5º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental AVALIAÇÃO DE BARREIRAS MINERAIS COM SOLO COMPACTADO PARA CONTENÇÃO DE LÍQUIDOS ORGÂNICOS

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Transcrição:

5º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental AVALIAÇÃO DE BARREIRAS MINERAIS COM SOLO COMPACTADO PARA CONTENÇÃO DE LÍQUIDOS ORGÂNICOS Zenite da Silva Carvalho 1 ; Sandro Lemos Machado 2 ; Miriam de Fátima Carvalho 3 ; Digna de Faria Mariz 4. Resumo Uma das opções possíveis para evitar a contaminação de solos e águas subterrâneas, por vazamentos em tanques de armazenamento de combustíveis derivados de petróleo, é o uso de barreiras minerais. Diante deste cenário, o laboratório de Geotecnia ambiental da UFBA, com o apoio da PETROBRAS, desenvolveu um projeto de pesquisa sobre permeabilidade de líquidos orgânicos em solos compactados, que teve como um dos resultados, a proposição de faixas granulométricas de solo com potencial de uso para barreiras de contenção de produtos combustíveis. A fim validar os resultados obtidos em laboratório, foram construídos sete aterros experimentais com solos sedimentares da formação barreiras e de solos residuais do Granulito/Gnaisse, bem como de misturas destes solos, em diferentes proporções. Identificaram-se as características granulométricas dos solos e misturas. Os aterros foram construídos com rigoroso controle de compactação, com energia equivalente a Proctor modificado. Realizaram-se ensaios de permeabilidade em campo, com o permeâmetro Guelph, em diferentes períodos, a fim de avaliar o comportamento a longo prazo das barreiras de contenção. Os líquidos percolantes utilizados nesta pesquisa foram o diesel, biodiesel, gasolina e água, adotada como referência. Os resultados indicaram que embora os aterros não atendessem a todos os parâmetros especificados na proposta de faixa granulométrica, as misturas com fração de finos dentro do indicado na proposta (misturas 1, 2, 3, 4, e 5), apresentaram desempenho satisfatório para contenção dos líquidos orgânicos. Abstract Mineral barriers are a possible option to prevent contamination of soil and groundwater from leaks in storage tanks of petroleum-based fuels. In this scenario, the Environmental Geotechnical Laboratory of the Federal University of Bahia, supported by Petrobras, has developed a scientific research program on permeability of organic liquids in compacted soil. As a result, there were proposed soil specifications for the containment of organic fluids as mineral barrier layers. Seven experimental landfills were built in order to verify these specifications in field conditions. Sedimentary soils, Barreiras formation and residual soil from Granulite/Gnaisee were employed, in different proportions, to build the landfills. Landfills were compacted using modified Proctor energy and a rigorous compaction control. The Guelph permeameter was used to perform field permeability tests, at different periods, in order to assess long term landfill behavior. The percolating liquids used in this research were diesel, biodiesel, gasoline and water (reference fluid). The results indicated that despite most landfills did not fulfill entirely the proposed specifications, the soil mixtures which had the fine fraction inside the specification range (mixture 1, 2, 3, 4, and 5) presented a satisfactory containment performance. Palavras-Chave Barreiras minerais; contaminantes orgânicos; permeabilidade. 1 Eng.ª, Mestranda, Universidade Federal da Bahia: Salvador - BA, (71) 3283-9461, zenite.esa@gmail.com 2 Eng., Dr., Universidade Federal da Bahia: Salvador - BA, (71) 3283-9845, smachado@ufba.br 3 Eng.ª, Dr.ª, Universidade Católica de Salvador - BA, (71) 3283-9845, mfcmachado@gmail.com 4 Eng.ª, PhD, SMES/SAE/MA/RAI PETROBRAS, (21) 3229-4477, digna@petrobras.com.br. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

