Balanço Hídrico e Produtividade da Cana-de-açúcar em Cultivo de Sequeiro Anderson R. A. Gomes*, Leopoldo A. Sá*, Rodollpho A. S. Lima*, Adriano B. Moura*, Fellipe J. A. Oliveira*, Artur V. V. S. Maia*, Iêdo Teodoro**, José L. Souza**, Geraldo V. S. Barbosa**, Guilherme B. Lyra**. * Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Alagoas. anderson_ravanny@hotmail.com **Professor da Universidade Federal de Alagoas. 1 - ABSTRACT: Aiming to evaluate the water balance and agricultural productivity of eight varieties of sugar cane in rainfed crop, an experiment was conducted in the Rio Largo AL region. The water balance of the crop was done by Thornthwaite & Mather method (1955). Th e varieties used were: RB931003, RB863129, RB941541, RB971755, RB92579, RB93509, RB72454 and RB867515. During the crop cycle rained 1,935 mm and the crop evapotranspiration was 1,785 mm. However, due the bad distribution of rainfall, there was a water deficit of 721 mm and 871 mm of water excess. The average agricultural productivity was 78 t ha -1. Being that the varieties RB92579, RB93509 and RB867515 produced 99, 98 and 94 t ha -1, respectively. The water deficit at the beginning of the crop cycle affected negatively the crop yield and the varieties with the best productivity were the RB92579, RB867515 and RB93509. KEY WORDS: evapotranspiration, variety, Saccharum offinarum L. 2 - INTRODUÇÃO A produção mundial de cana-de-açúcar totaliza aproximadamente 1,5 bilhão de toneladas por ano e está localizada predominantemente na faixa tropical do planeta, nos países em desenvolvimento da América Latina, África e do Sudeste Asiático. O Brasil, líder mundial na produção de cana-de-açúcar, na safra 2008/2009 produziu cerca de 569 milhões de toneladas. Desse total cerca de 90% foi produzido na região Centro-Sul e 10% na região Nordeste (UNICA, 2010). A variabilidade e má distribuição da precipitação pluvial são as principais causas de prejuízos para a cultura da cana-de-açúcar, principalmente pela redução de produtividade e mortalidade das soqueiras que obriga aos agricultores renovarem os canaviais mais precocemente. Isso acontece porque a maior parte dos cultivos brasileiros de cana-de-açúcar é feito em regime de sequeiro. E, nesse regime, o crescimento e desenvolvimento das plantas cultivadas dependem inevitavelmente da quantidade e distribuição da chuva durante o ciclo de produção (Silva et al., 2002; Dalri et al., 2008 e Farias et al., 2008). Na zona canavieira alagoana, a precipitação pluvial média é 1.937 mm, sendo que desse total 1.397,9 mm (72,15%) ocorre de Abril a Agosto e 539,6 mm (27,85%) precipita entre Setembro e Março (SINDAÇUCAR-AL 2009). Isso caracteriza a má distribuição das chuvas nessa região e alta probabilidade de ocorrência de períodos com grandes deficiências hídricas. A necessidade hídrica da cultura da cana-de-açúcar nos tabuleiros costeiros de Alagoas gira em torno de 4,9 mm dia -1, total 1.797 mm por ano (Teodoro et. al., 2009). Portanto, as informações da água disponível no perfil do solo são bastante úteis, tanto para tomadas de decisões imediatas como para o plano de manejo dos cultivos agrícolas (Amorim
et. al., 2002). E, a disponibilidade da água no solo pode ser identificada pela técnica do balanço hídrico que identifica períodos de deficiências e excedentes hídricos. O balanço hídrico climatológico foi desenvolvido por Thornthwaite e Mather (1955) para determinar o regime hídrico de um local, sem necessidade de medidas diretas das condições de umidade do solo. Nesse balanço, a demanda de água da atmosfera é determinada pela evapotranspiração potencial e a água disponível para o ambiente (solo-planta-atmosfera) é proveniente da precipitação pluvial. Contudo, quando se utiliza a evapotranspiração da cultura no lugar da evapotranspiração potencial, tem-se o balanço hídrico da cultura. (Pereira et. al., 2005). Wiedenfeld (1999), concluiu que em dois períodos de seis semanas de estresse hídrico (16 de maio a 30 de junho e de 1 de julho a 30 de agosto) houve uma redução de 8,3% e 15% de toneladas de cana por hectares e 11,7% e 19,1% de açúcar por hectare. Contudo, algumas variedades suportam mais estresse hídrico do que outras e por isso conseguem produtividades mais elevadas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o balanço hídrico e a produtividade agrícola de variedades de cana-de-açúcar em cultivo de sequeiro na região de Rio Largo AL. 3 - MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (09 28 02"S; 35 49 43"W; 127m), no Município de Rio Largo-AL, em um cultivo de 4ª folha (quarta colheita), no período de 22 de Novembro de 2008 a 22 Janeiro de 2010. