TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical OS DIREITOS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL E O CONTRATO DE EMPREGO. Lidiane Duarte Nogueira Advogada

Documentos relacionados
DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO DE PESSOAL NA LEI 10973/2004 (INOVAÇÃO) MARIANA LOJA TÁPIAS

PROPRIEDADE INTELECTUAL

Ferramentas de Prospecção Tecnológica Busca de Anterioridade. Foco em Patentes. pode ser melhorada. ( Deming)

I Workshop de Inovação Núcleo de Inovação Tecnológica NIT. Milton de Freitas Chagas Jr. 25/08/2016

PROPRIEDADE INTELECTUAL. Profa. Geciane Porto ?

Módulo 4.2 O regime especial de proteção dos desenhos industriais

REGULAMENTO SOBRE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO INTELECTUAL DA UNIFEI SEÇÃO PRIMEIRA DA CRIAÇÃO INTELECTUAL SEÇÃO SEGUNDA DAS DEFINIÇÕES

REDAÇÃO DE PATENTES. Parte I Revisão de Conceitos. Alexandre Lopes Lourenço Pesquisador em Propriedade Industrial Divisão de Química II INPI - DIRPA

Inovação Tecnológica

a Resolução UNIV n o 26, de 20 de junho de 2008, que criou a Agência de Inovação e Propriedade Intelectual da UEPG;

PROPRIEDADE INTELECTUAL NA UTFPR. Gilberto Branco/ Carina Rau

PROPOSTA DE EMENDA DA POLÍTICA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL DO UNIFESO

LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998

Agência USP de Inovação A Promoção e a Utilização do Conhecimento Científico em Inovação

RESOLUÇÃO UNIV N o 71 DE 1 o DE DEZEMBRO DE 2006.

ASPECTOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

PATENTE DE INVENÇÃO E PATENTE DE MODELO DE UTILIDADE

A TERCEIRIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO. * Principais Temáticas*

RESOLUÇÃO Nº 09/03-COUN

A tributação do direito de imagem

TRABALHO TEMPORÁRIO E TERCEIRIZAÇÃO. Profª Dra. Ana Amélia Mascarenhas Camargos

Visão do segurado e do empregador

P A T E N T E S 12/11/2015

Manual Registro de Programa de Computador

ÍNDICE INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL INPI PROGRAMA DE COMPUTADOR IRPC DOCUMENTOS QUE CONSTITUEM O PEDIDO

A Propriedade Intelectual

REGULAMENTA A POLÍTICA INSTITUCIONAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP)

CONTRATOS RELATIVOS À PROPRIEDADE INTELECTUAL

A tributação do atleta profissional

REGISTRO PROGRAMA DE COMPUTADOR

DIREITO CIVIL. Contratos em Espécie

Ponto 9 PROPRIEDADE INTELECTUAL

O enquadramento sindical dos empregados e empregadores no Brasil

PROPRIEDADE INTELECTUAL E DIREITO PATENTÁRIO: MOTIVOS E CONSEQUÊNCIAS DA QUEBRA DE PATENTES

INSTITUTO FEDERAL ALAGOAS DESENHO INDUSTRIAL

Resolução nº 014/CUn/2002

FACULDADE LEGALE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO MÉDICO MANUTENÇÃO DE PLANO DE SAÚDE DE EMPREGADO DEMITIDO SEM JUSTA CAUSA

PROPRIEDADE INDUSTRIAL: Uma porta para o futuro IFB. Março 2016

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica DIREITOS AUTORAIS PROPOSTA DO PODER EXECUTIVO ALTERAÇÕES AO TEXTO DA LEI Nº 9.610/1998

Direito Autoral e Ensino a distância

A importância da proteção das novas tecnologias através da Lei da Propriedade Industrial como meio para obtenção de resultados econômicos

SOBREPOSIÇÃO DE DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NO SOFTWARE

Ítalo Mateus Oliveira Barreto

DIREITO DO TRABALHO. Remuneração e Salário. Dano moral e indenização. Parte II. Prof. Cláudio Freitas

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

ABAPISUL II CURSO DE TREINAMENTO PROFISSIONAL EM PROPRIEDADE INDUSTRIAL NÍVEL BÁSICO - 1 SEMESTRE DE PORTO ALEGRE

A necessidade de inovação do mercado para manutenção da empresa e a proteção do direito intelectual

O reclamante iniciou a prestação de serviços em favor da primeira reclamada em 02/01/2012. No entanto, mesmo trabalhando sob

RESOLUÇÃO Nº 223-CONSELHO SUPERIOR, de 12 de junho de 2015.

No vigésimo aniversário da Lei da Propriedade Industrial - Lei 9.279, A reforma da legislação sobre propriedade industrial pela Lei 9.

PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE PATENTE

Boletim Extraordinário. Novo Regulamento de Intermediários da FIFA

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A AUTONOMIA PRIVADA COLETIVA NA JUSTIÇA DO TRABALHO. Guilherme Brandão Advogado

ERRATA RESOLUÇÃO ConsUni Nº 131, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2013.

Direitos Autorais algumas orientações. Diretoria de Educação a Distância 2017

DCV Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Departamento de Direito Civil Período Noturno Professor Doutor Antonio Carlos Morato

PARECER JURÍDICO COOPERATIVAS DE CRÉDITO. EMPREGADOS. NATUREZA DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA. INAPLICABILIDADE DO ART. 224 DA CLT

PROCESSO: RTOrd

O Tribunal do Trabalho da 12ª Região, pelo acórdão de seq. 01, págs. 267/274, negou provimento ao recurso do sindicato reclamante.

São Paulo, 03 de abril de Ao Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui. Prezados Senhores,

XXV Curso de Treinamento Profissional em Propriedade Industrial Nível Básico

Direito de exploração: faculdade de utilizar comercialmente a coisa protegida.

ALMEIDA GUILHERME Advogados Associados

Parecer Jurídico nº 36/2015 Interessado: CAU/DF. Assunto: Solicitação de licença sem remuneração

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O 4ª TURMA GDCCAS/CVS/NC/iap

PORTARIA N.o 003/2011. a) a importância da pesquisa financiada com recursos oriundos de programas mantidos por instituições públicas e privadas;

INSTRUÇÕES PARA SOLICITAÇÃO DE PROTEÇÃO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

Superior Tribunal de Justiça

ACÓRDÃO RO Fl. 1. DESEMBARGADORA MARIA INÊS CUNHA DORNELLES Órgão Julgador: 6ª Turma

PÓS GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO EMPRESARIAL E TRIBUTÁRIO. Aula 11 Planejamento Empresarial na Propriedade Industrial. Professor Doutor: Rogério Martir

Com a Constituição Federal de 1988, houve uma mudança na natureza da responsabilidade do empregador em casos de acidente de trabalho.

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO 2ª Vara do Trabalho de Sorocaba

PERÍODO DE DESLOCAMENTO EM VIAGENS TEMPO À DISPOSIÇÃO

RESUMO: Direito de Propriedade Industrial Trechos do Livro: Direito Empresarial Esquematizado + Anotações de aula do Prof.

PROCESSO Nº TST-AIRR A C Ó R D Ã O (2ª Turma) GMDMA/MCL

Reforma trabalhista: retrocesso. Marlise Nunes Bauler OAB/RS Ana Cristina Costamilan OAB/RS

CARTILHA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES E DOENÇAS DO TRABALHO

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Acórdão nº 3.395/2013 Segunda Câmara

BuscaLegis.ccj.ufsc.br. A transação na reclamação trabalhista. José Celso Martins*

ASPECTOS RELEVANTES DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADA

BOLETIM SINDICAL 04 DE TEMA: Acordo coletivo de trabalho. ENVIADO EM 26 de maio de 2009

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA SISTEMA DE NEGOCIAÇÃO E CONCILIAÇÃO. Prevalência da negociação coletiva apenas para ampliação de direitos

TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS. Autor: Sidnei Di Bacco/Advogado da União

Proposta de Projeto de Lei nº _, de de. (Projeto de Lei de Inovação) Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O 3ª Turma GMAAB/pc/ct/dao

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PATENTE: COMO PROTEGER

Direito de Autor DCV 0551

PLANO DE SAÚDE. (após extinção do Contrato de Trabalho) DR. THIAGO TRINDADE ABREU DA SILVA MENEGALDO

INTERFACE ENTRE ANTITRUSTE E PROPRIEDADE INDUSTRIAL: CADE E INPI CELEBRAM ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (6ª Turma) GMACC/amt/gsa/mrl/m

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª REGIÃO

DIREITO AUTORAL EM ARQUITETURA E URBANISMO. Lei n 9.610/98 Lei n /10

20 anos da Lei da Propriedade Industrial: Balanço e Próximos Passos: Direito da Concorrência e Propriedade Industrial no Brasil

PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR E A LIBERDADE DE CONTRATAR Cesar Luiz Pasold Júnior

OS DIREITOS DOS TRABALHADORES NA CONSTITUIÇÃO- ARTIGO 7º

Propriedade Intelectual

Transcrição:

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical OS DIREITOS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL E O CONTRATO DE EMPREGO Lidiane Duarte Nogueira Advogada Guilherme Köpfer C. de Souza Advogado Direitos intelectuais ou direitos derivados da propriedade intelectual são os que se relacionam à autoria e utilização de obra decorrente da produção mental da pessoa. Tais direitos são, hoje, universalmente consagrados, como se vê do artigo 27.2 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: Art. 27.2. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 também incorporou tal consagração, estabelecendo diversas normas sobre o tema: Art. 5º (...) XXVII aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. XXIX a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. São duas, portanto, as formas de proteção da criação intelectual em nosso ordenamento jurídico: 1) Direito Autoral (Lei nº 9.610/98) e 2) Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96). No Direito Autoral são protegidas as obras de caráter puramente artístico, como, por exemplo, textos de obras literárias, pinturas, gravuras, esculturas, artesanato, etc. (art. 7º da Lei nº 9.610/98).