1. INTRODUÇÃO Uma das principais fontes de contaminação de solos e águas subterrâneas tem sido os vazamentos de tanques de armazenamento de combustíveis derivados de petróleo. O Brasil, por ser um grande produtor de petróleo e derivados, onde armazena, distribui e revende; tem uma significativa vulnerabilidade por ocorrer vazamentos durante estas etapas, e as consequências desta contaminação acarretam graves impactos ambientais, tanto pela magnitude como pela dificuldade de recuperação da área atingida. Estes aspectos ressaltam a necessidade de se desenvolver ou aprimorar os mecanismos de proteção e prevenção de solos e águas subterrâneas. Uma das opções possíveis é o uso de barreiras que evitem, em casos de vazamentos, que o contaminante gere problemas ambientais. Para os terminais de armazenamento, um dos principais mecanismos de proteção usados são as bacias de contenção construídas ao redor dos tanques verticais de estocagem, para conter vertical e horizontalmente eventuais vazamentos, sendo o solo argiloso compactado o material mais empregado na impermeabilização de bacias de contenção devido à sua eficiência comprovada na retenção de água e ao baixo custo de implantação. Contudo, barreiras de contenção puramente argilosas possuem deficiências na contenção de líquidos apolares, como no caso da grande maioria dos hidrocarbonetos (MACHADO et al., 2011). No Brasil, não existe legislação federal sobre os critérios construtivos das estruturas de contenção de derramamentos de tanques verticais. A Bahia possui o Decreto Estadual n.º 11.235/2008, que estabelece no Art. 68 Que os diques de contenção deverão ser devidamente impermeabilizados. A NBR 17505-2 / 2013 apresenta, em nível de recomendação, os critérios construtivos das estruturas de controle de derramamento de tanques verticais. Esta norma, exige que os diques e bacias de contenção de tanques verticais de armazenamento tenham coeficiente de permeabilidade máximo de 10-6 cm/s, referenciado à água a 20ºC, ou de 10-4 cm/s, também referenciado à água a 20ºC, para as bacias de contenção que possuam canaletas de drenagem com área de escoamento mínimo de 900 cm 2. Diversos pesquisadores, dentre estes, Machado et al (2011), alertam que a água não pode ser utilizada como fluido de referência para a avaliação da permeabilidade do solo a líquidos orgânicos de baixa polaridade, resultando normalmente em valores de permeabilidade que põe em risco a segurança ambiental destas estruturas, pois, em uma barreira mineral de contenção, o mecanismo principal de retenção de líquidos pelas argilas reside na interação solo/líquido, a qual é fortemente influenciada pela polaridade do líquido percolante. A baixa polaridade dos hidrocarbonetos aumenta o seu valor de permeabilidade quando perolam solos argilosos. Sendo assim, ao utilizar a água como referência para avaliar bacias de contenção para hidrocarbonetos pode-se adotar valores de permeabilidade sensivelmente menores que o valor de permeabilidade da barreira mineral ao fluido armazenado. Diante deste cenário, o Laboratório de Geotecnia Ambiental da UFBA (GEOAMB) e do Laboratório de solos da UCSAL, desenvolveram um projeto de pesquisa sobre permeabilidade de líquidos orgânicos em solos compactados (MACHADO et al., 2011). Como um dos resultados, foram propostas faixas granulométricas de solo com potencial de uso para barreiras de contenção de produtos combustíveis. Neste artigo é avaliada a permeabilidade aos líquidos orgânicos das barreiras minerais construídas com solos que atendam as especificações propostas. 2. ESTUDO PRÉVIO: ESPECIFICAÇÕES PROPOSTAS Uma descrição em detalhes das especificações propostas para solos potencialmente utilizáveis na contenção de hidrocarbonetos pode ser encontrada no trabalho de Machado et al (2011). Para o desenvolvimento da proposta de faixas de variação ótimas de propriedades índices de solos para construção de barreiras de contenção, os pesquisadores estudaram o comportamento de diferentes solos, buscando identificar os fatores que influenciam na curva de compactação e na 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2

