UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ KARLI KLEEMANN

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ KARLI KLEEMANN EDUCAÇÃO FORMAL E VIDA NO CAMPO: CONEXÕES POSSÍVEIS DE UM CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FOZ DO IGUAÇU. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação do Campo, da Universidade Federal do Paraná. Orientação: Prof. Me. Everton Ribeiro FOZ DO IGUAÇU 2014

1 EDUCAÇÃO FORMAL E VIDA NO CAMPO: CONEXÕES POSSÍVEIS DE UM CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FOZ DO IGUÇAU. KARLÍ KLEEMANN 1 Resumo: Os alunos que vivem no campo necessitam de uma educação diferenciada dos demais educandos que moram na região urbana, pois estão inseridos numa realidade com suas especificidades, o que requer uma prática pedagógica mais criteriosa que satisfaça esse público. Sendo assim foi feito uma pesquisa com os alunos do Curso Técnico Agrícola do Colégio Estadual Agrícola Manoel Moreira Pena de Foz do Iguaçu, na qual se pode analisar e verificar que através dos conteúdos trabalhados em sala de aula relacionados às matérias específicas em agropecuária os alunos aprenderam a por em prática o que foi visto em sala e consequentemente muitos desses educandos utilizaram esses conhecimentos em suas propriedades ajudando seus pais no dia-a-dia do trabalho no campo. PALAVRAS - CHAVES: Conteúdos Curriculares, Educação do Campo, Ensino- Aprendizagem. INTRODUÇÃO A educação do campo ao longo de sua trajetória passou e vem passando por inúmeras transformações. No passado era somente vista como uma escolinha do campo, mas com o passar dos anos ela começou a ser discutida e através dos movimentos sociais foi sendo mais valorizada e, assim, buscando atingir seus objetivos de levar educação de boa qualidade para os povos do campo. Um ponto importante de discussão na educação do campo é como os conteúdos estão sendo repassados e se estes estão atingindo suas metas e objetivos e que práticas metodológicas estão contribuindo para isso. 1 Acadêmica do curso de Especialização em Educação do Campo, UFPR.

2 Para tanto, através deste trabalho é avaliado e analisado o cotidiano escolar, a partir dos conteúdos que são trabalhados em sala de aula. O público participante da pesquisa foram os alunos do curso Técnico em Agropecuária do Colégio Estadual Agrícola Manoel Moreira Pena de Foz do Iguaçu, a partir do qual se verificou qual o diferencial da organização curricular e como os conteúdos influenciam na vida do educando que vive no campo, incentivando-o a transformar e permanecer neste espaço. 2. EDUCAÇÃO DO CAMPO E A ORGANIZAÇAÕ CURRICULAR O cenário atual da educação no Brasil é de muitas transformações, o que nos mostra um interesse maior das autoridades públicas em proporcionar uma educação de qualidade que realmente contribua na formação do indivíduo, pois conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a educação, é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, art. 2º). Quando observado este artigo da LDB destaca-se que a educação deve influenciar no desenvolvimento da cidadania e a qualificação para o trabalho, neste sentido quando falamos de educação do campo percebe-se que é fundamental que ela seja trabalhada de forma distinta. Isto porque os alunos oriundos do campo têm suas peculiaridades e se pensarmos em qualificação para o trabalho esses alunos devem ter uma educação diferenciada das demais que vivem nas áreas urbanas. As escolas do campo devem trazer em seus conteúdos abordagens que vão influenciar e apoiar estes educandos que necessitam um incentivo a mais para permanecerem no campo. De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (2006, p.16), a escola do campo deve corresponder à necessidade da formação integral dos povos do campo. Para tal, precisa garantir o acesso a todos os níveis e modalidades de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, Educação de Jovens e Adultos e Educação Especial). Assim muitas escolas que estão inseridas no campo geralmente só disponibilizam o ensino

