INFLUÊNCIA DO ESTADO DE DEFORMAÇÕES NA FORMAÇÃO DE MARTENSITA INDUZIDA POR DEFORMAÇÃO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO 1

Documentos relacionados
INFLUÊNCIA DO TRABALHO A FRIO NA FORMAÇÃO DE FASE SIGMA EM AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE RECOZIMENTO NA MICROESTRUTURA DO AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO DURANTE A RECRISTALIZAÇÃO*

GERAÇÃO DE DIAGRAMA TTP DE FORMAÇÃO DE CARBONETOS DE CROMO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 316 USANDO O DICTRA

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Engenharia de Materiais/Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica

Projeto de Pesquisa EFEITO DA TEMPERATURA E VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO NO ENSAIO DE COMPRESSÃO DE ALUMÍNIO DE PUREZA COMERCIAL

ESTUDO COMPARATIVO DOS MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE PORCENTAGEM VOLUMÉTRICA DE FERRITA EM AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 (SAF 2205)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Escola de Engenharia. Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica PPMec

3 Material e Procedimento Experimental

3 Materiais e Métodos

Nos gráficos 4.37 a 4.43 pode-se analisar a microdureza das amostras tratadas a

5.RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÃO

ALTERAÇÕES MICROESTRUTURAIS ENTRE 550 C E 650 C PARA O AÇO UNS S31803 (SAF 2205) ABSTRACT

INFLUÊNCIA DO GRAU DE ENCRUAMENTO NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO POR PITE DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO UNS S30100

AVALIAÇÃO DA COMPRESSÃO DE UMA LIGA DE ALUMÍNIO: EXPERIMENTAL X NUMÉRICO

COMPARATIVO DE TÉCNICAS DE DETERMINAÇÃO DE FASE FERRITA NO AÇO UNS S31803

Micrografia 4.29: Amostra longitudinal SAF2507. Área de superfície. Polimento OPS/DP-NAP.

8º CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA MECANICA Cusco, 23 a 25 de Outubro de 2007

PROJETO DE PESQUISA EFEITO DE LAMINAÇÃO CRIOGÊNICA NA TRANSFORMAÇÃO DE FERRITA EM AUSTENITA INDUZIDA POR DEFORMAÇÃO EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDÚPLEX

Laboratório de Materiais do Centro Universitário da FEI

Engenheira Metalurgista, Mestranda em Engenharia de Materiais, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil.

ESTUDO DA RECRISTALIZAÇÃO DO AÇO ABNT 1010 COM DIFERENTES GRAUS DE DEFORMAÇÃO

Efeitos da laminação a frio no ferromagnetismo dos aços inoxidáveis AISI 304 e 304L

Propriedades Mecânicas Fundamentais. Prof. Paulo Marcondes, PhD. DEMEC / UFPR

INFLUÊNCIA DO GRAU DE DEFORMAÇÃO A FRIO NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE AÇOS DUPLEX DO TIPO 2205

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DEFORMAÇÃO A FRIO NA RESISTÊNCIA A CORROSÃO E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX 2205

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O EFEITO DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO NO ENSAIO DE TRAÇÃO EM UM AÇO SAE

Avaliação das propriedades mecânicas em ligas ferríticas com 5% de Mo e diferentes teores de Cr

DANIELLA CALUSCIO DOS SANTOS

23º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2018, Foz do Iguaçu, PR, Brasil

A precipitação de fases ricas em elementos ferritizantes a partir da ferrita, como

ATRITO INTERNO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS CONTENDO COBRE

CARACTERIZAÇÃO E COMPORTAMENTO MECÂNICO DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO*

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Ensaios de polarização cíclica em solução 0,3 M NaCl + 0,3 M NaBr com. de potencial por densidade de corrente mostradas nas Figuras 37 a 39.

EFEITO DA TEMPERATURA INTERCRÍTICA NA MICROESTRUTURA E NA DUREZA DE UM AÇO DUAL PHASE

INFLUÊNCIA DA ENERGIA DE IMPACTO NA ENERGIA ABSORVIDA EM ENSAIO CHARPY DE AÇOS COM ESTRUTURA FERRITA-MARTENSITA.

