METODOLOGIA PARTICIPATIVA PARA LANÇAMENTO DE CULTIVARES NO CERRADO BRASILEIRO Eleusio Curvelo Freire (Embrapa Algodão / eleusio.fco@terra.com.br), Camilo de Lelis Morello (Embrapa Algodão), Fabio Akiyoshi Suinaga (Embrapa Algodão), Édio Brunetta (Grupo Itaquerê), Patrícia Brunetta (Grupo Itaquerê), João Luis da Silva Filho (Embrapa Algodão), Murilo Barros Pedrosa (Fundação BA). RESUMO - Neste trabalho é descrita a nova metodologia utilizada pela Embrapa Algodão para lançamento de cultivares de algodão no cerrado do Mato Grosso. A metodologia descrita possibilita que os resultados dos ensaios finais e VCU sejam comparados com os resultados obtidos em parcelões conduzidos em áreas comerciais, aplicando-se posteriormente a metodologia de ranqueamento definida pela Embrapa, para a escolha de cultivares a serem lançadas, como resultado de uma decisão conjunta. A nova metodologia de avaliação e lançamento de cultivares de algodão, de forma participativa envolvendo melhoristas, consultores técnicos e empresários sementeiros do cerrado do Mato Grosso, possibilita maior rigor nas avaliações e divisão de responsabilidades entre os componentes da cadeia produtiva do algodão. Foi utilizada na safra 2003/04, resultando na decisão de lançamento da cultivar BRS ARAÇÁ para o cerrado do mato Grosso. Palavras-chave: algodão, metodologia, variedades. PARTICIPATIVE METHODOLOGY TO EVALUATE NEW POTENTIAL VARIETIES FOR MIDWEST REGION OF BRAZIL ABSTRACT It was reported in this research a methodology used by Embrapa Cotton to evaluate new potential varieties in the Midwest region of Brazil. This method can be used to compare data from final trials with results collected in farms. Combining these two sources of information with this methodology, it is possible to rank the potential lines and choose the new variety. This method allow cotton farmers, consultants and breeders to choose best genotypes in a participative approach. BRS ARAÇÁ, a variety adapted to Mato Grosso State conditions, is an example of usefulness of this new method in order to decide which line should be trade. Key words: cotton, methodology, varieties
INTRODUÇÃO As grandes áreas de algodão cultivadas no cerrado por produtores empresariais, bem como a grande infra-estrutura de produção disponível, possibilita que em prazos curtos uma cultivar lançada possa ser rapidamente utilizada em grandes áreas. Porém, sempre foi demandado pelos produtores que além das parcelas experimentais usadas pelos pesquisadores em seus ensaios de avaliação de cultivares, fosse usada também uma metodologia mais participativa, em que os produtores empresariais pudessem avaliar as vantagens da adoção de uma nova cultivar em áreas experimentais com tamanho mínimo que possibilitasse uma avaliação de seu desempenho comercial em nível de lavoura, seu rendimento na algodoeira, bem como o parecer da industria têxtil com relação a qualidade de fibra e fio obtida com a nova cultivar (FREIRE e SUINAGA, 2004). Neste trabalho é descrita a nova metodologia utilizada pela Embrapa Algodão para lançamento de cultivares de algodão no cerrado do Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia normal utilizada para a obtenção de cultivares de algodão no cerrado do Brasil, envolve a obtenção de população com variabilidade, através de cruzamentos bi-parentais ou múltiplos, seguido da seleção de plantas nas gerações F2 a F6, para estudo da progênies individuais (FREIRE e COSTA,1999; FUZATTO,1999).. As progênies são autofecundadas no primeiro ano da seleção, sendo as sementes autofecundadas usadas para a implantação de campos de sementes genéticas, enquanto que as sementes não-autofecundadas são usadas para avaliações por 