54 Merece proteção, também, no âmbito desse ramo do Direito, os direitos intelectuais relativos à criação e utilização de programa de computador (software) (art. 2º da Lei nº 9.609/98). A Propriedade Industrial, por sua vez, protege a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial; e o modelo de utilidade, definido pela Lei nº 9.279/96 como o objeto de uso prático, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação (art. 9º). No que toca às invenções do empregado, a Lei nº 9.279/96 dispõe que cabe ao contrato de trabalho definir a titularidade da patente (art. 6º, 2º). Assim, tanto empregador como empregado, verdadeiro autor da obra, podem ser proprietários da invenção ou modelo de utilidade, dependendo do que estabelecer o contrato de trabalho. Entretanto, apesar de deixar a matéria titularidade da patente ao livre regramento das partes, a Lei nº 9.279/96 prevê hipóteses em que a propriedade do invento pertencerá ao empregador, ao empregado ou a ambos hipóteses essas aplicáveis aos casos em que o contrato de trabalho for omisso. Vejamos: 1) Trabalho intelectual como objeto do contrato de trabalho Quando o contrato de trabalho tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, a invenção ou o modelo de utilidade desenvolvido pelo empregado pertencerá exclusivamente ao empregador (art. 88, Lei nº 9.279/96). Nesse sentido, veja-se, a propósito, recente decisão proferida pela 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, noticiada no Suplemento LTr nº 32/2008 (fls. 254/255): TRABALHO INTELECTUAL: DESIGNER GRÁFICO E WEB DESIGNER: RE- SULTADO DO TRABALHO DIVERSO DA DEFINIÇÃO DE INVENÇÃO: ME- RO OBJETO DO CONTRATO DE TRABALHO: RETRIBUIÇÃO PELO SERVI- ÇO PRESTADO: NATUREZA CONTRAPRESTATIVA DO SALÁRIO: INTELI- GÊNCIA DA LEI Nº 9.279/1996. O trabalho intelectual exige cultura científica ou artística de quem os presta, mas é passível de contratação em relação empregatícia, que não acarreta em resultado, necessariamente, inventos ou modelos de utilidade, tampouco desenho industrial ou marcas ou qualquer outra forma de propriedade industrial protegida pela Lei nº 9.279/1996. A invenção exige a criação de objeto que observe os requisitos da novidade, para aplicação industrial, assim imprescindível produto novo ou resultado novo. Ademais, quando contratado o obreiro expressamente para a criação de modelo de utilidade ou invenção, o salário já remunera a Trabalhos Técnicos

55 criação e o produto novo se agrega ao patrimônio do empregador, exceto se houver expressa ressalva quanto à autoria ou quanto a resultados decorrentes do uso da idéia ou do produto novo, conforme decorre do art. 88 da Lei nº 9.276/1996. No caso, o empregado apenas dirigia sua criatividade dentro das técnicas já conhecidas e com resultados esperados como folders, convites, catálogos, informativos e cartazes ilustrados: inexistência de invenção ou marca criada: inaplicabilidade da Lei nº 9.279/1996: tarefas compreendidas no trabalho contratado e remuneradas pelo salário ajustado, inexistindo respaldo jurídico à imposição de obrigação de retribuição adicional pelo uso da obra após a rescisão contratual. Recurso obreiro parcialmente conhecido e desprovido (TRT 10ª Reg. RO 00056-2007-007-10-00.9 (Ac. 2ª Turma) Rel. Juiz Alexandre Nery de Oliveira DJU 23.05.08, p. 442) Vale destacar, neste ponto, que se consideram desenvolvidos na vigência do contrato de trabalho a invenção ou o modelo de utilidade cuja patente seja requerida pelo empregado até 1 (um) ano após o término do vínculo empregatício ( 2º do art. 88). Note-se, porém, que, afinado com o 4º do artigo 218 da Constituição Federal, o artigo 89 da Lei nº 9.279/96 faculta ao empregador (titular da patente) conceder ao empregado (autor do invento) participação nos ganhos econômicos resultantes da exploração da patente, sem que tal participação se incorpore ao salário do empregado: Constituição Federal Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. (...) 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. [Grifamos.] Lei nº 9.279/96 Art. 89. O empregador, titular da patente, poderá conceder ao empregado, autor de invento ou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econômicos resultantes da exploração da patente, mediante negociação com o interessado ou conforme disposto em norma da empresa. Trabalhos Técnicos

