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Transcrição:

REMHU - Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana ISSN: 1980-8585 remhu@csem.org.br Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios Brasil Dutra, Delia MULHERES MIGRANTES PERUANAS EM BRASÍLIA. O trabalho doméstico e a produção do espaço na cidade. Tese de doutorado em sociologia. Universidade de Brasília. Orientador Prof. Dr. Brasilmar Ferreira Nunes (UFF/UnB). 2012. REMHU - Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, vol. 20, núm. 39, juliodiciembre, 2012, pp. 299-304 Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios Brasília, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=407042016017 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Resenhas, Teses e Dissertações MULHERES MIGRANTES PERUANAS EM BRASÍLIA. O trabalho doméstico e a produção do espaço na cidade. Tese de doutorado em sociologia. Universidade de Brasília. Orientador Prof. Dr. Brasilmar Ferreira Nunes (UFF/UnB). 2012. Delia Dutra* A especificidade da sociologia é decodificar os mecanismos que estruturam os vínculos sociais, ou seja, como se dão as interações entre indivíduos e grupos. Essa foi a perspectiva pela qual construímos nossa problemática de tese em sociologia, considerando as experiências migratórias de mulheres que estão fora do seu país de origem. Especificamente buscamos compreender como dez mulheres migrantes, peruanas, trabalhadoras domésticas em Brasília, vivenciam sua experiência migratória na cidade. A análise é desenvolvida em uma perspectiva interacionista facultando compreender os processos de integração social dessas migrantes numa cidade, Brasília, com características históricas e urbanas particulares no Brasil e na região. A migração se apresenta como um meio para mudar de vida através da chance que a divisão sexual do trabalho lhes oferece para se empregar no setor doméstico. As entrevistas em profundidade possibilitam refletir sobre * Doutora em sociologia (UnB). Pesquisadora do CSEM. Brasília/Brasil. Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012 299

Resenhas, Teses e Dissertações como explicam a sua integração à cidade, o dia-a-dia no trabalho, o sentido de estarem afetadas pelas suas histórias passadas e pelos projetos futuros. Nesse sentido, analisamos como produzem o seu espaço de vida em migração e que denominamos de espaço psicofísico. Podemos estabelecer, nessa condição de migração a trabalho, uma variedade de elementos que concorrem para a produção desse espaço: as motivações individuais, as relações familiares, a origem social e cultural, o grupo de referência, o status da profissão, a experiência urbana no presente e passado e as relações sociais de gênero dentro e fora do núcleo familiar. Identificamos um forte vazio de honra e falta de estima social associado pelas próprias migrantes à profissão de trabalhadora doméstica, assim como também muita dificuldade em atingir a mobilidade social e profissional almejada. Apesar disso, as migrantes dão continuidade aos seus projetos e sonhos alimentando, dessa forma, o trabalho diário e as estratégias de sobrevivência num contexto onde o sentimento de isolamento está presente, assim como a sensação de ter rompido com uma forma de vida que por momentos desejam recuperar, mas, também, às vezes, esquecer. Palavras-chaves: Mulheres migrantes, peruanas, trabalhadoras domésticas, Brasília, espaço psicofísico. 300 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012

JUNTOS. Os rituais, os prazeres e a política da cooperação. SENNETT, Richard. Rio de Janeiro: RECORD, 2012, 377p. Terezinha L. Santin* O livro de Richard Sennet, Juntos: os Rituais, os Prazeres e a Política da Cooperação, é o segundo volume do Projeto Homo Faber, trilogia que tem no centro a ideia do homem como artífice de si mesmo. O primeiro livro desta coleção se chama O Artífice e o terceiro tratará o tema da cidade, possivelmente com o titulo de A construção da cidade. O livro está organizado em três partes que, em termos gerais, visam aprofundar a natureza da cooperação, que está cada vez mais débil, e os caminhos para reforçá-la. Cada parte contém três capítulos. A primeira desenvolve o tema da cooperação, sua relação com a competição e, finalmente, como a cooperação tem sido moldada historicamente. Na segunda parte, de natureza sociológica, o autor discorre sobre o enfraquecimento da cooperação no contexto contemporâneo, trabalhando com relatos dos desajustes sociais. Finalmente, a terceira parte aborda as estratégias e caminhos de fortalecimento da cooperação. Juntos aborda aspectos multidisciplinares, trabalhando o tema da cooperação a partir de diferentes enfoques nas áreas da psicologia, sociologia, antropologia, economia e direito, fundamentando seus argumentos com vários autores de diferentes áreas teóricas. Sennett define a cooperação habilidosa como um ofício que tem o seu fundamento no aprendizado de escutar o outro com atenção e na capacidade de dialogar, em oposição ao debater ou discutir. Caracteriza a cooperação * Bacharel em sociologia, mestranda no CEPPAC/UnB, diretora do CSEM. Brasília/Brasil. Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012 301