permeabilidade. Para identificar as influências na curva de compactação foi compilado um banco de dados contendo informações de 728 solos, sendo que 227 dados (31% do total) foram provenientes de ensaios de compactação e caracterização geotécnicas executadas no GEOAMB e o restante foi compilado da literatura técnica. Os pesquisadores usaram os resultados de permeabilidade ao diesel na energia do Proctor modificado para a elaboração da proposta de faixas granulométricas ótimas para confecção de barreiras minerais para contenção de orgânicos, de forma que se o solo pudesse atender os critérios mínimos de permeabilidade para o diesel. A seguir são listadas as faixas de variação propostas: Limite de Liquidez (WL): Adoção de solos com WL variando de 55% a 75% Índice de plasticidade (IP): Adoção de solos com IP variando de 28% a 42% Teor de finos (Fc): Fc variando de 33% a 60% Teor de Argila (Cc): Cc variando de 27% a 45% Teor de areia (Sc): Sc variando de 34% a 57% Teor de pedregulho (Gc): Gc igual ou menor que 2% Vale ressaltar que apesar do número relativamente grande de parâmetros empregados, muitos dos parâmetros listados são dependentes uns dos outros de forma que o atendimento a todos os parâmetros listados não deve constituir uma tarefa por demais árdua. Com a adoção dos parâmetros acima, o solo compactado na energia do Proctor modificado deverá apresentar valores de umidade ótima e densidade seca máxima conforme descrito abaixo: Umidade de compactação (umidade ótima): de 14% a 20% Densidade seca (densidade seca máxima): de 1,65 a 1,83 g/cm3. Para que uma barreira de contenção tenha desempenho satisfatório, a pesquisa recomenda que além das faixas propostas, sejam respeitadas diversas observações construtivas; as quais são listadas a seguir. O equipamento utilizado na compactação de campo deverá garantir a energia de compactação do tipo Proctor Modificado. A compactação deverá ser realizada em etapas, até que se alcance a espessura final da camada, sendo que em cada etapa o material lançado não poderá ter espessura superior a 25 cm e, após a compactação, 15 cm. Deverá ser feito um adequado controle de compactação em campo, que garanta um grau de compactação acima de 95%, e para que a umidade das camadas compactadas estejam acima da ótima em 1%, aceitando-se uma variação de 2,0% em torno deste valor. Neste projeto também foi desenvolvido um permeâmetro Guelph, utilizado na realização dos ensaios de campo desta pesquisa, para a determinação da permeabilidade de barreiras de proteção minerais compactadas para a contenção de hidrocarbonetos, utilizando-se os fluidos normalmente estocados nas áreas dos diques de contenção. 3. ATERROS EXPERIMENTAIS 3.1. Caracterização dos Solos Os solos utilizados, para o desenvolvimento desta pesquisa, foram provenientes de áreas de corte realizados em pontos distintos de Salvador. Foram usados o solo residual do granulito/gnaisse, comum na maior parte da cidade de Salvador; e o solo de formações terciárias de areia argilosa, chamada de formação Barreiras, também comum na região Metropolitana de Salvador. Os dois solos amostrados foram denominados, respectivamente, de solo granulito e solo barreiras. Os resultados da caracterização dos solos estão apresentados na tabela 1. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3