3 a 4 anos, antes da inclusão da cultivar nos ensaios Finais e de VCU, para decisão final quanto a seu lançamento comercial. Na nova metodologia, as linhagens incluídas nos ensaios finais e VCU, devem ter a disponibilidade de 25 sacas de sementes deslintadas, a serem usadas metade em parcelões, implantados em 5-6 regiões produtoras do Estado de Mato Grosso, enquanto que a outra metade será usada para formação de campos de sementes pré-básicas, a serem usados na hipótese do lançamento da nova cultivar. Os parcelões serão constituídos por parcelas de 3 há de cada linhagem a ser comparada com as cultivares comerciais disponíveis no mercado. Cada parcela será suficiente para a produção de um fardão de 10 t a ser colhido com colheitadeiras comerciais, pesado na balança da algodoeira e beneficiado em separado para obter-se o rendimento de fibras comercial. Em cada parcelão serão efetuadas visitas nas fases de frutificação para avaliação por pesquisadores, consultores técnicos e empresários, quanto aos aspectos de uniformidade, resistência a doenças e pragas, precocidade e porte. Por ocasião das colheitas é efetuada nova visita para avaliação pela mesma equipe da produtividade, acamamento, aderência da fibra, escolha visual da melhor cultivar pelos especialistas. Após a colheita mecanizada é estimada as perdas na colheita e por apodrecimento. Após a tabulação de todos os dados a equipe de avaliadores é novamente reunida para análise de todos os resultados obtidos, incluindo os dos ensaios finais e VCU, resultados obtidos nos parcelões e aplica-se a metodologia de ranqueamento definida pela Embrapa para a escolha de cultivares a serem lançadas, tomando-se ao final uma decisão conjunta pelos melhoristas, consultores técnicos e empresários rurais sobre qual cultivar deverá ser lançada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO O grupo Itaquerê foi o primeiro a usar esta metodologia, para a escolha de cultivares a serem incluídas em seu portifolio de plantio ou de produção de sementes a serem comercializadas. Posteriormente a Embrapa modificou a metodologia, ampliando-a para avaliações em várias regiões do Estado e, possibilitando que mais pesquisadores, consultores e empresários participassem das avaliações. Na safra 2003/04 esta metodologia foi utilizada no Mato Grosso, usando ensaios finais implantados em 8 localidades do Estado e parcelões distribuídos em 4 regiões do Estado (Primavera do Leste, Novo São Joaquim, Campo Verde e Serra da Petrovina). Os resultados obtidos nos parcelões conduzidos na Faz. Itaquerê município de Novo São Joaquim, estão apresentados na Tabela 1, enquanto que os resultados do ranqueamento final, usando a metodologia da Embrapa constam da Tabela 2. Como ocorreu uma concordância nos resultados obtidos nos ensaios finais e VCU conduzidos pela Embrapa, onde foram avaliadas as características agronômicas, tecnologicas de fibras e de resistência a doenças, e nos resultados obtidos nos parcelões e no ranqueamento, tomou-se a decisão conjunta de lançamento da linhagem CNPA CO 98-6399 como nova cultivar comercial de algodão para o Mato Grosso, com a denominação, também definida conjuntamente de BRS ARAÇÁ. Pela metodologia proposta, já existia um campo de sementes pré-básica de 15 há da cultivar, que gerou sementes suficientes para abastecimento dos produtores de sementes licenciados pela Embrapa, bem como para fornecimento de 20 sacas para cada produtor de algodão comercial, para uso e conhecimento da nova cultivar, na safra 2004/05. Tabela 1. Produtividade e rendimento de fibra dos materiais avaliados em parcelões na Faz. Itaquere Safra 2003/04. Relação dos materiais por ordem de produção FARDÃO Variedade Nº Linhas Área há Plantio PESO LIQUIDO PRALG CAROÇO @/HA RENDIMENTO % 24. FMX - 977 25 Linhas 1,51 13/12/2002 5.635,60 249,22 39,86 9. ITA 90 II 25 Linhas 1,76 13/12/2002 6.585,27 250,15 38,10 23. FMX - 966 25 Linhas 1,62 13/12/2002 6.169,62 253,54 39,26 20. CD - 407 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.005,69 266,12 38,80 25. IAC - 24 25 Linhas 1,51 13/12/2002 6.034,08 266,85 37,50 10. 