EIXO TEMÁTICO: BIOGEOGRAFIA, POLÍTICAS AMBIENTAIS E GESTÃO TERRITORIAL. DICIONÁRIO DE PLANTAS COM TOPÔNIMOS INDÍGENAS - PARQUE ESTADUAL ILHA DO CARDOSO E PARQUE ESTADUAL INTERVALES Autores: Carina Nicomedes Negrão, Carolina Meirelles de Azevedo Bello, Daniela Lavignatti, Marilia Biscaia Rizzo Instituição: Universidade de São Paulo, São Paulo SP E-mail dos autores: canicomedes@ig.com.br, carolina.bello@usp.br, mariliarizzo@hotmail.com, danibalegeo@hotmail.com Introdução A geografia é a ciência que estuda as relações do homem com o seu meio, sendo seu objeto de estudo o espaço e suas interações com as formas aí presentes, as quais nem sempre são passivas. Tais formas são na maioria das vezes dicotômicas e entender esse espaço significa abordar uma série de fatores naturais, humanos e econômicos. Procurando compreender que a história da sociedade é também uma história das relações entre homem e natureza, perseguimos como forma de trabalho a elaboração de um dicionário de topônimos indígenas, partindo da premissa que o homem é por essência um ser classificador. Nosso intuito é de certa forma resgatar a importância do conhecimento de povos indígenas que habitaram e ainda habitam o Brasil e que nos deixaram um legado de conhecimento. Sabe-se que muito antes dos portugueses chegarem ao Brasil, nosso território já era habitado por índios, que possuíam uma forma de se relacionar e de utilizar a natureza. Profundos conhecedores da natureza, os nativos das terras brasileiras realizaram complexa nomenclatura para os diversos componentes naturais. Não há dúvidas quanto à exuberância, a riqueza e a vastidão das formas de vegetação que compõem o território brasileiro. Preservar essa riqueza e resgatar conhecimentos de populações tradicionais constitui-se um desafio nos dias atuais. O presente trabalho se destaca como forma de produção do conhecimento pelo impulso investigativo, ou seja, o conhecimento pelo conhecimento, investigar pelo simples fato de querer conhecer. Fazer um dicionário de topônimos indígenas, permite-nos trabalhar conjuntamente o social e o físico. Onde poderíamos relacionar processos passados com processos recentes, nos quais a paisagem viria nos mostrar que a construção do espaço é um acúmulo desigual de tempos e também de agentes e objetivos diferentes. Moldamos nosso dicionário de forma a ser algo prático e acessível. Uma tentativa de resgatar uma pequena
parcela desse conhecimento, que com certeza não estará completo, mas é um ponto de partida para estudos ainda maiores. Material e Métodos (Metodologia) Nossa idéia inicial era analisar em que medida a denominação das plantas nos fornecia informações da caracterização do Parque Estadual Ilha do Cardoso e do Parque Estadual Intervales, no estado de São Paulo. Com isso, utilizaríamos os métodos hipotético, analítico e empírico. Partindo da hipótese de que os nomes das plantas em tupi pudessem indicar características do meio em que estavam inseridas, fomos à Ilha e a Intervales a fim de coletar as plantas que possuíam nome em tupi, as quais identificamos pela sonoridade, prefixos e sufixos, por nós já conhecidos como mirim, açu, nha, além da ajuda dos monitores dos parques visitados. No momento em que fizemos a coleta, aproveitamos para obter as coordenadas geográficas e as altitudes em que se encontravam tais plantas, por meio de um GPS (Global Position System); além disso, ainda em campo, ao encontrarmos as espécies, fazíamos um registro fotográfico. Após o campo, verificamos se as plantas coletadas realmente possuíam nome tupi, principalmente com base no dicionário O tupi na geografia nacional, de Sampaio (1928). As que se confirmaram, foram selecionadas e tiveram seus nome em tupi traduzidos para o português e foram estudadas mais a fundo, sobretudo com base nos manuais de reconhecimento de