EFEITOS DA ADIÇÃO DE NIQUEL EM LIGAS FERRO CROMO PARTE I: PROPRIEDADES MECÂNICAS

[8] Temperabilidade dos aços

ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DO AÇO AISI 444 SOB CISALHAMENTO CÍCLICO

Efeito dos elementos de liga nos aços

MECANISMOS DE ENDURECIMENTO DE METAIS

PRECIPITAÇÃO DA AUSTENITA SECUNDÁRIA DURANTE A SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX S. A. Pires, M. Flavio, C. R. Xavier, C. J.

Micrografia Amostra do aço SAF 2205 envelhecida por 768 horas a 750ºC. Sigma (escura). Ataque: KOH.

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S32101: INVESTIGAÇÃO DE REAGENTES 1

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

ESTUDO DO PROCESSO DE LAMINAÇÃO DE FIOS DE COBRE: INFLUÊNCIA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E DA TEMPERATURA DE PROCESSAMENTO

MICROESTRUTURA E PROPRIEDADE MECÂNICA DOS AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX UNS S31803 E UNS S32304 APÓS LAMINAÇÃO A FRIO E RECOZIMENTO*

CHAPAS AÇO INOXIDÁVEL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES (BC 1105) ENSAIOS MECÂNICOS ENSAIOS DE TRAÇÃO E FLEXÃO

EFEITO DO TEOR DE FERRO RESIDUAL NO TAMANHO DE GRÃO E NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO LATÃO 70/30*

Estampagem de aços carbono e inoxidáveis (1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES (BC 1105)

Graduanda em Engenharia Metalúrgica, Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste, Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil.

AVALIAÇÃO DO EFEITO DE MEMÓRIA DE FORMA E DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE LIGA Fe-Mn-Si-Cr-Ni COM BAIXO TEOR DE Mn

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE RECOZIMENTO INTERCRÍTICO NAS PROPRIEDADES DE UM AÇO DUAL-PHASE*

INVESTIGAÇÃO DAS ALTERAÇÕES MICROESTRUTURAIS ENTRE 500 C E 650 C NO AÇO UNS S31803

ENSAIOS ISOTERMICOS COM DUPLA DEFORMAÇAO DO AÇO IF POR TORÇAO A QUENTE*

Tratamentos Térmicos de Solubilização e Envelhecimento a 475 o C em Aços Inoxidáveis CF8M

PROCESSO SELETIVO MESTRADO 2018 Projeto de Pesquisa

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

ESTUDO DA USINABILIDADE DE AÇO AISI 1045 APÓS DIFERENTES TRATAMENTOS TÉRMICOS

PROCESSAMENTO DE LIGAS À BASE FERRO POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA

Ensaios Mecânicos dos Materiais

ESTAMPABILIDADE DE AÇOS DE BAIXO CARBONO*

Aula 17 - Transformações no estado sólido. Transformações Estruturais a nível de tamanho e formato dos grãos

TENACIDADE DO AÇO UNS S31803 APÓS SOLDAGEM.

SOLDA POR FRICÇÃO EM AÇO CARBONO

AVALIAÇÃO DA MICROESTRUTURA DOS AÇOS SAE J , SAE J E DIN100CrV2 APÓS TRATAMENTOS TÉRMICOS*

TRATAMENTOS TÉRMICOS

EFEITO DAS TEMPERATURAS DE BOBINAMENTO E ENCHARQUE NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO LAMINADO A FRIO MICROLIGADO AO NIÓBIO*

4 Resultados (Parte 01)

ESTUDO DA SENSITIZA ÇÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 321 QUE OPERAM EM REFINARIA DE PETRÓLEO EM TEMPERATURAS ENTRE 500 E C.

Palavras-chave: Estampabilidade de Alumínio, Anisotropia, Índice de Langford.

GERAÇÃO DE DIAGRAMAS TTP E TRC PARA O AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 254SMO USANDO O DICTRA

EvOLUçÃO DO LImITE DE EscOAmEnTO Em FUnçÃO DA DEFORmAçÃO A FRIO PRODUzIDA POR LAmInAçÃO na LIgA DE ALUmÍnIO AA 8023

ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO E EVOLUÇÃO ESTRUTURAL DE CHAPAS DE AÇOS 304L SUBMETIDOS A ENSAIO CLC*

Aço na Construção Civil

Os processos de fabricação mecânica podem ser agrupados em 5 grupos principais.

