigo art. 285-A do CPC/73), que trata da improcedência liminar do pedido, seria prova disso também. Tratar-se-ia, na verdade de um vício (validade), e o art. 239, caput, do CPC seria prova disso (redação nova na parte final em relação ao art. 214 do CPC/73). Vício, porém, tão grave que poderia ser alegado mesmo depois do prazo para a ação rescisória (vício transrescisório querela nullitatis ), pois não interessaria ao sistema a convalidação desse vício.. Obs.: Rebate-se dizendo que a citação é um pressuposto de existência do processo para o réu, isto é, para que se triangularize a relação processual (um os elementos do conceito de processo). Obs2: O art. 239 e seus parágrafos do CPC trata do comparecimento espontâneo do réu como hipótese de suprimento da falta de citação. 2.2 Pressupostos (requisitos) de Validade Sem a sua observância o processo será invalido. Eventual vício pela falta de tais pressupostos será o da nulidade. A sua ausência [ou presença, caso negativos] acarretam na extinção do processo sem resolução de mérito (art. 485 e incisos), não podendo ser proposta nova ação enquanto não corrigido o vício (art. 486, 1º) Obs.: entretanto, nem toda a falta de pressupostos gera a extinção do processo, como é o caso, por exemplo, da incompetência, que acarreta a remessa dos autos ao juízo competente. A suspeição ou impedimento também: geram a remessa dos autos ao juiz substituto (art. 146, 5º do CPC). Não há o vício da anulabilidade no processo civil (que não segue exatamente a teoria das nulidades do direito material) o processo tem natureza pública. Assim, sempre que faltar um pressuposto de validade o vício será o de nulidade. Não obstante isso, no processo civil até os vícios de nulidade podem ser sanados, isso com o decurso do tempo para o ajuizamento da ação rescisória (art. 966 do CPC), quando

ocorrerá a estabilização da coisa julgada. Não sendo uma das situações especificas de seu rol taxativo o saneamento da nulidade se dá com o simples transito em julgado. Obs.: Pelo art. 282, 2º do CPC (antigo art. 249 do CPC/73), o juiz não declarará a nulidade quando puder decidir o mérito em favor de quem a aproveitaria. - Segundo DANIEL AMORIM esse artigo seria aplicável aos pressupostos processuais que tutelariam o interesse das partes, para as quais não haveria sentido numa sentença terminativa quando podem ver julgado o mérito em seu favor (ex: falta de representação da parte incapaz que se sagraria vencedora). - DIDIER lembra do art. 488 do CPC, dizendo que nem toda falta de um pressuposto processual impedirá a decisão de mérito. 2.2.1 Pressupostos de Validade Positivos A Juízo Competente e Juiz Imparcial Para que o processo exista, é preciso que haja juiz regularmente investido; para que seja ele válido, por outro lado, é necessário que ele seja competente e imparcial. A competência refere-se ao juízo (vara), enquanto que a imparcialidade refere-se à pessoa do juiz. _ MARCUS VINICIUS GONÇALVES: Tanto uma como a outra se manifestam em dois graus (uma mais grave e a outra de caráter mais brando) sendo que, somente no grau mais grave haverá a nulidade do processo: o A incompetência poderá ser relativa (prorrogável) ou absoluta, caso este em que o processo será nulo, podendo ser objeto de Ação Rescisória. o Do mesmo modo, a imparcialidade pode ser por impedimento (mais grave), ou suspeição (menos grave), quando somente aquela tornará o processo nulo. A incompetência absoluta e o impedimento são, inclusive, causas de ação rescisória (art. 966, inc. II do CPC).

Assim, é necessário que o juiz não seja absolutamente incompetente e nem impedido Somente a incompetência mais grave e a imparcialidade mais grave é que gerarão a nulidade. As de caráter mais brando, se não alegadas durante o tempo hábil no bojo do próprio processo, convalescerão. B Petição Apta Petição regular e apta é aquela elaborada nos moldes do art. 319 do CPC. A contrariu sensu, haverá nulidade quando a petição inicial for inepta (art. 330, 1 o CPC). Petição inepta deve ser indeferida (art. 330, inc. I). Antes de indeferir a PI, contudo, o juiz deve determinar a emenda, nos termos do art. 321 do CPC. Obs. Se a petição inepta for admitida, e houver o julgamento, haverá a nulidade do processo. Obs2. Em regra a inépcia gera nulidade, porém há o caso do Inciso I, do parágrafo único, do art. 330, CPC, que trata da falta do pedido. Como o pedido é pressuposto de existência, a sua eventual falta na petição inicial a tornará inepta, mas o vício de que será eivada é o da inexistência. C Capacidade A capacidade é um instituto afeto a todos os ramos do Direito. Existem três tipos de capacidade que podem ser observados: a) Capacidade de ser parte; b) Capacidade processual de estar em juízo; c) Capacidade postulatória esta última como pressuposto de existência, como acima analisado. Os conceitos foram analisados na primeira aula. São:

CAPACIDADE DE SER PARTE é a capacidade de, genericamente, ser parte de uma relação processual como autor ou réu. Relaciona-se com a capacidade de fato aptidão genérica para contrair direitos e obrigações. _ CAPACIDADE PROCESSUAL (CAPACIDADE DE ESTAR EM JUÍZO OU LEGITIMIDADE AD PROCESSUM ) DIDIER: aptidão para praticar atos processuais independentemente e assistência ou representação (pais, tutor, curador, etc.), pessoalmente ou por pessoas indicadas pela lei, tais coo o síndico, administrador judicial, inventariante, etc. (art. 75 do CPC fala das representações). Relaciona-se com a capacidade de exercício. É especial tipo de CAPACIDADE DE EXERCÍCIO. Obs. existe uma relação com a capacidade de ser parte. Obs2. Apesar dessa relação essas capacidades são autônomas. Assim, é possível que haja incapacidade puramente processual (ex. hipótese de curador especial do art. 72, inc. II do CPC), bem como que a lei confira capacidade processual a despeito de o sujeito não ter capacidade material (ex. JEC, antes de 2003, que concedia capacidade processual ao maior de 18 anos, quando então a maioridade pelo CC/1 era de 21 anos; ex2: cidadão eleitor, com 16 anos, pode ajuizar ação popular). Obs3. É possível, ainda, restrições criadas pela lei à capacidade processual de pessoas, como no caso das pessoas casadas. Obs4. Trata-se de uma aptidão genérica, que não leva em conta o direito discutido. Diferente portanto da legitimidade ad causam (que é condição da ação ressalvada a discussão). CAPACIDADE POSTULATÓRIA (ou JUS POSTULANDI ) DIDIER: Vimos que os atos processuais exigem uma capacidade de exercício especial, qual seja: capacidade processual. Ou seja, que não basta possuir aptidão/capacidade para a prática de atos materiais para que se possam praticar validamente os atos processuais, sendo necessária a capacidade processual para estes últimos. Entretanto, alguns atos processuais exigem uma capacidade técnica, sem a qual não é possível sua realização válida.

Obs. Há atos processuais que não exigem capacidade técnica, tais como: testemunhar; confessar. A capacidade postulatória somente é exigida para os ATOS DE POSTULAR ou seja, aqueles nos quais se pede algo ou se responde a algo. Normalmente é atribuída a advogados, Defensores Públicos e Membros do MP. Mas há casos em que a lei dá essa capacidade há pessoas que não se enquadrem nessa situação: JEC (até 20 s/m), Justiça Trabalhista e Habeas Corpus. 2.2.2 Pressupostos de Validade Negativos Pressupõe a ausência de determinadas circunstâncias para que o processo seja válido. A Perempção (art. 485, inc. V e art. 486, 3º) Conceito: a perda do direito de ação como sanção pelo fato de o autor, por três vezes, anteriormente, tiver dado causa à extinção do processo por abandono. Assim, quem por 3 vezes anteriores der causa à extinção do processo por abandono sofre como sanção a perda do direito de ação. Exige a propositura e abandono da ação por três vezes pelo autor. Na quarta vez, o juiz extingue a ação sem o julgamento de mérito, pela perempção. B Coisa Julgada e Litispendência (art. 337, 1º a 4º e art. 485, inc. V) Ambas pressupõe a existência de duas ações idênticas, isto é, os 3 elementos da ação são iguais (partes, pedido e causa de pedir). A diferença se dá quanto ao desenvolvimento dessas ações: (i) se em curso há litispendência; (ii) sé já definitivamente julgada há coisa julgada. _ Obs.: A litispendência enquanto fenômeno fático não é a existência de duas ações, mas sim a mera pendência de uma ação, que se opera de pleno direito como um dos efeitos da citação válida, nos termos do art. 240 caput (antigo 219 do CPC/73). A referência a outra ação é necessária apenas quando considerada enquanto pressuposto negativo.