espécies de Couto (2005) e Lorenzi (1991), ambos da Botânica. Diante dessas informações, mapeamos as plantas selecionadas de ambos os lugares, realizamos uma caracterização e descrição acerca dessas plantas, seu significado em tupi, nome popular, nome científico, família, caracterização das folhas, flores e frutos, origem e área de ocorrência, distribuição geográfica e forma de dispersão, além do uso. Nossas hipóteses não se confirmaram no que concerne à relação dos nomes das plantas em tupi com o entorno. De qualquer modo, decidimos prosseguir com a idéia do dicionário, objetivando produzir o conhecimento pelo conhecimento e organizando informações, as quais pudessem ser utilizadas em estudos posteriores. Resultados e Discussões Plantas coletadas no Parque Estadual Ilha do Cardoso Foram coletadas dez amostras de plantas com topônimos indígenas em um pequeno fragmento do Parque, localizado na comunidade do Marujá, sobretudo na área compreendida
pela formação vegetal da restinga. Devido ao pequeno espaço para expor o trabalho vamos especificar apenas três espécies, sendo que as outras apenas serão citadas. Nome popular: Araçá; significado: fruto de época, de tempo Nome científico: Psidium cattleianum; família: Myrtaceae Origem e área de ocorrência: É nativa da Mata Atlântica brasileira. Ocorre na mata pluvial atlântica e na mata de altitude úmida, também encontrado em floresta com araucárias e ambientes de restinga. Distribuição geográfica e forma de dispersão: Aparece desde a Bahia até o Rio Grande do Sul e também da Amazônia até o norte da Argentina. Dispersão zoocórica Uso: apresenta alto teor de vitamina C em seus frutos. A madeira é de boa qualidade para obras internas. É uma espécie muito indicada para a recuperação de áreas degradadas, em função da capacidade de suportar os condicionantes desse tipo de ambiente. Nome popular: Embaúba, Ambaíba; significado: Origina-se do termo "ambaíba", da língua Tupi que significa "árvore com orifício" ou árvore que não serve para construções. Nome científico: Cecropia hololeuca; família: Urticaceae Origem e área de ocorrência: É uma das plantas originárias da zona tropical do continente americano. Ocorre na floresta estacional semidecídua, floresta ombrófila densa, mata ciliar. Distribuição geográfica e forma de dispersão: Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Dispersão zoocórica. Uso: A madeira é macia e leve sendo utilizada para fabricação de fósforos e de lápis. O galho, perfurando do nó, é usado como calha. Na parte medicinal, as flores, os brotos e a casca do caule são aproveitados para tratamento de bronquite, tosses, erisipela, diabete e diarréia. Nome popular: Jerivá; significado: De o que tem fruto em cacho. Nome científico: Syagrus romanzoffiana; família: Arecaceae (Palmae) Origem e área de ocorrência: Nativa da mata Atlântica do Brasil. Ocorre na restinga, floresta ombrófila densa, floresta estacional semidecidual, mata ciliar, mata paludosa, floresta estacional decidual e Cerrado. Distribuição geográfica e forma de dispersão: Ocorre com maior freqüência nos estados do sul do Brasil, adaptando-se aos mais variados climas. Dispersão zoocórica. Uso: É utilizado para fins paisagísticos, sendo exportada devido a sua rusticidade fácil adaptação. É usado em reflorestamento de áreas degradadas, de preservação permanente e de
