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Transitou em julgado em 14/10/2014 ACÓRDÃO N.º 32/2014-23/09/2014 1ª SECÇÃO/SS PROCESSO N.º 1203/2014 I. RELATÓRIO O Município de Torres Novas remeteu ao Tribunal de Contas, para efeitos de fiscalização prévia, o contrato de empreitada para recuperação do Convento do Carmo, celebrado entre aquela edilidade e a Sociedade Lena Engenharia e Construções, S.A., e pelo montante de 3.420.000,00. II. OS FACTOS Para além da factualidade referida em I., consideram-se assentes, com relevância, para a decisão em curso, a materialidade seguinte: 1. O contrato em causa foi outorgado na sequência de uma deliberação tomada pelo Município em 30.08.2013, que também autorizou a abertura do procedimento por concurso público e cuja publicação teve lugar em D.R. de 12.09.2013, tendo o preço-base sido fixado em 3.800.000,00, acrescido de IVA. 2. a. De acordo com o ponto 16 do Programa do Procedimento, o critério de adjudicação assenta na proposta economicamente mais vantajosa, mas em conformidade com os fatores e ponderações, a saber: Fator G garantia do cumprimento do prazo contratual, a avaliar pelo programa de trabalhos 40%;

Fator P valor do encargo total da empreitada 60%; b. Ainda segundo o ponto 16.1, do Programa do Concurso, na avaliação do fator G, a pontuação do programa de trabalhos será a seguinte: 10, caso apresente um programa de trabalhos muito detalhado, com identificação das precedências e do caminho crítico, demonstração cabal da viabilidade do seu cumprimento e estratégia da construção bem delineada; 8, se for apresentado um programa de trabalhos detalhado, com identificação das precedências e do caminho crítico, demonstração razoável da viabilidade do seu cumprimento e estratégia de construção bem delineada; 6, caso apresente um programa de trabalhos pouco detalhado, sem identificação das precedências e/ou do caminho crítico, demonstração razoável da viabilidade do seu cumprimento e estratégia de construção com algumas falhas; 4, em caso de apresentação de um programa de trabalhos insuficientemente detalhado, sem identificação das precedências e/ou do caminho crítico, demostração insuficiente da viabilidade do seu cumprimento e estratégia de construção com falhas. c. Ainda nos termos do Programa do concurso [vd. ponto 16]. O fator P [valor do encargo total da empreitada] será calculado mediante as expressões seguintes: Para o intervalo de Vp/Vb entre 0,90 [inclusive] e 1 P=-20 (Vp/Vb)+28; 2

Para o intervalo de Vp/vb inferior a 0,90 P=90/(-20 (Vp/Vb)+28; E, esclarecendo, Vb corresponde ao preço-base da empreitada, corrigido do valor dos erros e omissões reconhecidos e aceites, Vp reporta-se ao valor da proposta que se pretende classificar e P corresponde à pontuação a atribuir à proposta que se pretende classificar. d. Ainda segundo o ponto 16, do Programa do Concurso, no domínio da classificação do fator G poderão ser atribuídas pontuações intermédias [5, 7 e 9] relativamente aos atributos a avaliar, que corresponderão a uma pior ou melhor performance face ao descritor e no sentido superior ou inferior. 3. No ponto 16.3, do Programa de Procedimento estipula-se que, no caso de a melhor classificação ser comum a duas ou mais propostas prevalecerá a que tenha obtido pontuação mais favorável no fator G, sendo que, a subsistir o empate, este será suprido pela data/hora de entrega na plataforma eletrónica. 4. Considera-se que o preço total resultante de uma proposta é anormalmente baixo quando seja 40% ou mais inferior ao preço-base. 5. Terminado o prazo para a apresentação das propostas, o júri elaborou o Relatório Preliminar [vd. fls. 6 e segs.], tendo admitido dez concorrentes e ordenando-os pela ordem de colocação na plataforma eletrónica conforme quadro que segue: Ordem de Prazo de apresentação das Firmas concorrentes Proposta execução da obra propostas (dias) 1 Lena Engenharia e Construções, S.A. 3.420.000,00 180 3 Obrecol - Obras e Construções, S.A. 3.420.000,00 180 4 ENCOBARRA Engenharia, S.A. 3.420.000,00 180 3