3 fundamental e quando o aluno passa para o ensino médio necessita ir para a cidade estudar e encontra uma realidade bem diferente da sua. Ainda conforme a Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, os conteúdos trabalhados com os alunos do campo devem estar de acordo com a sua realidade, pois para que se efetive a valorização da cultura dos povos do campo na escola, é necessário repensar a organização dos saberes escolares; isto é, os conteúdos específicos a serem trabalhados.(dce, 2006, p.44) Sabemos que organizar as aulas, observando a realidade do aluno, não é tarefa fácil para o educador, mas se faz necessário para que a escola do campo tenha um diferencial na vida do educando. É claro que muitos conteúdos são básicos para qualquer modalidade de ensino e são indispensáveis e não podem ser mudados, mas alguns temas poderão se adequar já que tem influência na vida do campo, ou introduzir algumas matérias específicas ligadas ao campo. Conforme o artigo das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica para as Escolas do Campo: Art. 2 - A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. Através desta abordagem será observado se os alunos do ensino médio do curso técnico, que estudam no Colégio Estadual Agrícola Manoel Moreira Pena, percebem a diferença dos conteúdos e matérias que são trabalhadas em sala de aula para beneficiar o seu dia-a-dia no campo. Além das disciplinas regulares do ensino médio, os alunos ainda contam na organização curricular 2 com as matérias de Administração e Economia Rural, Agroindústria, Solos, Zootecnia, Criações, Horticultura, Mecanização Agrícola, Prática Agropecuária, Culturas de Irrigação e Drenagem, Topografia, Construções e Instalações Rurais, Extensão Rural, Agroecologia, Especificidade Regional, Informática aplicada à Agropecuária. Tudo isso torna a educação para o aluno que vive no campo mais atraente, pois ele tem contato com conteúdos que estão ligados diretamente com a sua vivência na propriedade rural. Assim tais disciplinas influenciam na sua realidade e 2 Organização Curricular em anexo

4 contribuem para transformá-la. Como nos afirma o autor Libâneo com relação aos conteúdos: A função da pedagogia dos conteúdos é dar um passo à frente no papel transformador da escola, mas a partir de condições existentes. Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares que tenham ressonância na vida dos alunos (LIBÂNEO 1996, p. 39). 4. RESULTADOS DA PESQUISA O CEEP Manoel Moreira Pena oferta o curso Técnico em Agropecuária Integrado e Subseqüente, em que aproximadamente 95% do total dos alunos deste curso permanecem em regime de internato atendendo alunos e alunas com idade que varia de 14 a 21 anos. O internato é destinado a filhos e filhas de pequenos agricultores da região, os demais são alunos de ambos os sexos que residem na área urbana. A escola conta com 69,7 hectares de área total, abrigando, um campo experimental onde os alunos têm a oportunidade de realizar aulas práticas. Possui máquinas e implementos agrícolas. Dispõe ainda de instalações de laboratório de informática, de química, laboratório de restaurantes e bares, salas de aula, mini auditório e alojamentos para alunos internos. A biblioteca possui acervos de literatura e das áreas técnicas de turismo, meio ambiente e agropecuária. O colégio conta com aproximadamente 230 alunos sendo 80% em regime de internato. Com relação ao quadro de funcionários são 26 professores (QPM) e 12 (PSS), 4 pedagogos, 4 secretárias, 1 diretor e 2 diretores auxiliares e 42 funcionários que fazem o serviço geral do colégio. A pesquisa foi realizada em março de 2014. Foram entrevistados 100 alunos do curso Técnico em Agropecuária, cada aluno recebeu um questionário com seis perguntas: 1- Porque você escolheu fazer este curso técnico? 2- Você mora em propriedade Rural? 3- Você tem o incentivo dos seus pais para estudar?

5 4- Em sua opinião qual é a maior dificuldade de se viver no campo? 5- Qual matéria ou conteúdo estudado você pos em prática na sua propriedade? 6- Ao término deste curso você pretende continuar trabalhando no campo ou vai preferir trabalhar em outra profissão? Na primeira questão foi perguntado por que ele escolheu fazer este curso técnico e eles responderam, em sua maioria, que foi para ajudar em casa na sua propriedade particular e depois por se tratar de um curso técnico o aluno já sai do ensino médio com uma profissão e como a maioria dos alunos moram numa região agrícola eles vêem uma chance a mais de trabalho. Vejamos o gráfico: POR QUE VOCÊ ESCOLHEU FAZER ESTE CURSO TÉCNICO? OUTROS PARA TER UMA PROFISSÃO 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% PARA TRABALHAR EM SUA PROPRIEDADE Fonte: dados da pesquisa 03/2014 Na segunda questão foi perguntado se o aluno mora em propriedade rural e 63% diz que sim e 37% moram na cidade. As maiorias dos alunos que moram no campo ficam no internato do colégio, pois moram em regiões mais distantes então é necessário que permaneçam na escola. Segue o gráfico: PORCENTAGEM DE ALUNOS QUE VIVEM NO CAMPO 80% 60% 40% 20% MORAM NO CAMPO NÃO MORAM NO CAMPO 0% Fonte: dados da pesquisa 03/2014