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Amarelo coeso argissólico de textura média/argilosa, topografia plana, com declividade inferior a 2%. O delineamento estatístico utilizado foi blocos casualizados com 8 tratamentos (variedades RB) e 4 repetições. As variedades utilizadas foram: RB931003, RB863129, RB941541, RB971755, RB92579, RB93509, RB867515 e RB72454. As parcelas foram constituídas de 11 linhas de 21 metros de comprimento, plantadas no espaçamento de 1,0 m entre linhas. Na adubação foram utilizados 720 kg por hectare da fórmula 12 03 21. O balanço hídrico foi feito pelo método de Thornthwaite & Mather (1955), utilizando a evapotranspiração da cultura (ETc) estimada pela multiplicação da evapotranspiração de referência (ETo) pelo Kc da FAO (Allen et al., 1998).A ETo foi calculada pelo método de Penman-Monteith-FAO, utilizando os dados meteorológicos obtidos em uma estação automática de aquisição de dados, instalada a 300 m do experimento. ( ) = 0,408 ( ) + 900 + 273 + [ (1 + 0,34 )] ( ) Onde : Rn = Saldo de radiação (MJ m -2 dia -1 ), G = fluxo de calor no solo (MJ m -2 dia -1 ), U 2 = velocidade do vento a 2m de altura (m s -1 ), γ = coeficiente psicométrico, T = temperatura média do ar, e s = pressão de saturação do vapor d`água do ar (kpa), e = pressão do vapor d`água do ar (kpa) e = inclinação da curva da pressão de vapor saturado versus temperatura (kpa ºC -1 ). 4 - RESULTADO E DISCUSSÃO A precipitação pluvial durante o ciclo de cultivo da cana-de-açúcar, do 2º decêndio de novembro de 2008 ao 2º decêndio de janeiro de 2009, foi 1.935 mm. Nesse mesmo período (430 dias), a evapotranspiração da cultura (ETc) foi 1.785 mm, média de 4,1 mm dia -1. Nesse contexto, a chuva seria suficiente para atender a necessidade hídrica total da cultura que, de acordo com Doorembos e Kassam (1979), varia de 1.500 a 2.000 mm por ano. Contudo,
devido a má distribuição da precipitação pluvial, houve um déficit hídrico total de 721 mm (Figura 1). Esse déficit aconteceu em dois períodos, 323 mm foi registrado entre o 2º decêndio de novembro de 2008 e o 1º decêndio de abril de 2009 (na fase de desenvolvimento inicial das plantas) e 398 mm ocorreu entre o 1º decêndio de setembro de 2009 e o primeiro decêndio de janeiro de 2010, na fase de maturação da cultura. O déficit hídrico no final do ciclo favoreceu a maturação das plantas, todavia, o estresse hídrico do inicio do ciclo prejudicou o crescimento e desenvolvimento das mesmas, levando a uma queda na produtividade. Na Figura 1 observa-se também um excesso hídrico de 871 mm, durante o 3 decêndio de Abril ao 3 decêndio de Agosto de 2009. Isso aconteceu porque 1.452 mm de chuva (75% do total) ocorreram entre o 2º decêndio de Abril e o 2º decênio de Setembro de 2009 (média de 9 mm.dia -1 ), enquanto no restante do tempo (270 dias) choveu apena 483 mm, corresponde a 25 % do total. Isso caracteriza e comprova a má distribuição das chuvas na região que apesar de ter chovido 1.935 mm durante o ciclo de produção da cultura, a precipitação pluvial efetiva foi apenas 1.064 mm. Figura 1. Balanço hídrico da cultura da cana-de-açúcar na Região de Rio Largo AL, no período de novembro de 2008 a janeiro de 2010. A produtividade agrícola das oito variedades de cana-de-açúcar utilizadas nesse experimento variou de 56 a 94 t ha -1, média de 78 t há -1. As variedades RB92579, RB867515 e RB93509 foram as mais produtivas, com médias de 99, 98 e 94 t ha -1, cada. A variedade RB92579 ficou acima da sua média no estado de Alagoas que é de 85 t ha -1 (Medeiros et al., 2008). As menos produtivas foram às variedades RB931003, RB 971755 e RB72454 com 65, 63 e 56 t ha -1, respectivamente. Somente a variedade RB72454 ficou abaixo da média do estado de Alagoas que é 63 t ha -1 (CONAB 2009). É preciso ressaltar que de ter sido um cultivo de quarta folha ou terceira soca, o ciclo de cultivo teve uma duração de 14 meses.