6 CARI Construtores, S.A. 3.420.000,00 180 7 Costa & Carvalho, S.A. 2.870.000,00 180 9 Habitâmega, Construtores, S.A. 2.280.000,01 180 11 FERREIRA Construções, S.A. 3.420.000,00 180 12 EcoEdifica Ambiente e Construções, S.A. 3.028.273,98 180 13 Construções Europa Ar-Lindo, S.A. 3.420.000,00 180 14 CONSTRUTORA UDRA, Lda 3.420.000,06 180 6. Analisadas as propostas à luz do critério de adjudicação previsto no Programa do Procedimento e acima indicado, o júri, ainda em sede de Relatório Preliminar, elaborou, também, um quadro [5] demonstrativo das classificações das propostas apresentadas e admitidas e, ainda, da respetiva ordenação, apresentando-o como segue: Ordem de apresentação Firmas concorrentes Proposta G P V (Pontuação) (Pontuação) (Pontuação) Ordenação das propostas 1 Lena Engenharia e Construções, S.A. 3.420.000,00 10,00 10,00 10,00 1 6 CARI Construtores, S.A. 3.420.000,00 10,00 10,00 10,00 1 13 Construções Europa Ar-Lindo, S.A. 3.420.000,00 10,00 10,00 10,00 1 3 Obrecol - Obras e Construções, S.A. 3.420.000,00 9,00 10,00 9,60 4 4 ENCOBARRA Engenharia, S.A. 3.420.000,00 7,00 10,00 8,80 5 11 FERREIRA Construções, S.A. 3.420.000,00 7,00 10,00 8,80 5 14 CONSTRUTORA UDRA, Lda 3.420.000,06 7,00 10,00 8,80 7 12 EcoEdifica Ambiente e Construções, S.A. 3.028.273,98 10,00 7,46 8,48 8 7 Costa & Carvalho, S.A. 2.870.000,00 7,00 6,98 6,99 9 9 Habitâmega, Construtores, S.A. 2.280.000,01 8,00 5,63 6,58 10 7. Realizada a audiência prévia [vd. art.º 147.º, do C.C.P.], o júri do Procedimento elaborou Relatório Final de Análise das Propostas, o qual mantém o teor e as conclusões do Relatório Preliminar, sugerindo, ainda, a adjudicação da obra à firma Lena Engenharia e Construções, S.A., e pelo valor de 3.420.000,00. 8. 4

Mediante deliberação, tomada em 05.03.2014, a Câmara Municipal de Torres Novas aprovou o Relatório Final elaborado pelo júri do Procedimento e, subsequentemente, adjudicou a empreitada da obra de Recuperação do Convento do Carmo à firma Lena Engenharia e Construções, S.A, pelo valor de 3.420.000,00, acrescido de IVA, e com um prazo de execução de 180 dias. 9. Interpelado o Município de Torres Novas no sentido de esclarecer a razão ou razões da adoção de uma fórmula de avaliação que, no respeitante ao fator Preço penaliza as propostas com preço mais baixo e viabiliza, apenas, a graduação ajustada das propostas de preço igual ou superior a 90% do preço-base, aquela entidade adiantou o seguinte: ( ) Quando da organização do procedimento, as preocupações subjacentes ao estabelecimento do critério de adjudicação prenderam-se com a concretização efetiva da empreitada, em termos de boa execução da obra e término do prazo contratado, pelas seguintes razões: - Trata-se de uma obra comunitária, com fundos já aprovados e retidos no PO Mais Centro, havendo o compromisso de ter a obra fechada até Abril de 2015, não sendo por isso possível considerar potenciais atrasos na execução da empreitada, sob pena de devolução dos fundos concedidos; - Fruto do acima exposto, obriga a que ocorra uma execução eficaz do cronograma em curso, sem que para o efeito seja comprometida a qualidade da execução. Ao ser uma obra comunitária ela é sucessivamente fiscalizada e auditada, não sendo admissível erros de execução ou quebras de qualidade associadas. - A actual conjuntura da actividade da construção civil no mercado nacional, com reflexos no concelho, nomeadamente falências e abandonos de obra, em que muitos dos casos correspondiam a propostas cuja valorização estava 5