56 Parágrafo único. A participação referida neste artigo não se incorpora, a qualquer título, ao salário do empregado. (Grifamos.) Apesar de a Lei nº 9.279/96 utilizar o termo poderá, o que nos remete, mediante interpretação literal, a uma faculdade conferida ao empregador, entende João de Lima Teixeira Filho, com base no 4º do artigo 218 da Constituição Federal. ser indispensável que o empregador assegure ao autor da inovação uma participação a ser avençada, que tome por base o ganho que o empregador passou a ter com o produto da criatividade do seu trabalhador. (Instituições de Direito do Trabalho, 18ª ed., São Paulo: LTr, 1999, p. 265.) O mais apropriado seria que a lei, nos termos do que estabelece o dispositivo constitucional, apoiasse, por meio de benefícios fiscais, por exemplo, as empresas que investissem permanentemente em pesquisa científica e que garantissem aos seus empregados participações pelas invenções ou aperfeiçoamentos produzidos. 2) Trabalho intelectual sem relação com o contrato de trabalho Desde que a invenção não esteja diretamente relacionada com o contrato de trabalho e que não sejam utilizados quaisquer recursos fornecidos pelo empregador, a titularidade da patente pertencerá exclusivamente ao empregado (art. 6º, caput, c/c art. 90, Lei nº 9.279/96). Nesse caso, o empregado é o autor do invento e o titular da patente, podendo comercializar livremente sua propriedade industrial, inclusive com o seu próprio empregador. 3) Trabalho intelectual favorecido por circunstâncias contratuais. Por fim, na hipótese de a invenção ou o modelo de utilidade resultar de contribuição pessoal do empregado e de recursos fornecidos pelo empregador, a titularidade da patente pertencerá tanto ao empregado quanto ao empregador, em partes iguais (art. 91, Lei nº 9.279/96). Nesse caso, a propriedade é comum, sendo que, no silêncio contratual, ao empregador cabe a exclusividade na exploração e licença do modelo, reservando-se ao empregado a justa remuneração ( 2º do art. 91, Lei nº 9.279/96). Sobre o assunto, vale, aqui, a transcrição de acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, destacando que, na hipótese dos inventos ou modelos de utili- Trabalhos Técnicos

57 dade não decorrerem do objeto do contrato de trabalho, será devida indenização ao trabalhador: Inventos do empregado Aperfeiçoamento de máquinas da reclamada, com evidente ganho de produção e redução de custos Hipótese que se enquadra como modelo de utilidade, desenvolvido à míngua de previsão do contrato de trabalho, mas com recursos da empregadora Direito do empregado a uma parte nos ganhos da reclamada, na espécie, representados pela economia que obteve como maquinário desenvolvido por aquele Admissibilidade Aplicação do art. 218, 4º, da CF/88, e da Lei nº 9.279/96, art. 91, 2º, afora do contrato Indenização arbitrada com base na economia que a empresa desfrutou, em tese, com a dispensa de empregados, desde a implantação dos modelos e até a rescisão do reclamante Recurso provido para ampliar o valor indenizatório (TRT 2ª Reg. RO 03250200138202005 (Ac. 6ª Turma nº 20071045710) Relª Ivani Contini Bramente DOE/TRT 2ª Reg. 14.12.07, p. 232). CONCLUSÃO Em face do exposto, no que toca aos direitos da propriedade industrial, notadamente das invenções do empregado, com base no disposto na Lei nº 9.279/96, pode-se concluir que: 1) Na hipótese de o objeto do contrato de emprego consistir em trabalho intelectual (pesquisa ou atividade inventiva), a invenção desenvolvida pelo empregado pertencerá exclusivamente ao empregador, ressalvado o prazo para requerimento de patente pelo empregado até um ano após o fim do contrato de trabalho (art. 88); 2) Se o trabalho intelectual não constituir objeto do contrato de emprego e o empregado não utilizar quaisquer dos recursos oferecidos pelo empregador em sua invenção, a ele caberá exclusivamente a titularidade da patente (art. 6º, caput, c/c 90); e 3) Por fim, caso o trabalho intelectual não constitua objeto do contrato de emprego e a invenção resultar do favorecimento das circunstâncias contratuais, inclusive pela utilização de recursos fornecidos pelo empregador, a sua propriedade é comum, salientando que, no caso de silêncio contratual, ao empregador caberá a exclusividade na exploração e licença do modelo, reservada ao empregado a justa remuneração (art. 91). Trabalhos Técnicos