Foram realizados ensaios de caracterização e de compactação na energia do Proctor modificado para levantar as suas propriedades índices. Para a classificação dos solos empregados nos estudos foram utilizados o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), e a classificação segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ressalta-se que todos os ensaios foram realizados pelas equipes do Laboratório de Geotecnia Ambiental da UFBA e pelo Laboratório de solos da UCSAL seguindo as normas da ABNT, listadas a seguir: NBR 6457/1986 Amostras de solo Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização; NBR 6508/1984 Grãos de solo que passam na peneira 4,8 mm Determinação de massa específica; NBR 7181/1984 Análise granulométrica; NBR 6459/1984 Solo Determinação do limite de liquidez; NBR 7180/1984 Solo Determinação do limite de plasticidade; NBR 7182/1986 Compactação. Os solos escolhidos são provenientes da mesma região dos solos usados na pesquisa desenvolvida por Machado et al (2011). Sendo assim, este são solos com características similares aos usados na referida pesquisa e que atendem a variação dos índices que compões a faixa proposta. Identificação das Amostras Tabela 1. Caracterização granulométrica e de compactação dos solos barreiras e granulito. Granulometria (%) consistência Massa Específica (g/cm³) Compactação Classificação das amostras Ped AG AM AF Silt Arg WL LP IP W ot. ρd máx SUCS ABNT Solo Barreiras 3 17 49 14 7 10 NL NP 2,633 10,5* 1,95* SM Solo Granulito 1 5 12 17 29 36 55 28 27 2,725 17,98* 1,732* CH *Energia do Proctor modificado Areia argilo-siltosa com Argila areno-siltosa com Sendo: Ped Pedregulho; AG Areia Grossa; AM Areia média; AF Areia fina; Silt Silte; Arg Argila; LP Limite de plasticidade; SUCS - Sistema Unificado de Classificação dos Solos; ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas; Wot - Umidade ótima; ρdmáx Massa específica do solo seco; NL Não líquido; NP Não Plástico. 3.2. Procedimento de mistura Para se obter solos com diferentes características, foram preparadas misturas de solos levando em consideração as suas propriedades índices (Tabela 1) e as faixas granulométricas propostas (Tópico 2). Foi usada a propriedade índice Teor de Finos (Fc) como parâmetro para obter granulometrias diferentes nas misturas. Este parâmetro foi escolhido por se mostrar de grande influência na permeabilidade, além de ter dependência das outras propriedades índices contidas na faixa granulométrica proposta. Foi feita uma estimativa da proporção que cada solo (granulito e barreiras) deveriam ser misturados, conforme indicado na tabela 2. Por se tratar de ensaio em campo, com grandes volumes de solos, o procedimento de mistura do solo se mostrou uma tarefa árdua, visto que objetivava uma fração de finos específica. Para isso, inicialmente estimou-se a proporção em que cada solo, granulito e barreiras, deveriam ser misturados, baseado nos resultados de caracterização granulométrica. Para o processo de mistura dos solos e sua homogeneização utilizou uma retroescavadeira. Anteriormente ao processo de mistura, cada solo, granulito e barreiras, foi homogeneizado e umedecido para que chegasse na umidade ótima antes de serem misturados nas proporções definidas (Tabela 2). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4

Para misturar os solos nas proporções que foram definidas, primeiro foi determinado o tamanho dos aterros experimentais, e através dos conhecimentos dos índices físicos e dos valores de umidade ótima e peso específico seco máximo dos solos foi obtido o volume de solo para ser misturados para cada aterro. Este volume de solo foi convertido em número de conchas equivalentes da retroescavadeira. Para isso, a retroescavadeira vazia foi pesada em uma balança rodoviária (Figura 1); procedeu-se também a pesagem da retroescavadeira com a concha cheia de solo barreiras e depois com o solo granulito (Figuras 2 e 3). Com isso foi possível identificar a massa de solo, com a devida correção de umidade (previamente determinada em campo), em cada concha; e assim, calcular o número de conchas de cada solo, granulito e barreiras, necessário para obter os teores de finos desejados para cada mistura e a quantidade de solo para execução dos aterros experimentais. Além dos solos barreiras e granulito, um outro solo sedimentar mais argiloso encontrado no local de construção dos aterros experimentais, foi usado para a execução de um aterro, sendo este solo denominado de Mistura 07. Após a preparação