Aços de alta liga resistentes a corrosão II

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DA TÊMPERA SUPERFICIAL A LASER POR DIODO NA DUREZA DO AÇO FERRAMENTA PARA TRABALHO A FRIO VF 800AT

GMEC7301-Materiais de Construção Mecânica Introdução. Módulo II Ensaios Mecânicos

Seleção de Materiais

INFLUÊNCIA DO CAMINHO DE AQUECIMENTO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO 1020 TEMPERADO A PARTIR DE TEMPERATURAS INTERCRÍTICAS

AVALIAÇÃO DA ESTAMPABILIDADE DE DOIS AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS

Transformações de fase em aços [15]

Propriedades dos Aços e sua Classificação

Beneficiamento de Aços [21]

RELAÇÃO ENTRE A ENERGIA CHARPY E A DUTILIDADE ATRAVÉS DA ESPESSURA DO AÇO API 5L X80

- Fornos primitivos, com foles manuais, ainda hoje usados na África Central - Fornos primitivos, com foles manuais, utilizados na europa medieval.

AÇOS INOXIDÁVEIS (Fe-Cr-(Ni))

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE LAMINAÇÃO CONVENCIONAL E LAMINAÇÃO ASSIMÉTRICA DA LIGA AA6061: EFEITOS NA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES MECÂNICAS

Brasil 2017 SOLUÇÕES INTEGRADAS EM ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS

5 Discussão dos Resultados

FERNANDO MARACCINI RABECHINI INFLUÊNCIA DO ENCRUAMENTO E DO TEMPO DE ENVELHECIMENTO A 850 C NA MICROESTRUTURA DO AÇO UNS S31803

AVALIAÇÃO DA TÉCNICA DE EXTRAÇÃO DE FASES POR CORROSÃO SELETIVA DO AÇO UNS S31803 EM SOLUÇÃO 1M HCL A 60 C*

NITRETAÇÃO ASSISTIDA POR PLASMA DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316L SOB INFLUÊNCIA DO ARGÔNIO

AVALIAÇÃO DA CURVA LIMITE DE CONFORMAÇÃO DE UM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO

ESTUDO DO EFEITO DA QUANTIDADE DE DEFORMAÇÃO CÍCLICA EM CISALHAMENTO NA RECRISTALIZAÇÃO DO LATÃO CuZn34

Transcrição:

INFLUÊNCIA DO ESTADO DE DEFORMAÇÕES NA FORMAÇÃO DE MARTENSITA INDUZIDA POR DEFORMAÇÃO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO 1 Resumo Rodrigo Magnabosco Daniella Caluscio dos Santos 3 O objetivo deste trabalho é avaliar a influência de três modos de deformação na formação de martensita induzida por deformação (MID) ferromagnética no aço inoxidável austenítico UNS S30100, avaliando o grau de encruamento e sua relação com a fração de MID. Pode-se concluir que na laminação simétrica há uma maior fração volumétrica de MID se comparada à laminação assimétrica nos mesmos graus de deformação verdadeira, provavelmente associado ao menor cisalhamento provocado pela laminação simétrica em relação à assimétrica. Contudo, numa mesma deformação efetiva, a dureza das amostras é equivalente nos três modos de deformação, indicando pouca influência da fração de MID no encruamento do aço. Assim, supondo que presença de cisalhamento relativo entre as superfícies da chapa laminada assimetricamente reduza a energia de deformação, ocorreria redução da fração de MID. Assim, novos estudos quanto à energia de deformação imposta nos modos de deformação empregados neste trabalho faz-se necessária. Palavras-chave: Martensita induzida por deformação; aço inoxidável austenítico; laminação; laminação assimétrica. 1 Apresentado no 63 Congresso Anual da ABM Santos, 8 de julho a 01 de agosto de 008. Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Universitário da FEI, rodrmagn@fei.edu.br 3 Engenheira Química, daniellacaluscio@gmail.com.