Resenhas, Teses e Dissertações como o lubrificante da máquina de concretização das coisas, como partilha que permite compensar as carências individuais. Portanto, a cooperação é intrínseca ao ser humano, mas precisa ser desenvolvida e aprofundada. Ela vai além da questão ética em relação ao outro, ao diferente, como ocorre na capacidade de escuta e recepção. Outro elemento de destaque do livro é que, num contexto econômico em que a artesania e a cooperação estão ameaçadas, o desafio de conviver com a diferença torna-se fundamental, seja ela racial, étnica, religiosa ou econômica. Sennett entende que a prática da cooperação se torna fundamental para a prosperidade da sociedade. Neste contexto, o autor cita também o desafio da homogeneização cultural: todo mundo é basicamente igual. No entanto, essa homogeneização não gera dinãmicas cooperativas. De fato, a sociedade moderna vai desabilitando as pessoas da prática de cooperação - um dos argumentos do texto é que a cooperação é uma habilidade. Outros pontos significativos são as questões do ritual e da solidariedade. O ritual faz com que a cooperação expressiva funcione na religião, no trabalho, na política e na vida comunitária. A solidariedade é gerada pela cooperação e, ao mesmo tempo, gera vínculos sociais no cotidiano e na organização política de forma que cooperação e solidariedade vão se complexificando na medida que se aprofundam a relação e as habilidades. Por fim, Sennett considera também que as relações e condições espaciais têm importância enorme no modo por meio das quais estranhos (ou pessoas diferentes umas das outras) se relacionam nas grandes cidades. O autor anuncia o terceiro volume da trilogia, ainda em elaboração, que produzirá ideias de valor sobre como as cidades podem ser mais bem construídas visando a qualidade de vida das pessoas. 302 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012

ENTRE DOIS MUNDOS: a Igreja no pensar e no agir de Giovanni Battista Scalabrini BAGGIO, Marileda. Brasília: Brasília 2011, 412. Marileda Baggio* Como Irmã Scalabriniana sempre teve grande admiração pela pessoa e obra de João Batista Scalabrini. Sentia no entanto que precisava saber mais a seu respeito, interesse que veio desde a formação inicial. Conhecia dele alguns pensamentos fortes, comoventes, mas os sentia soltos, sem contextualização. Além disso, embora tenhamos excelentes pesquisas no que tange ao contexto histórico, social e migratório de sua época, há pouco material sobre sua inserção e influência na Igreja de seu tempo. O que ainda não se havia feito era um trabalho sistemático sobre a evolução de seu pensamento na Igreja, embora muitos trabalhos tenham sido elaborados, sobretudo de cunho histórico, como por exemplo a obra de Mario Francesconi, Giovanni Battista Scalabrini, Città Nuova, 1985. A obra Entre dois mundos: a Igreja no pensar e no agir de Giovanni Battista Scalabrini, se desenvolve ancorada nos pressupostos históricos (primeira parte) e teológico/ eclesiológicos (segunda parte) de sua época. A originalidade do trabalho foge à regra da maioria das pesquisas acadêmicas, em que se toma um autor de grande relevo e se analisa seu pensamento. Scalabrini nunca foi um grande pensador, nem tampouco teólogo. A pesquisa funda-se em seus escritos, que não foram tantos. Mas, se não somam pela quantidade, somam pela qualidade e grandeza profética de suas palavras, testemunhos e ações. No capítulo primeiro foi necessário contextualizar a vida do autor a fim de compreender a história de seu tempo. No capítulo segundo são * Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas, doutora em Teologia Sistemática e em Espiritualidade. Porto Alegre/Brasil. Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012 303

Resenhas, Teses e Dissertações tratadas a realidade e a eclesiologia do Vaticano I, a vida dos papas (Pio IX, Leão XIII e Pio X), com as suas encíclicas e com a análise dos respectivos pontificados. Percorrer as principais causas e consequências das migrações é a tarefa do capítulo terceiro que nos oferece um panorama das situações e explica o motivo pelo qual Scalabrini trabalhou neste âmbito, clareando os pressupostos de sua ação eclesial e pastoral. Esta é, em última análise, o objeto principal da leitura eclesiológica, teológica e pastoral da sua vida de bispo, incapaz de se calar diante de uma sociedade em vias de desenvolvimento e em progressiva ruptura com a Igreja, seguida pela questão migratória provocada pela crise política e econômica. A figura de Scalabrini é retomada na segunda parte da dissertação dedicada aos pressupostos teológicos e eclesiológicos, onde a análise de seus escritos mostra a evolução de seu pensamento. É assim que o quarto capítulo esclarece esta evolução partindo da análise dos seus escritos, sobretudo nas Cartas Pastorais ao longo de seus quase trinta anos de episcopado. O quinto capítulo coloca em evidência os elementos eclesiológicos que se encontram nos escritos de Scalabrini. De seus escritos pastorais se origina uma eclesiologia concreta que, ligada aos fatos da história, coloca ao centro o próprio Mistério da Igreja. Diante dos vários modelos eclesiológicos de seu tempo, ele soube interpretar a Igreja como Mãe e Mestra que acolhe filhos e filhas em seu seio. Nota-se que seu pensamento, em contínua evolução, abriu novos caminhos à Igreja imersa em grandes dificuldades pela contingência da época. Toda sua vivência eclesial, desde o início de sua vida de sacerdote até o seu agir como pastor mostra uma prática pastoral, cujo destinatário é sempre o outro. É assim que ele tornou dinâmica a própria Igreja Local. A Igreja, então, inserida nesta realidade, oferece a possibilidade de interpretar uma eclesiologia em contexto que nos é apresentada no sexto capítulo: Onde está o povo que sofre a chora, ali está a Igreja. Esta afirmação por si oferece ao leitor a compreensão da eclesiologia scalabriniana, que evidencia a figura de uma Igreja, aperta às necessidades e ao grito dos próprios filhos. A realidade das migrações relida sob o prisma teológico, eclesiológico e espiritual, enfatiza a eclesiologia derivante da ação de Scalabrini na Igreja, capaz de unir a Igreja Universal e Igreja Local em mútua relação com profunda sinergia. Enfim, o livro mostra esse dinamismo de Scalabrini na Igreja de seu tempo. Ele foi capaz de romper com uma prática pastoral da passividade e do medo. Soube escutar a voz do Evangelho e a voz da realidade e tomou iniciativas que, paulatinamente, foram mudando o agir da Igreja com a passagem de uma prática jurídico-institucional a uma pastoral-missionária. 304 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 299-304, jul./dez. 2012