das misturas nas proporções desejadas, as misturas foram amostradas para uma nova caracterização. Os resultados desta caracterização são apresentados na tabela 3. Sendo assim, foram obtidos sete solos para a realização deste estudo. Como pode ser observado nas tabelas 2 e 3, contudo, o teor de finos das misturas ficou abaixo do esperado. Misturas Tabela 2. Teor de finos desejado para as misturas. Fração de finos desejada Proporção de solo para a mistura Solo Granulito Solo Barreiras Fração de finos obtida Mistura 01 65 % 100% 0% 45 % Mistura 02 60 % 90% 10% 40 % Mistura 03 55 % 79% 21% 37 % Mistura 04 50 % 69% 31% 35 % Mistura 05 45 % 58% 42% 33 % Mistura 06 17 % 0% 100% 18 % Mistura 07 - - - 27 % Figura 1. Retroescavadeira vazia sendo pesada. Figura 2. Retroescavadeira sendo pesada com a concha cheia de solo granulito Figura 3. Retroescavadeira vazia sendo pesada O fato de ter obtido teores de finos abaixo do estimado pode ter sido causado pela heterogeneidade do solo, o que dificulta a obtenção de amostras representativas em campo. O solo granulito (Mistura 01) apresentou grande diferença das características obtidas em sua primeira 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5

amostragem (tabela 1), para as características apresentadas após a homogeneização em campo, onde foram misturadas seis caçambas de solo (tabela 3). Vale ressaltar que a o primeiro ensaio com o solo granulito foi feito com uma amostra composta por solo das seis caçambas sendo estes, homogeneizadas em laboratório. Esta diferença das características do solo granulito antes da homogeneização em campo e após, gerou a diferença de aproximadamente 20% nos teores e finos estimados e obtidos para as misturas com maiores proporções deste solo. Identificação das Amostras Tabela 3. Caracterização granulométrica e de compactação das misturas. Granulometria (%) consistência Massa Específica (g/cm³) Compactação Classificação das amostras Ped AG AM AF Silt Arg WL LP IP W ot. ρd máx SUCS ABNT Mistura 01 1 12 24 18 17 28 41 20 20 2,701 12,54* 1,936* SC Mistura 02 2 11 31 16 17 23 31 18 13 2,685 11,08* 1,966* SC Mistura 03 3 9 33 18 14 23 30 17 13 2,683 10,29* 1,998* SC Mistura 04 1 9 37 18 13 22 28 16 12 2,685 10,6* 2,013 SC Areia argilo-siltosa com Areia argilo-siltosa com Areia argilo-siltosa com Areia argilo-siltosa com Mistura 05 0 16 33 18 12 21 28 17 11 2,672 10,16* 2,008* SC Areia argilo-siltosa Mistura 06 0 18 41 23 6 12 NL NP 2,673 9,39* 1,964* SM Areia argilosa com pouco silte Mistura 07 1 15 35 22 8 19 25 15 10 2,693 10,24* 2,018* SC *Energia do Proctor modificado Areia argilosa com pouco silte e com Após a etapa de preparação das misturas, iniciou-se a execução dos aterros. Cada aterro foi confeccionado em camadas com altura de lançamento do solo menor que 25cm. Foi definido que cada aterro teria 5m de comprimento por 2,2m de largura e 0,6m de altura, com exceção do aterro denominado de Mistura 06 que teria 10m de comprimento por 2,2m de largura e 0,6 m de altura; estas dimensões foram definidas em função da quantidade de solo disponível para o experimento. A área do aterro era medida e feita a marcação com piquetes, em seguida era lançado o solo e compactado com o rolo pé de carneiro vibratório de 24 toneladas (Figuras 4 e 5). O número de passadas do rolo compactador foi de 9 a 10 vezes. Figura 4. Solo sendo lançado Figura 5. Compactação do solo com rolo pé de carneiro. Depois de compactada cada camada passou pelo controle de compactação, onde foi verificada a umidade e o grau de compactação; após tais verificações a camada era liberada ou não para o lançamento de solo da próxima camada. Para este controle, foram retiradas três amostras de solo em cada camada. Quando os valores de umidade e grau de compactação da camada não se encontravam no intervalo especificado, o número de passadas do rolo compactador era acrescido e uma nova avaliação era feita. Caso os valores obtidos não se mostrassem adequados novamente, a camada era rejeitada. Todos os aterros foram executados com este controle, por camada. Nenhuma camada precisou de mais passas do rolo compactador ou foi descartada. Os aterros foram executados em série como mostra a figura 6. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6