cultivo misto. É uma planta pioneira de áreas degradadas. Seu fruto é apreciado por diversos animais e pelo homem As outras espécies coletadas foram: Aroeira (Schinus terebinthifolius ) que significa de árvore velha e pertencente a família da Anacardiaceae. Caúna (Ilex brevicuspis) que significa de folha preta e pertence à família da Aquifoliaceae. Cuvatã (Cupania oblongifolia), que significa mato que serpenteia e pertence à família Sapindaceae. Gravatá (Vriesea carinata, que significa pluma de índio e pertence à família Bromeliaceae. Guanandi (Calophyllum brasileira), que significa o que é grudento e pertence à familia Clusiaceae. Ingá cipó (Ingá edulis), que significa embebido, empapado, ensopado, devido ao aspecto aquoso que envolve as sementes e pertence à família Leguminosae. Majuruvoca (Ternstroemia brasiliensis), em que Juru significa árvore de madeira dura, com frutos de polpa comestível e Juruboca significa fender-se; fenda, abertura; boca aberta, pertence à família Theaceae. Plantas coletadas no Parque Estadual de Intervales Assim como na Ilha do Cardoso foram coletadas dez amostras de plantas em um pequeno fragmento, no entanto aqui também será detalhada apenas três espécies devido ao pequeno espaço. Nome popular: Caeté, Caeté-banana; significado: Caá = mato + etê = mesmo verdadeiro Nome científico: Heliconia velloziana; família: Heliconiaceae Origem e área de ocorrência: Nativa do Brasil. Ocorre na floresta ombrófila mista; é uma planta típica da Mata Atlântica; na faixa de transição entre a floresta tropical pluvial de planície litorânea e a restinga, no estrato arbustivo e arbóreo. Distribuição geográfica e forma de dispersão: ocorre por todo território nacional. Dispersão zoocórica. Uso: É muito utilizada como decoração conferindo aspecto tropical a qualquer arranjo. Nome popular: Cajarana; significado: Acaya = cajá + rana = falso, logo cajá falso. Nome científico: Cabralea canjerana; família: Meliaceae Origem e área de ocorrência: É uma espécie arbórea nativa brasileira. Ocorre na floresta estacional semidecídua de altitude e floresta ombrófila densa.
Distribuição geográfica e forma de dispersão: ocorre em Minas Gerais, Mato Grosso de Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Dispersão zoocória. Uso: É utilizada na construção, no paisagismo e como madeira nobre. Nome popular: Jaborandi; Significado: é conhecido pelos índios tupi-guarani como yaborãdi - planta que faz babar. Nome científico: Pilocarpus jaborandi ; família: Rutaceae Origem e área de ocorrência: Jaborandi é uma planta nativa da Amazônia brasileira. Ocorre na Floresta Amazônica e Mata Atlântica. Distribuição geográfica e forma de dispersão: ocorre na América do Sul. Dispersão zoocórica. Uso: Tem potencial anti-artritica, antiinflamatória, antiqueda de cabelos, anti-reumática, estimulante do crescimento capilar. Utilizam-se as folhas. As outras espécies coletadas foram: Arreticum-de-porco (Rollinia rugulosa), que significa árvore de fibra rija e dura, fruto do céu, saboroso, pertence à família Annonaceae. Canela-guaicá (Octea puberula), que significa aquele que é delicado ou bonito, pertence à família Lauraceae. Ingá-feijão (Inga marginata), significa cheio d água, pertence à família Leguminosaceae. Pixirica (Miconia chartacea Triana), que significa o pé de água veloz, pertence à família Melastomataceae. Taquaruçu (Guadua tagoara), que significa "taboca grande", pertence à família Bambusaceae. Taquarinha, Caraça (Chusquea meyeriana), que significa haste furada fina, pertence à família Poaceae. Tiririca (Cyperus rotundus), que significa arrastar-se, pertence à família Cyperaceae. Através do trabalho brevemente exposto podemos concluir que não há dúvidas quanto à exuberância, a riqueza e a vastidão de formas vegetais que compõem o território brasileiro. Preservar essa riqueza e resgatar conhecimentos de populações tradicionais constitui-se um desafio nos dias atuais. Fica para nós a idéia de que a natureza é o eterno processo de produção/reprodução que desemboca na síntese das novas formas materiais no planeta justamente porque desde o começo é múltipla em formas e movimentos (MOREIRA, 1993, p.37), por isso a grande dificuldade de compreendê-la e de estudá-la em sua plenitude
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