muito próxima do preço anormalmente baixo, pelo que, se teve especial cuidado na elaboração do critério de avaliação do factor preço. - A empresa que a vier a executar esta empreitada não pode, à partida, indiciar problemas de sustentabilidade que ponham em causa a execução efectiva da mesma. Se tal viesse a ocorrer, o Município não concretizaria a obra por incapacidade financeira e teria de devolver os fundos concedidos, o que orçamentalmente seria incomportável. Deste modo, considerou-se que seria no máximo aceitável que as propostas pudessem desvalorizar até 10% sobre este preço, introduzindo um ponto de equilíbrio onde estimulando o funcionamento da concorrência e assegurando o critério de economicidade e transparência se salvaguarda a indispensabilidade de concretização em tempo útil da empreitada e assegurava a concretização efectiva da mesma. III. O DIREITO A materialidade junta ao processo, no confronto com a legislação aplicável, obriga a que ergamos, para apreciação, as seguintes questões: Do modelo de avaliação de propostas em geral e o Código dos Contratos Públicos; Do modelo de avaliação das propostas adotado, respetiva conformação legal e [in]observância dos princípios da contratação pública; Das ilegalidades e o Visto. Do modelo de avaliação das propostas em geral. Breve enquadramento normativo. 10. 6

Considerada a normação contida nos art. os 74.º, 75.º, 132.º e 139.º, do Código dos Contratos Públicos, e os demais princípios que emergem do art.º 1.º, n.º 4, de igual diploma legal, é imperioso afirmar que o modelo de avaliação das propostas constitui a pedra angular e essencial do procedimento tendente à formação dos contratos [exceciona-se o procedimento referente ao ajuste direto vd. art.º 115.º, do C.C.P.] em que o critério de adjudicação é o da proposta economicamente mais vantajosa. Por outro lado, e repousando, ainda, na textura das citadas normas, o modelo de avaliação, a prever no âmbito do Programa do Procedimento, deverá propiciar uma avaliação fundamentada, seja no que concerne a matéria em que a apreciação é juridicamente vinculada, seja em domínios onde a atividade discricionária da Administração é operável. Acresce que o modelo de avaliação das propostas, para além de dever assegurar a observância dos princípios da contratação pública e da atividade administrativa em geral [transparência, igualdade e concorrência], perfilar-se-á, obrigatoriamente, como intangível [em nome do princípio da estabilidade objetiva, uma vez definido o modelo de avaliação, esse manter-se-á inalterável no decurso da pendência do procedimento que tende à formação do contrato]. Do exposto, e ainda sustentados nas regras que integram os citados art. os 75.º, 132.º, n.º 1, al. n), e 139.º, dos do Código dos Contratos Públicos, resulta que o modelo de avaliação, a integrar no Programa de Procedimento, conterá a elencagem e densificação de fatores e eventuais subfactores de avaliação considerados indispensáveis à boa estruturação do critério de adjudicação, sendo que estes deverão reportar-se a aspetos do contrato a celebrar e serem submetidos à concorrência mediante o caderno de encargos. O modelo de avaliação deverá ser ainda integrado por certa e rigorosa valoração dos coeficientes de ponderação dos fatores e subfactores indicados e por escalas de pontuação dos fatores e/ou subfactores [tais escalas deverão assumir 7