Figura 6. Disposição dos aterros experimentais. 3.3. Ensaios de Permeabilidade Para avaliar a eficiência dos aterros experimentais na retenção de líquidos orgânicos foram feitos ensaios de permeabilidade in situ, utilizando como fluidos permeantes a água, a gasolina comercial brasileira, o óleo diesel comercial e o biodiesel. É válido ressaltar, que a gasolina brasileira utilizada era composta de uma mistura com aproximadamente 22% de álcool. Os ensaios de permeabilidade de campo foram feitos com permeâmetro Guelph. Com o objetivo de avaliar a performance dos aterros ao longo do tempo, foram realizadas duas campanhas de ensaios. A primeira campanha, foi realizada logo após a confecção dos aterros e a segunda campanha após seis meses da compactação dos aterros. A execução das campanhas de ensaios visou estudar o desempenho dos aterros experimentais a longo prazo. Nas campanhas de ensaios de permeabilidade de campo, em cada aterro experimental foram feitos 8 (oito) ensaios de permeabilidade, sendo 2 (dois) com cada líquido percolante; ao final de cada campanha foram feitos 56 ensaios; totalizando 112 ensaios ao final das campanhas. Em todos os ensaios o permeâmetro foi instalado em um furo de 20 cm de profundidade com 10 cm de diâmetro, feito com um trado manual e, em alguns casos, com trado mecânico. Em cada furo foram feitos ensaios com duas cargas hidráulicas distintas. Para a realização dos ensaios foram utilizados 3 (três) permeâmetros Guelph, sendo que um era para uso exclusivo com água e os outros apropriados para uso com líquidos orgânicos. Estes permeâmetros foram desenvolvidos no GEOAMB, conforme citado anteriormente. Após a instalação do equipamento, era colocado um papelão cobrindo o furo, a fim de minimizar possíveis efeitos de evaporação do líquido percolante (Figura 6). A permeabilidade foi obtida através da equação 1. CQ k = [1] (2πH 2 +πa 2 C+2π H α ) Na equação 1, k [L.T -1 ] é o coeficiente de permeabilidade; Q [L³T -1 ] é a vazão do regime permanente; H [L] é a altura da carga hidráulica; a [L] é o raio do orifício aberto pelo trado no solo; α é estimado inicialmente por avaliação visual in situ da macroporosidade (fissuras, formigueiros, furos de raízes, etc) e textura do solo; C é o fator de forma, pode ser obtido em função do tipo de solo ensaiado e da relação (H/a). A principal dificuldade neste método de ensaio é a escolha do valor de α adequado, pois ele tem um valor diferente dependendo do meio poroso se encontrar num processo de infiltração ou drenagem (HILLEL et al., 1972 apud LISBOA, 2006). A tabela 4 mostra valores do parâmetro α sugerido por Elrick et al. (1989), em função do tipo e característica dos solos. A equação 1 é usada para ensaios com apenas uma carga. Como foram feitos ensaios com duas cargas hidráulicas, foram calculadas a permeabilidade para cada carga individualmente e depois tirado uma média, assim foi obtida a permeabilidade para cada aterro de acordo com o 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7

líquido percolante. Os valores de permeabilidade obtidos pelo método simplificado (uma carga hidráulica) foram calculados utilizando-se os valores de α apresentados na tabela 4. α (cm -1 ) Tabela 4. Parâmetro α sugerido por Elrick et al. (1989) Tipo de Solo 0,01 Argilas compactadas (aterros, liners, sedimentos lacustres e marinhos) 0,04 Solos de textura fina, principalmente sem macroporos e fissuras 0,12 Argilas até areias finas com alta a moderada quantidade de macroporos e fissuras 0,36 Areia grossa inclui solos com macroporos e fissuras 4. EFICIENCIA DOS ATERROS EXPERIMENTAIS Os resultados de permeabilidade feitos com o permeâmetro Guelph da