OS LIVROS PROFÉTICOS A MISSÃO DOS PROFETAS: SUA VOCAÇÃO E CONFIRMAÇÃO
Falsos Profetas Esta dependência de Iahweh, da parte dos profetas, é vista ainda mais claramente quando confrontada com os falsos profetas que se constituíam em uma ameaça, não apenas aos profetas mas também aos seus ouvintes.
Os falsos profetas não podem ser distinguidos pelo seu modo de ser ou por uma instituição à qual pertencem, mas somente por um exame retrospectivo. Na verdade, a antiga tradução grega é a primeira a introduzir esta distinção: o texto original chama-os de falsos e verdadeiros profetas.
Com referência à sua relação com instituições, várias categorias de profetas podem ser observadas. Havia profetas como Natan e Gad, que estavam ligados à corte real e eram conselheiros do rei Davi (2Sm 7,12-24). O grupo de profetas em torno de Acab e Zedequias, filho de Canaã, e Miquéias, filho de Ilma, são
dessa espécie (1Rs 22,6-28). Isaías mantinha também aparentes relações com a corte (Is 7), talvez por causa de atividades anteriores como professor de renomado saber na escola da corte. Havia também profetas como seus companheiros no Templo (Is 28, 7; Os 4,4ss; Jr 26.7)
Tinham provavelmente a responsabilidade de trazer, diante de Iahweh, os lamentos individuais e populares, pronunciando depois uma resposta ou uma rejeição ao pedido (cf. Sl 85, 1-3.8). Habacuc era provavelmente um profeta cultural, como mostram os lamentos em 1,2-3.12-13.
Finalmente, encontramos profetas livres e individuais como Elias e provavelmente também a maioria dos profetas clássicos cujas profecias foram registradas. Amós está em flagrante contraste com o sumo sacerdote Amazias e Betel e com o rei Jeroboão (Am 7,9-13). Isaías e Jeremias contrastam com grupos de
sacerdotes e profetas (Is 28,7ss; Jr 26,7ss). Devemos lembrar entretanto, que uma relação institucional de um e de outro tipo não é decisiva para que um pronunciamento profético seja autêntico e verdadeiro. O que é claro é que aquela relação oficial com a corte ou com o Templo pode se tornar um perigo
para o profeta. O fator decisivo é o relacionamento do profeta com Iahweh, que o liberta do jugo daqueles aos quais é enviado. Ser independente de seus ouvintes é a ratificação interior de um verdadeiro profeta.
Sobre os profetas sedutores diz Miquéias: Eles grita, Paz se tem algo entre os dentes; mas a quem não lhes coloca nada na boca eles declaram guerra (Mq 3,5). Ele próprio se vê autorizado pelo espírito de Iahweh a proclamar poderosamente o que é direito: anunciar a Jacó o seu delito e a Israel o seu pecado (3,8).
Um século mais tarde, Jeremias lamentou: eles dizem àqueles que seguem seus corações endurecidos: Nenhum mal cairá sobre vós (Jr 23, 17). Quem seguisse o conselho do Iahweh jamais faria tal coisa (23,22).
A esta liberdade diante do interlocutor está interligado o fato de que, quando dois profetas são confrontados, o portador de más notícias é considerado mais verdadeiro do que aquele que traz bons prenúncios. É sob este aspecto que Jeremias declara submissão a Nabucodonosor (c. 27) e sofre a oposição do
profeta Ananias (c. 28), que anuncia o esfacelamento do jogo do rei Iahweh. Jeremias observa calmamente que os profetas que nos precedem, a ti e a mim, profetizaram desde há muito, e para países e reinos consideráveis, a guerra, a fome e a peste (28,8).
Um profeta que anuncia paz só será reconhecido como enviado de Iahweh quando suas palavras se tornarem verdadeiras (28,8-9). A tradição profética nos leva a prestar atenção a uma palavra de julgamento e a ser céticos diante de uma mensagem de segurança.
Jeremias caracteriza os falsos profetas dizendo: eles comentem adultério e andam na mentira (Jr 23,14; 29,21-23), e é fácil verificar que isto corresponde aos critérios éticos do Sermão da Montanha (Mt 7,16). A vida do mensageiro revela se ele é submisso à vontade de Iahweh ou se segue seus
próprios desejos. Aquele que se glorifica é um deturpador da mensagem. Finalmente, apenas um profeta verdadeiro tem capacidade para desmascarar o falso. É um dom carismático. Aquele que atentou no conselho de Iahweh (Jr 23,22) mostra os sonhos
e revelações de outros como desejos provenientes de um coração humano (Jr 23, 25-28). O verdadeiro profeta pode sofrer insucessos nas mãos do falso, mas confia na Palavra do seu Deus, Palavra que lhe dá nova autoridade (Jr 28, 11-16), coisa que jamais poderá fazer sozinho;
pode, às vezes esperar em desespero por dez dias, mas ele acaba por fazê-lo (Jr 42, 7; cf. Is 8,17). Como podem, entretanto, aqueles que ouvem a mensagem distinguir entre joio e o trigo, entre o falso e o verdadeiro profeta?
Os olhos e os ouvidos são treinados para isso através da observação. Com auxílio dos modelos no material, ele pode fazer um julgamento: é a testemunha livre diante de seus ouvintes? É ele dirigido pelos próprios desejos ou pela livre vontade de seu Deus?
A verdade é documentada de modo convincente: Meu coração partiu-se dentro de mim; eu tremo em todos os meus membros, sou igual a um homem bêbado, a alguém que o vinho subjugou, por causa de Iahweh e de suas palavras santas (Jr 23, 9)