Figura 2. Produtividade agrícola, em t ha -1, de diferentes variedades de RB de cana-de-açúcar em regime de sequeiro na Região de Rio Largo AL. 5 - CONCLUSÃO A precipitação pluvial total daria para suprir as necessidades da cultura se fosse bem distribuída. O excesso hídrico foi maior do que o déficit hídrico no ciclo total do cultivo. Mesmo assim, o déficit hídrico no início do ciclo de cultivo afetou negativamente a produtividade das variedades. As variedades mais produtivas foram RB92579, RB 867515 e RB93509 e as menos produtivas foram RB 72454 e RB 971755. 6 - AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, ao CNPq (CT-hidro 504068/03-2, Universal 479143/2007-2), RIDESA-PMGCA-UFAL E FAPEAL. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop requeriments. Roma: FAO, 1998. 328 p. (Irrigation and drainage parper, 56). AMORIM, R. C. F.; RICIERI, R. P.; AMORIM, R. F. C. Balanço Hídrico climatológico para Cascavel/PR. XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002.
CONAB CAMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO 2009. Avaliação da safra agrícola de cana-de-açúcar 2008/2009. Disponível em <http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/3_levantamento2009_dez2009.pdf>. Data de acesso em 17/05/2010. DOOREMBOS, J.; KASSAM, A. H. Yield response to water. Rome, FAO Food and Agriculture Organization, 1979, 193p. (Irrigation and Drainage Paper 33). DALRI, A. B.; CRUZ, R. L.; GARCIA, C. J. B.; DUENHAS, L. H.; Irrigação por gotejamento subsuperficial na produção e qualidade de cana-de-açúcar. Irriga, Botucatu, v. 13, n.1, p. 1-11, janeiro-março 2008. FARIAS, Carlos H. de A.; FERNANDES, Pedro D.; AZEVEDO, Hamilton M. and DANTAS NETO, José. Índices de crescimento da cana-de-açúcar irrigada e de sequeiro no Estado da Paraíba. Rev. bras. eng. agríc. ambient. 2008, v.12, n. 4. MEDEIROS, L. B.; VIEIRA, A. O.; DANTAS J.; BELTRÃO, N. E. M.; AQUINO, B. F. Influência da escória siderúrgica sobre a produtividade e crescimento da cana-de-açúcar irrigada. Engenharia Ambiental Espírito Santo d Pinhal, v. 5, n. 3, p. 192-202, set/dez 2008. PEREIRA, A. R.; ANGELOCCI, L. R.; SENTELHAS, P. C. Agrometeorologia (Fundamentos e Aplicações Práticas). Guaíba: Agropeciária, 478p. 2002. SILVA, Vicente de P. R.; GUEDES, Maria J. F.; LIMA, Wagner F. A. e CAMPOS, João H. B. C.. Modelo de previsão de rendimento de culturas de sequeiro, no semi-árido do Nordeste do Brasil. Rev. bras. eng. agríc. ambient. 2002, v.6, n.1, pp. 83-87. ISSN 1415-4366. SINDAÇUCAR, SINDICATO DA INDUSTRIA DO AÇÚCAR E DO ALCOOL AL NO ESTADO DE ALAGOAS 2009. Disponível em <http://www.sindacucaral.com.br/www/precipt.htm> Data de acesso: 27/04/2010. TEODORO, I.; SOUZA, J. L.; BARBOSA, G. V.; MOURA FILHO, G.; DANTAS NETO, J.; ABREU, M. L. Crescimento e Produtividade da cana-de-açúcar em cultivo de sequeiro nos tabuleiros costeiros de Alagoas. STAB, Março/Abril, v. 27, n. 4, 2009 UNICA, UNIÃO DA INDUSTRIA DA CANA-DE-AÇÚCAR. Disponível em <http://www.unica.com.br/faq/> Data de acesso: 27/04/2010.