6 Ao serem perguntados sobre o incentivo dos pais para eles estudarem todos foram unânimes em dizer que recebem o apoio dos pais, pois os mesmos muitas vezes não tiveram acesso à educação e por isso talvez tiveram mais dificuldades na vida e agora querem que os filhos estudem. Observamos o gráfico: Alunos que recebem o incentivo dos pais para estudar recebe o incentivo dos pais 100% Fonte: dados da pesquisa 03/2014 A quarta pergunta foi relacionada com as dificuldades de se viver no campo. Alguns dos entrevistados disseram que uma das maiores dificuldades é a falta de valorização das pessoas que vivem no campo, principalmente na opinião deles por parte do governo. Outro fator é o acesso à cidade que muitas vezes é muito difícil devido ao estado das estradas rurais e a falta de meio de transporte adequado, outra reclamação é a falta de escolas onde os alunos têm que se deslocarem para outros lugares para poder estudar. O clima também influência no mesmo e por fim muitos acham que não tem nenhuma dificuldade de se viver no campo, o que é bom, pois eles têm consciência que o campo é um lugar de muitas possibilidades de trabalho e sobrevivência. Assim nos indica o gráfico: Qual a maior dificuldade de viver no campo? 25% 20% 15% 10% 5% 0% Falta de incentivo do Governo Nenhuma Acesso Clima Valorização do trabalhlador rural Fonte: dados da pesquisa 03/2014

7 O quinto questionamento foi referente aos conteúdos estudados em sala de aula se os mesmos interferem e ajudam na vida dos alunos. Em torno de 49% disseram que a disciplina de Horticultura foi a que mais eles colocaram em prática em suas casas. E esta disciplina ensina as formas corretas de manejo com o solo e com as mudas de hortaliças e árvores frutíferas, a forma correta de armazenamento, comércio, transporte e assim por diante, muitos alunos estão fazendo um campo de experimento nesta área e com isso eles colocam em pratica o que aprenderam na sala de aula e podem aprimorar mais ainda alguns conhecimentos já adquiridos em casa. Outra matéria é com relação à produção animal, que envolve a criação e formas de cuidado com os mesmos, pois muitos alunos têm criação em suas propriedades e aprendem novas técnicas para lidar com esses animais auxiliando seus pais com novos conhecimentos. Alguns alunos disseram que aprenderam a fazer a vacina de forma correta e como realizar a castração de certos animais. A matéria de Agroecologia também foi mencionada, pois com ela os alunos aprendem como produzir com sustentabilidade, sem prejudicar o meio ambiente, um destaque para a agricultura orgânica que está sendo muito discutida e vem ganhando mercado e consumidores mais seletivos que preferem alimentos sem agrotóxicos. Vejamos o gráfico: Qual matéria ou conteúdo você pos em prática na sua propriedade? 3% 11% 3% HORTICULTURA PRODUÇÃO ANIMAL 49% SOLO 34% AGROECOLOGIA OUTROS Fonte: dados da pesquisa 03/2014 Por fim foi questionada a permanência dos alunos no campo: Ao término deste curso você pretende continuar trabalhando no campo ou vai preferir trabalhar em outra profissão?