primeira campanha estão apresentados na tabela 5. Na tabela 6 estão os resultados da segunda campanha. As figuras 7 a 10 apresentam os valores de permeabilidade nas duas campanhas. Tabela 5. Permeabilidade dos aterros para os líquidos água, diesel, biodiesel e gasolina Primeira campanha. Líquido Permeante Água Diesel Gasolina Biodiesel Permeabilidade (cm/s) Fc 45 % 40% 37% 35% 33% 18% 27% N de ensaios Mistura 1 Mistura 2 Mistura 3 Mistura 4 Mistura 5 Mistura 6 Mistura 7 1 1,22E-07 1,43E-06 5,83E-07 2,61E-07 9,32E-08 1,72E-05 2,80E-05 2 1,83E-06 3,29E-07 6,02E-07 1,23E-07 1,52E-07 1,19E-06 3,47E-06 1 3,22E-07 3,47E-07 4,86E-07 3,22E-07 5,07E-07 9,43E-06 7,90E-07 2 5,66E-07 2,82E-07 5,09E-07 4,95E-07 2,15E-06 5,89E-06 2,69E-06 1 2,31E-06 1,09E-06 1,38E-06 2,63E-06 2,48E-06 3,22E-06 4,00E-07 2 3,00E-06 1,25E-06 3,13E-06 1,74E-06 1,57E-06 7,58E-06 1,07E-06 1 3,98E-07 8,53E-06 1,27E-07 7,17E-07 1,46E-07 5,30E-06 1,16E-06 2 2,40E-07 1,36E-07 7,46E-08 1,03E-06 9,78E-08 3,48E-06 1,27E-06 Tabela 6. Permeabilidade dos aterros para os líquidos água, diesel, biodiesel e gasolina Segunda campanha. Líquido Permeante Água Diesel Gasolina Biodiesel Permeabilidade (cm/s) Fc 45 % 40% 37% 35% 33% 18% 27% N de ensaios Mistura 1 Mistura 2 Mistura 3 Mistura 4 Mistura 5 Mistura 6 Mistura 7 1 1,48E-06 1,39E-06 9,48E-07 1,94E-06 2,41E-06 1,40E-05 1,38E-06 2 1,83E-06 1,51E-06 5,09E-07 5,46E-05 4,93E-07 1,63E-05 8,04E-07 1 1,47E-06 3,48E-07 3,56E-06 1,90E-06 2,85E-06 1,83E-05 8,22E-07 2 3,38E-06 1,85E-06 2,02E-06 1,72E-05 1,89E-06 3,37E-05 6,87E-07 1 2,40E-06 7,27E-05 1,76E-06 8,81E-05 3,32E-06 2,82E-05 3,58E-06 2 7,24E-06 2,62E-06 2,21E-07 5,56E-05 7,60E-06 6,69E-05 5,22E-06 1 2,11E-06 5,32E-06 2,37E-06 1,23E-06 4,36E-06 1,10E-05 1,12E-05 2 7,92E-06 6,99E-07 8,63E-07 4,01E-06 4,14E-06 4,79E-06 1,01E-05 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8

Figura 7. Permeabilidade a água dos aterros na primeira e segunda campanha. Figura 8. Permeabilidade ao biodiesel dos aterros na primeira e segunda campanha. Figura 9. Permeabilidade ao diesel dos aterros na primeira e segunda campanha. Figura 10. Permeabilidade a gasolina dos aterros na primeira e segunda campanha. O limite de permeabilidade máxima apresentado nas figuras de 7 a 10 refere-se a permeabilidade à água, este limite de permeabilidade é apresentado pela NBR 17.505 como adequado para garantir a segurança ambiental. No entanto, como já mencionado, a permeabilidade referente à água não se mostra adequado para avaliar a eficiência de bacias de contenção de líquidos orgânicos. Na primeira campanha, quando o líquido percolado foi a água, o desempenho dos aterros das misturas 1, 2, 3, 4 e 5 (pertencentes a faixa granulométrica proposta) foi considerado satisfatório, apresentando permeabilidade na ordem de 10-7 cm/s, fato que já era esperado por possuírem uma quantidade de argila acima de 20%. Estes aterros apresentaram valores de permeabilidade cerca de 10 vezes menores que nos aterros das misturas 6 e 7. Ao serem percolados pelo biodiesel, os aterros apresentaram desempenho similar ao desempenho quando o líquido percolado foi à água. Ao usar o diesel como líquido percolante, os aterros das misturas 1, 2, 3 e 4 apresentaram melhor desempenho, com a permeabilidade na ordem de 10-7 cm/s. Estes aterros também apresentaram valores de permeabilidade cerca de 10 vezes menor que nos aterros das misturas 5, 6 e 7. Quando o líquido percolante foi a gasolina os aterros apresentaram valores de permeabilidade na ordem de 10-6 cm/s, exceto o aterro da mistura 7, no qual o valor de permeabilidade ficou na ordem de 10-7 cm/s, sendo este bom desempenho considerado inesperado, visto que a mistura 7 não pertence a faixa granulométrica ótima. Apesar das diferenças nos valores de permeabilidade, os resultados da primeira campanha podem ser considerados todos como satisfatórios. Na segunda campanha, em função da exposição das camadas compactadas de solo às condições