uma expressão matemática ou materializar-se num conjunto ordenado de atributos diversos passíveis de integrar a execução do contrato]. Do afirmado resulta, afinal, que a melhor e legal definição do critério de adjudicação a prever no Programa do Concurso, para além de pressupor coerência entre os elementos que substanciam o modelo de avaliação, exigirá que os fatores se diferenciem entre si e sejam complementares [deverão, também, incidir sobre atributos a apresentar em sede de propostas] e que os subfactores expressem um desenvolvimento lógico dos fatores, obrigará a que os coeficientes de ponderação atribuídos a fatores e subfactores se articulem, de modo progressivo, e que as escalas de pontuação assumam um desenvolvimento proporcional por forma a permitir a valoração de todas as propostas e a respetiva diferenciação, e, em suma, pressuporá que os fatores, subfactores e escalas de pontuação não contrariam a essência do critério de adjudicação eleito, o qual, «in casu», se traduz em proposta economicamente mais vantajosa. 10.1. Complementando o exposto em 10., deste acórdão, importa sublinhar que a contratação pública apoia-se, hoje, num acervo principialista que, como é sabido, se concretiza na transparência, igualdade e concorrência. E estes princípios, porque vinculantes, modelam o regime da contratação pública, que, como é sabido, persegue a salvaguarda do interesse público, finalidade primeira do procedimento, concursal ou não. Tal dimensão principialista tem, mesmo, consagração legal, conforme se infere do art.º 1.º, n.º 4, do C.C.P.. 10.2. Por outro lado, no âmbito da contratação pública, o procedimento tem por escopo a escolha de um co-contratante e, inerentemente, uma proposta que satisfaça as 8

necessidades públicas em condições económico-financeiras tidas por adequadas e vantajosas para a entidade adjudicante [vd., neste sentido, o art.º 74.º, do C.C.P.]. Uma escolha que, realce-se, deverá processar-se em ambiente de subordinação aos citados princípios, assegurando-se, entre o mais, o direito de todos os operadores económicos ao mercado dos contratos públicos em condições de igualdade. Ao estabelecer os dois critérios possíveis de adjudicação em procedimento de contratação pública [o do preço mais baixo e o da proposta economicamente mais vantajosa], o legislador, no art.º 74.º, do C.C.P., evidencia o objetivo primeiro do procedimento tendente à contratação pública e que se traduz, afinal, no encontro de uma proposta que assegure uma vantagem económica para a entidade adjudicante. 10.3. «In casu», o Município de Torres Novas suporta a adjudicação em critério reportado à proposta economicamente mais vantajosa [vd. ponto 16.1, do programa do concurso] para a entidade adjudicante. Neste contexto, embora caiba à entidade adjudicante a definição de um modelo de avaliação das propostas e, sequentemente, o modo de ponderação das múltiplas dimensões da execução do contrato submetidas à concorrência, impõe-se àquela a obrigação estrita de o fazer, com o objetivo de escolher a proposta economicamente mais vantajosa [vd., a propósito, o disposto nos art. os 42.º, n. os 3 e 4, 74.º, 75.º, 132.º, n.º 1, al. n) e 139.º, todos do C.C.P.] 1. O critério e objetivo descritos, que, como é sabido, vinculam a entidade adjudicante, para além de obrigarem a assegurar a efetivação do princípio da concorrência nos fatores escolhidos, impõem, ainda, que o modelo de avaliação viabilize a avaliação das vantagens económicas sobrevindas à concretização daquele princípio. 1 Neste sentido, o Acórdão n.º 27/2013, de 05.11, 1.ª S/SS. 9

E, lembremos, aqui, o princípio da economia [vd. art.º 42.º, n.º 6, da L.E.O.], o qual obriga, de um lado, a que a necessidade pública seja satisfeita com o menor custo possível, e, do outro, que qualquer despesa pública se acolha a tal princípio. Os modelos de avaliação das propostas deverão, pois, constituir meios de estimulação do funcionamento da concorrência e vias de encontro de escolhas assentes em critérios de economicidade. Do modelo de avaliação de propostas adotado. 10.4. De acordo com a factualidade fixada em II., deste acórdão, e melhor resulta do ponto 16, do Programa do Concurso, o critério de adjudicação, assente na proposta economicamente mais vantajosa, densifica-se na avaliação dos fatores, a saber: Fator Preço, com uma ponderação de 60%; Fator Garantia do cumprimento do prazo contratual, com uma ponderação de 40%. A aplicação da fórmula matemática adotada [vd. II 2.c)], deste acórdão] para a avaliação do fator preço conduziu, no entanto, a resultados que, desde logo, colocam em causa a bondade daquela. Com efeito, consultado o Relatório Preliminar elaborado pelo júri, depois convertido em Relatório Final e sem menção de alguma alteração no domínio da avaliação do fator preço, verifica-se, com relevo, o seguinte: Às propostas com valor igual a 90% do preço-base [ 3.420.000,00] foi atribuída a mesma pontuação [10 pontos], sendo que a proposta da firma adjudicatária se inclui neste grupo; 10