1. INTRODUÇÃO Os aços inoxidáveis austeníticos recebem esta denominação por apresentarem a fase austenita (a estrutura CFC do ferro) estável inclusive em temperaturas inferiores à ambiente. Os mais comuns são modificações da clássica liga 18/8 (18% Cr e 8% Ni), o mais popular material resistente à corrosão por mais de 70 anos (1,). Dentre os mais comuns, o UNS S30100 (AISI 301) foi originalmente desenvolvido para aplicações que demandem, aliada a resistência à corrosão, alta resistência mecânica, a qual é obtida graças a grande capacidade de encruamento. Durante a deformação plástica, o aço UNS S30100 apresenta endurecimento não só devido ao encruamento, mas também como resultado da formação de martensita induzida por deformação, particularmente em temperaturas abaixo da ambiente (1). Duas são as transformações induzidas por deformação experimentadas pela austenita, havendo formação de martensita, de estrutura hexagonal compacta, e a martensita, de estrutura cúbica de corpo centrado e ferromagnética, chamada neste trabalho de MID. Segundo BARBUCCI et al. (3) o aço UNS S30100 possui a capacidade de aumentar sua resistência à tração de 300 MPa na condição recozida para acima de 1500 MPa quando altamente deformado devido à formação de martensita induzida por deformação. MÉZAROS e PROHÁSKA (4) indicam que o aço inoxidável austenítico UNS S30400 apresenta 50% de martensita induzida por deformação com aproximadamente 50% de redução de espessura por laminação na temperatura ambiente. KUMAR et al. (5) afirmam que se pode conseguir 80% de martensita induzida por deformação num aço AISI 304L após 90% de redução por laminação a frio na temperatura ambiente, e que a fração de martensita induzida por deformação pode atingir 90% se conduzida em temperaturas sub-zero negativas. TALONEN e HÄNNIKEN (6) reportam que num aço AISI 301LN a fração volumétrica de MID, medida por ferritoscópio, pode chegar a 40% após deformação verdadeira de aproximadamente 0,35, sob taxa de deformação de 00 s -1 ; a fração volumétrica de MID, contudo, pode atingir 80% se a taxa de deformação for reduzida a 3x10-4 s -1. Os autores ainda afirmam que as interseções de bandas de cisalhamento atuam como sítios de nucleação de MID, e reportam que redução de temperatura eleva a fração de MID formada numa mesma deformação verdadeira. O objetivo deste trabalho é avaliar a influência de três modos de deformação na formação de MID no aço inoxidável austenítico UNS S30100: 1) Deformação uniaxial por tração. ) Deformação laminação de forma simétrica, utilizando cilindros de laminação de mesmo diâmetro e mesma velocidade periférica. 3) Deformação por laminação assimétrica, utilizando cilindros de laminação com razão de diâmetros :1 e mesma rotação, que geram diferentes velocidades periféricas em cada uma das superfícies das chapas, o que ocasiona cisalhamento relativo entre as duas superfícies da chapa. Com isso, pretende-se avaliar o grau de encruamento e sua relação com a fração de MID no aço UNS S30100.. MATERIAL E MÉTODOS Barras de 19,5mm de diâmetro foram cortadas e usinadas na forma de corpos-deprova para ensaios de tração segundo a norma ASTM E8M-04 (7). A composição química do material estudado segue apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição química em % massa do aço UNS S30100 em estudo. C Cr Si Mo Ni Mn S P Fe 0,046 17,66 0,8 0,5 7,91 1,44 0,09 0,06 balanço O material foi recozido por 8 horas a 100 C em forno poço com atmosfera de N para evitar oxidação excessiva, com posterior resfriamento em água. A fim de se obter vários graus de encruamento por deformação uniaxial, foi realizado ensaio de tração nos corpos-de-prova obtendo-se amostras com deformações verdadeiras de até 0,3. Da mesma barra original foram forjadas barras retangulares de 10,10 mm de espessura média, que também foram recozidas por 8 horas a 100 C em forno poço com atmosfera de N para evitar oxidação excessiva, com posterior resfriamento em água. Estas barras retangulares foram laminadas de forma simétrica e assimétrica no laminador de planos do CDMatM-FEI. Na laminação simétrica utilizaram-se cilindros de mesmo diâmetro com velocidade periférica de 39 mm/s, obtendo-se amostras de 8,4 a,9 mm de espessura média. Já na laminação assimétrica utilizaram-se cilindros superior e inferior com velocidades periféricas de 3 e 161 mm/s respectivamente, obtendo-se amostras de 8,5 a 5,4 mm de espessura média. A diferença de velocidades periféricas na laminação assimétrica foi obtida utilizandose cilindro superior com diâmetro duas vezes superior ao do cilindro inferior, e mantendo a mesma rotação nos dois cilindros. A fim de permitir a comparação entre as diferentes formas de conformação empregadas, indicam-se neste trabalho o grau de deformação dos diferentes corposde-prova como sua deformação plástica verdadeira. Para os corpos-de-prova deformados uniaxialmente em tração, calculou-se a deformação verdadeira usandose a Eq. 1: ln L Eq. 1 L o onde L é o comprimento após a deformação e L o é o comprimento inicial de referência adotado. Para permitir a comparação destes valores à deformação imposta às amostras laminadas, calculou-se a deformação efetiva (8), ou a equivalente à deformação uniaxial usando-se a Eq. : 3. 1 3 Eq. onde 1, e 3 são as deformações nos eixos indicados na Figura 1. Como na laminação de planos a deformação na largura ( ) é desprezível, as deformações no comprimento ( 1 ) e na espessura ( 3 ) são iguais em módulo, para garantir a manutenção de volume observada após a deformação plástica. Assim, a Eq. fica:

t. 0 1,155. 1,155.ln o 3 3 3 Eq. 3 3 t onde t é a espessura medida após a laminação e t o é a espessura inicial, de 10,10 mm. Após a laminação, as amostras foram seccionadas e a fração volumétrica de MID foi obtida com o auxílio de um ferritoscópio FISCHER modelo MP30, calibrado com o auxílio de padrões, tendo como limite de detecção 0,1% de ferrita. Dez medições foram realizadas em cada uma das amostras. O material em estudo, nas condições antes e após as deformações, foi caracterizado por microscopia óptica após preparação metalográfica e ataque eletrolítico em solução 10% de ácido oxálico a 6 Vcc por 30 s. Além disso, obteve-se a dureza Vickers de todas as amostras, e para tal foram efetuadas cinco medições com carga de 5 kgf (49,1 N) em cada condição estudada. Figura 1. Esquema da laminação simétrica realizada e sistema de eixos adotado. Na laminação assimétrica foi adotado o mesmo sistema de eixos, mas o cilindro superior apresenta diâmetro duas vezes superior ao do cilindro inferior. 3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Na Figura são apresentadas as micrografias do aço antes e após a deformação uniaxial por tração. Nota-se que a estrutura de grãos equiaxiais da barra usada nas deformações uniaxiais por tração (Figura a) é equivalente àquela da barra forjada e recozida usada nas laminações (Figura d), e que em todos os processos de deformação há orientação na direção principal de deformação. Além disso, nota-se nas amostras deformadas a presença de bandas de cisalhamento inclinadas com relação ao sentido da tração aplicada, sem diferenças significativas entre os modos de deformação. A máxima deformação plástica por tração foi de 0,3, garantindo a ocorrência de deformação uniforme, de acordo com a curva tensão-obtida mostrada na Figura 3, obtida num ensaio de tração do aço em estudo.

(a) (d) (b) (e) (c) (f) Figura. Micrografias do aço UNS S30100 (a) barra original recozida, (b) barra original deformada uniaxialmente =0,10, (c) barra original deformada uniaxialmente =0,18, (d) barra forjada e recozida, usada nas laminações, (e) barra laminada simetricamente, 0, 0, (f) barra laminada assimetricamente, 0, 0. Ataque eletrolítico com ácido oxálico 10%. A seta indica o sentido de deformação. A variação de dureza em função da deformação aplicada é mostrada na Figura 4, onde se nota que para um mesmo grau de deformação a dureza é praticamente a mesma, considerando-se o desvio-padrão das medidas também indicados na Figura 4. A fração de MID medida por ferritoscópio em função da deformação aplicada é mostrada na Figura 5, onde se nota, numa mesma deformação efetiva, uma maior formação de MID se o material é laminado simetricamente. Nota-se ainda que em qualquer grau de deformação realizado a fração de MID obtida na laminação assimétrica é sempre menor que na laminação simétrica ou na deformação uniaxial.

Figura 3. Curva tensão-deformação obtida no ensaio de tração do aço UNS S30100. Figura 4. Dureza das amostras em função da deformação efetiva sofrida e do modo de deformação imposto.