Portanto, a natureza jurídica da litispendência é de efeito da citação válida, ou seja, a litispendência existe e é válida como instituto desde a citação válida, mas somente operará seus efeitos como pressuposto negativo na condição de interposição de outro processo com o qual tenha traços de identidade. C Convenção de Arbitragem (art. 301, 5º e 6º e art. 485, inc. VII) Convenção de arbitragem é gênero, do qual são espécies a cláusula compromissória (anterior ao conflito) e o compromisso arbitral (posterior ao conflito). Diz o inciso VII do art. 485 que o juiz não decidirá o mérito se acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência. Obs.: O art. 337, 5º (trata das preliminares de mérito na contestação) traz mudança redacional em relação ao antigo 4º do art. 301 do CPC/73. Antes, pela literalidade apenas o compromisso arbitral não poderia ser reconhecido de ofício dentre as matérias preliminares de contestação. Tal situação gerava discussão na doutrina. Atualmente, a expressão utilizada é convenção de arbitragem (expressão gênero). Obs2: O 6º do art. 337 do NCPC não encontra correspondente no CPC/73, e diz que a ausência da alegação da convenção de arbitragem como preliminar de contestação implica aceitação à jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral. 3 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS Não é classificação que exclui àquela entre pressupostos de existência e validade. Apenas toma como parâmetro outro critério: se relacionado aos sujeitos do processo ou se relacionados a fatos. Subjetivos são aqueles pressupostos que dizem respeito aos sujeitos do processo (ex: capacidades, imparcialidade do juízo). Objetivos são aqueles que digam respeito a fatos (ex: existência do pedido, petição apta).

Os pressupostos objetivos de validade podem ainda ser: intrínsecos (dizem respeito às formas processuais numa ótica interna) e extrínsecos (não dizem respeito propriamente a uma ótica interna, mas são estranhos ao processo mesmo ex: coisa julgada, litispendência, etc.). _ INTERESSE DE AGIR E LEGITIMIDADE AD CAUSAM PRESSUPOSTOS? Há quem entenda que não há mais a categoria das condições de ação como tal. Dentre eles, FREDIE DIDIER, para quem tais condições passariam a ser pressupostos processuais, expressão que abrangeria todos os requisitos de admissibilidade do processo. O interesse de agir seria um pressuposto processual de validade objetivo extrínseco positivo fato que deve existir para que a instauração do processo se dê validamente (obs.: os extrínsecos negativos seriam aquele suprarreferidos apenas como negativos). Já a legitimidade para a causa seria um pressuposto processual de validade subjetivo 4 DAS PREVISÕES EXPRESSAS NO CPC/15 Como dito, os pressupostos processuais são citados em apenas em dois artigos no NCPC: 139, inciso IX (poderes/deveres do juiz) e art. 485, inciso IV e 3º (extinção do processo sem resolução de mérito). Analisaremos ambos: 1-) O art. 139, inciso IX do CPC trata dos poderes, deveres e responsabilidades do juiz. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; (...) Trata-se de previsão sem correspondente no CPC/73.

Esse inciso consagra o princípio da instrumentalidade das formas, consagrado nos artigos 277 e 283 do CPC sistema processual das invalidades (antigos 244 e 250 do CPC/73). Confere-se, assim, maior importância à efetividade da tutela jurisdicional do que ao formalismo exagerado, já que a finalidade esperada do processo é o julgamento do mérito ou a satisfação do direito a extinção sem resolução do mérito é anômala. Não é outro, inclusive o entendimento que se pode extrair dos art. 316 e 317 do CPC. Obs. Por isso não há imparcialidade nesse auxílio do juiz, mas sim uma atitude objetiva que visa ao melhor exercício da jurisdição, e não a ajudar diretamente qualquer das partes decorrência do princípio cooperativo. Obs2: não sanado no prazo afixado, o juiz indeferirá a PI (art. 330) ou extinguirá o processo sem resolução de mérito (art. 485) a depender do momento. Esse poder/dever do juiz pode ser aplicado em qualquer momento (art. 485, 3º). Todavia, o legislador previu na decisão de saneamento momento para isso (art. 357, inc. I do CPC). 2-) Já o art. 485, inciso IV trata de uma das hipóteses nas quais o juiz extinguirá o processo sem resolução de mérito: justamente o reconhecimento da ausência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo (pressupostos processuais). Lembra-se aqui dos art. 282, 2º e art. 488 o juiz não deve declarar a nulidade ou extinguir o processo sem resolução de mérito se puder julgar favoravelmente o mérito em favor de quem o vício aproveitaria se o processo estiver pronto para julgamento assim se deve proceder (invertendo a tradicional ordem de análise). Já o 3º do mesmo artigo diz ser possível ao juiz o reconhecimento de ofício dessa matéria em qualquer tempo ou grau de jurisdição enquanto não ocorrer o trânsito em julgado (bem como os incisos V, VI e X respectivamente: pressupostos negativos [exceto arbitragem - 4º e 5º], condições da ação e cláusula de abertura do rol das sentenças terminativas). Assim, conclui-se não haver preclusão temporal para essas matérias, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.

ATENÇÃO norma sem correspondente no CPC/73 DANIEL AMORIM chama atenção para positivação em sentido contrário à orientação então vigente dos tribunais superiores no sentido da impossibilidade de reconhecimento de tais matérias de forma originária em sede de RE ou REsp em razão da exigência de pré-questionamento, ainda que fossem matérias de ordem pública.