Às propostas de valor inferior a 90% do preço-base [as propostas apresentadas pelas empresas EcoEdifica, Ambiente e Construções, S.A., Costa & Carvalho, S.A. e Habitâmega, Construções, S.A., com os valores de 3.028.273,98, 2.870.000,00 e 2.280.000,01, respetivamente] obtiveram pontuação global bem inferior a 10 pontos [as concorrentes EcoEdifica, Costa & Carvalho, S.A. e Habitâmega foram pontuadas com 8,48, 6,99 e 6,58 pontos, respetivamente]. Importa, ainda, assinalar, e particularizando, que a empresa EcoEdifica, Ambiente e Construções, S.A., no tocante ao fator garantia do cumprimento do prazo contratual, obteve uma pontuação de 10 pontos [pontuação também atribuída, nesta parte, à empresa adjudicatária], sendo que, no respeitante ao fator preço, lhe foi atribuída uma pontuação de 7,46, pese embora, e como já salientámos, a sua proposta fosse de 3.028.273,98, ou seja, inferior em 391.726,02 à apresentada pela firma adjudicatária [Lena, Engenharia e Construções, S.A.] e que, como é sabido, se cifra em 3.420.000,00. É, assim, manifesto que o modelo de avaliação adotado e, mui particularmente, a fórmula matemática utilizada e prevista no Programa do Concurso, penaliza as propostas com preço mais baixo e privilegia, em matéria de pontuação, as propostas de preço igual a 90% do preço-base [ 3.420.000,00]. Ou seja, à medida que os valores das propostas se distanciam, para menos, do preço-base, menor pontuação alcançam. 10.5. A autarquia em causa, quando, em sede própria, se pronunciou sobre a fórmula matemática adotada para pontuação das propostas em presença, não abordou a [i]legalidade da mesma. Limitou-se, tão-só, a adiantar que, no máximo, seria aceitável que as propostas pudessem desvalorizar até 10% sobre este preço, introduzindo um ponto de equilíbrio onde estimulando o funcionamento da concorrência e assegurando o critério de economicidade e transparência se 11

salvaguarda a indispensabilidade de concretização em tempo útil da empreitada e se assegura a concretização efetiva da mesma. Conquanto se nos afigure legítima a preocupação da autarquia, sempre entendemos que a fórmula adotada e, mais latamente, o modelo de avaliação utilizado se mostram inadequados ao fim para que foram concebidos e que, como já se escreveu, se identifica com a escolha de uma proposta que se revele economicamente mais vantajosa para a entidade adjudicante. Desde logo, porque o modelo de avaliação utilizado [onde se inclui a referida fórmula matemática], ao conduzir a uma desvalorização crescente e efetiva das propostas com valor inferior a 3.420.000,00 [que corresponde a 90% do preço- -base] e ao privilegiar, no plano da pontuação, as propostas cujo valor seja igual a 90% do preço-base [ 3.800.000,00], impediu, de um lado a escolha de proposta que assegurasse a necessidade pública mediante o menor custo e, do outro, desincentivou a apresentação de propostas de montante inferior àquele montante - 3.420.000,00 [coincidentemente, verifica-se que das 10 propostas admitidas apenas três não exibem o valor de 3.420.000,00. Como é sabido, o funcionamento da concorrência no domínio do fator preço opera, em regra, mediante a fixação de um valor máximo, cabendo aos concorrentes competir entre si no sentido de apresentarem o preço mais baixo possível. E, acrescente-se, o princípio da economia atrás enunciado e definido concretiza-se, obviamente, na valorização de tal competição, donde não deixará de emergir a proposta economicamente mais vantajosa. Daí que, ao lançar mão daquele modelo de avaliação para o fator preço, a entidade adjudicante o Município de Torres Novas desincentivou, na prática, o apelo à concorrência e, simultaneamente, desvalorizou o objetivo a atingir com o mencionado princípio da economia. 12