Figura 5. Fração de MID em função da deformação efetiva sofrida e do modo de deformação imposto. 4. DISCUSSÃO A partir dos dados da Figura 4 nota-se que o aumento de dureza das amostras, em qualquer modo de deformação, é proporcional à deformação efetiva imposta, num típico processo de encruamento, onde a deformação plástica é dificultada pelo aumento da densidade de discordâncias, ocasionando o aumento de dureza. No entanto, a Figura 5 mostra que numa mesma deformação efetiva a fração de MID ferromagnética ( ) é maior quando o material é laminado simetricamente, mostrando que o modo de deformação pode influenciar na formação desta fase. O maior cisalhamento entre as superfícies da chapa provavelmente imposto devido a laminação assimétrica pode ter alterado a energia introduzida na deformação, levando a uma menor formação de MID do tipo, ou induzindo a uma maior formação de martensita, não mensurada no presente trabalho. Assim, pode-se supor que a fração de MID do tipo, ou ferromagnética, não é determinante do grau de encruamento do aço em estudo, contrariando o estabelecido na literatura (1). Pode-se supor ainda a presença de cisalhamento relativo entre as superfícies da chapa laminada assimetricamente reduza a energia de deformação, o que reduziria a formação de MID. Assim, estudos quanto à energia de deformação imposta nos modos de deformação aqui empregados faz-se necessária.

5. CONCLUSÕES Do presente trabalho pode-se concluir que: Na laminação simétrica há uma maior fração volumétrica de martensita induzida por deformação ferromagnética (MID) se comparada à laminação assimétrica nos mesmos graus de deformação verdadeira, provavelmente associado ao menor cisalhamento provocado pela laminação simétrica em relação à assimétrica. Numa mesma deformação efetiva, a dureza das amostras é equivalente nos três modos de deformação, indicando pouca influência da fração de MID no encruamento do aço. Supondo que presença de cisalhamento relativo entre as superfícies da chapa laminada assimetricamente reduza a energia de deformação, ocorreria redução da fração de MID. Assim, novos estudos quanto à energia de deformação imposta nos modos de deformação empregados neste trabalho faz-se necessária. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. SEDRIKS, A. J., Corrosion of stainless steels. Wiley-Interscience:New York, 1996 pp. 13-4.. Heat treating. IN: ASM Specialty Handbook Stainless Steels, ASM, Metals Park, USA, 1994, p. 90-313. 3. BARBUCCI. A. et al., Electrochemical and corrosion behaviour of cold rolled AISI 301 in 1M H S0 4. Journal of Alloys and Compounds, Genova, 317-318, p. 607-611, 001. 4. MEZSÁROS,I.; PROHÁSZKA, J., Magnetic investigation of the effect of martensite on the properties of austenitic stainless steel. Journal of Materials Processing Technology. Budapest, n.161, p.16-168, 005. 5. KUMAR, B. R., MAHARO, B., SINGH, R., Influence of Cold-Worked Structure on Electrochemical Properties of Austenitic Stainless Steels. Metallurgical an Materials Transactions A, v. 38A, 007, p. 085-094. 6. TALONEN, J., HÄNNINEN, H., Formation of shear bands and strain-induced martensite during plastic deformation of metastable austenitic stainless steels. Acta Materialia, n. 55, p. 6108-6118, 007. 7. ASTM E 8M-04, Standard Test Methods for Tension Testing of Metallic Materials[Metric], ASTM American Society for Testing and Materials, Philadelphia, USA, 001, pp.1-4. 8. DOWLING, N. E., Mechanical Behavior of Materials, Prentice Hall:New Jersey,. ed, 1999, p. 570-573.

STRAIN MODE INFLUENCE ON THE FORMATION OF STRAIN-INDUCED MARTENSITE IN AUSTENITIC STAINLESS STEEL 1. Rodrigo Magnabosco Daniella Caluscio dos Santos 3 Abstract This work evaluates the strain mode influence on the formation of ferromagnetic strain-induced martensite (SIM) in a UNS S30100 austenitic stainless steel, relating the degree of strain hardening to the volume fraction of SIM. Symmetric rolling leads to a higher SIM fraction in a given effective plastic strain if compared to asymmetric rolling, and this is probably associated to the higher shear strain imposed by asymmetric rolling. However, in the same effective plastic strain, samples deformed in different modes presented equivalent hardness, showing a weak contribution of SIM fraction in the strain hardening of this steel. A reduction in the SIM fraction is expected if the relative shear strain between sheet surfaces during asymmetric rolling leads to reduction in the strain energy, and for that reason new efforts will be needed to verify the influence of strain energy of the applied deformation modes in SIM formation. Key-words: Strain induced martensite, austenitic stainless steel, rolling, asymmetric rolling. 1 Paper presented at 63 rd Annual International Congress of ABM Santos, July 8 th to August 1 st, 007. Professor, Mechanical Engineering Department FEI, rodrmagn@fei.edu.br. 3 Engenheira Química, daniellacaluscio@gmail.com.