ambientais, a eficiência na retenção de água reduziu, a permeabilidade aumentou, ficando na ordem de 10-6 cm/s, para os aterros das misturas 1, 2, 3 e 5. Apesar de ter aumentado a permeabilidade, estes valores ainda podem ser considerados como satisfatórios, principalmente se considerarmos o tempo necessário para que o líquido percolante atinja uma profundidade de 0,6m, considerado como a espessura da camada compactada. O aterro da mistura 4 obteve valor de permeabilidade na ordem de 10-5 cm/s. Os aterros de mistura 6 e 7 mantiveram o valor de permeabilidade similar ao da primeira campanha. O desempenho dos aterros referente a retenção de água é evidenciado na figura 8. Ao analisar as tabelas e figuras apresentadas é evidente que os resultados da primeira campanha apresentam valores de permeabilidade mais baixos do que os valores obtidos na segunda campanha, em quase a totalidade dos ensaios realizados e para todos os fluidos 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9

empregados. Isso pode ter sido influenciado pela umidade do solo, pois a primeira campanha foi realizada logo após o término da construção dos aterros, quando o solo possuía altos valores de grau de saturação à água. Além disso, os ensaio foram feitos no período chuvoso, que compreende de Abril a Julho em Salvador. Já a segunda campanha foi realizada após seis meses de construção dos aterros e no período seco, após o solo ser exposto a diversos ciclos de umedecimento e secagem, o que tende a provocar o aparecimento de trincas no solo. 5. CONCLUSÕES Os resultados obtidos nesta pesquisa para avaliar o comportamento de barreiras minerais construídas com solos que atendam a faixa granulométrica proposta, resultou nas seguintes conclusões: O grau de saturação a água influenciou os valores de permeabilidade. As intempéries às quais os aterros estão expostos reduzem a eficiência dos mesmos ao longo do tempo. Ao avaliar os aterros, segundo o menor valor de permeabilidade apresentado em campo, os que possuem o teor de finos pertencentes à faixa granulométrica proposta (as misturas 1, 2, 3, 4 e 5) apresentaram desempenho satisfatório para os líquidos orgânicos, com permeabilidade média na ordem de 10-7 cm/s, para os resultados da primeira campanha e permeabilidade média na ordem de 10-6 cm/s, para os resultados da segunda campanha. Os aterros experimentais, apesar de não atenderem todos os parâmetros da faixa granulométricas propostas, apresentaram bom desempenho na contenção de líquidos orgânicos, indicando que os valores especificado na referida faixa deverão passar por ajustes. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPESB e PETROBRAS pelo fomento à pesquisa e às bolsas de pesquisa, e ao Laboratório de Geotecnia Ambiental da UFBA pelo suporte oferecido. REFERÊNCIAS ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 17505 Armazenagem de líquidos inflamáveis e combustíveis. Parte 2: Armazenamento em tanques, em vasos e em recipientes com capacidade superior a 3000 L. 2013. BAHIA. Decreto Nº 11.235 de 10 de Outubro de 2008. Aprova o Regulamento da Lei nº 10.431, de 20 de dezembro de 2006, que institui a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da Bahia [...]. 2008. Disponível em: <http://www.meioambiente.ba.gov.br/legislacao/decretos%20estaduais/meio%20ambiente- Biodiversidade/Dec11235.pdf>. Acesso em: 20/11/2013. ELRICK, D.E.; REYNOLDS, W.D. And TAN, K.A. Hydraulic conductivity measurements in the unsaturated zone using improved well analysis. Ground water monitoring review. Vol. 19, 184-193; 1989. LISBOA, Rafael Luis L. Determinação da condutividade hidráulica não saturada de solos residuais com permeâmetro Guelph e ensaios de laboratório. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Viçosa. 2006. MACHADO, S. L. Relatório Final: Proposição de faixa granulométricas ótimas para a confecção de barreiras minerais para líquidos orgânicos. 2011. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1