IV DAS ILEGALIDADES. 11. Percorrido o exposto em III., deste acórdão, dúvidas não restam de que o procedimento se mostra enformado por uma regra atinente ao modelo de avaliação das propostas para o fator preço [inclui a fórmula matemática indicada e adotada no Programa do Concurso] que, por não assegurar a escolha da proposta economicamente mais vantajosa para o adjudicante e obstar à observância do princípio da concorrência, viola o disposto nos art. os 74.º, n.º 1 e 1.º, n.º 4, do C.C.P.. A violação de tais normas, porque obsta, ainda, à adequada realização da despesa pública e, consequentemente, à devida utilização dos fundos públicos, induz, por outro lado, o incumprimento do preceituado nos art. os 42.º, n.º 6 e 47.º, n.º 2, da Lei de Enquadramento Orçamental [Lei n.º 91/2001, de 20.08, com as sucessivas alterações]. A inobservância do princípio e das normas acima referidas [art. os 74.º, n.º 1 e 1.º, n.º 4, do C.C.P., e 42.º, n.º 6 e 47.º, n.º 2, da L.E.O.], porque influenciaram a ordenação das propostas e, naturalmente, o encontro da proposta a adjudicar, é suscetível de alterar o resultado financeiro do contrato. Ou seja, caso não ocorresse a violação da normação referida, era expectável a obtenção de um resultado que melhor garantisse a proteção dos interesses financeiros públicos. DO VISTO. 12. Segundo o art.º 44.º, n.º 3, da Lei n.º 98/97, de 26.08., constitui fundamento da recusa do visto a desconformidade dos atos, contratos e demais instrumentos referidos com as leis em vigor que implique: 13

Nulidade; Encargos sem cabimento em verba orçamental própria ou violação direta de normas financeiras; Ilegalidade que altere ou possa alterar o respetivo resultado financeiro. As ilegalidades evidenciadas e a inobservância dos princípios enunciados não constituem nulidade, por não subsunção à previsão do art.º 133.º, do C.P.A., que elenca os atos administrativos sancionados com tal forma de invalidade. Também não se perfilam encargos sem cabimentação em verba orçamental própria. Porém, e como acima afirmámos, as ilegalidades evidenciadas e a inobservância dos princípios enunciados são suscetíveis de conduzir à alteração do resultado financeiro do contrato em apreço. Salienta-se, também, que a densificação da expressão ilegalidade que possa alterar o respetivo resultado financeiro se basta com o simples risco de que da ilegalidade cometida possa advir a alteração do correspondente resultado financeiro. Entendimento que, de resto, se apoia em jurisprudência amplamente firmada neste Tribunal de Contas. Ocorre, pois, fundamento para a recusa do Visto. V. DECISÃO. Pelos fundamentos expostos, acordam os Juízes da 1:ª Secção do Tribunal de Contas, em Subsecção, em recusar o visto ao presente contrato. Emolumentos legais [vd. art.º 5.º, n.º 3, do Regime Jurídico dos Emolumentos do Tribunal de Contas, anexo ao Decreto-Lei n.º 66/96, de 31.05]. 14

Registe e notifique. Lisboa, 23 de Setembro de 2014 Os Juízes Conselheiros, (Alberto Fernandes Brás Relator) (Helena Maria Abreu Lopes) (José António Mouraz Lopes) Fui presente, (Nélia M.ª Magalhães de Moura) (Procuradora-Geral Adjunta) 15