8 Alguns alunos relataram à dificuldade de trabalhar no campo, de que é muito sofrido e que eles dependem muito do clima, pois muitas vezes eles plantam e se dá uma seca perdem tudo. Então acham que um emprego com registro em carteira é mais seguro que viver da produção rural. Já outro aluno relatou que quer continuar trabalhando com a terra, pois se todos forem morar e trabalhar na cidade, quem vai produzir alimentos para as pessoas? Isto é uma forma consciente da importância do trabalhador rural. Observamos o gráfico: ALUNOS QUE QUEREM TRABALHAR E VIVER NO CAMPO 17% 15% 72% SIM NÃO INDECISOS Fonte: dados da pesquisa 03/2014 Assim, 72% dos alunos querem permanecer e trabalhar no campo, por isso estão estudando e adquirindo mais conhecimento para poder aplicar nas atividades da sua propriedade rural e assim poderem tirar o seu sustento desta produção. Isso nos mostra que está havendo uma inversão do que foi no passado, quando a maioria das pessoas queriam sair da antiga zona rural e agora percebe-se que esses povos do campo querem continuar no campo e isto é um avanço e que muito dessa nova realidade se dá por meio da educação do campo que está crescendo e se destacando e atingindo esses sujeitos do campo. Este percentual que nos mostra que a maioria dos entrevistados quer permanecer no campo nos faz refletir que estes indivíduos estão enxergando no campo uma possibilidade de investimento para o seu futuro. Pois com o avanço tecnológico na genética e em outras modalidades o proprietário rural adquire novos conhecimentos e assim diminui o risco de perda na produção de qualquer produto ou outro manejo, o que viabiliza a permanência no campo. Sabe-se que a vida no campo requer mais investimentos e que o produtor não depende somente de recursos, mas também da colaboração do clima, o qual

9 influencia e muito na produção. Mas se a educação fizer a sua parte, muita coisa pode ser mudada e principalmente a valorização dos indivíduos que lutam e se dedicam ao trabalho no campo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, com a realização deste trabalho, foi analisado e constatado que os conteúdos trabalhados em sala de aula conseguem atender as expectativas do aluno, principalmente por estarem ligados a sua realidade. Ao ser realizada esta pesquisa, foi apurado que muitos alunos colocaram em prática nas suas casas o que aprenderam na escola, e puderam contribuir na produção que já havia na propriedade, aumentado e somando o conhecimento adquirido no curso com o existente ao longo de sua vivência no campo. Entende-se que este é um curso técnico e tem suas matérias específicas e conta com uma estrutura adequada para o seu pleno funcionamento, diferente da realidade de muitas escolas do campo. Não querendo aqui que todas as escolas do campo sejam implantadas um curso técnico, pois o custo é muito grande e muitas vezes inviável, mas seria interessante que algumas matérias específicas fossem implantadas na organização curricular, o que contribuiria ainda mais na formação do educando. Assim sendo, atenta-se que a educação é uma peça fundamental no processo da valorização dos povos do campo, pois através dela é que formamos indivíduos com consciência que serão capazes de agir no meio em que vive transformando-o e com isso não necessitam sair do mesmo, mas encontrar nele todas as possibilidades de sobrevivência. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB n.1. Propõe as Diretrizes Operacionais da Educação Básica para Educação do Campo. Brasília, DF: CNE/CEB, 2002.

10 LIBANEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: Pedagogia críticosocial dos conteúdos. 14 ed. São Paulo: Loyola, 1996. PILETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do Ensino Fundamental. 2.ed, Rio de Janeiro DP&A, 2000. SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Superintendência da Educação; DCE - Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Paraná: Curitiba.

ANEXO- Organização Curricular 11 Estabelecimento: CEEP Manoel Moreira Pena Curso: Técnico em Agropecuária Turno: Integral DISCIPLINAS TOTAL HORAS/ AULAS Língua Portuguesa e Literatura 480 Arte 80 Educação Física 240 Física 240 Matemática 480 Química 240 Biologia 320 História 240 Geografia 240 Língua Estrangeira Moderna ( Inglês) 160 Filosofia (PD) 80 Sociologia (PD) 80 Administração Economia Rural 160 Agroindústria 160 Solos 160 Zootecnia 240 Criações 360 Horticultura 240 Mecanização Agrícola 160 Prática Agropecuária 720 Culturas 280 Irrigação e Drenagem 80 Topografia 80 Construções e Instalações Rurais 80 Extensão Rural 80 Agroecologia 80 Especificidade Regional 80 Informática aplicada a Agropecuária 160 TOTAL 6000 HORAS/ AULA Fonte: Colégio Estadual Agrícola Manoel Moreira Pena