97-873 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.076,16 268,80 38,75 18. ACALA - 90 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.081,00 268,98 40,83 13. 99-15686 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.090,72 269,35 38,01 8. JATOBÁ 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.113,92 270,23 38,19 7. SUCUPIRA 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.213,82 274,03 36,83 21. CD - 2239 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.308,40 277,62 38,00
22. CD - 9832 25 Linhas 1,62 13/12/2002 6.788,34 278,97 38,02 6. CEDRO 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.405,20 281,30 40,65 15. PEROBÁ 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.561,94 287,25 37,09 12. 99-11612 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.585,40 288,14 39,29 5. IPÊ 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.598,07 288,63 38,52 11. 99-11849 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.643,60 290,36 38,66 3. DESTAK 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.697,32 292,40 39,64 1. MÁKINA 25 Linhas 1,73 13/12/2002 7.665,64 294,97 40,54 14. 98-302 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.776,00 295,38 38,95 16. 98-6320 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.824,60 297,23 38,77 2. FÁBRIKA 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.878,00 299,26 39,46 4. ST 474 25 Linhas 1,76 13/12/2002 7.964,16 302,53 41,72 19. CD - 406 25 Linhas 1,76 13/12/2002 8.214,66 312,05 39,59 17. 98-6399 25 Linhas 1,76 13/12/2002 8.453,25 321,11 37,37 Tabela 2. Resultados do ranqueamento e características principais das cultivares disponíveis no mercado do Mato Grosso, na safra 2003/04. CULTIVAR RANQ. CARACTERISTICA* POSIÇÃO 6399 766 Precoce,RV,RMD,PB 1o. 6320 760 Precoce,RV,RMD,PB 1o. 11612 743 Tardio,RV,RMD,PA 2o. 302 735 Médio,RV,RMD,PM 2o. FM 966 713 Precoce,SV,PB 3o. 11849 699 Tardio, MRV,PA 4o. CD 406 687 Precoce,MRV,PB 4o. Jatobá 660 Tardio, RV,RMD,PA 5o. DPOpal 659 Médio,RV,SRAL,PM 5o. Peroba 655 Médio, MRV,RMD,PM 5o. Cedro 641 Médio,RV,RMD,PA 6o. DP AC 90 619 Tardio,SV,PA 7o. Fabrika 612 Médio, SV, PM 7o. Makina 600 Precoce, SV,SBac, PB 8o. - RV resistente a viroses; RMD resistencia multipla a doenças; PB porte baixo; RMV medianamente resistente a viroses; PA porte alto; SV sensível a viroses
CONCLUSÃO A nova metodologia de avaliação e lançamento de cultivares de algodão de forma participativa, envolvendo melhoristas, consultores técnicos e empresários sementeiros do cerrado do Mato Grosso, possibilita maior rigor nas avaliações e divisão de responsabilidades entre os componentes da cadeia produtiva do algodão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUZATTO, M. G. Melhoramento Genético do Algodoeiro. In: CIA, E. et al. (Ed.) Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, 1999. p.15-32 FREIRE, E. C.; COSTA, J. N da. Objetivos e métodos utilizados nos programas de melhoramento do algodão no Brasil. In: BELTRÃO, N. E. de M. (Ed.). O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. p. 272-293. FREIRE, E. C.; SUINAGA, F. A. Relatório final do projeto: Melhoramento do Algodoeiro para as Condições de Cerrado e Agricultura Familiar do Mato Grosso. Primavera do Leste: Embrapa/Fundação Centro Oeste, 2004.